sexta-feira, 25 de outubro de 2019

MOVIMENTOS SEPARATISTAS DE VÊNETO E DE TIROL MERIDIONAL

  Cresce o sentimento de independência dos tiroleses e dos venezianos em relação ao governo italiano. Ambas as regiões se dizem injustiçadas por Roma, que arrecada impostos altíssimos e não investe em infraestrutura ou outros benefícios nessas regiões.
  Em março de 2014, o grupo Veneto Independente realizou na região um plebiscito em que as pessoas deveriam votar Sim ou Não para que a região se tornasse independente. O referendo não tinha valor legal e não foi sancionado por nenhuma autoridade oficial, mas os organizadores descreveram-no como um sucesso. Quase 90% dos participantes declararam-se a favor da soberania do Vêneto. Segundo o jornal "Il Messagero", 2,5 milhões de pessoas participaram do plebiscito (mais da metade da população do Vêneto), mas o voto foi, sobretudo, feito online e por telefone, em plataformas onde era possível a cada eleitor votar mais de uma vez. A Constituição italiana, que descreve a República como "una e indivisível", não permite a realização de referendo independentistas.
Mapa do Vêneto
  O governo regional de Vêneto é dominado pelo ramo local da Liga do Norte. O Vêneto tem aproximadamente uma população de 4,9 milhões de habitantes, sendo a quinta região mais povoada da Itália e uma das mais ricas do país. Os independentistas associam a sua causa à herança histórica da República de Veneza, cuja bandeira (um leão dourado sob um fundo vermelho) ostentam. Veneza foi uma cidade-Estado independente durante mais de mil anos, e só se juntou à Itália unificada na segunda metade do século XIX. Os independentistas do Vêneto aspiram a ser a Escócia da Itália - que realizou um plebiscito para se separar do Reino Unido - ou seja, a realizar um referendo vinculativo com a possibilidade de conquistar a soberania.
Bandeira do Vêneto
  Por sua vez, os separatistas da região vizinha do Tirol do Sul olham para o exemplo da Crimeia: em vez de independência, preferem a anexação ao vizinho do Leste, no caso, a Áustria.
  O Tirol do Sul, ou Alto Ádige, na designação em italiano, é uma região autônoma com cerca de 1 milhão de habitantes junto à fronteira com a Áustria e uma população de 13.607 km². A região foi incluída ao território italiano em 1919, como resultado da reorganização do Império Austro-Húngaro após a Primeira Guerra Mundial. Segundo dados oficiais, mais de dois terços da população local fala o alemão.
  Tal como o Vêneto, o Tirol do Sul é uma das regiões mais prósperas da Itália, mas a sua autonomia é mais profunda: a região mantém pelo menos 90% dos impostos cobrados, e o governo regional é dominado por partidos locais.
Tirol austríaco (vermelho), Província Autônoma de Bolzano, na Itália (laranja) e Província Autônoma de Trento (Trentino)
  O Partido Popular do Tirol do Sul (SVP), conservador, teve quase metade dos votos nas últimas eleições regionais, em que os partidos nacionais italianos tiveram votações residuais (abaixo de 10%). O SVP não defende o separatismo, apenas uma autonomia reforçada, já o segundo partido mais votado da região, o Partido da Liberdade (STF), é ostensivamente separatista.
  O principal símbolo do STF "Sud-Tiro ist nicht Italien" ("o Tirol do Sul não é Itália") escrito sobre uma bandeira às riscas horizontais vermelhas e brancas, as cores da Áustria.
  O Trentino-Alto Ádige, historicamente, é parte do Tirol e assim foi chamada oficialmente nos séculos que se seguiram à união do antigo Condado do Tirol com os Principados de Trento e Bressanone/Brixen, em 1363. Após a Primeira Guerra Mundial, a região foi anexada pela Itália como conquista de guerra, pois antes pertencia ao Império Austro-Húngaro.
Veneza - capital do Vêneto
  O decreto fascista 12.637 de 8 de agosto de 1923 proibiu o uso do topônimo Tirol na região, com penas e multas previstas na lei. Por vezes, a população local procurou restituir o secular topônimo, sem sucesso. Após a Segunda Guerra Mundial, houve novas tentativas e conflitos pela separação do território e seu retorno à já República da Áustria.
  Até 1972, a região teve o duplo nome de Tretino-Alto Ádige - Tiroler Etschland. O estatuto especial do mesmo ano fixou o nome oficial da região para Trentino-Alto Ádige/Südtirol, no qual a denominação Südtirol ("Tirol do Sul") - que historicamente identifica a região correspondente à Província de Trento -, vale oficialmente apenas a província de Bolzano. Depois da lei de modificação constitucional nº 3, de 18 de outubro de 2001, a denominação ítalo-alemã está também consagrada no artigo 116 da Constituição da República Italiana, valendo, inclusive, para a província de Trento (Autonome Provinz Trient).
Castelo Tirol, na comuna de Tirolo - foi sede dos condes de Tirol
  O Trentino-Alto Ádige tem como limites: Áustria (Tirol e Salzburgo) ao norte; Vêneto, ao sul e a leste; Lombardia, a sul e a oeste; e Suíça (Cantão Grisões) a oeste. A região é inteiramente montanhosa, sendo que o Ortles é o ponto mais elevado, com mais de 3.900 metros de altitude. O rio mais importante é o Ádige, e o Lago de Garda (maior lago italiano) pertence ao Trentino-Alto Ádige. A região é composta de duas províncias: Província Autônoma de Trento e Província Autônoma de Bolzano.
  Na região do Trentino-Alto Ádige estão presentes três grupos linguísticos: italiano (cerca de 65% da população), alemão (32% da população) e latino-dolomita (3% da população).
Trento - capital do Trentino-Alto Ádige
REFERÊNCIA: Boligian Levon
Geografia espaço e sociedade, 3: ensino médio / Levon Boligian, Andressa Alves. 1. ed. -- São Paulo: Editora do Brasil, 2016. -- (Coleção geografia espaço e identidade)

Nenhum comentário:

Postar um comentário