quarta-feira, 22 de novembro de 2023

IRENOLOGIA: A CIÊNCIA DA PAZ

  A palavra irenologia é composta por dois vocábulos gregos: eirene, paz, e logos, estudo. Portanto, a irenologia é o estudo sistemático da paz conforme a concebem as diversas culturas, sociedades, religiões e saberes. Trata-se de uma disciplina acadêmica, que tem por objetivo investigar as condições, o ambiente e os envolvidos no esforço comum para se estabelecer, manter e promover a paz, quer entre as nações, quer entre grupos sociais ou mesmo entre indivíduos.

  Os estudos irenológicos andam, paradoxalmente, de mãos dadas com os polemológicos. No estouro de um conflito, armado ou não, a primeira coisa a ser buscada é a paz. Nesse esforço, até mesmo um armistício é motivo de festejos e comemorações. Etimologicamente, o termo "armistício", oriundo do latim armistitium, significa "cessação das armas". Nessas ocasiões, como resultado dos movimentos diplomáticos, os lados envolvidos sentam-se a negociar uma paz definitiva: às vezes, nem provisoriamente se logra obtê-la. Naquele momento, os adversários igualam-se à mesa de negociações; todos querem acabar com o conflito; pelo menos é o que se espera.

Cópia da escultura Reconciliação, de Josefina de Vasconcelos (1977)

  A partir da segunda metade do século XX, o desenvolvimento tecnológico aumentou a capacidade destrutiva das armas, colocando em risco  a vida no planeta. Estima-se que, em 2023, existam mais de 14 mil armas nucleares no mundo, a maior parte delas pertencentes aos Estados Unidos e à Rússia (cada um deles têm cerca de 6 mil armas). Reino Unido, França, China, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte também detêm armamentos desse tipo, que se caracterizam pelo alto poder destrutivo e pelas consequências a longo prazo para os indivíduos e o meio ambiente. Embora estudos indiquem a redução geral do número de ogivas nucleares a cada ano, os países continuam modernizando seus arsenais nucleares.

  O temor provocado pela radicalização das guerras gerou a atuação mais firmes de grupos pacifistas. Após a Segunda Guerra Mundial, alguns estudiosos dedicaram-se a enfocar a noção de paz sem defini-la pela negação, como não-guerra. Assim nasceu a ciência da paz, ou irenologia.

Introdução da paz

  A ciência da paz desenvolve pesquisas multidisciplinares, apoiadas na contribuição de intelectuais de diversas áreas do saber, como ciência política, sociologia, economia, psicologia, história, filosofia e direito internacional. Nasceu de iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), da qual participaram também  filósofos notáveis, como Bertrand Russell, e grupos de várias orientações ideológicas no mundo todo.

  Paralelamente aos organismos mundiais, grupos da sociedade civil estudam e debatem as causas da violência, além de  proporem alternativas não violentas para solucionar conflitos. O grande obstáculo tem sido transformar teorias em práticas, o que pressupõe preparar as novas gerações por meio da educação para a paz.

Manchester College, de Indiana, EUA - uma das primeiras instituições a oferecer especialização em estudos para a paz

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

KANT, I. A paz perpétua: um projeto para hoje. São Paulo: Perspectiva, 2004. (Elos)

Nenhum comentário:

Postar um comentário