terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

FILOSOFIA: A ORIGEM DAS CIÊNCIAS

QUAL O SENTIDO DA FILOSOFIA? O QUE FAZ O FILÓSOFO? POR QUÊ?
  Inconformismo, descontentamento, insatisfação... É o que sente quem não aceita explicações simplistas sobre a realidade e quer conhecer a verdade. Por sua vez, perplexidade, dúvida e procura de explicações impulsionam a busca do conhecimento. Foram esses sentimentos que levaram alguns homens, por volta do século VI a.C., na Grécia Antiga, a refletir sobre a natureza e a vida humana. Quem sou eu? Por que estou aqui? Qual a minha função? Como relacionar-me com os outros? As respostas que deram a essas e tantas outras questões originaram grandes correntes de pensamento que até hoje influenciam boa parte da humanidade.
Paul Gauguin. De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos? (1897/98)
QUAL O SENTIDO DE FAZER TANTAS PERGUNTAS? PARA QUE SERVE FILOSOFIA?
  É uma manhã de céu claro e limpo. De repente uma forte ventania traz nuvens carregadas, que transformam o dia em noite, e uma tempestade apavorante despenca sobre a cidade. Por que os fenômenos naturais ocorrem? Como a natureza se transforma? Uma árvore sofre uma poda radical que só lhe deixa o tronco; um ano depois, pequenos brotos rompem a casca dura da árvore e ela volta a verdejar. O que é a vida? E a morte?
  Assim como nós, os primeiros filósofos também se surpreenderam com a natureza. Buscaram entender os fenômenos por meio da observação e da reflexão sem se contentar com uma resposta que dependesse da vontade dos deuses ou do sobrenatural. Libertando-se das crenças religiosas e procurando explicações pela razão, os filósofos gregos deram o primeiro passo na direção de uma forma científica de pensar. A busca do conhecimento e da verdade os levou a diferentes respostas. Era o começo de uma longa gestação, da qual nasceram as ciências. Todas as ciências que hoje conhecemos, são filhas da Filosofia.
Frontispício da Instauratio Magma, de Francis Bacon, 1620. Na parte inferior está escrito: Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará). As colunas representam as limitações da filosofia antiga e medieval. 
O QUE HÁ DE ESPECIAL NESSAS "PRIMEIRAS RESPOSTAS"? A QUE IDEIAS OS FILÓSOFOS GREGOS PODIAM CHEGAR SEM DISPOR DE LABORATÓRIOS E APARELHOS PARA PESQUISA?
  A única ferramenta dos filósofos gregos era sua razão e, com ela, procuram respostas para a origem da vida. Tales de Mileto, por exemplo, considerava a água a origem de todas as coisas. Para Anaxímenes, toda forma de vida surge do ar. Empédocles afirmou que tudo se originava da combinação de quatros elementos básicos ou "raízes": a terra, o ar, o fogo e a água. Um pedaço de madeira queimando mostra como esses elementos estão presentes na natureza: O fogo é o que vemos. O estalo da madeira indica que a água está se soltando do seu interior. O ar se manifesta pela fumaça. E quando as chamas se apagam, sobram as cinzas, que é a terra. Se substituirmos as palavras "terra", "ar", "água" e "fogo" por "sólido", "gasoso", "líquido" e "energia", encontraremos as ideias básicas que envolvem todas as reações químicas. E isso foi pensado há mais de 2,5 mil anos!
Discussão noite adentro, de William Blades: o debate franco de ideias, conforme os padrões da argumentação lógica, é uma das características centrais da atividade filosófica.
  Heráclito afirmava que a característica mais fundamental da natureza eram suas constantes transformações. "Tudo flui", dizia. Tudo está em movimento, nada dura para sempre. "Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio: quando entro pela segunda vez, tanto eu como o rio já estamos mudados". Heráclito também nos chama a atenção para o fato de que o mundo está impregnado de opostos (saúde-doença, guerra-paz, fome-saciedade, bem-mal, etc.) e que eles são necessários para a ávida. Sem a constante interação dos opostos, o mundo deixaria de existir.
Heráclito de Éfeso - membro da Escola Jônica
  Anaxágoras afirmou que a natureza era composta por partículas minúsculas, invisíveis a olho nu, que ele chamou de "sementes" ou "germes". Cada uma delas continha um pouco de tudo - um pensamento muito próximo à ideia de célula e de estrutura genética. Imaginou que um tipo de de força era responsável pela origem e pela criação de homens, animais, flores e árvores. A esta força ele deu o nome de "inteligência".
Anaxágoras de Clazômenas - membro da Escola da Pluralidade
  Já Demócrito dizia que todas as coisas eram constituídas por uma infinidade de partículas invisíveis, mas cada uma delas era eterna, imutável e indivisível. Chamou-as de "átomos", palavra que significa "indivisíveis". Os átomos tinham, segundo ele, diferentes formas, que se combinavam e davam origem a corpos diversos. Os átomos não morrem quando um ser se decompõe, seus átomos se espalham e dão origem a outros corpos.
Busto de Demócrito de Abdera - membro da Escola Atomismo
  Demócrito errou em muito pouco. Hoje sabemos que a natureza é composta de diferentes átomos, que se ligam a outros para depois se separarem novamente. Um átomo de hidrogênio presente numa célula do meu dedo pode ter pertencido um dia à pata de um elefante. Um átomo de carbono do meu coração pode ter estado, no passado, na vértebra de um dinossauro. Mas, ao contrário do que pensava Demócrito, o átomo pode ser dividido, pois compõe-se de partículas ainda menores, prótons, nêutrons e elétrons.
  Talvez o mais importante legado que os filósofos gregos nos deixaram seja a atitude de pesquisa racional e desinteressada. Sua preocupação com a verdade e com o conhecimento continua presente na ciência atual.
ALGUMAS DESCOBERTAS E IDEIAS DE FILÓSOFOS GREGOS (Datas referentes ao período a.C.)
585: Ocorre o eclipse previsto por Tales de Mileto.
580: Tales anuncia que a água é a origem da vida.
520: Pitágoras anuncia seu teorema do triângulo retângulo.
510: O geógrafo grego Hecateu desenha o primeiro mapa próximo à realidade: Terra redonda, Europa ao norte, África ao sul e Ásia a leste.
Mapa do mundo na concepção de Hecateu de Mileto
500: Fenícios realizam a circunavegação da África.
500: Alcmeon, médico grego, disseca cadáveres humanos.
500: Heráclito fala do fluxo universal e da síntese dos opostos.
500: Pitágoras dá o nome de Afrodite ao planeta hoje chamado Vênus.
490: Heráclito afirma que os sonhos são pensamentos da própria pessoa e não forças sobrenaturais.
460: Empédocles fala da teoria dos quatro elementos.
440: Demócrito lança sua ideia do "átomo".
430: Sócrates dá aulas em Atenas.
A morte de Sócrates, de Jacques-Louis David, 1787
420: Hipócrates, médico grego, afirma que toda doença tem causa natural, não divina.
387: Platão funda a Academia, uma escola de estudos matemáticos onde Aristóteles também deu aula.
350: Aristóteles explica porque a Terra é redonda.
350: Eudoxus, matemático grego, traça o primeiro mapa celeste, usando linhas imaginárias que se cruzam (longitude e latitude).
332: Aristóteles funda o Liceu, centro dedicado às ciências naturais.
300: Euclides, matemático grego, escreve o livro Elementos.
300: Praxágoras, médico grego, descreve as artérias e as veias e descobre a ligação entre o cérebro e a medula espinal.
280: Herófilo descreve o fígado e o baço e batiza a retina e o duodeno.
280: Erasístrato percebe a diferença entre o cérebro e o cerebelo.
270: Aristarco calcula o tamanho da Terra, da Lua e do Sol e suas distâncias.
270: Ctesíbius inventa o relógio de água, chamando-o de clepsidra.
260: Arquimedes lança o princípio da alavanca e da flutuação.
240: Eratóstenes calcula a circunferência da Terra corretamente.
Eratóstenes e o raio da Terra
150: Hiparco, o maior astrônomo grego, funda a trigonometria.  
FONTE: ASIMOV, Isaac. Cronologia das ciências e das descobertas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993.

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