domingo, 19 de setembro de 2021

OS ATAQUES TERRORISTAS

  Terrorismo é o uso da violência, física ou psicológica, por meio de ataques localizados a elementos ou instalações de um governo ou da população governada, de modo a incutir medo, pânico e, assim, obter efeitos psicológicos que ultrapassem largamente o círculo das vítimas, incluindo o restante da população do território. É utilizado por uma grande gama de instituições como forma de alcançar seus objetivos, como organizações políticas, grupos separatistas e até por governos no poder.

  O terrorismo originou-se no século I d.C., quando um grupo de judeus radicais, chamados de sicários (Homens de Punhal), atacavam cidadãos judeus e não judeus que eram considerados a favor do domínio romano. Nessa época também havia uma grande perseguição aos cristãos pelo Império Romano, que praticava práticas terroristas para acusar os cristãos de tais crimes. Outros indícios que confirmam as origens remotas do terrorismo são os registros da existência de uma seita muçulmana, no final do século XI d.C., que se dedicou a exterminar seus inimigos no Oriente Médio. Dessa seita teria surgido a origem da palavra "assassino". Mas foi no século XXI que ele se acentuou e que o discurso terrorista virou assunto recorrente na mídia Ocidental.

Cristãos sendo usados como tochas humanas, na perseguição sob Nero, por Henry Siemiradzki. Museu Nacional, Cracóvia, Polônia, 1876.

Terrorismo moderno

  O terrorismo moderno tem sua origem no século XIX no contexto europeu, quando grupos anarquistas viam no Estado seu principal inimigo. A principal ação terrorista naquele período visava à luta armada para constituição de uma sociedade sem Estado - para isso, os anarquistas tinham como principal alvo algum chefe de Estado, e não seus cidadãos.

  Durante a segunda metade do século XIX, as ações terrorista tiveram uma ascensão. Porém, no século XX, houve uma expansão dos grupos que optaram pelo terrorismo como forma de luta. Como consequência dessa expansão, o raio de atuação terrorista aumentou, surgindo novos grupos, como os separatistas bascos na Espanha, os curdos na Turquia e no Iraque, os muçulmanos na Caxemira e as organizações paramilitares racistas de extrema-direita nos Estados Unidos. Um dos seguidores dessa última organização foi Timothy James McVeigh, terrorista que assassinou 168 pessoas em 1995, no conhecido Atentado de Oklahoma.

  Com o desenvolvimento da ciência e tecnologia no século XX, as ações terroristas passaram a ter um maior alcance e poder por meio de conexões globais sofisticadas, uso de tecnologia bélica de alto poder destrutivo, redes de comunicação (internet), entre outros.

Edifício Federal Alfred P. Murrah após o Atentado de Oklahoma City

Terrorismo no século XXI

  No início do século XXI, principalmente após os ataques terroristas aos Estados Unidos, estudiosos classificaram o terrorismo em quatro formas:

  • Terrorismo revolucionário - surgiu no século XX e seus praticantes ficaram conhecidos como guerrilheiros urbanos marxistas (maoístas, castristas, trotskistas e leninistas);
  • Terrorismo nacionalista - fundado por grupos que desejavam formar um novo Estado-nação dentro de um Estado já existente (separação territorial), como no caso do grupo terrorista separatista ETA (Euskadi Ta Askatasuna -Pátria Basca e Liberdade) na Espanha (o povo Basco não se identifica como espanhol, mas ocupa o território espanhol e é submetido ao governo da Espanha);
  • Terrorismo de Estado - é praticado pelos Estados nacionais e seus atos integram duas ações. A primeira seria o terrorismo praticado contra a sua própria população. Foram exemplos dessa forma de terrorismo: os Estados totalitários fascistas e nazistas, a ditadura militar brasileira e a ditadura Pinochet no Chile. A segunda forma constituiu-se como uma luta contra a população estrangeira (xenofobia);
  • Terrorismo de organizações criminosas - são atos de violência praticados por fins econômicos e religiosos, como nos casos da máfia italiana, do Cartel de Medellín, da Al Qaeda, entre outros.

Corpos de guerrilheiros da Guerrilha do Araguaia com as mãos amarradas na década de 1970. Essa guerrilha praticava um terrorismo revolucionário

O Atentado de 11 de Setembro de 2001

   No dia 11 de setembro de 2001, membros da rede terrorista Al-Qaeda, constituída por extremistas islâmicos, sequestraram quatro aviões nos Estados Unidos. Dois deles foram lançados sobre as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York; outro sobre o Pentágono, a sede do Departamento de Defesa do país, próximo à capital Washington. O último foi derrubado pelas forças militares oficiais. Este foi o maior ataque estrangeiro ao território estadunidense desde 1812, ano da guerra contra o Canadá, então colônia inglesa.

  Os ataques terroristas de 2001 mataram cerca de 3 mil pessoas. A resposta do governo dos Estados Unidos, nos anos seguintes, foi de reafirmação de seu poder militar por meio da Doutrina Bush, uma espécie de cruzada contra o que o então presidente estadunidense, George W. Bush, denominou "eixo do mal". A ação dirigia-se contra grupos e países que contestavam a hegemonia dos Estados Unidos, como a Coreia do Norte, o Irã e o Iraque. A primeira incursão da Doutrina Bush, no entanto, foi no Afeganistão, país que estava sob o regime Talibã, grupo fundamentalista islâmico, e que abrigava bases de operação da Al-Qaeda.

Vídeo mostrando o momento do ataque às torres do World Trade Center

  Apoiado por outros países, como o Reino Unido, os ataques estadunidenses foram extensos e provocaram grandes destruições. Em poucas semanas, o governo afegão seria vencido e substituído por representantes de grupos mais alinhados com os Estados Unidos. O controle territorial, porém, se estenderia por longos anos, mais precisamente até o final de 2014, quando oficialmente a missão foi encerrada. Ao final da década de 2010, porém, as ações militares dos Estados Unidos ainda continuavam na região, principalmente em áreas de atuação de grupos fundamentalistas.

  Desde 14 de abril de 2021, quando o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou a retirada de todas as tropas americanas do Afeganistão, os talibãs começaram a assumir o controle do país, retomando definitivamente o poder no país desde agosto de 2021.

Militantes do Talibã

A Guerra do Iraque

  Após o Afeganistão, o alvo do governo dos Estados Unidos foi o Iraque, sob a alegação de suspeita de produzir armamentos de destruição em massa e de patrocinar o terrorismo internacional, o que era negado pelo governo local, comandado à época pelo ditador Saddam Hussein (1937-2006). Em 2003, mesmo sem a autorização da ONU, uma coalizão de países sob a liderança de Estados Unidos e Reino Unido deu início à invasão do Iraque.

  Assim como ocorreu no Afeganistão, os ataques foram intensos e provocaram grandes estragos, com a desorganização da sociedade local. Em algumas semanas, o governo de Saddam Hussein foi destituído. Investigações revelaram, entretanto, que o Iraque não possuía armas de destruição em massa e que vários relatórios dos países agressores tinham sido forjados para justificar a guerra.

  A presença das tropas estadunidenses e de aliados no território iraquiano se estenderia por longos anos, mas com intenso movimento de resistência, o que provocou a morte de mais de 100 mil pessoas. Oficialmente, as tropas estadunidenses só se retirariam do país em 2011. Longe de haver estabilidade, o governo local se viu imerso em diversos conflitos internos, muitos deles envolvendo grupos islâmicos fundamentalistas. Com isso, tropas dos Estados Unidos mantiveram-se presentes no país nos anos seguintes.

Dois tanques de guerra americanos M1 Abrams das forças de ocupação da Coalizão em frente ao monumento das "Mãos da Vitória", no centro de Bagdá, em 2003

O aumento do extremismo

  As intervenções estrangeiras dos últimos anos no Oriente Médio resultaram em inúmeras consequências, entre elas o fortalecimento de grupos extremistas após a Guerra do Iraque (2003-2011). Muitos desses grupos se estruturaram para resistir à ocupação do país, promovendo ações suicidas e práticas terroristas para atingir as principais potências internacionais, mas que também se voltavam contra a população local.

  Foi assim que ali se fortaleceu um grupo extremista ligado à Al-Qaeda, que a partir de 2006 passaria a se identificar como Estado Islâmico (EI), cujo principal objetivo era delimitar um território na região para reunir a população sunita, o segmento majoritário do islamismo. Após a saída das tropas estadunidenses do país, em 2011, o EI intensificou sua atuação, que ganharia maior abrangência com a eclosão de uma guerra civil na Síria.

Militante do Estado Islâmico carregando a bandeira do grupo

  Iniciado em 2011, o conflito sírio teve origem na chamada Primavera Árabe, um conjunto de manifestações populares que se arrastou por diversos países do Oriente Médio e do Norte da África a partir de 2010 e que resultou na queda de diversos governos locais, como ocorreu na Tunísia e no Egito. Na Síria, o governo permaneceu devido a uma forte repressão imposta a seus opositores, o que provocou intensa reação da população local contra o regime comandado por Bashar al-Assad. O cenário de conflito favoreceu a atuação do Estado Islâmico na Síria, que passou a colaborar com os rebeldes que lutavam contra o governo.

Explosão de um carro bomba feita na base aérea de Menagh, em território sírio, em 2017, executada por um suicida ligado ao Estado Islâmico. Conforme o grupo ia perdendo terreno e influência, seus militantes passaram a realizar centenas de atentados (a maioria suicidas) contra cidades da Síria e do Iraque e por outras regiões do Oriente Médio.

  Nos anos seguintes, o acirramento da guerra civil na Síria provocou uma dramática movimentação de refugiados, principalmente em direção a países vizinhos e à Europa, onde encontraram forte resistência para sua aceitação.

  Em 2014, extremistas do EI na Síria e no Iraque declararam a formação de um califado nos territórios ocupados. O grupo passou a chamar a atenção do mundo todo devido à adoção de práticas de extrema violência, divulgando vídeos com a execução sumária de seus prisioneiros, entre eles, cidadãos estrangeiros naturais das grandes potências.

  A situação levou o governo dos Estados Unidos a anunciar estratégias militares para combater o EI, especialmente por meio de ataques aéreos aos territórios controlados pelos extremistas. Porém, a partir de então, viu-se a disseminação de ataques terroristas assumidos pelo grupo em diversos países do mundo.

  Em novembro de 2015, um desses ataques ocorreu em Paris, na França, provocando a morte de 130 pessoas. Os alvos foram uma casa de espetáculos, um estádio de futebol e uma área repleta de restaurantes. No ano seguinte, os ataques se repetiram em Bruxelas, na Bélgica, no aeroporto e em uma estação de metrô, fazendo 32 vítimas fatais.

Em laranja, o território reivindicado pelo Estado Islâmico

FONTE: Palavra de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas: Mundo contemporâneo: tensões, conflitos e cooperação / Arno Aloísio Goettems ... [et al.]. São Paulo: Palavras Projetos Editoriais 2020 (pág. 134/135)

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