domingo, 24 de junho de 2012

AS CIDADES NA ECONOMIA GLOBAL

  No século XVI, a viagem da esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral demorou 43 dias para cruzar o Oceano Atlântico desde Lisboa até o litoral brasileiro, onde hoje está Porto Seguro (BA). Atualmente, de avião o mesmo percurso é feito em menos de 10 horas. A famosa carta de Pero Vaz de Caminha, que descrevia suas impressões sobre a nova terra, teve de fazer a travessia do oceano, a bordo de um navio que retornou à Europa, até chegar às mãos do rei de Portugal.
Porto Seguro - local onde a esquadra de Cabral atracou em 1500
  Podemos dizer que durante longo período da história humana a informação circulava à mesma velocidade das pessoas e das mercadorias, ou seja, a comunicação dependia dos meios de transporte e só começou a se separar deles a partir da invenção do telégrafo, no século XIX. Hoje, o avanço tecnológico, além de acelerar todas as modalidades de circulação, diferenciou definitivamente o tempo necessário ao transporte da informação (veiculada, por exemplo, na forma de bits) do tempo do transporte da matéria. Atualmente, as informações viajam praticamente à velocidade da luz. Se fosse hoje, Caminha enviaria sua carta por e-mail ou fax. Ela chegaria ao destino quase que imediatamente ou, como se diz, em "tempo real".
  Avanços tecnológicos como estes são a base da globalização, que, por sua vez, tem favorecido a dispersão da produção pelos lugares que oferecem maiores possibilidades de lucros às empresas e maior integração dos mercados, das finanças e das bolsas de valores. Tudo isso contribui para a expansão da infraestrutura urbana e da rede global de cidades, assim como para reforçar o papel de comando de algumas delas na fase histórica atual.
  A desconcentração das indústrias, que rumam para cidades médias, pequenas e até mesmo para a zona rural, ao contrário dos que muitos pensam tem contribuído para reforçar o papel de comando de muitas das grandes cidades, e mesmo de algumas médias. Essas cidades comandantes são importantes centros de serviços especializados e de apoio à produção - universidades e centros de pesquisa, escritório de advocacia e contabilidade, agências de publicidade e marketing, bancos e bolsas de valores, hotéis e centros de eventos e exposições etc. Um dos exemplos mais ilustrativos é São Paulo, que se consolidou como o principal centro de serviços e de negócios, não só do Brasil, mas da América do Sul.
São Paulo - SP
  As cidades globais, são os nós da rede urbana mundial. Nesse contexto da globalização, aparecem também as megacidades. De acordo com a ONU, as megacidades são aglomerações urbanas (regiões metropolitanas) com mais de 10 milhões de habitantes. Assim, as cidades globais, uma definição qualitativa, não coincidem necessariamente com as megacidades, definidas por um critério quantitativo. Por exemplo, de acordo com a publicação Urban agglomerations 2007 (ONU), Zurique, na Suíça, que tinha naquele ano 1,1 milhão de habitantes, não é uma megacidade, mas é uma cidade global pelo papel de comando que desempenha na rede urbana mundial. É sede de importantes empresas, oferece variados serviços globais - financeiros, administrativos, turísticos etc. - e apresenta densa infraestrutura de transportes e telecomunicações conectando-a aos fluxos globalizados. Há poucas pessoas marginalizadas e desconectadas nessa cidade.
Zurique - Suíça
  Segundo o mesmo documento, a região metropolitana de Daca, em Bangladesh, tinha 13,5 milhões de habitantes em 2007, sendo classificada como megacidade; porém, não é uma cidade global, devido à limitação de sua infraestrutura e à sua reduzida oferta de serviços globais. Além disso, uma grande parcela da população de Daca está marginalizada, desconectada dos fluxos globais.
Rua de Daca - Bangladesh
  Ainda que, segundo a ONU, somente 9% da população urbana mundial viviam em megacidades em 2007, elas estão crescendo e ganhando importância, sobretudo nos países em desenvolvimento. Das 19 megacidades existentes no mundo, 15 estão em países pobres ou emergentes. A maioria delas apresentam elevado crescimento populacional, com destaque para Daca (Bangladesh), Karachi (Paquistão) e as três cidades indianas (Mumbai, Délhi e Calcutá). Comparando a evolução delas com a das metrópoles dos países desenvolvidos, notamos que, embora Tóquio deva permanecer como a maior aglomeração urbana por alguns anos, seu crescimento será um dos mais baixos do período 2007-2025, e as outras cidades dos países ricos também crescerão muito pouco. Segundo projeções da ONU, em 2025 haverá 27 megacidades, das quais 22 em países em desenvolvimento. Excetuando Tóquio, as outras cidades dos países desenvolvidos que aparecem na lista têm perdido posições. Em 2025 a segunda maior cidade do mundo será Mumbai, na Índia, e Nova York cairá para a sétima posição.
 
  Segundo classificação desenvolvida pelo Globallization and World Cities (GaWC), rede de pesquisas da globalização e das cidades globais sediada no Departamento de Geografia da Universidade de Loughborough (Reino Unido), em 2010 havia 147 cidades globais. Essa pesquisa classificou-as em três níveis (alfa, beta e gama), com seus subníveis de acordo com a densidade e a qualidade de sua infraestrutura, a oferta de bens e serviços e, consequentemente, a capacidade de polarização de cada uma delas sobre os fluxos regionais e mundiais.
Mapa das cidades globais
CIDADES GLOBAIS ALFA
 São as cidades de maior influência do planeta. Divide-se em: Alfa++, Alfa +, Alfa e Alfa -.
Alfa ++
  São as cidades mais influentes, que mais polarizam os fluxos de pessoas, investimentos, informações etc. e que comandam o processo de globalização. São três as cidades classificadas nesse grau: Nova York (Estados Unidos), Londres (Reino Unido Inglaterra) e Tóquio (Japão).
Nova York - cidade global Alfa ++
Alfa +
  Também possuem alto grau de integração, porém, complementares às três primeiras. São sete cidades que compõem esse grupo: Chicago (Estados Unidos), Dubai (Emirados Árabes Unidos), Hong Kong e Xangai (China), Paris (França), Singapura (Singapura) e Sydney (Austrália).
Dubai - cidade global Alfa +
Alfa
  São cidades fortemente conectadas, mas num patamar inferior às anteriores. Essa classificação engloba 17 cidades, que são: Amsterdã (Países Baixos), Los Angeles, São Francisco e Washington D.C. (Estados Unidos), Pequim (China), Bruxelas (Bélgica), Buenos Aires (Argentina), Frankfurt (Alemanha), Kuala Lumpur (Malásia), Madri (Espanha), Cidade do México (México), Milão (Itália), Moscou (Rússia), Mumbai (Índia), São Paulo (Brasil), Seul (Coreia do Sul) e Toronto (Canadá).
Kuala Lumpur - cidade global Alfa
Alfa -
  São cidades que possuem em seu território, uma moderna infraestrutura que as conecta aos fluxos globais. Vinte cidades compreendem a esse grupo, que são: Atlanta, Boston, Dallas, Miami e Filadélfia (Estados Unidos), Bangkok (Tailândia), Barcelona (Espanha), Dublin (Irlanda), Istambul (Turquia), Jacarta (Indonésia), Joanesburgo (África do Sul), Lisboa (Portugal), Melbourne (Austrália), Munique (Alemanha), Nova Délhi (Índia), Santiago (Chile), Taipei (Taiwan), Viena (Áustria), Varsóvia (Polônia) e Zurique (Suíça).
Viena - cidade global Alfa -
CIDADES GLOBAIS BETA
  São cidades que possuem influência bem menores que as Alfa, porém dispõem de serviços globais diversificados. Dividem-se em três categorias: Beta +, Beta e Beta -.
Beta +
  São 16 cidades que integram esse grupo, que são: Atenas (Grécia), Bangalore (Índia), Berlim, Düsseldorf e Hamburgo (Alemanha), Bogotá (Colômbia), Cairo (Egito), Copenhagen (Dinamarca), Houston (Estados Unidos), Manila (Filipinas), Montreal e Vancouver (Canadá), Praga (República Tcheca), Roma (Itália), Estocolmo (Suécia) e Tel Aviv (Israel).
Praga - cidade global Beta +
Beta
  Dezenove cidades compõem esse grupo, que são: Auckland (Nova Zelândia), Beirute (Líbano), Bucareste (Romênia), Budapeste (Hungria), Cidade do Cabo (África do Sul), Caracas (Venezuela), Chennai (Índia), Cantão (China), Cidade de Ho Chi Minh (Vietnã), Carachi (Paquistão), Kiev (Ucrânia), Lima (Peru), Luxemburgo (Luxemburgo), Manchester (Reino Unido - Inglaterra), Mineápolis e Seattle (Estados Unidos), Montevidéu (Uruguai), Oslo (Noruega) e Riad (Arábia Saudita).
Riad - cidade global Beta
Beta -
  Nesse grupo, fazem parte 29 cidades, que são: Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), Birmingham (Reino Unido - Inglaterra), Bratislava (Eslováquia), Brisbane e Perth (Austrália), Calcutá (Índia), Calgary (Canadá), Casablanca (Marrocos), Cleveland, Denver, Detroit, San Diego e St. Louis (Estados Unidos), Colônia e Stuttgart (Alemanha), Genebra (Suíça), Cidade da Guatemala (Guatemala), Helsinque (Finlândia), Lagos (Nigéria), Manama (Barein), Monterrey (México), Nicósia (Chipre), Osaka (Japão), Cidade do Panamá (Panamá), Port Louís (Maurício), Rio de Janeiro (Brasil), San Juan (Porto Rico), Shenzhen (China) e Sófia (Bulgária).
Lagos - cidade global Beta -
CIDADES GLOBAIS GAMA
  São cidades cujos fluxos de ofertas e serviços são bem menores em comparação com os dois primeiros. Divide-se em Gama +, Gama e Gama -.
Gama +
  Vinte e três cidades fazem parte dessa classificação, que são: Adelaide (Austrália), Amã (Jordânia), Antuérpia (Bélgica), Baltimore, Charlotte, Cincinnati, Portland e San José (Estados Unidos), Belgrado (Sérvia), Bristol (Reino Unido - Inglaterra), Doha (Qatar), Edimburgo e Glasgow (Reino Unido - Escócia), Hanói (Vietnã), Hyderabad (Índia), Jidá (Arábia Saudita), Cidade do Kuwait (Kuwait), Lahore (Paquistão), Nairóbi (Quênia), Riga (Letônia), San José (Costa Rica), Tunis (Tunísia) e Zagreb (Croácia).
Zagreb - cidade global Gama +
Gama
  Dezoito cidades compõem essa classificação, que são: Almaty (Cazaquistão), Columbus, Indianápolis, Kansas City, Phoenix, Pittsburgh e Tampa (Estados Unidos), Leeds (Reino Unido - Inglaterra), Edmonton (Canadá), Guadalajara (México), Lyon (França), Quito (Equador), Roterdã (Países Baixos), San Salvador (El Salvador), Santo Domingo (República Dominicana), São Petersburgo (Rússia), Valência (Espanha) e Vilnius (Lituânia).
San Salvador - cidade global Gama
Gama -
  Vinte e seis cidades fazem parte dessa classificação, que são: Acra (Gana), Austin, Milwaukee, Orlando e Richmond (Estados Unidos), Belfast (Reino Unido - Irlanda do Norte), Colombo (Sri Lanka), Curitiba e Porto Alegre (Brasil), Durban (África do Sul), George Town (Ilhas Cayman), Gotemburgo (Suécia), Guayaquil (Equador), Islamabad (Paquistão), Ljubljana (Eslovênia), Marselha (França), Mascate (Omã), Nagoya (Japão), Ottawa (Canadá), Porto (Portugal), Pune (Índia), Southampton (Reino Unido - Inglaterra), Tallinn (Estônia), Tegucigalpa (Honduras), Turim (Itália) e Wellington (Nova Zelândia).
Ljubljana - cidade global Gama -
  O que limita o acesso aos bens e serviços é especialmente a disponibilidade desigual de renda, embora algumas pessoas possam restringir seu consumo por  consciência ecológica. No capitalismo, os investimentos são concentrados em certos lugares e voltados para os setores econômicos e sociais nos quais o lucro é maior. Assim, se não forem realizados investimentos para garantir o desenvolvimento de todos os lugares, as pessoas mais pobres tendem a permanecer marginalizadas.
Favela de Dharavi, no centro financeiro de Mumbai - Índia
  Em 2008, a revista estadunidense Foreign Policy, em conjunto com a empresa de consultoria A. T. Kearney e pelo Conselho de Chicago sobre Assuntos Globais, publicou um ranking de cidades globais, com base em entrevistas com Saskia Sassen, Witold Rybczynski e outros. A Foreign Policy observou que "as maiores e mais interconectadas cidades do mundo ajudam a definir as agendas globais, perigo para transnacionais e servem como hubs (concentração de aparelhos para informática) de integração global. Elas são os motores de crescimento para seus países e os portais para os recursos de suas regiões.
  Em 2010, o índice foi atualizado. As únicas cidades lusófonas e brasileiras a aparecer no ranking foram São Paulo e Rio de Janeiro, nas posições 35ª e 49ª, respectivamente. As trinta primeiras cidades do ranking foram:
Posição                         Cidade                             Pontuação
1 Nova York (EUA) 6.22
2 Londres (Inglaterra) 5.86
3 Tóquio (Japão) 5.42
4 Paris (França 5.35
5 Hong Kong (China) 4.14
6 Chicago (EUA) 3.94
7 Los Angeles (EUA) 3.90
8 Singapura (Singapura) 3.45
9 Sydney (Austrália) 3.44
10 Seul (Coreia do Sul) 3.40
11 Bruxelas (Bélgica) 3.29
12 São Francisco (EUA) 3.26
13 Washington D. C. (EUA) 3.25
14 Toronto (Canadá) 3.13
15 Pequim (China) 3.12
16 Berlim (Alemanha) 3.03
17 Madri (Espanha) 3.02
18 Viena (Áustria) 2.96
19 Boston (EUA) 2.78
20 Frankfurt (Alemanha) 2.78
20 Xangai (China) 2.78
22 Buenos Aires (Argentina) 2.73
23 Estocolmo (Suécia) 2.71
24 Zurique (Suíça) 2.68
25 Moscou (Rússia) 2.61
26 Barcelona (Espanha) 2.57
27 Dubai (Emirados Árabes Unidos) 2.56
28 Roma (Itália) 2.56
29 Amsterdã (Países Baixos) 2.54
30 Cidade do México (México) 2.41
 Estocolmo - capital da Suécia
FONTE: Sene, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil, volume 3: espaço geográfico e globalização: ensino médio / Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. - São Paulo: Scipione, 2010

5 comentários:

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