Branquitude é o termo utilizado para denominar as construções das identidades raciais brancas em sociedades nas quais a categoria raça e fenômeno do racismo funcionam como organizadores da estrutura social. A branquitude precisa ser pensada de modo relacional a outras identidades raciais e a partir de sua construção sócio-histórica e das relações de poder da estrutura social na qual está inserida.
Em outras palavras, é preciso pensar que os grupos e sujeitos considerados brancos em determinados locais não necessariamente o são em outros contextos. Entre os estudiosos críticos da branquitude, é unanimidade que essa identidade se construiu a partir da ideia fictícia de superioridade produzida durante o processo de colonização das Américas e, posteriormente, pelo conceito de raça forjado pela pseudociência do fim do século XIX.
O teórico Silvio de Almeida ressalta que o racismo é parte integrante de toda a estrutura social, podendo ser observado nas relações políticas, econômicas, jurídicas, pessoais e familiares. Para esse teórico, o racismo deve ser entendido como um processo sistêmico de discriminação, que acompanha a própria história de formação das sociedades capitalistas modernas e contemporâneas, entre elas a sociedade brasileira.
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A branquitude é um lugar de vantagem estrutural nas sociedades estruturadas na dominação racial, ou seja, todas as sociedades colonizadas por europeus |
Para o racismo estrutural se estabilizar e fornecer os critérios de manutenção das desigualdades, ele precisa permanecer encoberto a fim de ser legitimado por diversas instituições e práticas no interior da sociedade, segundo Almeida. Dessa forma, o racismo vai se constituindo como uma naturalidade, ou uma normalidade, nas relações sociais e se tornando, ao mesmo tempo, quase imperceptível nas práticas cotidianas, sendo muitas vezes colocado em dúvida por grupos que não são atingidos pelos seus efeitos devastadores.
O conceito de branquitude, entendido como o lugar social que permite aos brancos desfrutar de privilégios simbólicos e materiais, nos auxilia a compreender a reprodução do racismo. Podemos citar como exemplo o corpo branco, tido como universal, não racializado, e visto como normal, belo e almejado para a aceitação social. Assim, aqueles que não são possuidores dos padrões estéticos brancos muitas vezes são caracterizados de maneira degradante ou por meio de representações esteriotipadas, o que nos mostra como o racismo está entranhado no imaginário e nas mais variadas esferas da vida social. Outro exemplo é o acesso de pessoas brancas aos cargos de poder, o que geralmente é colocado como resultado de conquistas e méritos pessoais. Os esforços individuais pode de fato existir, porém, já existem condições inicialmente favoráveis ao seu desenvolvimento.
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Capa da Revista Raça, edição 215, de junho de 2020. Essa revista criada em 1996, é considerada a primeira revista do Brasil com conteúdo voltado à cultura negra |
FONTES:
ALMEIDA, Sílvio. O que é racismo estrutural? Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PD4Ew5DIGrU. Acesso em: 28/03/2023.
CIÊNCIA HOJE. Disponível em: https://cienciahoje.org.br/artigo/a-relacao-entre-branquitude-e-privilegio. Acesso em: 28/03/2023.
Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo (CDHPF). Disponível em: https://cdhpf.org.br/artigos/ver-o-racismo-como-um-problema-de-negros-e-um-privilegio-de-brancos. Acesso em: 28/03/203.
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