quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A CRISE ECONÔMICA E FINANCEIRA DE 2008

  No início do segundo semestre de 2008, o mundo capitalista conheceu uma séria crise financeira e econômica, iniciada nos Estados Unidos, em 2007. Os analistas econômicos, tanto do setor privado como de governos de países e organismos internacionais, classificavam a crise como de maior gravidade desde a intensificação do processo de globalização, a partir dos anos 1970.
  As causas da crise estão relacionadas à expressiva expansão dos financiamentos para compra de imóveis nos Estados Unidos, em razão dos juros baixos, que o governo norte-americano vinha mantendo desde o início do século. Isso gerou uma forte valorização no preço dos imóveis que inclusive estimulava as pessoas que haviam contraído financiamentos (mutuários) a refinanciar suas dívidas. Nesse refinanciamento, os mutuários recebiam uma diferença em dinheiro, em geral utilizada para consumo. Diversos bancos criaram títulos que tinham como garantia os financiamentos para compra de imóveis (títulos garantidos com hipotecas). Investidores que adquiriram esses títulos emitiram, por sua vez, outros títulos que tinham como garantia os títulos anteriores. Isso se espalhou por todo o sistema financeiro.
  No entanto, com o consumo em alta, a inflação aumentou. Para frear esse aumento, o governo dos Estados Unidos elevou os juros, o que afetou também as mensalidades dos financiamentos dos imóveis, que ficaram mais caros. Como consequência, centenas de milhares de proprietários deixaram de pagar os financiamentos, os preços dos imóveis despencaram e os títulos se desvalorizaram acentuadamente.
Mapa mostrando as taxas de crescimento real do PIB para 2008
  Em decorrência, houve quebra de bancos, de empresas e cortes de empregos. Os bancos reduziram a oferta de crédito e muitos consumidores ficaram sem recursos para comprar mercadorias. As demissões reduziram o mercado de consumo, e os que não perderam o emprego preferiram poupar. Com isso, a crise se intensificou.
  A crise financeira de 2008 foi a maior da história do capitalismo desde a grande depressão de 1929. O evento detonador da crise foi a falência do banco de investimentos Lehman Brothers no dia 15 de setembro de 2008, após a recusa do Federal Reserve (Fed, banco central americano) em socorrer a instituição. Essa atitude repercutiu negativamente nos mercados financeiros, rompendo a convenção dominante de que a unidade monetária norte-americana iria socorrer todas as instituições financeiras afetadas pelo estouro da bolha especulativa no mercado imobiliário.
Resultado da crise econômica de 2008
  O rompimento dessa convenção produziu pânico entre as instituições financeiras, o que resultou num aumento significativo da sua preferência pela liquidez, principalmente no caso dos bancos comerciais. O aumento da procura pela liquidez detonou um processo de venda de ativos financeiros em larga escala, levando a um processo de deflação, com quebra súbita e violenta dos preços dos ativos financeiros e a contração do crédito bancário para transações comerciais e industriais.
  Os governos dos países desenvolvidos responderam a essa crise por meio do uso de políticas fiscal e monetária expansionistas. O Fed reduziu a taxa de juros de curto prazo para 0% e aumentou o seu balanço em cerca de 300% para proporcionar liquidez para os mercados financeiros nos Estados Unidos. Políticas similares foram adotadas pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Banco do Japão. Na zona do Euro, os governos foram liberados dos acordos fiscais que tinham sido estabelecidos pelo Tratado de Maastrich, sendo autorizados a aumentar os déficits fiscais além dos limites impostos por esse tratado.
  Na China, o governo aumentou o investimento público - fundamentalmente em infraestrutura - em mais de US$ 500 bilhões com o intuito de manter uma elevada taxa de crescimento econômico.
Protesto contra a crise financeira de 2008-2009
  No Brasil, a expansão fiscal começou antes da expansão monetária devido ao comprometimento do Banco Central brasileiro com um regime de metas de inflação bastante rígido. Nesse contexto, o então presidente Luís Inácio Lula da Silva aprovou um pacote de estímulo fiscal no fim de 2008, constituído do aumento do investimento público, redução de impostos e aumento do salário mínimo e do seguro desemprego. A redução da taxa de juros começou apenas em janeiro de 2009, após o colapso da produção industrial e da disseminação de rumores quanto a possível demissão do presidente do Banco Central.
  Em razão da forte integração entre as economias nacionais no contexto da globalização, e pelo fato de a crise ter surgido nos Estados Unidos e ter afetado sua economia - país que gera 1/5 do PIB mundial -, seus efeitos rapidamente foram sentidos em todo o mundo, em maior ou menor grau.
  Os desdobramentos para a crise iniciada no segundo semestre de 2008 eram incertos e dependiam também da eficácia da intervenção dos governos dos países, particularmente dos desenvolvidos. Esses elaboraram diversas estratégias de socorro a bancos e outras empresas. O governo norte-americano, inicialmente, já havia disponibilizado cerca de 700 bilhões de dólares para suas medidas. Governos de diversos países, inclusive os subdesenvolvidos, também criaram estratégias para minimizar os efeitos da crise financeira e econômica.
Protestos em Nova York por causa da crise de 2008
  Com a crise, a desregulamentação do sistema financeiro internacional, um dos pilares do neoliberalismo, passou a ser fortemente questionada. A necessidade de fiscalização, de controle mais rigoroso da economia por parte do Estado e de investimentos públicos em saúde, educação, infraestrutura e saneamento básico, entre outros setores, passaram a ser novamente discutidos, com o objetivo de discutir quais as melhores políticas econômicas a serem  adotadas dentro do sistema capitalista.   Com efeito, é cada vez maior o volume de dinheiro aplicado nos bancos e nas bolsas de valores, sendo que boa parte dele circula em busca de melhores ganhos e lucros. Se em 1980, o PIB mundial era de US$ 10 trilhões, o volume aplicado no mercado financeiro e de ações era de US$ 12 trilhões. Já em 2007, enquanto o PIB era de US$ 48 trilhões, os investimentos em títulos e ações atingiam US$ 167 trilhões. Com isso, as possibilidades de intensa especulação, de riscos e de crises são maiores.
Em Birmingham (Inglaterra), clientes do Banco Northern Rock fazem fila para sacar dinheiro, após o banco sofrer intervenção do governo do Reino Unido, o primeiro desde 1860
  Os países em desenvolvimento tiveram um desempenho econômico muito superior ao dos países desenvolvidos durante a crise. O crescimento econômico da China foi de 8,5% em 2009, reduzindo em apenas 0,5% em relação a 2008. A Índia teve um crescimento no PIB de 5,4% em 2009, frente a 7,3% de 2008. Em 2008, o Brasil tinha apresentado um crescimento econômico de 5,1%, e com a crise, em 2009, o país recuou 0,7%, fechando em 4,4%.
  Os Estados Unidos, com a crise, cresceu apenas 1,6% em 2008, e em 2009 o país teve um crescimento negativo de 3,1%. A Rússia, após crescer 5,6% em 2008, teve uma queda de 7,5% na sua economia em 2009.
Resultado do crescimento econômico de alguns países com a crise de 2008
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Geografia: homem & espaço, 8° ano / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco. - 23. ed. - São Paulo: Saraiva, 2010.

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