domingo, 23 de junho de 2024

A ESCRAVIDÃO NA ÁFRICA ANTES DOS EUROPEUS

   A África é um continente geográfica e culturalmente muito diverso. Antes da chegada dos europeus, havia escravidão nesse continente, assim como em outras partes do mundo. Contudo, é um erro dizer que os africanos escravizavam uns aos outros. Isso porque naquela época não havia um sentimento de identidade africana como conhecemos hoje. O texto a seguir ajuda a entender essa questão.

    "Os africanos não escravizaram africanos, nem se reconheciam então como africanos. Eles se viam como membros de uma aldeia, de um conjunto de aldeias, de um reino e de um grupo que falava a mesma língua, tinha os mesmos costumes e adoravam os mesmos deuses. Eram [...] mandingas, fulas, bijagós, axantes, daomeanos, vilis, iacas, caçanjes, lundas, niamuézis, macuas, xonas - e escravizavam os inimigos e os estranhos.

SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008, p. 88-89.

  Nas aldeias que se desenvolveram na região ao sul do Deserto do Saara, conhecida como África Subsaariana, o trabalho escravo era reduzido, como no oikos grego. Os escravizados, na maioria mulheres, atuavam principalmente nos serviços domésticos e na agricultura, realizando tarefas como a busca de água, o corte de lenha e os cuidados com o cultivo de produtos agrícolas. Havia também escravizadas que se tornavam concubinas de seus senhores. Nesse caso, seus filhos não eram escravizados, embora tivessem os mesmos direitos que os nascidos de mães livres.

Mapa da África mostrando como era o continente entre os séculos XI e XVI, antes da chegada dos europeus

  Nas cidades e reinos estabelecidos no Sahel, faixa de transição entre o Deserto do Saara e a savana africana, o número de escravizados era maior. Além de realizar tarefas domésticas, os escravizados atuavam nos exércitos, na produção de alimentos nas fazendas reais e na extração mineral. As condições de vida dos escravizados domésticos e daqueles que serviam o exército eram superiores às dos demais. Eles recebiam alimentação e vestimentas melhores e, eventualmente, podiam conquistar a liberdade. Ademais, o trabalho nas fazendas reais e nas minas era mais pesado e submetido à vigilância constante.

  Até a expansão islâmica pelo continente africano, iniciada no século VII, os principais meios para obtenção de escravos era a guerra contra povos rivais, as razias (conflito promovido com o objetivo específico de obter cativos) e os sequestros. A ocupação islâmica no norte do continente, contudo, alterou profundamente essa situação. As trocas comerciais na região foram intensificadas devido à presença de mercadores islâmicos, e os escravizados passaram a ser negociados para, depois, serem vendidos para o Oriente Médio, a Ásia e a Europa. Com a crescente demanda por escravizados, aumentaram as guerras entre as sociedades africanas, com o objetivo de capturar cativos, que se transformaram em importante mercadoria.

Mapa mostrando os reinos e impérios na região do Sahel entre os séculos X e XVI

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

SILVA, Alberto da Costa e. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008.

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