domingo, 9 de março de 2014

A CRISE NA CRIMEIA

  A Crimeia é uma república autônoma da Ucrânia e está localizada em uma península do Mar Negro. Essa região pertenceu à Rússia, no período em que os dois países faziam parte da ex-União Soviética. Em 1954, a Ucrânia anexou a Crimeia ao seu território, na época em que Nikita Krushchev - que era de origem ucraniana - governava a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Diferente do restante do território ucraniano, a Crimeia possui uma população majoritariamente russa. Em 1991, com a desintegração da União Soviética e a criação de 15 novos países, a Crimeia passou a ser uma república semi-autônoma da Ucrânia, com fortes laços políticos com o país e com a vizinha Federação Russa.
Foto de satélite da península da Crimeia e do Mar de Azov
  A Crimeia possui seu próprio corpo legislativo e o poder executivo é detido por um Conselho de Ministros, governado por um presidente que serve de acordo com a aprovação do presidente da Ucrânia. Já os tribunais, fazem parte do sistema judicial da Ucrânia e não possuem autoridade autônoma.
GEOGRAFIA DA CRIMEIA
  A Crimeia possui uma área de 26.081 km², um pouco menor que o estado de Alagoas. Sua população em 2013 estava estimada em 2.143.321 habitantes. Faz fronteira com a região do Kherson a norte, com o Mar Negro ao sul e a oeste e com o Mar de Azov a leste. Conecta-se coma a Ucrânia pelo istmo de Perekop. No extremo oriental encontra-se a península de Kerch, de frente para a península de Taman, em terras russas. Entre as penínsulas de Kerch e Taman encontra-se o estreito de Kerch, que liga o Mar Negro ao Mar de Azov. A capital da Crimeia é Simferopol.
Simferopol - capital da Crimeia
  A costa da Crimeia é repleta de baías e portos. Na costa sudeste existe uma cadeia de montanhas conhecida como Cordilheira da Crimeia. Essas montanhas são acompanhadas por uma segunda cadeia paralela. A cadeia principal dessas montanhas ergue-se abruptamente do fundo do Mar Negro, alcançando uma altitude de 600 a 750 metros, começando no sudoeste da península, denominada de Cabo Fiolente.
Cordilheira da Crimeia
ECONOMIA DA CRIMEIA
  Durante os anos de poder soviético, as vilas e as dachas - fazendas, casas de campo ou mansão - da costa da Crimeia eram privilégio dos políticos fiéis ao regime socialista. Também encontram-se vinhedos e pomares nessa região. Outras atividades econômicas importantes são a pesca, a mineração e a produção de diversos óleos. Inúmeros edifícios da família imperial russa também embelezam a região, bem como pitorescos castelos gregos e medievais.
  Durante vários séculos a Ucrânia foi chamada de "celeiro agrícola da Rússia", devido ter sido a grande produtora de grãos que serviam para alimentar o vasto império czarista. Ainda hoje, a Ucrânia é um dos maiores produtores mundiais de milho e trigo, graças ao seu solo escuro e rico em matéria orgânica, o tchernoziom. Grande parte dos produtos agrícolas exportados pela Ucrânia passa pelos portos da Crimeia.
Baía de Laspi, no Mar Negro - Crimeia
  O turismo é outra importante fonte de renda, porém, o clima semiárido obriga a Crimeia a ser dependente da Ucrânia, tanto na questão da água como na alimentação.
  O quadro de energia na Crimeia e também na Ucrânia é bastante complicado. A maior parte da eletricidade da região vem da Ucrânia, e a Europa importa da Rússia cerca de 25% do gás natural. Além disso, o gás que a Rússia envia para a Europa passa por gasodutos que cortam a Ucrânia, que recebe ajuda russa por esse transporte. Uma guerra na região afetaria diretamente a economia europeia.
Gasodutos russos
ANTECEDENTES POLÍTICOS NA CRIMEIA
  De 1853 a 1856, a Guerra da Crimeia agitou a área, quando a França, Inglaterra e o Império Otomano lutaram contra os russos pelo controle da Crimeia e do Mar Negro. A Rússia acabou perdendo e cedeu sua reivindicação para a península, porém, antes de ceder a região da Crimeia, os russos devastaram as cidades e aldeias da região.
  Apesar de sua devastação, a Guerra da Crimeia foi notável por vários avanços: Florence Nightingale e cirurgiões russos introduziram métodos modernos de enfermagem e campos de batalha, os russos aboliram o sistema medieval de servidão e o uso da fotografia e do telégrafo deu a guerra um elenco distintamente moderno.
Florence Nightingale (1820-1910) - enfermeira britânica
  A entrada de povos tártaros no século XIII foi primordial para a introdução da religião islâmica na região. Esse povo era conhecido como mercadores de escravos que invadiram terras no extremo norte, na atual Polônia.
  Durante a Segunda Guerra Mundial, os tártaros da Crimeia foram deportados para servir como trabalhadores braçais na Rússia em condições desumanas, resultando na morte de milhares de tártaros.
  Após a desintegração da União Soviética, os tártaros começaram a retornar à Crimeia e hoje representa cerca de 12% da população da região. Numa eventual anexação da Crimeia por parte da Rússia, os tártaros poderão sofrer retaliações, pois a sua grande maioria é contrária a anexação.
Principais grupos étnicos da Crimeia
  A Crimeia proclamou sua independência em 5 de maio de 1992, mas concordou em permanecer parte integrante da Ucrânia como uma República autônoma. A cidade de Sebastopol está situada dentro da República, mas tem um status municipal especial na Ucrânia.
ATUAL CRISE POLÍTICA NA CRIMEIA
  A Crimeia se tornou foco da atenção da diplomacia internacional nas últimas semanas com uma escalada militar russa e ucraniana na região. As tensões separatistas, de maioria russa, se tornaram mais acirradas com a deposição do presidente ucraniano Viktor Yanukovich, que tinha desistido de assinar um tratado de livre-comércio com a União Europeia, preferindo estreitar relações econômicas com a Rússia. A renúncia de Viktor Yanukovich levou a Rússia a aprovar o envio de tropas para "normalizar" a situação. A medida só piorou as relações entre Ucrânia e Rússia, gerando grande perigo para a região.
Soldados russos no aeroporto de Simferopol
  Na Crimeia, de maioria russa, o parlamento local foi dominado por um comando pró-Rússia, que nomeou Sergei Axionov como premiê. Esse novo governo, considerado ilegal pela Ucrânia, aprovou sua adesão à Federação Russa e a realização de um referendo sobre o status da região, que ocorrerá no dia 16 de março de 2014.
  Com a intensificação das tensões separatistas, o Parlamento russo aprovou o envio de tropas para a região da Crimeia. Essas tropas não tinham identificação, porém, demonstravam claramente que eram russas - por meio de placas registradas nos veículos - e tomaram a Crimeia, dominando bases militares e aeroportos. A Rússia justificou o movimento dizendo se reservar o direito de proteger seus interesses e os de seus cidadãos em caso de violência na Ucrânia e na região da Crimeia.
Grupo pró-Rússia sobre tanque soviético em frente ao Parlamento de Simferopol
  A escalada militar fez com que diversos oficiais do exército ucraniano se juntassem ao governo local pró-russo. Outros abandonaram seus postos. No dia 4 de março, o novo governo da Crimeia anunciou que assumiu o controle da península, dando um ultimato para que os últimos oficiais leais à Ucrânia se rendessem.
  Para muitos russos, a Crimeia e sua "Cidade Heroica" de Sebastopol, da era soviética, sitiada pelos invasores nazistas, têm uma ressonância emocional muito forte, por já ter sido parte do país e ainda ter a maioria de sua população de origem russa. Além disso, a maior parte da frota russa do Mar Negro está na Crimeia. Para a Ucrânia, a perda da Crimeia para a Rússia significaria um duro golpe.
  Crimeia (incluindo Sebastopol)
  Restante da Ucrânia
  O novo governo ucraniano, pró-União Europeia, criticou os movimentos separatistas e classificou a aprovação de intervenção militar russa como uma declaração de guerra, convocando todas as suas reservas militares para reagir a um possível ataque russo. O país pediu apoio do Conselho de Segurança da ONU para conter a crise na península e defender sua integridade territorial.
  Os Estados Unidos e outros países ocidentais exigem o recuo das tropas russas na Crimeia, ameaçando a Rússia com sanções, como a suspensão de transações comerciais com o país e o cancelamento do acordo de cooperação militar com Moscou.
  Outros países do ocidente também pressionam a Rússia por uma saída diplomática. A escalada da tensão provocou uma ruptura entre as grandes potências, inclusive ameaçando a Rússia de deixar de fazer parte do G-8.
  O temor mundial é que qualquer ação militar ocidental direta provocaria uma guerra entre as superpotências nucleares. Relativamente pequena e com arsenal reduzido, as forças da Ucrânia poderiam agir, mas correriam o risco de incitar uma invasão russa muito mais ampla que poderia leva à dominação do país.
Manifestantes que apoiam a intervenção russa estendem a bandeira do país no centro de Simferopol
  A Rússia pode cortar o fornecimento de gás para a Europa, cujos gasodutos passam pela Ucrânia, e poderia provocar um ataque cibernético que poderiam ser usadas contra a Ucrânia ou o Ocidente.
FONTE: Agência de Notícias Reuters

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