Diversas concepções teóricas deram origem a várias denominações para os agrupamentos de países, todas insuficientes para apreender a complexidade das realidades nacionais e globais.
Os países desenvolvidos e os em desenvolvimento já receberam diversas denominações. Uma delas usada na década de 1980, referia-se à localização geográfica, embora os critérios estivessem relacionados muito mais com a formação histórica e econômica. Nessa década, os mais desenvolvidos ficaram conhecidos como países do norte, porque a maioria deles está situada nesse hemisfério - é o caso dos Estados Unidos, Japão, Canadá e dos países da Europa. Austrália e Nova Zelândia, embora estejam situados no hemisfério sul, fazem parte desse grupo, pois suas características econômicas e sociais são semelhantes às dos demais países desenvolvidos.
Já os países em desenvolvimento, localizados majoritariamente no hemisfério sul, ficaram conhecidos como países do sul (países da América do Sul, da África e da Ásia). Também compõem esse grupo alguns países localizados ao norte do Equador, como o México e os países da América Central, e alguns países do norte da África e do sul e sudeste da Ásia.
O processo de globalização rompeu com o esquematismo dessas classificações, pois, muitos países em desenvolvimento passaram a contar com produção e exportação de mercadorias industriais nacionais.
Outra classificação comumente utilizada divide os países em três grupos: centrais, semiperiféricos e periféricos.
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Divisão do mundo em países do norte e países do sul |
Países centrais
Os países centrais são aqueles que atualmente fabricam e exportam, sobretudo, produtos de alta intensidade tecnológica, a indústria de ponta (informática, aeroespacial e outras), pois direcionam grandes investimentos para os setores tecnológicos (robótica, cibernética e outros), de pesquisas e inovações visando a novos métodos de produção. Grande parte do setor secundário desses países se deslocou para os países em desenvolvimento. São exemplos de países centrais Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Países Baixos, Bélgica, Suíça e Suécia (na Europa Ocidental), além de Estados Unidos, Japão e Canadá.
Os países centrais também são aqueles nos quais a população possui, em geral, boas condições de vida.
Vale ressaltar que, hoje em dia, os principais polos industrial, comercial e financeiro da economia mundial são os Estados Unidos, o conjunto de países da Europa Ocidental - especialmente Alemanha, França e Reino Unido - e o Japão e a China, na Ásia.
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Principais fluxos de mercadorias em 2022 |
Países semiperiféricos
Os países semiperiféricos formam um grupo muito diversificado. Uma parte deles tem pouca porcentagem de participação nas exportações de produtos manufaturados, possuindo uma economia baseada na exportação de commodities, a exemplo dos grandes exportadores de petróleo, como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Catar, onde o setor petrolífero tem impulsionado o crescimento econômico e o setor industrial é pouco expressivo. Outros países desse grupo são grandes agroexportadores e participam do comércio mundial com commodities que resultam de uma agropecuária altamente modernizada, intensiva em tecnologia e muito produtiva, além de exportarem produtos industrializados de baixa e média tecnologia agregada. Entre esses países destacam-se o México, a Argentina e o Brasil.
O processo de globalização da produção abrange funções do território de diversos países não só pelo uso da mão de obra disponível nesses espaços, mas também pela possibilidade de implementar tecnologias da informação e comunicação (TICs), obter incentivos fiscais e acessar a infraestrutura disponível. Esse processo provocou o crescimento industrial e comercial em países emergentes, como os Tigres Asiáticos e os Novos Tigres Asiáticos.
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Mapa destacando os Tigres Asiáticos e os Novos Tigres Asiáticos. Os Quatro Tigres Asiáticos (também chamados de Quatro Dragões Asiáticos) são compostos por Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong. Os Novos Tigres Asiáticos são compostos por Filipinas, Indonésia, Malásia, Tailândia e Vietnã. |
Nesse grupo, a China e a Índia têm aumentado sua capacidade tecnológica e vêm se destacando na produção de mercadorias de alta complexidade e elevado valor agregado (sobretudo no ramo de eletrônicos e informática). O avanço tecnológico aliado à elevada população desses países - que representa um importante mercado consumidor interno - podem contribuir para, em curto prazo, elevá-los à condição de potências mundiais.
Países como a China, a Índia, o Brasil e a Rússia são também chamados de mercados emergentes por possuírem uma população muito numerosa, sendo, portanto, um grande mercado consumidor em potencial.
A maior parte do aumento da participação dos países semiperiféricos no mercado de bens manufaturados provém da Ásia Oriental e do Pacífico, mas somente uma pequena parcela desse grupo de países participa das exportações de alta e média tecnologia (China e Taiwan, Coreia do Sul, Malásia, Cingapura e Índia, além do México, na América Latina). Isso também acontece com as exportações de manufaturados de baixa tecnologia, nas quais se destacam China, Taiwan, Coreia do Sul, México e Índia.
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O BRICS (das iniciais de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) é um grupo de países emergente em relação ao seu desenvolvimento econômico. Em 1 de janeiro de 2024 aderiram ao bloco como membros plenos Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã |
Em 2010, a China ultrapassou os Estados Unidos nas exportações mundiais e se tornou a primeira potência comercial do mundo. Os Tigres Asiáticos constituíram setores industriais voltados para o mercado internacional, abastecendo-o com produtos de tecnologia avançada, como computadores, automóveis e aparelhos eletrônicos. Esses países fizeram elevados investimentos na modernização de seus sistemas educacionais, produziram mão de obra qualificada e obtiveram grande desenvolvimento socioeconômico nas últimas décadas.
Recentemente, os Novos Tigres Asiáticos investiram no crescimento econômico, aumentando a produção e a exportação dos manufaturados. Esses países se industrializaram na década de 1970, na mesma época da industrialização de Chile, Egito, Turquia, Ilhas Maurício, Venezuela, Colômbia, Peru, Argélia e Marrocos.
Entre os países semiperiféricos ou emergentes, os exportadores mais dinâmicos, que respondem por até 80% das exportações dos países em desenvolvimento, de baixa, média e alta tecnologia, são apenas sete: China, Coreia do Sul, Malásia, Cingapura, Taiwan, México e Índia.
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Mapa-múndi destacando os países do G-20 (grupo formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais os países da União Africana e da União Europeia) |
Países periféricos
Os países periféricos são aqueles que têm suas economias com forte base agrária ou mineral, com uso de pouca tecnologia e poucos equipamentos modernos na produção. Em países tropicais, as grandes e modernas propriedades agrícolas voltadas para a exportação são exceções. Na maior parte desses países, as indústrias são escassas e suas exportações concentram-se em produtos primários de baixo valor agregado.
Nos países periféricos, o desenvolvimento humano é baixo - serviços de saúde e de educação são insuficientes - e a renda per capita é baixa. Sudão, Tanzânia, Iêmen e Nepal são exemplos de países periféricos.
Os países periféricos (parte dos asiáticos, dos latino-americanos e a maioria dos africanos) participam marginalmente do mercado mundial e fornecem principalmente produtos primários.
N África, recebem destaques as exportações de cacau (Costa do Marfim, tabaco (Zimbábue) e minérios, como o diamante (Botsuana e Namíbia) e cobre (Zâmbia e Namíbia. Na América Central e na América do Sul, países como Jamaica e Suriname exportam bauxita; a Bolívia, gás natural. Na Ásia, o Sri Lanka depende das exportações de chá.
As cotações de commodities são fixadas pelos países centrais, que, muitas vezes, definem preços inferiores ao valor real. Além disso, eles mantêm um conjunto de barreiras protecionistas e de subsídios agrícolas, que trazem mais prejuízos aos países periféricos.
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Nos países periféricos a agricultura é desenvolvida de forma bastante arcaica |
REFERÊNCIA:
HOBSBAWN, Eric. Era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.