sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O CULTIVO DE COCA NA AMÉRICA LATINA

  A coca é uma planta nativa de países localizados na região dos Andes, por isso o cultivo deste arbusto é um costume antigo entre os índios da região. Ela é uma das quatro plantas cultivadas na família Erythroxylaceae. A planta é uma importante fonte de renda na Argentina, Bolívia, Colômbia e Peru. Também desempenha um importante papel em áreas fora da América do Sul, como na Sierra Nevada de Santa Marta (um prolongamento da Cordilheira dos Andes na América Central).
  A coca é conhecida em todo o mundo pela sua alcaloide psicoativo - cocaína. O teor de alcaloides da folha da coca é baixa, entre 0,25% e 0,77%. Isso significa que mascar as folhas ou beber chá de coca não produz a sensação que a cocaína produz (euforia, megalomania, depressão). O extrato de folha de coca tinha sido utilizado pela Coca-Cola nos seus produtos a partir de 1885.
Cultivo de coca na Bolívia
  O cultivo da coca passou a ser de interesse comercial para determinados grupos que utilizam suas folhas para a produção da pasta base de cocaína, uma droga de consumo proibido na maioria dos países do mundo, mas que gera volumosa renda no comércio ilegal de drogas, chamado de narcotráfico.
  Atualmente, em alguns países da América Latina, principalmente Colômbia, Bolívia e Peru, é possível encontrar lavouras de coca em várias propriedades agrícolas. Nesses países, milhares de camponeses deixaram de cultivar os produtos tradicionalmente comerciais, como frutas, cereais e cana-de-açúcar, e passaram a sobreviver do cultivo da coca, já que seu comércio é mais rentável.
  A extração de cocaína da coca requer vários solventes e de um processo químico conhecido como um ácido - extração de base, que pode facilmente extrair os alcaloides a partir da planta.
Secagem da folha de coca no Peru
  A planta da coca se assemelha a um arbusto Blackthorn - tipo de ameixa nativa da Europa -, e cresce a uma altura de 2 a 3 metros. Os ramos são retos e as folhas são finas, opacas, oval e com cone nas extremidades. A característica marcante da folha é uma porção aréola delimitada por duas linhas de curvas longitudinais, uma linha de cada lado da nervura central, sendo mais visível na face inferior da folha.
  Há duas espécies de coca cultivada, cada uma com duas variedades:
Erythroxylum coca
  • Erythroxylum coca var coca (Coca Boliviana) - bem adaptado no leste dos Andes, principalmente no Peru e na Bolívia, em área úmida, tropical e de floresta montanhosa.
  • Erythroxylum coca var ipadu (Coca Amazônica) - cultivada na planície da bacia amazônica, principalmente no Peru e na Colômbia.
 Erythoroxylum novogranatense
  •  Erythroxylum novogranatense var novogranatense (Coca Colômbia) - variedade de montanhas que é utilizado em áreas de várzea. É cultivada em regiões mais secas da Colômbia, sendo também bastante adaptável a diferentes condições ecológicas. As folhas têm linhas paralelas de cada lado da nervura central.
  • Erythroxylum novogranatense var truxillense (Coca de Trujillo) - cultivada principalmente no Peru e na Colômbia, suas folhas não possuem linhas paralelas de cada lado da nervura central, como ocorre com as outras variedades.
Espécie Erythoroxylum novogranatense
  Todos os quatro tipos de coca cultivadas foram domesticados em tempos pré-colombianos e são bastante estreitamente relacionados entre si.
  O extrato de coca possui compostos orgânicos e inorgânicos, como a maioria das plantas. Há proteínas, vitaminas, carboidratos, gorduras, fibras, cálcio, fósforo e ferro, entre outros elementos. As propriedades analgésicas da coca foram descobertas pelos incas e até hoje as suas folhas são habitualmente mascadas na região dos Andes. O efeito do alcaloide (cocaína) pode moderar a fome e a fadiga.
  Alguns refrigerantes, como Coca-Cola, utilizam extrato de espécies do mesmo gênero Erythoroxylum, com menores teores de cocaína, e outros imitavam a sua composição. Porém, tais refrigerantes passaram a ser produzidos de noz-de-cola e não possuem mais folha de coca em sua formulação.
  A confusão sobre o conteúdo do refrigerante Coca-Cola e até mesmo sobre sua formulação, deve-se ao fato de ter sido este o refrigerante precursor do uso da cocaína como medicamento antiemético - medicamentos que possuem como principal característica o alívio de sintomas relacionados com o enjoo, as náuseas, as diarreias e os vômitos. No início a Coca-Cola era "remédio", continha traços da droga e seu uso era indicado sempre após as refeições.
Soldados bolivianos buscando plantações de coca
O NARCOTRÁFICO
  Devido à grande importância das lavouras de coca para a produção de cocaína e, sobretudo, para seu comércio internacional, atualmente vários grupos guerrilheiros e narcotraficantes estimulam o cultivo desta planta entre camponeses, também denominados cocaleros.
  Na Colômbia, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), obrigam os agricultores a cultivarem a coca. Criada em 1964, as Farc inicialmente tinham o objetivo de reivindicar a distribuição igualitária de terras na Colômbia. No entanto, atualmente esse grupo guerrilheiro vem desenvolvendo ações que utilizam da violência, como assassinatos e sequestros, para contrapor o governo nacional. Essas ações, na maioria das vezes, são financiadas pelo dinheiro do narcotráfico.
  A droga processada e refinada na Colômbia tem como maior consumidor os Estados Unidos. Na tentativa de combater a entrada ilegal da droga em seu território, os Estados Unidos passaram a apoiar o governo colombiano no combate à produção de cocaína.
Mapa das áreas de cultivo de coca na América Latina
FONTE: Garcia, Valquíria Pires. Projeto radix: geografia / Valquíria Pires Garcia, Beluce Bellucci. -- 2. ed. -- São Paulo: Scipione, 2012. -- (Coleção projeto radix)

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