quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

O POVO MONKEN: OS "CIGANOS DO MAR"

  Os monken são um povo nômade que passa grande parte da vida em barcos. Habitam, predominantemente, o arquipélago de Mergui, localizado entre Mianmar e Tailândia, onde é possível avistar, no horizonte, seus pequenos barcos, os kabang. Do mar eles retiram os alimentos que consomem, além de conchas e ostras para comercializar. Eles vivem em terra firme somente no período em que as chuvas e os ventos se tornam mais intensos, dificultando a navegação. Eles têm mais de 800 ilhas à disposição. Uma mais bonita que a outra. E, ainda assim, preferem viver no mar.
Embarcação monken
  O arquipélago de Mergui é composto de mais de 800 ilhas, dos mais variados tamanhos. Seu relativo isolamento permitiu a preservação da fauna e flora local. A maior e mais alta ilha do arquipélago é Kadan Kyun (antiga ilha King sob domínio britânico).
  Geologicamente, as ilhas são caracterizadas principalmente por estarem constituídas de calcário e granito. Em geral, a sua cobertura vegetal é de caráter tropical, incluindo selvas, enquanto que no litoral são frequentes os promontórios (cabos constituídos por rochas íngremes ou montanhas elevadas), praias abertas e, em alguns lugares, pântanos e manguezais. Mar adentro há extensos recifes de corais. É nesse paraíso que vivem os monken.
Ilha do arquipélago de Mergui
  Os moken não gostam de terra firme. Só se sujeitam às praias do Arquipélago de Mergui quando obrigados a ancorar durante a época das monções. No resto do ano, durante oito meses, passam o tempo todo a bordo. Sua casa é o barco. Tem quarto, cozinha, sala e espaço para abrigar até oito membros de uma família. Conhecidos por "ciganos do mar", esses pescadores nômades gastam dois terços de sua existência navegando. Dentro do barco, dão à luz, fazem refeições e educam as crianças - que desde cedo aprendem a se tornar exímios pescadores.
  Há muitos monken no Sudeste Asiático, mas esses são os últimos a manter tal estilo de vida. Sua sorte é habitar o remoto litoral sul de Mianmar, onde o mundo moderno ainda não destruiu as ilhas de praias virgens e florestas tropicais habitadas por elefantes, macacos, tigres e rinocerontes.
Ilha no arquipélago de Mergui
  Exímios mergulhadores capazes de prender a respiração por vários minutos, os monken buscam no fundo do mar, com ferramentas simples, suas necessidades diárias: peixes e moluscos para se alimentar, além de conchas, caracóis e ostras que trocam por produtos com comerciantes.
  Os monken acumulam poucos bens materiais e, quando em terra firme, vivem contrariados. Muitos, inclusive, sofrem com náuseas e enjoos no curto período longe do oceano. A ligação com a água é tamanha que suas crianças aprendem a nadar antes mesmo de darem os primeiros passos. Isso faz com que a visão subaquática dos jovens monken seja duas vezes melhor que a de outras crianças.
Kabang - barco-caso dos monkens
  Uma das principais vilas dos monken se localiza nas ilhas Surin, ao sul do arquipélago de Mergui, onde cerca de 200 pessoas do grupo fixam bangalôs (tipo de casa com no máximo dois pavimentos) no período das chuvas de monções. Surin é o único grupo de ilhas que permaneceu no território da Tailândia quando a fronteira foi traçada, nos tempos em que a França governava a Birmânia - todas as outras ilhas são parte da costa ocidental de Mianmar.
Crianças monken
  Para produzir o kabang - o barco-casa, que representa a própria identidade dos monken -, os mais antigos membros da comunidade, que ainda dominam a arte de construção da embarcação, utilizam a madeira sólida de uma árvore que cresce nas ilhas Surin. O tronco deve ter uma medida específica, nem mais, nem menos, exatamente compatível com o abraço de dois homens adultos ao redor de uma árvore. Se suas mãos se tocarem do outro lado do tronco, significa que aquela árvore tem o tamanho exato para o casco de um kabang. Contudo, a poda não pode acontecer antes de uma semana de rituais xamânicos, necessários para espantar "os espíritos ferozes que habitam às árvores".
Monken catando ostras
  Outras madeiras, além do bambu, servem de material para a construção do convés, do mastro e do timão, tudo sustentado por cordas de fibras vegetais. Na proa, uma carranca faz o papel de estabilizador, e a única vela do kabang é feita de folhas trançadas de palmeira. Esculpida à mão, a construção leva, em média, quatro meses para ser construída.
Monken pescando dentro d'água
  Atualmente, os monken vem sofrendo com a discriminação por parte das autoridades locais e do poder econômico. O crescimento da indústria do turismo contribuiu para uma política de exclusão, que acabou segregando os monken em favor dos estrangeiros. O exército delimitou a área deles com barracas de bambu, forçando-os a permanecer num determinado local, "preservando", assim, as outras praias exclusivamente para os turistas. Se são pegos navegando, eles sofrem repressão por falta de documentos ou de autorização.
  Por outro lado, uma ameaça ainda maior compromete o futuro desses nômades: frotas pesqueiras modernas estão destruindo a fauna aquática local, forçando os monken a se mudar para o continente, abrindo mão de suas raízes.
Crianças monken brincam num kabang
REFERÊNCIA: Torrezani, Neiva Camargo
Vontade de saber geografia, 6º ano / Neiva Camargo Torrezani. - 2. ed. - São Paulo: FTD, 2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário