quinta-feira, 9 de outubro de 2014

JERUSALÉM: A CIDADE SAGRADA PARA AS TRÊS PRINCIPAIS RELIGIÕES MONOTEÍSTAS DO GLOBO

  Cidade de pedra numa paisagem de pedra, postada sobre planaltos calcários, a mil metros de altitude, abre-se para o árido deserto da Judeia e fica próxima ao estéril Mar Morto.
  Apesar do cenário adverso, há três milênios, desde que o rei Davi a conquistou dos jebuseus, e seu filho Salomão lá ergueu o Primeiro Templo, Jerusalém é o centro da cultura e da religião judaicas. Para os cristãos, é simplesmente o palco do maior drama de sua religião, a Paixão de Cristo. Para os muçulmanos, é a terceira cidade sagrada, após Meca e Medina.
  Quando as sirenes anunciam o shabat, o repouso sagrado judaico, os sinos das igrejas cristãs tocam, ou os muezzins chamam os fiéis para o culto islâmico, o poder de Jerusalém se manifesta em toda a plenitude.
  Há três dias de repouso religioso por semana - sextas-feiras (para os muçulmanos), sábado (para os judeus) e domingos (para os cristãos) - e uma infinidade de festas que, somadas, preenchem o ano inteiro. Os cultos se ignoram mutuamente, mas a religiosidade está no ar.
  Os judeus visitam a Cidade Velha para rezar junto ao Muro Ocidental (o chamado Muro das Lamentações, muralha remanescente do Segundo Templo). Os cristãos vêm para acompanhar a presumida rota de Jesus. Os muçulmanos vêm para tocar a pedra sob o dourado Domo da Rocha, de onde, ao que se diz, Maomé se elevou aos céus. Assim, Jerusalém é vital para as três religiões que, mesmo interligadas, vêm se confrontando por séculos e séculos.
Mapa da Cidade Velha de Jerusalém
  Para muitos, a palavra Yerushalavim (Jerusalém) é uma combinação das palavras em hebraico "yerusha" (legado) e "Shalom" (paz) - legado da paz. Para outros, "Shalom" é um cognato do nome hebraico "Shlomo" - Rei Salomão, o construtor do Primeiro Templo. Alternativamente, a segunda parte da palavra seria Salem (Shalem literalmente "completo" ou "em harmonia"), um nome recente de Jerusalém.
HISTÓRIA
  Jerusalém tem uma longa e rica história acentuada por seu significado religioso, simbólico e estratégico. Ela permanece como testemunho da vida e das culturas dos numerosos povos que ali reinaram. A longa história, sua importância central e o imaginário espiritual da cidade deram origem a uma vasta literatura sobre o passado de Jerusalém.
  Há mais de cinco mil anos, depois que um período de seca assolou a Península Arábica, os cananeus, tribos dos árabes semitas, vieram se estabelecer nos territórios a leste do mar Mediterrâneo que formam hoje a Síria, o Líbano, a Jordânia e a Palestina.
Localização de Jerusalém
  Os Jebusitas, um subgrupo cananeu, fundaram Jebus - Jerusalém - no lugar onde ela está localizada hoje e edificaram o primeiro muro ao seu redor, dotado de 30 torres e sete portões. Aproximadamente dois mil anos mais tarde, os filisteus, vindos de Creta, chegaram na terra de Canaã. Misturaram-se com as tribos cananeias e viveram na área sudoeste da moderna Palestina, sobre a costa do mar Mediterrâneo na atual área que se estende da Faixa de Gaza até Ashdod e Ashkelon. Os cananeus deram aos territórios que eles habitaram o nome bíblico de "A Terra de Canaã", enquanto os filisteus deram-lhe o nome de Filistina ou Palestina.
Muro de Jebusita, na cidade de Davi
  Os cananeus descobriram que estavam numa localização estratégica, cercada por poderosos impérios originários do Egito a sudoeste, através do mar Mediterrâneo a oeste, e a Mesopotâmia e Ásia a nordeste. Mil anos antes do nascimento de Cristo, os egípcios, assírios, babilônicos, persas, mongóis, gregos e romanos cresceram ao redor da terra dos cananeus e filisteus e a governaram por variados períodos de tempo.
  A posição geográfica da área significava que ela servia tanto como uma ponte entre os vários impérios regionais, como uma arena para lutas e conflitos entre eles. Em consequência, os cananeus nunca puderam estabelecer um Estado forte e unificado, e suas organizações políticas tomaram a forma de cidades independentes dotadas de governos ligados por relações federativas. Entre as cidades costeiras mais proeminentes dos filisteus, cananeus e fenícios que habitaram a atual área da Palestina estavam Beirute (Bairtuyus), Sidon, Tiro, Acre, Ashkelon e Gaza. As cidades cananeias do interior incluíam Jericó, Nablus (Shikim) e Jerusalém (Jebus). A religião dessas primeiras civilizações da Palestina era centrada na natureza: o céu era o Deus Pai e a Terra era a Mãe Terra. Esses povos semitas de Canaã formaram a base do tronco do qual descendem os palestinos de hoje.
Tribos da Palestina
  Por volta do século VIII a.C., Abraão veio de Ur, no sul da Mesopotâmia, para a terra de Canaã. Ele se estabeleceu nas cercanias do vale do Jordão. Abraão não era nem judeu nem cristão, mas um crente na unicidade de Deus. Ele é descrito no Gênesis como tendo adorado "o mais alto Deus". O Corão menciona que ele era um "muçulmano", não na acepção moderna de alguém que segue as leis reveladas no Alcorão, mas sim no sentido de Ter entregue "sua submissão à vontade de Deus". Assim, cristãos, judeus e muçulmanos ainda rogam por ele em todas as suas preces, como acreditam que Deus lhes exortou a fazerem.
  Agar, a concubina de Abraão, lhe gerou seu filho Ismael, de quem os atuais muçulmanos traçam a sua descendência. Porém, sua mulher Sara gerou-lhe o filho Isaac, do qual os atuais judeus traçam a sua linhagem. Abraão se mudou para um lugar perto de Hebron (Al-Khalil), onde viveu pregando o monoteísmo. Quando morreu, Ismael e Isaac sepultaram-no na mesma cova onde sua mulher Sara foi sepultada. Seu filho Isaac gerou Jacó (Israel), que viveu na região de Harran (Aram).
A partida de Abraão, por Jozsef Molnar
  Por volta de 1300 a.C., os doze filhos de Jacó (Israel) partiram para o Egito. Eles se integraram aos egípcios e José, o mais jovem dos filhos de Jacó, casou com a filha do sumo sacerdote. Originalmente era um pequeno grupo de pessoas que se multiplicara e ganhara força durante centenas de anos no Egito, tornando-se os israelitas. Foi no Egito que Moisés, o fundador do judaísmo e o mais eminente legislador e também profeta para as três religiões reveladas, nasceu e estudou filosofia egípcia, tornando-se letrado em todas as ciências dos egípcios. Moisés, juntamente com seu povo (B'nei Israel) deixaram o Egito por volta do século XIII a.C. e vagaram durante 40 anos no Sinai. Nesse tempo Moisés recebeu a Lei Divina (Os Dez Mandamentos) no monte Sinai (Tur).
Passagem bíblica em que Moisés abre o Mar Vermelho para a passagem dos israelitas
  Após a morte de Moisés, Josué assumiu a liderança dos israelitas e os conduziu para o oeste pelo rio Jordão até Canaã. A primeira cidade cananeia que Josué conquistou foi Jericó, destruindo-a juntamente com seus habitantes. Depois, ele assumiu o controle de Yashuu (Bayt Eli), Likihish e Hebrom, embora os filisteus tenham bloqueado o avanço do povo de Moisés rumo à costa, na área entre Gaza e Jafa, enquanto os cananeus impediram-nos de conquistar Jerusalém. Quando chegaram a Canaã, foram influenciados pelos cananeus e imitaram seus ritos religiosos, especialmente na apresentação de ofertas sacrificiais ao Deus Baal.
Mapa de Jerusalém durante o Antigo Testamento
  Nos 150 anos seguintes, os israelitas, filisteus e cananeus controlaram, alternadamente, porções da área da moderna Palestina, com os cananeus (jebusitas) controlando Jerusalém. Porém, nenhum grupo foi capaz de consolidar o controle sobre toda a área. Houve numerosas lutas entre os grupos, sendo que cada um mantinha sua própria cultura e independência.
  Por volta de 1000 a.C., o rei dos israelitas, Davi, pôde subjugar os pequenos estados de Edom, Moab e Amon. Durante sete anos ele fez de Hebron sua capital, mas, depois transferiu o centro do poder para Jerusalém.
  Após a morte de Davi, assume o trono o seu filho Salomão, que ganhou fama após ter erguido o lugar de adoração a Deus conhecido como Templo de Salomão. Para os judeus, esse templo tornou-se o centro da vida religiosa e o símbolo básico de sua unidade, além de ter sido um ponto de peregrinação emocional para o povo judeu.
Mapa da Palestina do Antigo Testamento
  Com a morte de Salomão seu reino foi dividido em dois: o Reino de Israel, ao norte, composto por dez tribos, com Samaria (Sebastia) como sua capital, e o Reino da Judeia, ao sul, composto por duas tribos, com Jerusalém como sua capital.
  Por volta de 720 a.C., os assírios, governados pelo rei Sargão, destruíram o reino israelita do norte. Em 600 a.C. os babilônios, sob o comando de Nabucodonosor, conquistaram o reino israelita do sudeste, destruindo o templo de Salomão no ano de 586 a.C. e, em ambos os casos, a maioria da população foi levada para a Assíria e a Babilônia, na Mesopotâmia, para servir como escravos e Jerusalém tornou-se colônia babilônica.
Mapa das Doze Tribos de Israel
  Por volta de 838 a.C., Ciro, rei dos persas, conquistou a Babilônia, prosseguindo suas conquistas até ocupar a Síria e a Palestina, incluindo Jerusalém e permitiu que os escravos de Nabucodonosor retornassem à Palestina. Com a volta dos israelitas foi construído o Segundo Templo, sendo concluído em 515 a.C..
  Com o florescimento do império grego, os gregos dominaram durante sete anos a Palestina, que depois passou a ser dominada pelo Egito (322-200 a.C.), quando os selêucidas da Síria conquistaram a Palestina e dominaram a região entre 200 e 142 a.C.. Nesse ano, o rei Antióquio IV, que tinha danificado o Templo de Salomão, forçou os judeus a renunciarem ao judaísmo e a abraçarem o paganismo grego.
  Por volta de 63 a.C. após os romanos terem subjugados os selêucidas na Síria, o general romano Pompeu assumiu o controle sobre Jerusalém. Com a ajuda dos romanos, Herodes se tornou rei da Judeia no ano 40 a.C., cujo reinado durou até a sua morte em 4 a.C.. Herodes o Grande, como era conhecido, dedicou-se a desenvolver e embelezar a cidade de Jerusalém. Ele construiu muralhas, torres e palácios, expandiu o Templo do Monte (Templo de Salomão) e reforçou o pátio com blocos de pedra que pesavam até cem toneladas.
Maquete do Templo de Salomão
  Em 6 d.C., a cidade, assim como grande parte da região ao seu redor, entrou sob o controle direto dos romanos, como já tinha acontecido na Judeia. Herodes e seus descendentes até Agipa II permaneceram reis-clientes da Judeia até o ano 96 d.C.
  O domínio romano sobre Jerusalém e região começou a ser contestada a partir da primeira guerra judaico-romana, quando houve a Grande Revolta Judaica em 70 d.C.. Nesse ano, durante o governo romano de Tito, os romanos infligiram aos judeus uma derrota devastadora. Tomaram Jerusalém, queimaram e destruíram totalmente o Templo de Salomão, além de subjugarem e expulsarem os judeus da Palestina. Os romanos ergueram uma nova cidade sobre as ruínas de Jerusalém, a qual eles denominaram de Aelia Capitolina, com referência ao imperador Aelius Adrianus.
Destruição do Templo de Salomão
  Em 132 d.C., ocorreu a Revolta de Bar Kokhba, uma rebelião de judeus contra o domínio romano no qual os judeus dominaram a cidade por três anos. Em 135 os romanos recapturaram a cidade e, como medida punitiva, Adriano proibiu os judeus de entrarem em Jerusalém e rebatizou toda a Judeia de Síria Palestina numa tentativa de des-judaizar o país. Essa proibição sobre os judeus continuou até o século IV. Em 395 Jerusalém tornou-se uma cidade bizantina e cristã. Embora a Palestina e seus habitantes, política e religiosamente, fizessem parte do império bizantino, a vida e a cultura dos cananeus locais permaneceram voltadas para Jerusalém.
Cerco romano e destruição de Jerusalém, por David Roberts
  Durante o século IV, o imperador Constantino I construiu partes católicas em Jerusalém, como a Igreja do Santo Sepulcro. Jerusalém obteve um grande crescimento populacional, chegando a possuir mais de 200 mil habitantes.
  Após um breve período de controle persa, a Palestina e a Síria deixaram de pertencer à Roma e passaram ao domínio do império árabe-islâmico. Jerusalém tornou-se a primeira direção das preces dos muçulmanos e a Palestina "os recintos que Deus abençoou".
Igreja do Santo Sepulcro
  Em 638, o segundo califa, Omar Ibn al-Khattab, chegou a Jerusalém. Omar acreditava que Alá ordenara respeito à santidade a cidade de Jerusalém e o respeito por Ahl al-Kitab (O povo do livro). De acordo com o islã, a liberdade de culto a Ahl al-Kitab em Jerusalém é uma dádiva de Deus e, por isso, não pode ser subtraída por mãos humanas. Assim, Omar não tomou a cidade pela força, mas de forma pacífica, instituindo a Convenção de Omar, um acordo que determinava o controle muçulmano sobre a cidade mas reconhecia o direito inalienável à liberdade de expressão para judeus e cristãos em Jerusalém.
  Omar confiou a duas famílias árabes muçulmanas em Jerusalém as chaves da Igreja do Santo Sepulcro. Ele agiu assim objetivando mandar uma mensagem aos muçulmanos de que a igreja era um templo sagrado e que não deveria ser danificado, desrespeitado ou violado, encontrando uma solução para amenizar as rixas existentes entre as várias seitas cristãs sobre quem deveria controlar a igreja. Das famílias árabes residentes na cidade, algumas se converteram ao islã imediatamente, enquanto outras mantém até os dias atuais a fé cristã. Entre essas famílias árabes cristãs e muçulmanas da velha Jerusalém estão os Khalidis, os Alamis, os Nuseibehs, os Judahs, os Nassars e os Haddads.
A Torre de Davi visto a partir de Vale Hinnom
  A lei muçulmana vigorou em Jerusalém e na Palestina desde o século VII até o começo do século XX, exceto durante o período das Cruzadas. Os cruzados capturaram a cidade em 1099, viram-na libertada pelos aiúbidas sob Saladino em 1187, sendo recapturada em 1229. Cerca de 15 anos mais tarde, os muçulmanos dominaram novamente Jerusalém, restabelecendo seu governo, e controlando a cidade até a ocupação britânica na Primeira Guerra Mundial, em 1917.
  As dinastias islâmicas - omíadas, abássidas, fatimidas, seldjúcidas, aiúbidas, mamelucos, otomanos e hashimitas - respeitaram o "status quo ante" instituído na Convenção de Omar. Todos eles participaram da reconstrução de Jerusalém, preservando a santidade de sua herança e desenvolvendo seu legado islâmico e árabe. Essas dinastias se esforçaram para reconstruir as mesquitas da Abóbada da Rocha e de al-Aqsa, referenciadas no primeiro verso da Sura 17 do Qur'na.
Captura de Jerusalém durante a Primeira Cruzada, em 1099
  Em 1517, Jerusalém e região caiu sob domínio Turco Otomano, que permaneceu no controle até 1917. Assim como grande parte do domínio Otomano, Jerusalém permaneceu como um provincial e importante centro religioso, e não participava da principal rota comercial entre Damasco e Cairo. No entanto, os turcos muçulmanos trouxeram muitas inovações: sistemas modernos de correio usado por vários consulados, o uso da roda para meio de transporte, diligências e carruagens, o carrinho de mão e a carroça, a lanterna a óleo, provocando a modernização da cidade. Em meados do século XIX, os otomanos construíram a primeira estrada pavimentada ligando Jaffa a Jerusalém e, em 1892, a ferrovia atingindo a cidade.
  Com a ocupação de Jerusalém por Muhammad Ali do Egito em 1831, missões e consulados estrangeiros começaram a se estabelecer na cidade. Em 1836, Ibrahim Pasa permitiu aos judeus reconstruirem as quatro grandes sinagogas, entre eles a Hurva.
Sinagoga Hurva, localizada na Cidade Velha de Jerusalém
  O controle turco foi reinstalado em 1840, porém, muitos egípcios muçulmanos permaneceram em Jerusalém. Judeus de Argel e da África do Norte começaram a se instalar na cidade, em número cada vez maior. Ao mesmo tempo, os otomanos construíram curtumes e matadouros perto dos lugares sagrados para os judeus e cristãos "para que um mau cheiro sempre incomode os infiéis". Nas décadas de 1840 e 1850, os poderes internacionais iniciaram um "cabo-de-guerra" na Palestina, tentando ampliar sua proteção ao longo do país para as minorias religiosas.
  Na década de 1860, novos bairros começaram a surgir fora dos muros da Cidade Velha com o objetivo de aliviar a intensa superlotação e o pouco saneamento que existia na cidade intramuros. O Composto Russo e Mishkenot Sha'ananim foram fundados em 1860.
Bairro Mishkenot Sha'ananim em Jerusalém
  Em 1917, após a Batalha de Jerusalém, o exército britânico, liderado pelo General Edmund Allenby, capturou a cidade e, em 1922, a Liga das Nações, sob a Conferência de Lausanne, confiou ao Reino Unido a administração da Palestina.
  De 1922 a 1948 a população total da cidade passou de 52.000 para 165.000 habitantes, sendo dois terços de judeus e um terço de árabes (muçulmanos e cristãos). A situação entre árabes e judeus na Palestina nunca foi tranquila. Sob o domínio britânico, novos subúrbios foram construídos no oeste e na parte norte da cidade e instituições de ensino superior, como a Universidade Hebraica, foram fundadas.
Universidade Hebraica de Jerusalém
  A medida que o Mandato Britânico da Palestina foi terminando, o Plano de Partilha das Nações Unidas de 1947 recomendou a criação de um regime internacional, em especial na cidade de Jerusalém, constituindo-a como um corpus separatum no âmbito da administração das Nações Unidas. O regime internacional deveria continuar em vigor por um período de dez anos, e seria realizado um referendo na qual os moradores de Jerusalém iriam votar para decidir o futuro regime da cidade. No entanto, este plano não foi implementado, porque a guerra de 1948 eclodiu enquanto os britânicos se retiravam da Palestina e Israel declarava-se independente.
  A guerra levou ao deslocamento das populações árabe e judaica na cidade. Cerca de 1.500 residentes do Bairro Judeu da Cidade Velha foram expulsos e algumas centenas tomados como prisioneiros quando a Legião Árabe capturou o bairro em 28 de maio de 1948. Moradores de vários bairros e aldeias árabes do oeste da Cidade Velha saíram com a chegada da guerra, mas alguns permaneceram e foram expulsos ou mortos.
Casas destruídas durante a Primeira Guerra Árabe-Israelense em 1948
  A guerra terminou com Jerusalém dividida entre Israel e Jordânia (até então chamada de Cisjordânia). Segundo o Plano de Partilha da Palestina, as áreas de Jerusalém e Belém ficariam sob controle internacional. O Armistício de 1949 criou uma linha de cessar-fogo que atravessava o centro da cidade e à esquerda o Monte Scopus como um exclave israelense. Arame farpado e barreiras de concreto separaram Jerusalém Oriental e Jerusalém Ocidental, e caçadores militares frequentemente ameaçavam o cessar-fogo. Após a criação do Estado de Israel, Jerusalém foi decretada a sua capital. A Jordânia anexou formalmente Jerusalém Oriental em 1950, sujeitando-a à lei jordaniana, em uma atitude que só foi reconhecido pelo Paquistão.
  A Jordânia assumiu o controle dos lugares sagrados na Cidade Velha. Contrariamente aos termos do acordo, foi negado o acesso aos israelitas aos locais sagrados judaicos, muitos dos quais foram profanados, e apenas foi permitido o acesso muito limitado aos locais sagrados cristãos. Durante este período, a Cúpula da Rocha e a Mesquita de al-Aqsa sofreram grandes renovações.
Plano de Partilha da Palestina
  Durante a Guerra dos Seis Dias em 1967, Israel ocupou Jerusalém Oriental e afirmou a soberania sobre toda a cidade, embora a ocupação e a posterior anexação do setor oriental tenham sido condenadas pelas resoluções 252, 446, 452 e 465 das Nações Unidas, além de contrariar a Quarta Convenção de Genebra. O acesso aos lugares sagrados judeus foi estabelecido, enquanto o Monte do Templo permaneceu sob jurisdição de um waqf islâmico (doação religiosa para muçulmanos ou para fins de caridade). O Bairro Marroquino, que era localizado adjacente ao Muro das Lamentações, foi desocupado e destruído para abrir caminho a uma praça para aqueles que visavam o muro. Desde a guerra, Israel tem expandido as fronteiras da cidade e estabelecido um "anel" de bairros judeus em terrenos vagos no leste da Linha Verde.
  No entanto, a aquisição de Jerusalém Oriental recebeu duras críticas internacionais. Na sequência da aprovação da Lei de Jerusalém, que declarou Jerusalém "completa e unida" capital de Israel, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução que declarava a lei "uma violação do direito internacional" e solicitou que todos os Estados-membros retirassem suas embaixadas da cidade.
  O status da cidade, e especialmente os seus lugares sagrados, continuam a ser uma questão central no conflito palestino-israelense. Colonos judaicos ocuparam lugares históricos e construíram suas casas em terras confiscadas de palestinos, a fim de expandir a presença judaica na parte oriental de Jerusalém, enquanto líderes árabes têm insistido que os judeus não têm qualquer laço histórico com a cidade. Os palestinos encaram Jerusalém Oriental como a capital do futuro Estado palestino, embora permaneça sob ocupação israelense.
Planta da Cidade Velha de Jerusalém
GEOGRAFIA
  Jerusalém está situada no sul de um planalto na Judeia, que inclui o Monte das Oliveiras a leste e o Monte Scopus, a nordeste. A elevação da Cidade Velha é de aproximadamente 760 metros. A grande Jerusalém é cercada por vales e leitos de rios secos (wadis). Os vales do Cedron, Hinom e Tyropoeon se unem em uma área ao sul da cidade antiga de Jerusalém. O Vale do Cedron segue para o leste da Cidade Velha e divide o Monte das Oliveiras a partir da cidade propriamente dita.
  Ao longo do lado sul da antiga Jerusalém está o Vale do Hinom, uma ravina íngreme associada com a escatologia cristã bíblica com o conceito de inferno ou Geena.
Vale do Hinom
  O Vale de Tyropoeon começa na região noroeste próximo ao Portão de Damasco, dirige-se ao sudoeste através do centro da Cidade Velha para baixo do Reservatório de Siloé, e a parte inferior é dividida em duas colinas: o Monte do Templo no leste, e o resto da cidade no oeste. Hoje, este vale está escondido por destroços que se acumularam ao longo dos séculos.
  Nos templos bíblicos, Jerusalém foi cercada por florestas de amêndoa, azeitona e pinheiros. Ao longo de séculos de guerras e de negligência, estas florestas foram destruídas. Os agricultores da região de Jerusalém, então, construíram terraços de pedra ao longo das encostas para reter o solo, um recurso ainda em evidência na paisagem de Jerusalém.
Portão de Damasco
  O abastecimento de água sempre foi um grande problema de Jerusalém, intrincada pela rede de antigos aquedutos, túneis, reservatórios e cisternas encontradas na cidade.
  A cidade é caracterizada por um clima mediterrâneo, com verões quentes e secos, e invernos amenos e chuvosos. Cai neve normalmente uma ou duas vezes no inverno, embora a cidade experimente forte neve a cada três ou quatro anos em média.
  Janeiro é o mês mais frio do ano, com uma temperatura média de 8ºC, julho e agosto são os meses mais quentes, com temperaturas médias de 23ºC. As temperaturas variam muito do dia para a noite, e as noites de Jerusalém são tipicamente amenas, mesmo no verão. A precipitação média anual é de aproximadamente 590 milímetros, com o período das chuvas ocorrendo principalmente entre outubro e maio.
Jerusalém coberta de neve, em dezembro de 2013
  A maior parte da poluição do ar em Jerusalém vem do tráfego de veículos. Muitas das principais ruas da cidade não foram construídas para acolher um volume tão grande de veículos, levando a congestionamentos frequentes e grande quantidade de monóxido de carbono liberado na atmosfera. A poluição industrial dentro da cidade é baixa, mas as emissões provenientes de fábricas na costa mediterrânea podem se deslocar devido aos ventos e pairar sobre a cidade.
Reservatório de Siloé
CRÍTICA AO PLANEJAMENTO URBANO DE JERUSALÉM
  Os críticos dos esforços para promover uma maioria judaica em Israel dizem que as políticas de planejamento do governo são motivados por estudos demográficos que procuram limitar as construções da população árabe, promovendo, simultaneamente, as construções destinadas aos judeus.
  De acordo com um relatório do Banco Mundial, o número de violações em construções registradas entre 1996 e 2000 foi quatro vezes e meia superior nos bairros judaicos, mas foram emitidas quatro vezes menos ordens de demolição em Jerusalém Ocidental do que em Jerusalém Oriental. Os árabes de Jerusalém tinham mais dificuldades para receber a permissão de construir do que os judeus, e "as autoridades provavelmente agem mais contra os palestinos que constroem sem licença" do que contra os judeus que violam os processos de licenciamento.
Casas de palestinos sendo destruídas em Jerusalém, em julho de 2010
  Nos últimos anos, fundações judaicas privadas têm recebido permissão do governo para desenvolver projetos em terras disputadas, como no parque arqueológico Cidade de Davi, no bairro palestino de Silwan (ao lado da Cidade Velha), e o Museu da Tolerância no cemitério de Mamila (ao lado da Praça Tzion). O governo de Israel também está desapropriando terras palestinas para a construção do Muro da Cisjordânia, sob alegação de evitar ataques terroristas. Porém, os opositores acreditam que o planejamento urbano vem sendo usado como estratégia para a judaização de Jerusalém.
Igrejas e casas em Ein Kerem, situada entre as montanhas
POLÍTICA
  Atualmente Jerusalém é um município de Israel e também a sua capital e sede do governo, embora não seja reconhecida como tal pela ONU e pela União Europeia. A cidade é governada por um conselho municipal composto por 31 membros eleitos a cada quatro anos. Desde 1975, o presidente da câmara (prefeito) é eleito por sufrágio direto cumprindo um mandato de 5 anos e nomeando 6 deputados. O Ministério para Assuntos Religiosos israelita tem responsabilidade pelos locais sagrados da cidade, embora cada comunidade religiosa deva zelar pela preservação dos seus edifícios. Órgão à parte de prefeito e deputados, os membros do conselho da cidade não recebem salários, trabalhando de forma voluntária.
  A maioria dos encontros do Conselho de Jerusalém são privados, mas a cada mês, mantém uma sessão aberta ao público. Dentro do Conselho da Cidade, grupos políticos religiosos formam uma facção especialmente poderosa, possuindo a maioria dos assentos.
Suprema Corte de Israel
ECONOMIA
  Historicamente, a economia de Jerusalém foi sustentada quase que exclusivamente por peregrinos religiosos e era localizada longe dos maiores portões de Jaffa e Gaza. Os marcos religiosos de Jerusalém hoje permanecem a principal razão de visitantes estrangeiros, com a maioria dos turistas visitando o Muro das Lamentações e a Cidade Antiga.
  Durante o mandato britânico, uma lei foi estabelecida requerendo que todos os prédios fossem construídos de Meleke (tipo de material de construção encontrado na região da Palestina e utilizado desde a Antiguidade) para preservar a característica estética e histórica única da cidade.
  O parque industrial do norte de Jerusalém Har Hotzvim é a sede de algumas das maiores corporações de Israel, entre elas a Intel, a Teva Pharmaceutical Industries e a ECI Telecom.
  Desde o estabelecimento do Estado de Israel, o governo nacional tem permanecido como o maior investidor na economia de Jerusalém. O governo, centrado na cidade, gera um grande número de empregos e oferece subsídios e incentivos para novas iniciativas em negócios e empresas iniciantes.
Parque Tecnológico de Jerusalém
CULTURA
  Apesar de Jerusalém ser conhecida primeiramente pela sua significância religiosa, a cidade também é sede de muitos eventos artísticos e culturais, além de possui um grande número de museus. O Museu de Israel atrai cerca de um milhão de visitantes por ano, sendo um terço deles turistas. Os Pergaminhos do Mar Morto, descoberto na segunda metade do século XX nas cavernas de Qumran nas proximidades desse mar, estão hospedadas no Santuário do Livro. A Ala Nova funciona um extensivo programa de educação em arte. O Museu de Rockefeller, localizado no leste de Jerusalém, foi o primeiro museu arqueológico do meio oeste, tendo sido construído em 1938 durante o mandato britânico. O Museu Islâmico, localizado no Monte do Templo, foi estabelecido em 1923 e guarda muitos artefatos islâmicos.
Santuário do Livro
  Yad Vashem, o Memorial Nacional de Israel para as Vítimas do Holocausto, guarda a maior biblioteca do mundo de informações relacionadas ao holocausto. O complexo contém um museu de artes que explora o genocídio dos judeus através das exibições que focam em histórias pessoais de indivíduos e famílias mortas durante a Segunda Guerra Mundial.
  O Teatro Nacional Palestino é o único centro cultural árabe do leste de Jerusalém e procura novas ideias e abordagens inovadoras para a auto-expressão palestina.
Biblioteca Nacional de Jerusalém
SIGNIFICADO RELIGIOSO
  Jerusalém possui um papel importante para as três principais religiões monoteístas do globo: o islamismo, o judaísmo e o cristianismo. O Livro Anual de Estatística de Jerusalém listou 1.204 sinagogas, 158 igrejas e 73 mesquitas dentro da cidade. Apesar dos esforços em manter a coexistência pacífica religiosa, alguns locais, como o Monte do Templo, tem sido constantemente fonte de atritos e controvérsias.
  Jerusalém é sagrada para os judeus desde que o Rei Davi a proclamou como sua capital no século 10 a.C.. Na cidade foi construído o Templo de Salomão e o Segundo Templo. Ela é mencionada na Bíblia 632 vezes. Hoje, o Muro das Lamentações, um remanescente do muro que contornava o Segundo Templo, é o segundo local sagrado para os judeus, perdendo apenas para o Santo dos Santos, no próprio Monte do Templo. Sinagogas ao redor do mundo são tradicionalmente construídas com o seu Aron Hakodesh (receptáculo ou pequeno recinto ornamentado que contém os Sifrei Torá - rolos da Torá, livro sagrado dos judeus - voltado para Jerusalém, e as de dentro da cidade voltado para o Santo dos Santos. Orações diárias são recitadas em direção a Jerusalém e ao Monte do Templo.
Muro das Lamentações
  O cristianismo reverencia Jerusalém não apenas pela história do Antigo Testamento mas também por sua significância na vida de Jesus. De acordo com o Novo Testamento, Jesus foi levado para Jerusalém logo após o seu nascimento e depois em outra passagem quando limpou o Segundo Templo. O Cenáculo que se acreditava ser o local da última ceia de Jesus, é localizado no Monte Sião, no mesmo prédio que sedia a tumba de Davi.
  Outro lugar proeminente cristão em Jerusalém é o Gólgota, o local da crucificação de Jesus. O Evangelho de João o descreve como sendo localizado fora de Jerusalém, mas evidências arqueológicas recentes sugestionam que Gólgota fica a uma curta distância do muro da Cidade Antiga, nos confinamentos atuais da cidade.
Provável Monte Gólgota
  Jerusalém é considerada a terceira cidade sagrada do Islamismo. Aproximadamente um ano antes de ser permanentemente trocada por Medina e Meca, a qibla (direção da oração) para os muçulmanos era Jerusalém. A permanência da cidade no Islã deve-se primariamente de acordo com a Noite de Ascensão de Maomé (620 d.C.). Os muçulmanos acreditam que Maomé foi miraculosamente transportado em uma noite de Meca para o Monte do Templo em Jerusalém, onde ele ascendeu ao Paraíso para encontar os profetas anteriores do Islão. O primeiro verso do Al-Isra do Alcorão notifica o destino da jornada de Maomé como a Mesquita de Al-Aqsa (a mais distante), em referência à sua localização em Jerusalém. Atualmente, o Monte do Templo é coberto por dois marcos islâmicos para comemorar o evento - a Mesquita de Al-Aqsa, derivada do nome mencionada no Alcorão, e a a Cúpula da Rocha, que fica em cima da Pedra Fundamental, na qual os muçulmanos acreditam que Maomé ascendeu ao céu.
Cúpula da Rocha visto através do Portão do Algodão
FONTE: Garcia, Valquíria Pires. Projeto radix: geografia / Valquíria Pires Garcia -- Beluce Bellucci. -- 2. ed. -- São Paulo: Scipione, 2012. -- (Coleção projeto radix)

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