quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A IGREJA MEDIEVAL

  A Igreja Católica representou um papel fundamental na formação e consolidação do feudalismo. Era a maior e mais poderosa instituição do período. Sua influência alastrou-se aos poucos entre os povos romanos e germânicos, transformando-a no principal elo de toda a população e garantindo certa uniformidade cultural à Europa Ocidental. O triunfo do cristianismo contribuiu para a religiosidade que marcou a Idade Média. Foi nessa época que a Igreja começou a se organizar com o objetivo de zelar pela homogeneidade dos princípios da religião cristã e promover a conversão dos pagãos.
  No século IX, não existia na Europa Ocidental quem não acreditasse em Deus. Controlando a fé, a Igreja normatizava os costumes, a produção cultural, o comportamento e, sobretudo, a ordem social. Aqueles que se desviavam de suas normas eram rigorosamente punidos. Sua influência também se fazia sentir na política, ao sagrar reis e legitimar o poder dos senhores feudais.
A luxuosidade do clero ia de contraste com a pobreza da maioria da população
  Presentes em todos os níveis sociais, os membros da Igreja medieval incitaram valores como a passividade e a subordinação dos homens comuns perante o senhor, tanto o senhor espiritual (clérigo), encarregado de proteger as almas, quanto o senhor feudal da terra (nobre), que protegia os corpos.
  O poder da Igreja, não estava restrito ao plano espiritual, por mais importante que fosse a espiritualidade para as sociedades medievais; era também temporal. Isso porque ela foi, pouco a pouco, se transformando na maior proprietária de terras da Idade Média e construindo fortes vínculos com a estrutura feudal.
  Além dos territórios diretamente controlados pelo papa (o Patrimônio de São Pedro), o alto clero (composto pelos bispos, arcebispos e abades) e várias ordens religiosas possuíam muitos feudos. O celibato clerical, criado nos primeiros séculos do cristianismo e rigorosamente aplicado a partir do século XI, contribuía para a manutenção do patrimônio eclesiástico feudal, ao evitar a divisão entre possíveis herdeiros dos membros do clero.
Durante a Idade Média a Igreja passou a ser a maior proprietária de terras na Europa
  O crescente apego de parte do clero à terra e aos bens materiais acabou gerando reações dentro da própria Igreja. Surgiram ordens religiosas que procuravam afastar seus membros das tentações do mundo por meio do isolamento em mosteiros e abadias e de votos de castidade, pobreza e silêncio. Distinguiu-se, a partir de então, o clero secular (que vivia no saeculum, no "mundo", em contato com a terra, a administração e a exploração das riquezas) do clero regular (que vivia de acordo com a regula, as "regras", como eram chamados os votos que os religiosos faziam).
  A nova organização social que despontava na Europa com a desagregação do Império Romano - o feudalismo - só assumiu sua forma mais acabada por volta dos séculos VIII e IX. Nessa época, outra onda de invasões, desta vez empreendidas pelos povos árabes, húngaros, eslavos e normandos (ou vikings), isolou a Europa Ocidental do Oriente.
Aspecto de uma cidade medieval
  A expansão islâmica, também chamada de conquistas islâmicas ou conquistas árabes, começou logo após a morte de Maomé, e atingiu seu apogeu em meados do século VIII. Ele havia estabelecido uma nova organização política unificada na península Arábica, a qual, sob o subsequente domínio dos califas dos califados Rashidun e Omíada, experimentou uma rápida expansão do poder árabe para muito além da península, sob a forma de um vasto Império Árabe muçulmano, com uma área de influência que se estendia do noroeste da Índia, através da Ásia Central, Oriente Médio, África do Norte, península Itálica meridional e península Ibérica até os Pirineus.
  A derrota das forças muçulmanas na Batalha de Poitier, em 732, proporcionou a reconquista do sul da França pelos Francos, embora o principal fator para a interrupção da expulsão tenha sido a deposição da dinastia Omíada e a sua substituição pela dinastia Abássida. Os Abássidas transferiram a capital para Bagdá e concentraram o seu interesse no Oriente Médio em desfavor da Europa, ao mesmo tempo que perdiam o domínio de uma vasta extensão territorial. Os descendentes dos Omíadas obtiveram o domínio da península Ibérica, os Aglábidas do norte da África e os Tulúnidas passaram a governar o Egito.
Expansão árabe
  Em meados do século VIII, assiste-se ao renascimento e ao aparecimento de novas rotas comerciais no Mediterrâneo, tendo as antigas rotas romanas sido substituídas pelo comércio entre os reinos dos Francos e dos Árabes.
  Com o tempo, num mundo em que uma restrita minoria era alfabetizada, as igrejas, os mosteiros e as abadias converteram-se nos principais centros da cultura letrada. Nesses mosteiros e abadias medievais funcionavam as escolas e as bibliotecas da época. Era lá que se preservavam e restauravam textos antigos da herança greco-romana.
  Apesar de todo o seu poder e influência na sociedade, a estrutura da Igreja medieval encontrou dificuldades em manter a homogeneidade da doutrina cristã. Era comum o surgimento de seitas, facções ou orientações que, embora fundadas em princípios cristãos, se opunha à doutrina oficial da Igreja - eram as chamadas heresias. O difícil relacionamento com a Igreja bizantina também foi fator de ameaça ao poderio da Igreja com sede em Roma, que culminou, em 1054, no Cisma do Oriente.
  A cristandade foi o fator determinante de unidade entre a Europa Oriental e Ocidental antes da conquista árabe; no entanto, a perda do domínio do mediterrâneo viria a estagnar as rotas comerciais marítimas entre as duas regiões. A própria Igreja Bizantina, que viria a tornar-se Igreja Ortodoxa, era distinta em termos de práticas, liturgia e língua da Igreja ocidental, que viria a se tornar Igreja Católica.
Representação da Igreja na Idade Média
  As diferenças teológicas e políticas tornaram-se cada vez mais enrugadas e, em meados do século VIII, a abordagem de matérias como a iconoclastia, o casamento de sacerdotes e a separação de poderes entre a Igreja e o Estado era de tal forma contrastante que as diferenças culturais e religiosas eram eram bem mais superiores do que as semelhanças.
  A estrutura eclesiástica do Império Romano no ocidente sobreviveu relativamente intacta às invasões bárbaras, mas o papado pouca autoridade exercia, sendo raros os bispos ocidentais que procuravam no papa a liderança religiosa ou política. A maior parte dos papas anteriores a 750 debruçava-se sobretudo sobre questões bizantinas  e teológicas orientais. A grande maioria das mais de 850 cartas hoje conservadas do papa Gregório I dizem respeito a assuntos sobre a Itália ou Constantinopla. A única região da Europa que o papado exercia influência era a província romana da Britânia, para onde Gregório enviou, em 597, a missão gregoriana com o intuito de converter os anglo-saxões ao cristianismo. Os missionários irlandeses, que entre os séculos V e VII foram os mais ativos da Europa Ocidental, foram autores de várias campanhas de cristianização, primeiro nas ilhas Britânicas e depois no continente.
Santo Agostinho pregando para o rei saxão Etelberto e sua corte
  Durante a Alta Idade Média, assiste-se à implementação do monarquismo no Ocidente, inspirado sobretudo pela tradição monástica dos Padres do Deserto sírios e egípcios, que pregavam os ideais monásticos (abdicação dos objetivos comuns dos homens em prol da prática religiosa). Os ideais monásticos são rapidamente difundidos do Mediterrâneo para a Europa durante os séculos V e VI através de documentos hagiográficos (tipo de biografia que consiste na descrição da vida de algum santo, beato e servos de Deus proclamados por algumas igrejas cristãs, sobretudo pela Igreja Católica, pela sua vida e pela prática de virtudes heroicas), como A Vida de Antão.
Santo Antão do Deserto
  Os mosteiros exerceram uma influência profunda na vida religiosa e política da Alta Idade Média, tutelando vastas regiões em nome de famílias poderosas, atuando como centros de propaganda e de apoio monárquico em regiões recentemente conquistadas, e organizando missões de evangelização. Eram também o principal, e por vezes único, centro de educação e literária em determinada região, copiando também muitos manuscritos sobreviventes dos clássicos romanos.
Mosteiro beneditino de São Pedro da Roda, em Girona - Espanha
FONTE: Vicentino, Cláudio. História geral e do Brasil / Cláudio Vicentino, Gianpaolo  Dorigo - 2. ed. - São Paulo: Scipione, 2013.

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