quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O ARQUIPÉLAGO DE FERNANDO DE NORONHA

  O arquipélago de Fernando de Noronha pertence ao estado de Pernambuco, é formado por 21 ilhas e ilhotas, e ocupa uma área de 26 km², estando situado no oceano Atlântico Sul-Equatorial, a leste do Rio Grande do Norte, distando cerca de 345 km da costa. As coordenadas geográficas da ilha são: 03°50'S e 32°25'W. Os processos de formação desse arquipélago estão associados à teoria da deriva continental, onde a instabilidade da crosta terrestre possibilitou o extravasamento do magma através de uma fratura, que ao longo do tempo geológico, por ascensão vertical, originou o arquipélago. A montanha que deu origem ao arquipélago está alinhada aos montes vulcânicos submarinos que compõem a Cadeia de Fernando de Noronha, orientada no sentido leste-oeste.
  Fernando de Noronha constitui um Distrito Estadual de Pernambuco desde 1988, quando deixou de ser um território federal, cuja sigla era FN, e a capital era Vila dos Remédios. É gerida por um administrador-geral designado pelo governo do estado.
Vila dos Remédios, em Fernando de Noronha
  Após uma campanha liderada pelo ambientalista gaúcho José Truda Palazzo Jr., em 1988, a maior parte do arquipélago foi declarada Parque Nacional, com cerca de 8 km², para a proteção de espécies endêmicas lá existentes e da área de concentração dos golfinhos rotadores (Stenella longirostris), que se reúnem diariamente na Baía dos Golfinhos - o lugar de observação mais regular da espécie em todo o planeta. O parque nacional é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Baía dos Golfinhos, em Fernando de Noronha
  Todo o arquipélago está sobre um monte submarino cônico, com cerca de 60 km de diâmetro, tendo sua base apoiada no assoalho oceânico a quatro mil metros de profundidade. Ao longo do tempo geológico, as rochas sofreram intemperismo e formaram uma plataforma de erosão com cerca de 3 a 4 quilômetros de largura e até 100 metros de profundidade.
  A principal ilha do arquipélago, denominada Fernando de Noronha, possui cerca de 16,4 km², representando 91% da área emersa do arquipélago. O relevo do arquipélago apresenta planícies, planaltos e altos topográficos íngremes, como o Morro do Pico, com 323 metros.
Morro do Pico
OCUPAÇÃO HUMANA NO ARQUIPÉLAGO
  Em 1503, o navegador Américo Vespúcio oficialmente relatou a descoberta do arquipélago, quando um dos navios da expedição, comandada por Gonçalo Coelho, naufragou após bater nos recifes. Os náufragos habitaram a ilha principal por dois anos, até ser resgatados. Esse episódio também foi o primeiro naufrágio da história do Brasil. No ano de 1504, o fidalgo português Fernão de Noronha recebeu da coroa portuguesa o arquipélago como uma Capitania Hereditária, apesar do mesmo nunca ter visitado o local, a quem se deve o nome do arquipélago e da ilha principal.
Morro Dois Irmãos, na Baía do Sancho
  Após a descoberta, ocorreram sucessivas tentativas de ocupação por holandeses, em 1612 e 1635-1654, e franceses, em 1736, que logo foram expulsos pelos portugueses. Em 1736, os portugueses retomaram o controle da ilha e, no ano seguinte, iniciou-se sua colonização. A vila e a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios foram as primeiras edificações construídas pelos portugueses nesse período. Também foram construídas dez fortificações para proteção do arquipélago. Nas décadas que se seguiram, a ilha também foi utilizada como colônia correcional.
Igreja de Nossa Senhora dos Remédios - uma das primeiras construções de Fernando de Noronha
  O arquipélago foi visitado por vários naturalistas e pesquisadores. Entre esses, Charles Darwin, que, no ano de 1832, a bordo do navio Beagle, fez uma descrição do arquipélago e posteriormente divulgou suas observações sobre a geologia, petrografia (estudo descritivo e sistemático das rochas), natureza vulcânica, fauna e flora da ilha principal. Outra importante  expedição foi realizada em 1873, pelo navio HMS Challenger, que realizou coletas no arquipélago.
Praia Sancho
  Em 1888, foi criado o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, reintegrando o arquipélago ao Estado de Pernambuco, que se tornou Distrito Estadual. Em 2002, o arquipélago foi tombado pela UNESCO, como Sítio do Patrimônio Mundial Natural.
O CLIMA DAS ILHAS
  Devido à privilegiada localização do arquipélago, o clima reinante é o tropical oceânico, onde as brisas marinhas atenuam o calor excessivo. A temperatura média anual é de 27ºC e pouco varia entre o dia e a noite. Em Fernando de Noronha existem apenas duas estações definidas: uma seca, de agosto a fevereiro, e uma úmida, de março a julho. No período úmido ocorre o aparecimento de vários córregos temporários, que desaparecem após o período de chuvas. A ilha não possui nascentes, mas a Lagoa da Viração (lagoa de água doce), localizada na região entre a Praia do Leão e a Ponta da Sapata, nunca seca.
Ponta da Sapata
  No mês de agosto, ventos sopram forte na ilha, e em setembro a vegetação da ilha fica seca, devido à escassez de chuvas. O mês de outubro apresenta os menores níveis de precipitação. A temperatura média do mar pouco varia ao longo do ano e fica em torno de 24ºC. A distância do continente, associada à ausência de rios, possibilita que a visibilidade da água chegue a 50 metros de profundidade.
Visão parcial do arquipélago
VEGETAÇÃO TERRESTRE
  A vegetação do arquipélago se assemelha à vegetação do agreste do sertão nordestino, devido à predominância de arbustos espinhosos, cactos, vegetação rasteira e árvores que perdem as folhas durante o período seco. Entre as espécies vegetais, as gameleiras (Ficus noronhae), que são endêmicas da ilha, destacam-se pelo tamanho imponente e pela beleza. Também aparecem outras espécies como a burra-leiteira (Sapium sceleratum) em uma pequena área com vegetação de mangue, localizada na Baía do Sueste.
Gameleiras no arquipélago de Fernando de Noronha
  Durante o processo de ocupação da ilha, grande parte da vegetação original foi destruída ou substituída. Assim, várias espécies vegetais foram introduzidas para alimentação humana ou de rebanhos. Encontram-se árvores frutíferas como mangas, cajás, carambolas, mamão e fruta-do-conde. Mesmo com a introdução de espécies, a diversidade de vegetais na ilha é pequena, quando comparada às áreas costeiras.
  Um problema que preocupa os ambientalistas é a elevada taxa de expansão da leucena, uma espécie de forrageira que foi introduzida na ilha para a alimentação de rebanhos. Atualmente,  essa vegetação ocupa quase 80% da ilha de Fernando de Noronha. Essa espécie arbórea possui copa densa, que limita a passagem de luz, impedindo o crescimento de outras espécies vegetais.
Visão aérea de Fernando de Noronha
A FAUNA MARINHA
  Para muitas espécies com baixa capacidade de dispersão, a imensa e profunda massa de água oceânica, que separa o arquipélago de Fernando de Noronha do continente americano, é uma barreira geográfica quase intransponível. Por isso, ao longo do tempo geológico, a evolução propiciou o aparecimento de espécies endêmicas.
1. OS CRUSTÁCEOS
  Compondo a fauna do arquipélago, existem algumas espécies de camarões, lagostas e caranguejos. Os camarões e lagostas são frequentemente encontrados escondidos em tocas e são mais ativos durante o período noturno. Já nas rochas da zona do entremarés encontram-se frequentemente o aratu ou aratu-vermelho (Grapsus grapsus). Porém, nas partes mais centrais da ilha, o caranguejo-amarelo ou carango (Gecarcinus lagostoma) pode ser encontrado em baixa densidade. Sua ocorrência no Brasil está restrita às ilhas oceânicas de Trindade, Fernando de Noronha e Atol das Rocas.
Caranguejo-amarelo ou carango (Gecarcinus lagostoma)
2. PEIXES
  Pesquisas recentes mostram curiosas interações entre os peixes do arquipélago. Um exemplo é a guarajuba (Coranx bartholomaei), que segue a arraia-prego (Dasyatis americana) e aproveita, quando a arraia movimenta o sedimento, para se alimentar de moluscos e caranguejos e capturar eventuais invertebrados e peixes que sejam descobertos por ela. O mesmo ocorre com o peixe-papagaio (Sparisoma amplum), frequentemente seguido pelos budiões-de-noronha (Thalassoma noronhanum), que se aproveitam das sobras de alimento. Já o tubarão cabeça-de-cesto (Carcharhinus perezi) tem os parasitas removidos de seu corpo pelo pequenino góbios-neon (Elacatinus randalli). Esse peixe é um especialista na área de limpeza e também presta seus serviços a outras espécies, como o catuá (Cephalopholis fulva) e a assustadora, porém pacífica, moreia-verde (Gymnothoraz funebris).
Moreia-verde
  O ótimo estado de conservação da parte marinha das ilhas, que estão protegidas da pesca predatória, proporciona a descoberta e o entendimento das interações entre os organismos. Essas informações são fundamentais para a implementação de novas medidas de conservação no ambiente marinho, que ainda hoje são pouco conhecidas.
Peixe-papagaio
3. AS TARTARUGAS-MARINHAS
  Entre as cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem em águas brasileiras, apenas a tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) e a tartaruga-verde, ou aruanã (Chelonia mydas) estão presentes no arquipélago de Fernando de Noronha. A tartaruga-de-pente, que se alimenta de esponjas, foi intensamente caçada no Brasil devido ao seu casco, que era usada na fabricação de pentes, armações de óculos e fivelas. Já a tartaruga-verde, que se alimenta prioritariamente de algas, era caçada devido a sua carne, comumente utilizada na alimentação de muitas comunidades tradicionais costeiras.
Tartaruga-verde
  A tartaruga-de-pente usa o arquipélago apenas para alimentação. A tartaruga-verde utiliza as praias da ilha para desova durante o período que vai de janeiro a junho. Durante a noite, a fêmea dessa espécie sobe à praia e escava um buraco, onde são depositados, em média, 120 ovos. Depois, o ninho é cuidadosamente fechado e a tartaruga volta ao mar. Cada fêmea pode repetir esse processo cerca de 4 vezes por temporada reprodutiva. O tempo de incubação dos ovos é de aproximadamente 55 dias. Após nascerem, os filhotes cavam até a superfície e, durante a noite, vão em direção ao mar, onde passarão o resto de suas vidas.
Tartaruga-de-pente
  Um fato curioso é a relação entre a tartaruga-verde e algumas espécies de peixes, como o sargentinho (Abudefduf saxatilis) e o cirurgião (Acanthurus chirurgus e A. coereleus), que se alimentam de algas presas ao casco das tartarugas. Assim, há um benefício para as tartarugas, pois as algas prejudicam sua movimentação, e para os peixes, têm uma fonte alternativa de alimento.
Peixe-cirurgião
4. AS AVES MARINHAS
  Várias espécies marinhas são encontradas em Fernando de Noronha, onde obtêm alimento e se reproduzem. Algumas espécies são migratórias e usam a ilha para alimentar-se e descansar durante sua jornada. Um exemplo é o pequenino maçarico vira-pedra (Arernaria interpress), que é frequentemente encontrado nas praias, próximo ao mar, alimentando-se de pequenos crustáceos, moluscos e insetos. Também existem aves que nidificam a ilha, como o mumbebo-de-patas-vermelhas (Sula-sula) e o mumbebo marrom (Sula leucogaster). A fragata ou catraia (Fregata magnificens), também encontrada em toda a costa brasileira, encanta pela grande envergadura de suas asas, que chegam a medir 2 metros, o que lhe possibilita planar por longos períodos e percorrer grandes distâncias. Essa ave se aproveita do seu tamanho e frequentemente é avistada batendo nos mumbebos, para roubar seu alimento.
Mumbebo marrom
  O arquipélago de Fernando de Noronha possui grande importância para a avifauna, pois é área de reprodução, nidificação e alimentação, além de ser ponto de parada para aves migratórias.
5. GOLFINHOS ROTADORES
  No arquipélago de Fernando de Noronha também são encontrados golfinhos rotadores (Stenella longirostris), que foram chamados dessa forma devido aos saltos executados, girando sobre seu próprio eixo. Esses golfinhos podem ser facilmente avistados durante o dia na Baía dos Golfinhos e na Enseada do Carreiro de Pedra.
Golfinho rotador
  Outra relação curiosa ocorre entre os golfinhos e doze espécies de peixes, que se alimentam das fezes e dos vômitos dos golfinhos. A principal espécie de peixe associada a esse comportamento é a purfa (Melichthys niger) e os golfinhos rotadores são importante fonte de alimento para aquela espécie.
Purfas
  Outros mamíferos marinhos, como o golfinho pintado (Stenella attenuata) e a baleia jubarte (Megaptera novaeangliae) também são esporadicamente encontrados nas águas do arquipélago.
Golfinho pintado
FONTE: Geografia: ensino fundamental e ensino médio: o mar no espaço geográfico brasileiro / coordenação Carlos Frederico Simões Serafim, organização Paulo de Tarso Chaves. - Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2005. 304 p. (Coleção explorando o ensino, v. 8)

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