quinta-feira, 3 de julho de 2014

A REFORMA PROTESTANTE E A CONTRA-REFORMA

  Na Europa do início do século XVI, a Igreja católica tinha grande poder e influência sobre a vida das pessoas. Como a Bíblia só existia em latim - língua que a maior parte da população não entendia - os textos bíblicos eram sempre explicados pelos membros do clero. Eles dominavam o latim e afirmavam ser os únicos capazes de intermediar a relação dos fiéis com Deus.
  De acordo com a Igreja católica, para garantir a salvação da alma e assegurar a vida eterna no Paraíso, era necessário realizar boas ações na Terra. Quem se desviava do que a Igreja considerava o caminho do bem era considerado pecador.
  Mas nem todas as pessoas aceitavam sem crítica os ensinamentos  da Igreja. E muitos questionavam o comportamento dos padres e do papa, alegando que a Igreja se desviara de seus princípios originais e vivia envolvida em situações comprometedoras.
A Vulgata - tradução da Bíblia para o latim, por São Jerônimo
  Eram frequentes os casos de nepotismo junto ao clero e muitos padres tinham filhos, embora fossem obrigados a manter a castidade. Além disso, os religiosos pareciam mais preocupados em acumular riquezas do que em divulgar os ensinamentos de Cristo - uma das principais críticas à Igreja se referia à venda de indulgências.
  Indulgência era o perdão que a Igreja oferecia aos fiéis que se arrependiam de seus pecados. Em 1513, o papa Leão X estabeleceu que esse perdão passaria a ser vendido sob a forma de um documento chamado carta de indulgência.
  Os representantes da Igreja católica percorriam as cidades europeias vendendo essas cartas a quem quisesse garantir o perdão dos pecados já cometidos e também dos que viesse a cometer. O comércio de indulgências tornou-se tão lucrativo e difundido que os fiéis podiam adquirir carta de indulgência na casa bancária dos Fuggers, um dos maiores banqueiros da época.
Venda de indulgências - pintura de Augsburg de cerca de 1530
  Outra atividade da Igreja que muitas pessoas condenavam, mas que dava muito lucro, era a venda de imagens e relíquias, objetos supostamente sagrados, como fios de cabelo da Virgem Maria ou pedaços da cruz de Cristo. Segundo a Igreja, quem comprasse essas mercadorias  também teria o perdão dos pecados.
  O dinheiro arrecadado pela Igreja era usado para manter o luxo em que viviam os representantes do alto clero e também para a compra de obras de arte e a construção de igrejas. Ao instituir as cartas de indulgência, o papa Leão X tinha como principal objetivo conseguir dinheiro para finalizar as obras de construção da Basílica de São Pedro, em Roma.
Papa Leão X (1475-1521)
A REFORMA PROTESTANTE
  Uma das pessoas que discordava da atuação da Igreja era Martinho Lutero, um monge católico que vivia na Saxônia - região do Sacro Império Romano-Germânico, na atual Alemanha. Lutero defendia a ideia de que a fé era a única forma de garantir a salvação. Para ele, os pecados só podiam ser perdoados por Deus, e não pela Igreja. Com isso, surgiu a Reforma Protestante.
  A Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão culminado no início do século XVI por Martinho Lutero, quando através da publicação de suas 95 teses, em 31 de outubro de 1517 na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana, propondo uma reforma no catolicismo romano. Os princípios fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como os Cinco Solas. Essas suas proposições se tornaram muito populares, pois tiravam da Igreja e davam a cada pessoa a responsabilidade por sua própria salvação. Essas teses, porém, iam contra os interesses da Igreja católica, que excomungou Lutero em 1521.
Martinho Lutero (1483-1546)
A Pré-Reforma
  Antes de acontecer a Reforma Protestante, existiu a Pré-Reforma, que teve suas origens em uma denominação cristã do século XII conhecida como Valdenses, que era formada pelos seguidores de Pedro Valdo, um comerciante de Lyon, França, que se converteu ao Cristianismo por volta de 1174. Ele decidiu encomendar uma tradução da Bíblia para a linguagem popular e começou a pregar ao povo sem ser sacerdote. Ao mesmo tempo, renunciou à sua atividade e aos bens, que repartiu entre os pobres. Desde o início, os valdenses afirmavam o direito de cada fiel de ter a Bíblia em sua própria língua, considerando ser a fonte de toda autoridade eclesiástica. Eles reuniam-se em casas de famílias ou mesmo em grutas, clandestinamente, devido à perseguição da Igreja Católica Romana, já que negavam a supremacia de Roma e rejeitavam o culto às imagens, que consideravam como sendo idolatria.
Igreja Valdense em Roma
  No século XIV, o inglês John Wycliffe, considerado como precursor da Reforma Protestante, levantou diversas questões sobre controvérsias que envolviam o Cristianismo, mais precisamente a Igreja Católica Romana. Entre outras ideias, Wycliffe queria o retorno da Igreja à primitiva pobreza dos tempos dos evangelistas, algo que, na sua visão, era incompatível com o poder político do papa e dos cardeais, e que o poder da Igreja devia ser limitado às questões espirituais, sendo o poder político exercido pelo Estado, representado pelo rei.
  Contrário à rígida hierarquia eclesiástica, Wycliffe defendia a pobreza dos padres e os organizou em grupos. Estes padres foram conhecidos como "lordados".
John Wycliffe (1328-1384)
  Mais tarde, surgiu outra figura importante deste período: Jan Huss. Nascido na Tchecoslováquia, iniciou um movimento religioso baseado nas ideias de John Wycliffe. Seus seguidores ficaram conhecidos como Hussitas.
  Os hussitas foram divididos em dois grupos: os moderados utraquistas e os radicais taboritas (da cidade de Tábor, no sul da Boêmia). Os hussitas exigiam:
  • comunhão sob as duas espécies (os comungantes deveriam comer a hóstia e beber vinho);
  • a liberdade de pregação;
  • a pobreza da Igreja;
  • a punição dos pecados mortais sem distinção da posição de nascimento do pecador.
Jan Huss (1369-1415)
  Huss foi excomungado pela Igreja Católica em 1410 e, condenado pelo Concílio de Constança, foi queimado vivo e morreu cantando um cântico.
  A Reforma Protestante também foi impulsionada por razões políticas e sociais, como:
  • os conflitos políticos entre autoridades da Igreja Romana e governantes das monarquias europeias, cujos governantes desejavam para si o poder espiritual e ideológico da Igreja e do Papa, muitas vezes para assegurar o direito divino dos reis;
  • práticas como a usura eram condenadas pela ética católica romana, assim, a burguesia capitalista que desejava obter elevados lucros econômicos sentiria-se mais "confortável" se pudesse seguir uma nova ética religiosa, adequada ao espírito capitalista. Esta necessidade foi atendida pela ética protestante;
  • algumas causas econômicas para a aceitação da Reforma foram o desejo da nobreza e dos príncipes de se apossar das riquezas da Igreja católica e ver-se livre a tributação papal que, apesar de defender a simplicidade, era a instituição mais rica do mundo. Também na Alemanha, a pequena nobreza estava ameaçada de extinção em vista do colapso da economia senhorial. Muitos desses nobres desejavam as terras da Igreja. Somente com a Reforma, estas classes puderam expropriar as terras;
  • durante a Reforma na Alemanha, autoridades de várias regiões do Sacro Império Romano-Germânico, pressionadas pela população e pelos luteranos, expulsavam e até assassinavam sacerdotes católicos das igrejas, substituindo-os por religiosos com formação luterana;
  • Lutero era radicalmente contra a revolta camponesa iniciada em 1524 pelos anabatistas liderados por Thomas Münzer, que provocou a Guerra dos Camponeses. Münzer comandou massas camponesas contra a nobreza imperial, pois propunha uma sociedade sem diferenças entre ricos e pobres e sem propriedade privada; Lutero por sua vez defendia que a existência de "senhores e servos" era vontade divina, motivo pelo qual eles romperam.
Gravura mostrando a Guerra dos Camponeses
O Luteranismo
  Lutero foi apoiado por vários religiosos e governantes europeus provocando uma revolução religiosa, iniciada na Alemanha, estendendo-se pela Suíça, França, Países Baixos, Reino Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste Europeu, principalmente os Países Bálticos e a Hungria.
  As teses pregadas por Lutero condenavam a avareza e o paganismo na Igreja, e pediam um debate teológico sobre o que as indulgências significavam. As 95 Teses foram logo traduzidas para o alemão e amplamente copiadas e impressas. Após um mês essas teses haviam se espalhado por toda a Europa.
  Após diversos acontecimentos, em junho de 1518, foi aberto um processo por parte da Igreja Católica contra Lutero. Alegava-se, com o exame do processo, que ele incorria em heresia. Em agosto do mesmo ano, o processo foi alterado para heresia notória. Finalmente, em junho de 1520 reapareceu a ameaça no escrito "Exsurge Domini" e, em janeiro de 1521, a bula "Decet Romanum Pontificem" excomungou Lutero. Devido a esses acontecimentos, Lutero foi exilado no Castelo de Wartburg, em Eisenach, onde permaneceu por cerca de um ano. Durante esse período de exílio forçado, Lutero trabalhou na sua tradução da Bíblia para o alemão, da qual foi impresso o Novo Testamento, em setembro de 1522.
As 95 Teses de Martinho Lutero
  Enquanto isso, em meio ao clero saxônico, aconteceram renúncias ao voto de castidade. Muitos realizaram a troca das formas de adoração e terminaram com as missas, assim como a eliminação das imagens nas igrejas e a ab-rogação do celibato. O casamento de Lutero com a ex-freira Catarina von Bora incentivou o casamento de outros padres e freiras que haviam adotado a Reforma. Com estes e outros atos consumou-se o rompimento definitivo com a Igreja Romana. 
  Martinho Lutero criou então sua própria religião, o Luteranismo. Nas Igrejas luteranas não havia uma autoridade máxima e o celibato clerical foi eliminado. Lutero também traduziu a Bíblia do latim para o alemão, permitindo que as pessoas tivessem acesso direto aos textos bíblicos, deixando de depender do clero.
Extensão da Reforma Protestante na Europa
  Vários príncipes se converteram à nova religião e deram proteção militar a Lutero, que não foi mais perseguido pela Igreja católica. Essa aliança entre Lutero e os príncipes deu origem a maior liberdade religiosa no Sacro Império Romano-Germânico, e o luteranismo se difundiu na sociedade europeia.
  Em 1529, o imperador Carlos V tentou obrigar todos os príncipes subordinados a ele (inclusive o duque Frederico da Saxônia, protetor de Lutero) a retornar ao catolicismo. O protesto dos príncipes aliados de Lutero contra essa determinação do imperador deu origem ao nome da nova religião: o protestantismo. Com isso, os príncipes adquiriram o direito de escolher qual religião desejavam seguir.
Igreja Luterana de Nossa Senhora Frauenkirche, em Dresden - Alemanha
O Calvinismo
  Ao mesmo tempo em que ocorria uma reforma em um sentido determinado, alguns grupos protestantes realizaram a chamada Reforma Radical. Queriam uma reforma mais profunda. Foram parte importante dessa reforma radical os Anabatistas, cujas principais características eram a defesa da total separação entre a Igreja e o Estado e o "novo batismo".
  Na Suíça, a Reforma teve como principal líder o francês João Calvino e o alemão Ulrico Zuínglio.
  João Calvino foi integrante do clero romano, porém, não chegou a ser ordenado sacerdote, pois foi afastado por causa de discordar de certos preceitos da Igreja católica. Depois do seu afastamento da Igreja romana, começou a ser visto como um representante do movimento protestante. Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 1533, onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se um centro do protestantismo europeu e João Calvino permaneceu desde então como uma figura central da história da cidade e da Suíça.
João Calvino (1509-1564)
  Calvino publicou as Institutas da Religião Cristã, que são uma importante referência para o sistema de doutrinas adotado pelas Igrejas Reformadas. Ele discordava tanto do catolicismo quanto do luteranismo em relação à salvação da alma. Para Calvino, desde a criação do mundo Deus já havia destinado apenas alguns seres humanos à salvação. Somente após a morte cada um iria descobrir se era ou não predestinado à vida eterna. Ninguém podia fazer nada para mudar isso durante a vida, apenas aceitar a decisão divina.
  Os calvinistas acreditavam que cada um dos predestinados à salvação vinha à Terra para realizar uma missão. O sucesso no trabalho e nos negócios era entendido como um indicativo de que a missão divina estava sendo cumprida. Assim, o sucesso profissional e financeiro passou a ser entendido também como um sinal de predestinação à vida eterna.
Livro de João Calvino Institutas da Religião Cristã
  Calvino teve de deixar a França por causa de suas crenças religiosas. Mudou-se para Genebra, na Suíça, e converteu à população local à sua religião. Mais tarde surgiram calvinistas no Leste Europeu, na França (onde foram chamados huguenotes) e na Inglaterra (onde foram chamados de puritanos).
  O problema com os huguenotes somente concluíram quando o rei Henry IV, um ex-huguenote, emitiu o Edito de Nantes, declarando tolerância religiosa e prometendo um reconhecimento oficial da minoria protestante, mas sob condições muito restritas.
Catedral de Saint Pierre, em Genebra - Suíça
  Já Ulrico Zuínglio foi o líder da reforma na Suíça e fundador das igrejas reformadas suíças. Zuínglio não deixou igrejas organizadas, mas as suas doutrinas influenciaram as confissões calvinistas. A reforma de Zuínglio foi apoiada pelo magistrado e pela população de Zurique, levando a mudanças significativas na vida civil e em assuntos de Estado em Zurique.
Ulrico Zuínglio (1484-1531)
O Anglicanismo
  A Inglaterra também foi palco de uma crise da Igreja católica. Em 1527, o rei inglês Henrique VIII pediu ao papa Clemente VII autorização para se divorciar de sua esposa, a rainha Catarina de Aragão. O papa rejeitou o pedido, mas mesmo assim o rei se separou de sua mulher e, em 1533, casou-se com uma dama da corte, Ana Bolena.
  Por causa dessa desobediência, o papa Clemente VII excomungou o monarca. então, em 1534, Henrique VIII rompeu de vez com o papado: confiscou os bens da Igreja e fundou uma nova religião: o anglicanismo, cujo chefe é o próprio rei da Inglaterra. Durante o reinado de Elizabeth I, filha de Henrique VIII, o anglicanismo se consolidou como a religião oficial da Inglaterra.
Henrique VIII (1491-1547)
  O Ato de Supremacia, votado no Parlamento em novembro de 1534, colocou Henrique e os seus sucessores na liderança da Igreja. Os súditos deveriam submeter-se ou então seriam excomungados, perseguidos e executados, tribunais religiosos foram instaurados e os católicos foram obrigados à assistir aos cultos protestantes. Muitos opositores foram mortos, como Thomas More, o Bispo John Fischer e alguns sacerdotes, frades franciscanos e monges cartuxos. Quando Henrique foi sucedido pelo seu filho Eduardo VI em 1547, os protestantes viram-se em ascensão no governo. Uma reforma mais radical foi imposta, diferenciando o anglicanismo ainda mais do catolicismo.
  A Reforma na Inglaterra procurou preservar o máximo da tradição romana (episcopado, liturgia e sacramentos). A Igreja da Inglaterra sempre se viu como a ecclesia anglicanae, ou seja, a Igreja cristã na Inglaterra e não como uma derivação da Igreja de Roma e o protestantismo.
Palácio e Abadia de Westmineter e o Big Ben, em Londres
  Em 1561, apareceu uma confissão de fé com uma Exortação à Reforma da Igreja modificando seu sistema de liderança, pelo qual nenhuma igreja deveria exercer qualquer autoridade ou governo sobre outras, e ninguém deveria exercer autoridade na Igreja se isso não lhe fosse conferido por meio de eleição. Esse sistema, considerado "separatista" pela Igreja Anglicana, ficou conhecido como Congregacionalismo.
  Na Escócia, John Knox (1505-1572), que tinha estudado com João Calvino em Genebra, levou o Parlamento da Escócia a abraçar a Reforma Protestante em 1560, sendo estabelecido o Presbiterianismo. A primeira Igreja Presbiteriana, a Church of Scotland (Igreja da Escócia), foi fundada como resultado disso.
Catedral Metropolitana de Glasgow - Escócia
A Reforma nos Países Baixos
  A Reforma nos Países Baixos, ao contrário de outros países, não foi iniciada pelos governantes das Dezessete Províncias, mas sim por vários movimentos populares que, por sua vez, foram reforçados com a chegada dos protestantes refugiados de outras partes do continente. Enquanto o movimento Anabatista gozava de popularidade na região das primeiras décadas da Reforma, o calvinismo, através da Igreja Reformada Holandesa, tornou a fé protestante dominante no país desde a década de 1560 em diante.
Igreja Reformada Holandesa, em Vereeniging - Holanda
  No início de agosto de 1566, uma multidão de protestantes invadiu a Igreja de Hondschoote na Flandres (atualmente Norte da França) com a finalidade de destruir as imagens católicas. Esse incidente provocou outros semelhantes nas províncias do norte e do sul, até Beeldenstorm, em que calvinistas invadiram igrejas e outros edifícios católicos para destruir imagens e estátuas de santos em toda a Holanda, pois de acordo com os calvinistas, estas estátuas representavam culto de ídolos.
  Duras perseguições aos protestantes pelo governo espanhol de Felipe II contribuíram para um desejo de independência nas províncias, o que levou à Guerra dos Oitenta Anos e, eventualmente, a separação da zona protestante (atual Holanda, ao norte) da zona católica (atual Bélgica, ao sul).
Westerkerk - localizada em Amsterdã, é a maior igreja protestante da Holanda
Reforma na Escandinávia
  Na Dinamarca, a difusão das ideias de Lutero deveu-se a Hans Tausen. Em 1536, na Dieta de Copenhague, o rei Cristiano III aboliu a autoridade dos bispos católicos, tendo sido confiscado os bens das igrejas e dos mosteiros. O rei atribuiu a Johann Bugenhagen, discípulo de Lutero, a responsabilidade de organizar uma Igreja Luterana nacional.
  A Reforma na Noruega e na Islândia foi uma consequência da dominação da Dinamarca sobre estes territórios. Assim, em 1537 ela foi introduzida na Noruega e entre 1541 e 1550 na Islândia, tendo assumido neste último território características violentas.
Igreja Luterana de Hallgrimur, em Reykjavik - Islândia
  Na Suécia, o movimento reformista foi liderado pelos irmãos Olaus Petri e Laurentius Petri. Teve o apoio do rei Gustavo I Vasa, que rompeu com Roma em 1525, na Dieta de Vasteras. O luteranismo, então, penetrou neste país, estabelecendo-se em 1527. Em 1593, a Igreja sueca adotou a Confissão de Augsburgo.
  Na Finlândia, as igrejas faziam parte da Igreja sueca até o início do século XIX, quando foi formada uma igreja nacional independente, a Igreja Evangélica Luterana da Finlândia.
Catedral Luterana na Praça do Senado, em Helsinque - Finlândia
A Reforma em outras partes da Europa
  Na Hungria, a disseminação do protestantismo foi auxiliada pela minoria étnica alemã, que podia traduzir os escritos de Lutero. Enquanto o luteranismo ganhou uma posição de destaque entre a população de língua alemã, o calvinismo se tornou amplamente popular entre a etnia húngara.
  Fortemente perseguida, a Reforma praticamente não penetrou em Portugal e na Espanha. Porém, uma missão francesa enviada por João Calvino se estabeleceu em uma das ilhas da Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, em 1557. Apesar de durar pouco tempo, essa missão deixou como herança a Confissão de Fé da Guanabara.
Confissão de Fé da Guanabara - primeiro escrito protestante no Brasil
  Por volta de 1630, durante o domínio holandês em Pernambuco, a Igreja Cristã Reformada (Igreja Protestante na Holanda) instalou-se no Brasil. Seu membro mais ilustre era o conde Maurício de Nassau. Esse período se encerrou com a Guerra de Restauração Portuguesa, quando os holandeses foram expulsos do Brasil.
Ata do Presbitério Reformado de Pernambuco, de dezembro de 1636
CONFLITOS E A REFORMA CATÓLICA OU CONTRA-REFORMA
  O surgimento de novas religiões na Europa nã aconteceu de forma pacífica. Na França, por exemplo, os protestantes foram vítimas de intensa perseguição por parte dos católicos. Isso provocou guerras entre os seguidores das duas crenças. Em um dos confrontos mais graves, 3 mil huguenotes foram assassinados por católicos na noite de 24 de agosto de 1572, conhecida como Noite de São Bartolomeu.
  Este foi o início de um massacre mais vasto, apesar do rei ter enviado mensageiro às províncias para manter o tratado de 1570 (Tratado de Paz de Saint-German), que tinha selado a paz entre católicos e protestantes.
  Para escapar da perseguição, muitos protestantes deixaram seus países de origem e decidiram se estabelecer na América. Alguns deles rumaram para a América portuguesa, onde estabeleceram a França Antártica (no atual Rio de Janeiro) e a França Equinocial (atual Maranhão).
Noite de São Bartolomeu, de François Dubois
  Nos países protestantes, por sua vez, foi feita a expulsão e o massacre de sacerdotes católicos, bem como a matança em massa de 30.000 anabatistas. Na Inglaterra, católicos foram executados em massa, tribunais religiosos foram instalados e muitos foram obrigados à assistir os cultos protestantes, forçando assim sua conversão ao protestantismo mediante o terror.
  Em reação a esses conflitos, no século XVI, a Igreja católica empreendeu certas reformas para alterar ou reforçar seus valores com o objetivo de evitar novas dissidências.
  Em 1540, o papa Paulo III autorizou as atividades da Companhia de Jesus, uma nova ordem religiosa fundada por Inácio de Loyola, em 1534. Seus membros, os jesuítas tinham como missão principal converter ao cristianismo os habitantes da América, da Ásia e da África, bem como administrar escolas conforme as orientações da reforma católica.
Santo Inácio de Loyola (1491-1556)
  Combinando motivação evangelizadora com disciplina militar e administração financeira independente da Igreja e das coroas europeias, a ordem teve uma grande e rápida expansão em todo o mundo. Em 1556, já atuava em várias regiões da Europa, na Índia, na China e nas colônias portuguesa, espanhola e francesa da América. Seu êxito atraiu inimigos, tanto políticos como religiosos. Pressionados pelos governos da França, da Espanha e de Portugal, o papa Clemente XIV aboliu a ordem em 1773, mas ela foi restaurada por Pio VII em 1814. Ainda assim, a Companhia de Jesus desempenhou importante papel nos primeiros tempos da colonização portuguesa na América.
Antigo mosteiro dos padres jesuítas, no Maciço de Baturité - CE
  O papa Paulo III também convocou um grupo de religiosos para rever  e formalizar as doutrinas da Igreja. Esse grupo, reunido em 1545, ficou conhecido como Concílio de Trento. Até 1563, com várias interrupções, o Concílio promoveu uma série de modificações na estrutura da Igreja católica. Entre outras reformas, estabeleceu a criação de seminários para a formação dos futuros sacerdotes, criou o catecismo (uma apresentação simplificada das crenças católicas), fortaleceu a Inquisição, para combater as heresias, e instituiu o Index Proibitorum - uma lista de livros proibido aos católicos que só foi oficialmente extinta em 1965 pelo papa Paulo VI.
Mosteiro São Bento, no Rio de Janeiro - RJ
  Um dos pontos de destaque da Reforma Protestante é o fato de ela ter possibilitado um maior acesso à Bíblia, graças às traduções feitas por vários reformadores a partir do latim para as línguas nacionais. Tal liberdade fez com que fossem criados diversos grupos independentes, conhecidos como denominações.
  Nas primeiras décadas após a Reforma Protestante, surgiram diversos grupos, destacando o Luteranismo, que foi o grupo originador do movimento de Reforma da Igreja Católica e as Igrejas Reformadas ou Calvinistas (Presbiterianismo e Congregacionalismo). Nos séculos seguintes, surgiram outras denominações, com destaque para os Batistas e os Metodistas.
Igreja Presbiteriana St. Giles, Escócia
FONTE: Cardoso, Oldimar. Leituras da história, 7° ano / Oldimar Cardoso. -- 1. ed. -- São Paulo: Escala Educacional, 2012. -- (Leituras da história)

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