domingo, 15 de setembro de 2013

A REVOLUÇÃO MEXICANA

  A Revolução Mexicana foi um conflito armado que teve lugar no México, iniciado em 20 de novembro de 1910. Historicamente, costuma ser descrita como o acontecimento político e social mais importante do século XX no México.
CAMPONESES E LATIFUNDIÁRIOS
  Em 1910, o México era um país principalmente agrário. Os mexicanos viviam sob a ditadura de Porfírio Díaz, um general que governava o país havia mais de três décadas. Com o apoio das elites, ele  se mantinha no cargo por causa de eleições presidenciais repletas de irregularidades, que sempre lhe garantiam vitória.
  José de la Cruz Porfírio Díaz Mori (1830-1915), era um militar e político mexicano. Participou da Revolução de Ayutla, que levou os liberais ao poder em 1854, e da guerra contra o imperador Maximiliano I (1864-1867). Governou o México de 1876 a 1880 e de 1884 a 1911.
  Durante o seu longo mandato, Díaz implementou um processo de concentração de terras nas mãos de poucos proprietários, os hacendados. Essas terras foram tomadas de camponeses e indígenas sob a justificativa de que eles não possuíam os documentos de propriedade. Em seguida, foram cedidas ou vendidas a grandes latifundiários mexicanos ou a empresas estrangeiras. No início do século XX, cerca de 840 fazendeiros eram donos de quase todo o território mexicano.
Porfírio Díaz (1830-1915)
  Camponeses e indígenas que se revoltaram contra esse roubo foram perseguidos pela polícia e pela Igreja católica. Expulsos de suas terras, eles se viram obrigados a trabalhar nas propriedades dos hacendados ou das empresas estrangeiras. Em 1910, das 15 milhões de pessoas que viviam no México, cerca de 12 milhões dependiam dos grandes fazendeiros para sobreviver, trabalhando como peões nas fazendas e recebendo salários muito baixos. Alguns eram funcionários de empresas estrangeiras e trabalhavam principalmente nas minas, criações de gado ou plantações de algodão.
A situação de miséria revoltou os camponeses e indígenas mexicanos
 AGITAÇÕES POLÍTICAS NO MÉXICO
  A história política do México foi bastante conturbada durante o século XIX e início do século XX. Ex-colônia espanhola, o país conquistou sua independência em 1821. A partir de então, o poder passou para as mãos de grupos políticos conservadores. Em 1848, o país perdeu cerca de 40% do seu território para os Estados Unidos, enfraquecendo o prestígio desses governos. A perda de grande parte do território mexicano para os Estados Unidos se deu durante a Guerra Mexicano-Americana.
  A Guerra Mexicano-Americana foi o primeiro grande conflito impulsionado pela ideia de Destino Manifesto, a crença de que a América (Estados Unidos) tinha um direito dado por Deus, o destino de expandir as fronteiras do país de "costa a costa", e foi uma guerra entre os Estados Unidos e o México ocorrida entre 1846 e 1848 e que teve enormes consequências para o futuro das nações envolvidas. Como resultado, os Estados Unidos ampliaram o seu território em cerca de um quarto, enquanto o México perdeu aproximadamente metade do seu território. Na época, a guerra foi objeto de grande controvérsia moral dentro dos Estados Unidos.
Territórios perdidos pelo México para os Estados Unidos
  Em 1854, a Revolução de Ayutla instalou no México o primeiro governo liberal, que eliminou alguns privilégios dos militares e dos membros da Igreja Católica e autorizou a venda das terras da Igreja e das comunidades indígenas. Em 1857, o governo liberal concluiu uma nova Constituição.
  Descontentes com as mudanças, os conservadores entraram em guerra civil contra os liberais. Em 1859, os liberais radicalizaram ainda mais seu governo, transferindo para o Estado mexicano todos os bens que pertenciam à Igreja. Também se recusaram a pagar as dívidas assumidas pelos governos anteriores com as nações europeias.
  Por se recusar a pagar suas dívidas, o México foi invadido por tropas espanholas, inglesas e francesas, que destituíram o governo liberal. O poder foi devolvido aos conservadores, que convidaram o nobre austríaco Ferdinand Maximilian a assumir o trono do Império mexicano.
Maximiliano I - Imperador do México
  Maximiliano I (como era chamado pelos conservadores) ou Austríaco (como era chamado pelos liberais) governou o México de 1864 a 1867, quando os liberais retomaram o poder e fuzilaram o imperador.
  A violenta disputa entre conservadores e liberais foi amenizada com o primeiro governo do general Porfírio Díaz (1876-1880), que se reelegeu em 1884 e se manteve na presidência até 1911. Díaz conseguiu apaziguar os ânimos dos grupos rivais, criando um Estado forte que intermediava as divergências políticas internas. Ao mesmo tempo, estimulou a entrada de empresas estrangeiras no México.
Porfírio Díaz com sua esposa Carmen Romero Rubio
ANTECEDENTES ECONÔMICOS E SOCIAIS
  Durante o tempo colonial muitas localidades puderam conservar algumas propriedades comunais, designadas de forma genérica de éjidos. A Lei do Lerdo de 1856 - que tinha como objetivo reativar a economia e sanear as finanças do Estado -, declarou abandonadas as propriedades corporativas, particularmente as da Igreja e das comunidades indígenas. Entre 1889 e 1890, o governo de Díaz dispôs que as terras comunais tornar-se-iam emparceláveis. Os novos proprietários, desacostumados à propriedade privada, foram enganados por particulares ou funcionários. Como resultado, muitos indígenas viram-se desapossados de suas terras, tendo que empregar-se mas fazendas próximas. Outra série de leis de demarcação dos anos 1863, 1883 e 1894, segundo as quais uma parcela de propriedades rurais sem o seu respectivo título poderia considerar-se como terreno baldio, propiciou àqueles que tinham os recursos necessários apossarem-se de grandes porções de terra.
Hacienda no México
  Em 1910, menos de 1% das famílias do México possuíam ou controlavam cerca de 85% das terras cultiváveis. As localidades rurais, que abrigavam 51% da população, contavam apenas com pequenas porções de terra e a maior parte da população dependia das fazendas vizinhas. Além disso, as leis e a situação nacional favoreciam os fazendeiros, pois eles eram os únicos com acesso a créditos e a projetos de irrigação. Por seu lado, as pequenas povoações e os agricultores independentes viam-se obrigados a pagar impostos altíssimos. Essa situação afetou a economia agrícola, pois as fazendas tinham porções por cultivar e eram menos produtivas que as propriedades menores.
  Outra das repercussões da demarcação de terras e do fracionamento das terras comunais indígenas foi que alguns deles rebelaram-se contra o governo. Os conflitos, que tiveram lugar nos finais do século XIX e início do século XX, foram protagonizados por grupos indígenas, como maias, tsotsis, coras, huicholes e rarámuris, entre outros. Os conflitos mais duradouros foram os ocorridos em Yucatán, Quintana Roo e Sonora. Perante tais grupos adotou-se uma política de deportação, sendo Yucatán e Quintana Roo os principais destinos. No norte, o governo Díaz adotou contra os iaquis uma política de repressão violenta e deportação para o sul do país. O momento culminante contra este grupo teve lugar em 1908, momento no qual entre um quarto e metade da sua população havia sido enviada para as plantações de sisal em Yucatán. Mais tarde, estes grupos étnicos colaborariam com as forças revolucionárias.
Índios Yaquis em 1910
  No início do século XX começou a exploração petrolífera no México, ainda que as concessões tenham sido entregues a companhias estrangeiras, como a Standard Oil e a Royal Dutch Shell. Este processo levou o país a uma transformação industrial. Os investidores estrangeiros, protegidos pelo governo, investiram em indústrias e na exploração de matérias-primas, dando impulso à mineração e modernizando a indústria têxtil, permitindo, também, o desenvolvimento do sistema ferroviário.
  No entanto, em 1907 desencadeou-se uma forte crise internacional nos Estados Unidos e na Europa, o que levou a uma diminuição das exportações, o encarecimento das importações e a suspensão do crédito aos industriais. Esta situação criou muito desemprego, além de diminuir os rendimentos da população.
Valle de México - pintura de Velasco em 1885
  Uma seca que ocorreu em 1908 e 1909, afetou a produção agrícola, obrigando o país a importar milho, afetando grande parte da população mexicana, visto que o milho fazia parte da dieta de mais de 85% dos mexicanos. A consequente diminuição da atividade econômica do país reduziu drasticamente as receitas do governo. Tentou-se resolver este problema diminuindo os salários da burocracia e aumentando os impostos e a base fiscal, o que afetou os membros da classe média, tanto urbana como rural, assim como os membros da classe alta que não estavam ligados aos "científicos" - grupo seleto de intelectuais, profissionais e homens de negócios que compartilhavam a crença no positivismo e darwinismo social e que influíam na política do país.
Augusto Comte - um dos idealizadores do positivismo
ANTECEDENTES SOCIAIS
A Greve de Cananea - 1° de julho de 1906 
  Durante o governo de Díaz existiam numerosos latifúndios e 80% da população mexicana dependia do salário rural. Além disso, as tiendas de raya consistiam numa prática comum nestes lugares, onde se pagavam os salários dos trabalhadores em mercadoria. Mediante este sistema, conseguia-se que os trabalhadores alcançassem tal valor de crédito, que ficavam endividados por toda a vida. Este sistema, juntamente com práticas que eram cotidianas, como a contratação por logro ou a adjudicação de uma dívida inexistente, era conhecido como "enganche" - sistema que envolvia elementos coercivos, extra-econômicos e extralegais.
Porfírio Díaz em 1861
  As leis da nação eram raramente aplicadas nas fazendas, onde os trabalhadores eram vistos como escravos ou objetos de propriedade. Além disso, atuava no campo o chamado Cuerpo de Rurales, um grupo policial encarregado de "manter a paz", geralmente recorrendo a métodos brutais. Outra prática deste grupo era a leva, ou recrutamento obrigatório.
  Nas cidades, a partir de 1906, começaram a surgir numerosos movimentos operários, originando grandes greves como as de Cananea e Rio Blanco, que seriam reprimidos pelo governo mediante a força militar.
  A greve de Cananea teve lugar na povoação mineira mexicana de Cananea, Estado de Sonora, em junho de 1906. Nesse ano, a Cananea Consolidated Copper Company, com sede em Nogales, tinha cerca de 5.360 trabalhadores mexicanos nas suas minas de cobre de Cananea, recebendo três pesos e meio por dia, enquanto so 2.200 trabalhadores estadunidenses recebiam 5 pesos pelo mesmo trabalho. As condições em que os trabalhadores mexicanos viviam eram deploráveis. Durante as celebrações do Cinco de Mayo, os empregados mexicanos tornaram públicas as suas queixas ao passo que a autoridade local impôs a lei marcial para evitar a ocorrência de mais conflitos.
Loja da companhia em Cananea
  Em 1° de junho, a maioria dos mineiros mexicanos entraram em greve. Liderados por Juan José Rios, Manuel Macario Diéguez e Esteban Baca Calderón, exigiam a remoção de um encarregado chamado Luis, o pagamento de cinco pesos por oito horas de trabalho, quotas de emprego assegurando 75% dos empregos para mexicanos e 25% para estrangeiros, a colocação de homens responsáveis e respeitosos para a operação das jaulas e que todos os trabalhadores mexicanos fossem elegíveis para promoções, segundo as suas habilidades.
  Os executivos da companhia rejeitaram todas as petições e os trabalhadores decidiram marchar e mobilizar pessoas de outras cidades e municípios. A população apoiou os trabalhadores e a multidão atingiu 3.000 pessoas. Enquanto desfilavam em frente da serração da companhia, os empregados estadunidenses encarregados daquele departamento, os irmãos Metcalf, lançaram água sobre eles e depois dispararam alguns tiros, matando três pessoas. A multidão enraivecida, deteve os irmãos e linchou-os, tocando fogo neles. Quando se aproximaram do edifício governamental do presidente municipal foram recebidos por um destacamento americano de 275 homens liderado por Rangers do Arizona. Outros trabalhadores foram mortos enquanto os líderes grevistas foram colocados na prisão. O jornal norte-americano New York Times, em 3 de junho de 1906, reportou uma matéria em que no dia 1° de junho os grevistas destruíram uma serração e mataram dois irmãos que defendiam a mina. Eram relatadas onze baixas entre os "amotinados" mexicanos.
Grevistas de Cananea confrontam destacamento americano que protegia a loja da companhia
  Respondendo a um apelo telegráfico do coronel William Cornell Greene da Greene Consolited Copper Company, um destacamento de 275 voluntários de Bisbee, Douglas e Naco, Arizona, comandados pelo capitão Thomas H. Rynning dos Rangers do Arizona, entrou no México, contrariando as ordens de Joseph Henry Kibbey, governador do Território do Arizona, e a convite de Rafael Izabal, o governador de Sonora, reforçaram os Rurales de Sonora sob o comando do coronel Emílio Kosterlitsky. Tropas mexicanas encontravam-se a caminho da cidade. Quatro elementos do 5° Regimento de Cavalaria dos Estados Unidos que haviam partido de Fort Huachuca foram detidos em Naco, Arizona, na fronteira México-Estados Unidos por ordem do presidente norte-americano Howard Taft.
Empregados armados em frente à sede da companhia
A QUEDA DE PORFÍRIO
  Desde o princípio do século XX, começou a questionar-se o positivismo, ideologia que mantinha o grupo no poder, o que levou ao descrédito do darwinismo social perpetrado pelos grupos de poder contra a população. Esse fato levou a maioria da população mestiça a reclamar e exigir uma maior participação na tomada de decisões, além de que o grupo dos "científicos" deixou de ser visto como um contingente superior ou como o único capaz de dirigir o governo.
  Em 1910, Porfírio Díaz estava às vésperas de completar 80 anos de idade. Ainda assim, decidiu mais uma vez sair candidato à Presidência. Dessa vez, no entanto, encontrou um adversário que lhe ameaçava o poder: Francisco Madero.
  Francisco Madero (1873-1913), era engenheiro agrônomo formado na França e na Bélgica. Filho de um hacendado, liderou um movimento que culminou na queda de Porfírio Díaz. Governou o México de 1911 a 1913, quando foi fuzilado por um antigo aliado de Díaz.
Francisco Madero
  Durante a campanha, Madero defendeu uma série de reformas para o país, como mudanças na política eleitoral e melhoria nas condições de vida de camponeses e índios. Percebendo a força de seu adversário, Porfírio Díaz mandou prender Madero e se reelegeu mais uma vez presidente da República.
  Madero conseguiu deixar a prisão e exilou-se nos Estados Unidos, onde escreveu um manifesto conhecido como Plano de San Luis Potosí. Escrito em outubro de 1910, esse manifesto convocou os mexicanos para uma revolta armada visando derrubar Porfírio Díaz. Os principais aliados de Francisco Madero eram ricos comerciantes ou hacendados, que desejavam apenas o fim das reeleições de Porfírio Díaz e o sufrágio universal.
Túmulo de Porfírio Díaz no Cemitério do Montparnasse, em Paris - França
  Além desse apoio, Madero também contou com grupos de camponeses e indígenas. Liderados por Pancho Villa, ao norte, e Emiliano Zapata, ao sul, esses grupos reivindicavam uma reforma agrária que lhes garantisse a posse da terra.
  Apesar de não conquistar o poder em todo o país, os grupos de camponeses e indígenas governaram diversas regiões do México durante os dez anos da revolução. Nessas regiões retiraram o poder dos hacendados e da Igreja Católica, realizaram a reforma agrária e construíram vários hospitais e escolas.
  José Doroteo Arango ou
Pancho Villa, como era mais conhecido (1887-1923), aos 17 anos, depois de tentar matar um hacendado para vingar sua família, tornou-se líder de um bando que assaltava trens e fazendas. Em 1910, aderiu à Revolução com seu grupo. Visto com desconfiança pelos revolucionários liberais, foi condenado a fuzilamento e à prisão em 1912, mas conseguiu escapar. Morreu em uma emboscada planejada com o apoio do presidente Álvaro Obregón.
Pancho Villa, em 1918
  Emiliano Zapata Salazar (1879-1919) apoiou Francisco Madero contra Porfírio Díaz, mas se opôs ao governo quando Madero se demonstrou pouco radical. Aliou-se depois às tropas de Venustiano Carranza e Pancho Villa para combater as de Victoriano Huerta. Foi assassinado por um general interessado na recompensa oferecida por Carranza. Inspira o atual movimento zapatista, concentrado no estado mexicano de Chiapas.
Emiliano Zapata
O GOVERNO MADERO
  Ao longo de 1910, irromperam várias revoltas em diferentes regiões do território mexicano. O governo reagiu, mas a população formou guerrilhas que impediam o avanço das tropas federais. Anarquistas também entraram na luta e ocuparam diversas cidades no norte do México.
  A permanência de Porfírio Díaz na Presidência tornou-se insustentável. Em maio de 1911, o ditador renunciou ao poder e embarcou para o exílio na França.
  As renúncias, tanto do presidente como do vice-presidente deram lugar à presidência, ao então secretário de Relações Exteriores, Francisco León de la Barra.
  De la Barra formou um gabinete plural, no qual se incluíam porfiristas, maderistas e independentes, o que ocasionou uma grave crise política, aumentada pela atitude tomada por Madero relativa aos grupos revolucionários, a qual causou fraturas severas.
Francisco León de la Barra (1863-1939)
  De la Barra, convocou eleições presidenciais. A população escolheu Francisco Madero para ocupar a Presidência do México.
A tomada de Ciudad Juárez
  Ciudad Juárez era defendida pelo general Juan Navarro e pelo coronel de infantaria Manuel Tamborell, os quais estavam encarregados das tropas e da guarnição, respectivamente. Os revolucionários, liderados por Pascual Orozco e Pancho Villa, desobedecendo às ordens de Madero, atacaram a guarnição de Ciudad Juárez nos dias 8 e 9 de maio de 1911, conseguindo penetrar nas suas trincheiras. Madero tentou, sem sucesso, deter a investida, porém, mais rebeldes uniram-se paulativamente à transgressão, pelo que finalmente decidiu dar ordem ao resto dos seus homens para prosseguirem o assalto.
  As tropas revolucionárias tomaram a praça no dia 10 de maio, obrigando o general Navarro a assinar a carta de rendição. Então, Madero, de acordo com o Plano de San Luis, foi nomeado presidente provisório e constituiu o seu Conselho de Estado, no qual incluía, entre outros, Venustiano Carranza, o seu irmão Gustavo e José Maria Pino Suárez.
Revolucionários entrando em Ciudad Juárez
  Em 17 de maio, assinou-se um armistício de cinco dias aplicável a toda a República mexicana. No final deste armistício, firmou-se um tratado de paz na referida cidade, o qual pôs fim à revolução madeirista.
  O novo presidente assumiu o poder em novembro de 1911, mas logo despertou a desconfiança de seus eleitores ao nomear cinco ministros ligados ao ex-ditador Porfírio Díaz. Além disso, ao contrário do que esperavam camponeses e indígenas, Madero não promoveu a reforma agrária prometida durante a campanha.
Francisco Madero e líderes revolucionários em 24 de abril de 1911
  Com isso, os zapatistas, como eram conhecidos os seguidores de Emiliano Zapata, continuaram a insurgir no país. Em novembro de 1911 divulgaram o Plano de Ayala, um manifesto exigindo que o governo fizesse, de fato, a reforma agrária e atendesse às reivindicações dos camponeses e das comunidades indígenas mexicanas.
  Militares, também insatisfeitos com o governo de Madero, promoveram alguns levantes que acabaram controlados pelas tropas federais. Entretanto, em fevereiro de 1913, o general Victoriano Huerta, seguidor de Porfírio Díaz, teve melhor êxito: contando com o apoio do governo dos Estados Unidos, liderou um golpe de Estado. O presidente foi fuzilado e Huerta assumiu a Presidência do país.
Victoriano Huerta (1856-1916)
GUERRA CIVIL
  A queda do governo de Francisco Madero deu início a uma guerra civil no México. O governador de um dos Estados mexicanos, Venustiano Carranza (1859-1920), antigo aliado de Madero, formou o chamado Exército Constitucionalista e conclamou a população a pegar em armas para derrubar Victoriano Huerta. Pancho Villa aderiu ao movimento e levou consigo 10 mil soldados.; Zapata também aderiu à luta contra Huerta, liderando as tropas no centro-sul do país.
  Em 1914, o governo dos Estados Unidos enviou soldados para combater o governo Huerta, que estava estabelecendo relações com outras potências, como a Alemanha e a Inglaterra. O governo estadunidense via isso como uma atitude de rebeldia.
  Diante de tantos adversários, Huerta perdeu gradativamente o poder até que, em agosto de 1914, as tropas federais foram definitivamente derrotadas, e Huerta partiu para o exílio.
Forças de Emiliano Zapata, em 1914
CARRANZA NO PODER
  Ao assumir a Presidência em 1914, Carranza procurou assegurar a estabilidade política do país. Ao mesmo tempo que tentava restringir a influência dos militares na vida pública, precisava atender às reivindicações das camadas populares.
  Logo Carranza passou a enfrentar a oposição de antigos aliados, como Pancho Villa e Emiliano Zapata, que discordavam do modo como o presidente pretendia fazer a reforma agrária. Isso deflagrou uma nova guerra, que se estendeu até 1917. O conflito tinha, de um lado, os exércitos populares de Villa e de Zapata, e de outro, as tropas federais, comandadas pelos generais Álvaro Obregón e Plutarco Elias Calles.
Venustiano Carranza (1859-1920)
  Em 1915, o governo Carranza se aliou aos sindicatos operários para derrotar Pancho Villa, o que ocorreu em abril daquele mesmo ano. Enfraquecido, Villa ainda manteve atividades de guerrilha até 1920, quando finalmente se rendeu, recebendo em troca uma fazenda e o direito de manter uma escolta armada.
  Vitorioso na luta contra Pancho Villa, o governo Carranza dissolveu os batalhões formados pelos operários e se recusou a assumir os compromissos firmados com os sindicatos. Os sindicalistas responderam com uma greve duramente reprimida que terminou com a prisão de todos os seus líderes.
Por volta de 1915, Pancho Villa e Emiliano Zapata posam para um foto ao lado de outros revolucionários.
  Emiliano Zapata, por sua vez, foi assassinado em 1919. Até hoje seus objetivos são lembrados pela população mexicana, por meio do movimento denominado de zapatismo.
  O Movimento Zapatista é um movimento surgido em 1994, no estado de Chiapas, que conta com o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), liderado pelo subcomandante Marcos, cujo principal é a ampliação dos direitos indígenas e pela valorização de sua cultura no México, além da realização de uma ampla reforma agrária no país.
Subcomandante Marcos (de boné) ao lado do comandante Tacho, em Chiapas
A CONSTITUIÇÃO DE 1917
  Apesar das divergências com os dois principais líderes populares da Revolução Mexicana, o governo de Carranza elaborou em 1917 uma Constituição que trazia grandes avanços políticos e sociais para a época. A Constituição mexicana proibiu que estrangeiros, indústrias e igrejas tivessem posse de terras. Instituiu ainda o ensino obrigatório gratuito e estabeleceu que a exploração dos recursos naturais do país (principalmente o petróleo) ficaria sob a responsabilidade do Estado.
Emiliano Zapata após ter sido assassinado
  A Constituição mexicana de 1917 também limitou o poder da Igreja Católica: proibiu a realização de cultos públicos fora das igrejas, proibiu que os jornais religiosos tratassem de assuntos políticos, negou aos padres e bispos o direito de votar e de fundar e dirigir escolas.
  O México foi o primeiro país a incluir em sua Constituição antigas reivindicações dos operários. A Constituição de 1917 estabeleceu jornada máxima de oito horas de trabalho diárias, fez restrições ao trabalho feminino e infantil, criou o salário mínimo e reconheceu o direito de greve dos trabalhadores.
Carranza ao centro, em 22 de janeiro de 1916
O FIM DA REVOLUÇÃO
  O mandato de Carranza deveria terminar em 1920, quando estavam previstas novas eleições presidenciais. O general Álvaro Obregón desejava ser lançado como o candidato oficial do governo, mas o presidente decidiu apoiar outra pessoa. Rejeitado, o general articulou um golpe para destituir Carranza da Presidência.
  Aliados de Obregón assassinaram Carranza em maio de 1920. Posteriormente, Obregón venceu as eleições e assumiu a Presidência para um mandato de quatro anos. Durante o seu governo, estimulou a criação de sindicatos e centrais operárias, que lhe deram apoio político.
Álvaro Obregón (1880-1928)
  Sucedeu Álvaro Obregón o general Plutarco Elías Calles, que governou de 1924 a 1928. Calle fundou em 1929 o Partido Nacional Revolucionário, que em 1946 passou a se chamar Partido Revolucionário Institucional (PRI). O PRI se manteve na Presidência da República por mais de setenta anos.
Plutarco Elías Calles (1877-1945)
FONTE: Cardoso, Oldimar. Leituras da história, 8º ano / Oldimar Cardoso. -- 1. ed. -- São Paulo: Escala Educacional, 2012. -- (Leituras da história)

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