quarta-feira, 12 de junho de 2013

O CICLO DO OURO NO BRASIL: RIQUEZA E CONFLITOS

  As primeiras grandes jazidas de ouro foram encontradas no interior da colônia somente no final do século XVII. A partir da descoberta do ouro de aluvião no vale do rio das Mortes e no vale do rio Doce, entre 1693 e 1695, a região passou a ser chamada de Minas Gerais.
  A notícia do ouro espalhou-se rapidamente, provocando uma corrida de pessoas à região. Além dos que viviam nas outras capitanias, o ouro atraiu os reinós, como eram chamados os que nasciam no reino de Portugal. A partir do começo do século XVIII, de três a quatro mil reinós partiam todos os anos em direção às minas. Era muita gente saindo de um país pequeno e pouco populoso como Portugal. Por isso, em 1720, o governo português restringiu a emigração para o Brasil. Só podia emigrar quem tivesse autorização dada por meio de um passaporte parecido com o que as pessoas usam hoje em dia para viajar para o exterior. A ambição de enriquecer explorando o ouro era tanta que muita gente não media esforços para chegar até as minas. Para lá se dirigiam muitos brancos, mestiços, indígenas e negros (os dois últimos forçados), homens e mulheres, idosos e jovens, pobres e ricos, nobres e pessoas do povo.
Pintura de Carlos Julião retratando a mineração de diamantes em Minas Gerais no ano de 1720
  A população de Minas Gerais aumentou durante todo o século XVIII. Em 1796, havia mais de 390 mil habitantes naquela capitania, correspondendo a cerca de 15% da população total da América portuguesa.
A GUERRA DOS EMBOABAS
  Os bandeirantes paulistas descobriram o ouro em Minas Gerais e por isso queriam o direito de explorá-lo com exclusividade. Só que muitos reinós e colonos de outras capitanias também cobiçavam as riquezas.
  Em contraste com a riqueza concentrada nas mãos dos que encontravam ouro, havia miséria e fome entre muitos que o procuravam. Desde o final do século XVII, crises de abastecimento marcavam a região mineradora. Todos os que migravam para lá iam em busca do ouro, mas quase ninguém cuidava do transporte de produtos para o consumo.
  A tensão cresceu quando os portugueses passaram a controlar o abastecimento da região. O conflito mais violento entre paulistas e portugueses ficou conhecido como a Guerra dos Emboabas (1707-1709).
Pintura retratando a Guerra dos Emboabas
  Os paulistas chamavam os portugueses de emboabas, palavra de origem tupi que significa "aves de pés cobertos", em referência às botas que os reinós usavam. Os mamelucos que compunham as expedições saídas de São Paulo andavam descalços. Os paulistas também usavam o termo emboabas para designar os forasteiros.
  O principal líder dos paulistas na região das minas era Manuel Borba Gato, enquanto os emboabas eram chefiados por Manuel Nunes Viana, rico pecuarista do vale do São Francisco. Foi Viana quem comandou as tropas na luta contra os paulistas, vencendo-os em Sabará e em Cachoeira do Campo.
Estátua de Manuel da Borba Gato, de Nicola Rollo
  Em 1709, muitos paulistas foram mortos por cerca de mil emboabas, comandados por Bento do Amaral Coutinho, às margens do rio das Mortes.
  Até aquele momento, a presença do governo português na região era reduzida. Porém, para acabar com o conflito e garantir a posse sobre as riquezas locais, a Coroa interveio com mais rigor. O rei Dom João V elevou à vila de São Paulo à categoria de cidade e criou a capitania de São Paulo e Minas do Ouro, desmembrada do Rio de Janeiro. Em 1720, foram criadas duas capitanias separadas: São Paulo e Minas Gerais.
Ouro Preto - na época do ciclo da mineração era conhecida como Vila Rica
NOVAS DESCOBERTAS
  A Guerra dos Emboabas foi desfavorável aos paulistas e os levou a procurar metais preciosos em outras áreas. Eles acabaram descobrindo ouro nos atuais estados de Mato Grosso e Goiás, que na época faziam parte da capitania de São Paulo.
  Em 1719, paulistas liderados por Pascoal Moreira Cabral, que haviam partido em busca de indígenas para escravizar, descobriram jazidas de ouro em área próxima à atual Cuiabá. Apesar da resistência dos coxiponés que ali viviam, a conquista e a exploração do ouro prosseguiram. A Vila Real de Cuiabá foi fundada no mesmo ano e, em 1722, outras jazidas foram descobertas por Miguel Sutil. A corrida do ouro também atraiu muita gente àquela região.

Cuiabá - MT. Cidade que surgiu graças ao ciclo do ouro
  Anos depois, Bartolomeu Bueno da Silva (filho de outro paulista com o mesmo nome) encontrou ouro em Goiás (1725) e fundou a primeira povoação branca da região: o Arraial da Barra, em 1726.
  Além das riquezas geradas pela mineração, outro objetivo da Coroa portuguesa à época era ocupar uma região estrategicamente importante. Isso ocorreu por que as capitanias de Goiás e Mato Grosso estavam próximas às minas de prata exploradas pelos espanhóis nos atuais territórios da Bolívia e do Peru, e sua criação permitiu a posterior posse  ocupação da Amazônia.
Cidade de Goiás ou Goiás Velho - GO. Originou-se a partir da exploração do ouro.
CONTROLE E EXPLORAÇÃO DAS MINAS
  O ouro descoberto na colônia pertencia ao governo de Portugal, que concedia lotes (também chamados de datas) aos que tivessem condições de explorá-los. O trabalho era feito por escravos, em locais denominados de lavras. Com isso, o comércio de escravos africanos aumentou bastante, para abastecer os mineradores.
  Percebendo no ouro uma possibilidade de reerguer sua economia que enfrentava sérios problemas desde a Restauração (golpe de Estado, ocorrido em primeiro de dezembro de 1640, contra a tentativa de anulação da independência do Reino de Portugal pela governação da Dinastia Filipina Castelhana), o governo português organizou esquemas rígidos para controlar a região das minas. Fazia parte deste controle a cobrança de impostos sobre o ouro extraído. Estas formas de cobrança passaram por modificações ao longo do século XVIII.
Mariana - MG. Importante cidade da região das Minas Gerais
FONTE: Cotrim, Gilberto, 1955 - Saber e fazer história, 7º ano / Gilberto Cotrim, Jaime Rodrigues. - 7. ed. - São Paulo: Saraiva, 2012.

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