quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O MILAGRE ECONÔMICO NO BRASIL

  O período da História do Brasil entre os anos de 1969 e 1973, foi marcado por um forte crescimento da economia. Nesta época, o Brasil vivia uma ditadura militar, governado pelo General Médici. Esse período ficou conhecido como "Milagre Econômico", devido ao rápido e excepcional crescimento econômico pelo qual passou o país. Esse crescimento foi alavancado pelo PAEG (Programa de Ação Econômica do Governo), implantado em 1964 durante o governo de Castelo Branco.
  "Sinto-me feliz, todas as noites, quando ligo a televisão para assistir ao jornal. Enquanto as notícias dão conta de greves, agitações, atentados e conflitos em várias partes do mundo, o Brasil marcha em paz, rumo ao desenvolvimento. É como se eu tomasse um tranquilizante após um dia de trabalho."
  Nas palavras do então presidente da República, general Emílio Garrastazu Médici, em março de 1973 o Brasil era uma linha de tranquilidade.
Emílio Garrastazu Médici - ex-presidente do Brasil
O PAPEL DAS ESTATAIS
  Em 1967, assume o comando da economia Antônio Delfim Netto e seu interino José Flávio Pécora. Para Delfim, O PAEG teria provocado uma queda da demanda indesejada, causando recessão e desemprego. Segundo Delfim, o desenvolvimento interno do mercado brasileiro poderia por si só gerar crescimento. Assim, o governo adotou medidas de inspiração keynesiana, aumentando o investimento nas empresas estatais, agora recapitalizadas graças à política da chamada "verdade tarifária" (fixação das tarifas sem influências políticas), que as tornavam lucrativas e competitivas - conceito amplamente defendido pelos economistas e intelectuais brasileiros da época.
  O Estado investiu muito na indústria pesada, siderurgia, petroquímica, construção naval e geração de energia elétrica. O sucesso dessa política econômica promoveu o crescimento da produção de bens duráveis de consumo (automóveis, máquinas de lavar etc.), alcançando a média de 23,6% ao ano, e o de bens de capital (máquinas, equipamentos, instalações para indústrias etc.), 18,1%. As empresas estatais cresceram e, bem administradas, obtiveram lucros imensos.
Delfim Netto - Ministro da Economia na época do "milagre econômico"
 CONCENTRAÇÃO DE RENDA
  Em 1969, com o general Emílio Garrastazu Médici na Presidência da República, os militares da linha dura passaram a governar o país. Durante o governo Médici, os opositores foram perseguidos, presos ou mortos. Muitos deixaram o país.
  Os ministérios foram entregues a militares ou civis que defendiam a participação governamental na economia. Por causa dos grandes investimentos, a economia brasileira cresceu muito, acontecimento que recebeu o nome de "milagre econômico". Essa expressão foi criada nos anos 1970 para definir o que aconteceu no Brasil comandado pelos militares.
  Mas não havia nenhum milagre nesse crescimento. A principal causa da grande atividade econômica daquela época eram os empréstimos tomados pelo governo brasileiro em banco dos Estados Unidos, da Europa e do Japão.
Durante a Ditadura Militar, o país viveu um dos momentos mais tensos da sua história
A FORÇA DA PROPAGANDA
  Com os empréstimos estrangeiros, os governos militares realizaram grandes obras, que eles consideravam necessárias ao crescimento da economia brasileira. Foram feitos investimentos principalmente em obras de infraestrutura (rodovias, ferrovias, portos, telecomunicações, usinas hidrelétricas e nucleares), nas indústrias de base (mineração e siderurgia) e de transformação (papel, cimento, alumínio e fertilizantes).
  Essas obras eram utilizadas também para fazer propaganda do governo, simbolizando sua grandiosidade. O governo usava a expressão "Brasil - grande potência" para traduzir a ideia de uma economia poderosa, que poderia ser alcançada por meio de um crescimento acelerado.
  A ponte Rio-Niterói, a rodovia Transamazônica, as enormes usinas hidrelétricas de Itaipu e Tucuruí e a Usina Siderúrgica de Tubarão, no Espírito Santo, são algumas das obras "faraônicas" dessa época.
Ponte Rio-Niterói - uma das obras "faraônicas" do Milagre Econômico
  A propaganda dos governos militares também se aproveitava de acontecimentos esportivos, como o milésimo gol de Pelé e a vitória da Seleção Brasileira de futebol na Copa do Mundo do México, em 1970.
  Depois do milésimo gol, marcado em novembro de 1969, Pelé desfilou em carro aberto em Brasília e foi recebido pelo presidente Médici, que lhe concedeu uma medalha e o título de comendador. Os vencedores da Copa do Mundo de 1970 receberam tratamento semelhante.
Jogadores da Seleção Brasileira de 1970 pousando ao lado do presidente Médici em Brasília
  As datas comemorativas, como o 7 de Setembro, também foram transformadas em ocasiões para louvar os militares. Era comum ver alunos marchando como soldados em cerimônias públicas. O dia 31 de março era festejado nas escolas, com alunos em fila para ouvir discursos e cantar o Hino Nacional em comemoração à chamada "Revolução de 1964".
UM BOLO MAL DIVIDIDO
  O crescimento econômico promovido durante a ditadura permitiu a criação de muitos empregos. As grandes obras contratavam milhares de trabalhadores. Muitos tipos de material, como ferro, cimento, madeira e caminhões, deviam ser produzidos para alimentar as obras, exigindo ainda mais mão de obra.
  O número de pobres, no entanto, não diminuiu. Os salários continuaram baixos, pois, segundo o governo, as empresas precisavam ter muito lucro para poder investir continuamente. A riqueza acumulada dentro do país se tornou maior, porém bastante desigual. Depois de alguns anos de ditadura, a renda dos brasileiros ricos cresceu muito mais que a dos pobres, agravando a concentração de renda, problema que persiste até os dias atuais.
Contraste da desigualdade econômica em São Paulo - SP
O FIM DO MILAGRE
  Em 1973, ocorreu uma guerra entre Israel e alguns países árabes, como o Egito e a Síria, que ficou conhecida como Guerra do Yom Kippur. Os Estados Unidos e diversos países da Europa Ocidental apoiaram Israel. Para pressioná-los a retirar esse apoio, alguns países árabes diminuíram a produção de petróleo e quadruplicaram o seu preço, provocando uma séria crise econômica no mundo. Os países da Europa e o Japão foram os mais atingidos, pois não produzem petróleo.
  Reunidos em torno da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e donos de dois terços das reservas de petróleo do mundo, países como a Arábia Saudita, Irã, Iraque e Kuwait, tinham poder suficiente para controlar o preço do petróleo.
  A economia brasileira foi muitíssimo afetada por essa crise, pois dependia da importação de petróleo. Além disso, em 1979, uma revolução no Irã afetou as exportações de petróleo daquele país, provocando uma nova crise mundial que também atingiu a economia brasileira na década de 1970. O "milagre econômico" deu lugar a um período de pouco crescimento.
A crise de petróleo no mundo contribuiu para o fim do "milagre econômico" no Brasil
  O resultado desse falso "milagre econômico", foi o aumento da dívida externa, que chegou à US$ 90 bilhões na época. Para pagá-la, eram usados 90% da receita oriunda das exportações, e o Brasil entrou numa fortíssima recessão econômica que duraria até a década de 1990, provocando um aumento considerável do desemprego e da inflação.
FONTE: Cardoso, Oldimar. Leituras da história, 9º ano / Oldimar Cardoso. -- São Paulo: Escala Educacional, 2012. -- (Leituras da história)

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