terça-feira, 24 de abril de 2012

A SOCIEDADE MINERADORA

A CORRIDA DO OURO
  Por volta de 1693, Antônio Rodrigues Arzão descobriu ouro perto de onde hoje é a cidade de Sabará. Nos anos seguintes, foram descobertas novas minas de ouro, como as de Vila Rica, hoje Ouro Preto. Daí o nome "minas gerais".
  Assim que a notícia se espalhou, afluíram ao sertão mineiro milhares de pessoas das mais diversas origens e condições sociais. Vinham de Portugal, do Rio de Janeiro, da Bahia, de São Paulo e de vários outros pontos do território colonial, atraídas pela ideia de riqueza fácil. Da África foram trazidos milhares de indivíduos escravizados para trabalhar na mineração. Mas ao chegar à região das minas, essas pessoas tinham uma desagradável surpresa: não havia o que comer, onde morar, o que vestir...
Imagem de J. M. Rugendas que retrata uma mina de ouro
  Nos primeiros anos da mineração, ninguém se preocupava em plantar ou criar. Ocupavam-se apenas com o ouro. Por isso, a região passou por várias crises de fome; as pessoas abandonavam as vilas e se refugiavam  no mato em busca de raízes e frutas. Mas, com o tempo, a população começou a plantar roças de milho e feijão e a criar porcos e galinhas. E, usando o ouro como moeda, passou a comprar de outras regiões aquilo de que necessitava.
A GUERRA DOS EMBOABAS
  Nos primeiros anos de mineração, ocorreram vários conflitos na região das minas. O maior deles teve origem na disputa pelo ouro entre os paulistas, que o descobriram, e os recém-chegados (portugueses e pessoas de outras regiões do Brasil), que queriam explorá-lo. Os portugueses calçavam botas altas e por isso foram apelidados pelos paulistas de "emboabas" , palavra de origem tupi que significa  "aves de pés emplumados".
Imagem de J. M. Rugendas que mostra a Guerra dos Emboabas
  Esse conflito, conhecido como Guerra dos Emboabas (1707-1709), terminou com a vitória dos emboabas. Seu líder, o comerciante português Manuel Nunes Viana, foi aclamado governador, e a capitania do Rio de Janeiro foi separada da de São Paulo e das Minas. Para controlar melhor a população, o governo fundou vilas nos povoados mais populosos. A primeira delas foi a do Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo, em 1711, atual Mariana. Depois surgiram Vila Rica, Sabará, São João del Rei, Vila Nova da Rainha (Caeté) e Vila do Príncipe (Serro).
O CONTROLE SOBRE O OURO
  Iniciada a mineração, o rei de Portugal criou, em 1702, a Intendência das Minas, órgão encarregado de controlar a exploração do ouro, cobrar impostos e julgar os crimes praticados na região.
  A partir de então, quando o minerador descobria uma mina, era obrigado por lei a informar ao intendente. Este mandava dividir a mina em lotes auríferos chamados datas. O descobridor tinha direito a escolher duas datas; a seguinte era reservada ao rei. As outras eram distribuídas entre os mineradores; as maiores iam para quem tivesse mais escravos.
Imagem de J. M. Rugendas, onde vê-se a representação de uma lavra, um tipo de exploração do ouro feitas em grandes jazidas com mão de obra escrava.
  Ao mesmo tempo em que incentivava a extração do ouro, a Intendência criava e cobrava pesados impostos; impostos sobre homens livres e escravizados, sobre tecidos, ferramentas, gêneros agrícolas e, é claro, sobre o ouro. O mais importante deles era o quinto (20% de todo o ouro extraído).
  A cobrança era feita, sobretudo, nas estradas que ligavam Minas Gerais ao Rio de Janeiro, a São Paulo e à Bahia, sempre policiadas por soldados  (dragões do Regimento das Minas). Quanto maior a opressão fiscal, mais a população reagia, praticando o contrabando: escondia ouro entre os dedos dos pés, nos saltos e nas solas das botas, entre doces e salgados que as quitandeiras carregavam em seus tabuleiros, dentro das estátuas de santos...
Santo do pau oco - uma forma dos mineradores esconderem o ouro e os diamantes das autoridades portuguesas
REVOLTA DE VILA RICA (1720)
  O contrabando de ouro aumentava, e o governo português apertava o cerco. Para dificultar o desvio, em 1719 criou as Casas de Fundição, locais onde o ouro era transformado em barras, selado e quintado - ou seja, tinha extraída a sua quinta parte como imposto. Das Casas de Fundição, o ouro seguia para a Provedoria da Fazenda Real - órgão do governo português responsável pelo recolhimento do ouro do território colonial -, de onde era levado para o Rio de Janeiro, sob forte escolta dos dragões da Capitania de Minas Gerais.
Edifício onde funcionou a Casa de Fundição de Vila Rica de Ouro Preto
  A criação das Casas de Fundição aumentou a insatisfação das pessoas, que já reclamavam do alto preço dos alimentos, e acabou ocasionando uma revolta em Vila Rica, em 1720. As principais exigências dos rebeldes eram:
  • a redução do preço dos alimentos;
  • a anulação do decreto que criava as Casas de Fundição.
  A revolta foi duramente reprimida. Seus principais líderes, o tropeiro Felipe dos Santos e o minerador Pascoal da Silva Guimarães, foram presos. Felipe dos Santos foi morto e teve seu corpo feito em pedaços e exposto nas margens das estradas. O Arraial do Ouro Podre, onde ficava a mina de ouro de Pacoal da Silva, foi inteiramente queimado por ordem do governador. Adotando o princípio de dividir para governar, o rei de Portugal separou Minas Gerais de São Paulo, criando em 1720 a capitania das Minas Gerais.
Representação da morte de Felipe dos Santos
O CONTROLE SOBRE OS DIAMANTES
  No Arraial do Tijuco, atual cidade de Diamantina, as  autoridades portuguesas também atuaram de forma violenta. Assim que o rei soube da existência de diamantes no Tijucio, mandou expulsar os antigos moradores do local, dividiu as terras em lotes, separou para si o lote em que havia uma grande mina e leiloou os demais entre os homens brancos da região. Para administrar e policiar a área, criou a Intendência dos Diamantes (1734).
Imagem que mostra o Arraial de Diamantina
  O intendente tinha poder de vida e de morte sobre os habitantes do local e estimulou a prática da delação. Bastava alguém ser acusado de estar escondendo um diamante para que fosse preso e expulso da capitania de Minas.
  O rei de Portugal chegou a arrendar a extração de diamantes a contratadores, homens que recebiam o direito de explorar as valiosas pedras em troca de uma parte da riqueza. Um desses contratadores, João Fernandes de Oliveira, ficou conhecido por ter acumulado fortuna e por ter vivido maritalmente com sua ex-escrava, Chica da Silva. Posteriormente, em 1771, o governo acusou os contratadores de enriquecimento ilícito e reassumiu o controle sobre os diamantes.
Zezé Mota - atriz que interpretou Xica da Silva no filme de Cacá Diegues em 1976
MINERAÇÃO E MERCADO INTERNO
  A mineração de ouro e de diamantes contribuiu para uma série de mudanças no Brasil, dentre elas, destacam-se:
  • a ocupação e o povoamento de vastas áreas do interior brasileiro;
  • o florescimento da vida urbana, contribuindo para o nascimento de várias vilas e cidades;
  • mudança da capital de Salvador para o Rio de Janeiro (1763), único porto por onde o governo português permitia que se embarcasse o ouro;
  • a consolidação do mercado interno, já que a população das regiões mineiras (atuais Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás) comprava com ouro em pó de várias partes do Brasil aquilo de que necessitava. Do Nordeste vinham gado, couro e farinha de mandioca; do Rio de Janeiro, africanos escravizados e artigos europeus (vidros, louças, tecidos, ferramentas); de São Paulo, milho, trigo, marmelada; do Sul, cavalos, bois, mulas e charque.
A SOCIEDADE MINERADORA
  A população de Minas Gerais, em 1776, era composta de 70.769 brancos, 82 mil pardos e 167 mil negros. Assim, 78% da população de Minas Gerais era formada de negros e mestiços. E eles eram, quase todos, muito pobres. Hoje, sabe-se que foram poucos os ricos no solo mais rico da América no século XVIII.
Os ricos
  Na região mineradora, as maiores fortunas pertenciam quase sempre aos grandes comerciantes, e não aos donos das minas. Um exemplo: Manuel Nunes Viana, o líder dos emboabas, enriqueceu vendendo gêneros alimentícios para os armazéns e carne para os açougueiros mineiros. Os tropeiros, homes que comerciavam mulas, cavalos, gado de corte, também conseguiram prosperar, chegando a se destacar na sociedade mineira.
Figura que retrata um comboio de tropeiros
  Já entre os donos de minas, foram poucos os que enriqueceram. O motivo é simples: boa parte do que ganhavam, servia ao pagamento de impostos ou era gasta com a compra de mão de obra e de artigos importados, como ferramentas, vinhos, tecidos, trigo, queijos e doces.
As camadas médias
  Em Minas Gerais, no século XVIII, houve o crescimento também das camadas médias: pequenos lavradores, artesãos (carpinteiros, alfaiates, ourives), profissionais liberais (advogados, médicos), padres, garimpeiros (pessoas que mineravam com dois, três, cinco escravos), donos de vendas e artistas. Alguns artistas da região aurífera (entalhadores, músicos, pintores) alcançaram grande prestígio na sociedade do ouro.
Obras de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, em frente ao Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas - MG
  Os roceiros plantavam milho, arroz, feijão, mandioca, cultivavam plantas frutíferas e hortaliças e criavam porcos. Porcos e galinhas andavam pelas ruas e casas, em meio às pessoas. Nos últimos anos do século XVIII, desenvolveu-se também a criação de vacas leiteiras e a fabricação de queijo, que pouco a pouco foi se tornando muito conhecido.
Os homens livres pobres
  Nas capitanias do ouro viva também grande número de homens livres pobres. Eles perambulavam pelos arraiais pedindo esmola e comida, brigando nas vendas ou praticando pequenos furtos. Por não terem ocupação nem posição social definida, foram chamados pela historiadora Laura de Melo e Souza de "desclassificados".
  Abandonados à própria sorte, moravam em casebres que dividiam com outros marginalizados ou com mulheres igualmente pobres. Negros e mestiços em sua imensa maioria, os homens livres pobres eram perseguidos e chamados de vadios pelas autoridades.
  Mas, quando essas mesmas autoridades precisavam de pessoas para serviços pesados ou perigosos, procuravam esses homens. Então, eles deixavam de ser taxados de vadios. Eram chamados para construir obras públicas (estradas, ruas, presídios), fazer a segurança pessoal dos ricos, combater os botocudos (grupo indígena da região) e destruir quilombos (Minas colonial foi a região com o maior número de quilombos do Brasil).
Os escravizados
  O dia a dia dos escravizados nas regiões mineiras era particularmente difícil. Eles trabalhavam em pé, curvados e com as pernas mergulhadas na água até a altura do joelho ou da cintura. Ou então em túneis cavados nas encostas dos morros, onde era comum ocorrer desabamentos e mortes.
  A bateia e o almocafre eram os dois principais instrumentos empregados na mineração. O almocafre era uma enxada pequena e pontiaguda usada para remover o cascalho no leito dos rios e nas encostas. A bateia era uma espécie de prato grande, em forma de chapéu chinês. O trabalhador a girava e, por meio de movimentos circulares, ia separando o cascalho do ouro, em pó ou em pepitas, já que este, por ser mais pesado, ficava alojado no fundo.
Quadro de Tarsila do Amaral que mostra escravos trabalhando na mineração
  Os escravizados não realizavam apenas tarefas ligadas à mineração. Também transportavam mercadorias e pessoas, construíam estradas, casas e chafarizes, comerciavam pelas ruas e lavras - terrenos onde se praticavam a mineração. Alguns proprietários alugavam seus escravos a outras pessoas. Esses trabalhadores eram chamados de "escravos de ganho". Era o caso, por exemplo, das mulheres que vendiam doces e salgados em tabuleiros pelas ruas. As "negras de tabuleiro" eram conhecidas não só pelos seus quitutes, mas também por proteger escravos fugidos e por esconder ouros e diamantes entre os alimentos que vendiam, a fim de comprar a liberdade.
Quadro do italiano Carlos Julião retratando uma negra do tabuleiro
  Como se vê, a sociedade do ouro premiou poucos e castigou a maioria. Os habitantes das Minas, porém, não se calaram diante da escravidão, da pesada rede de impostos e de outras violências a que foram submetidos. Resistiam a tudo isso desobedecendo em silêncio, promovendo revoltas, desviando ouro e diamantes, reclamando à Justiça, fugindo para a mata e formando quilombos.
FONTE: Boulos Júnior, Alfredo. História: sociedade e cidadania, 8° ano / Alfredo Boulos Júnior. - São Paulo: FTD, 2009. (Coleção História: sociedade & cidadania).

16 comentários:

  1. Mineradora e as Revoltas Nativistas:
    -Guerra dos Emboabas
    -Revolta de Vila Rica
    -Revolta dos Beckmans
    -Guerra dos Mascates

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  2. adorei me ajudou muito este saite.voces sao otimos

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  3. Otimo Tenho prova amanha ta igual Minha apostila mas por aqi eu entendi MELHOR...
    Muito legal

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  4. min ajudou bastante valeu sem este site era um 0 no trabalho de historia

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  5. gostei , me ajudou a fazer o trabalho de historia tbm :)

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  6. gostei...me ajudou a fazer minha tarefa de historia.obrigado por ter postado isso marciano dantas

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  7. gente valeu o site de vcs foi o mais completo que eu achei

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  8. gente valeu o site de vcs foi o melhor q eu achei parabens

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  9. O texto é bom, porem falta citar a revolução dos bolos gordos no sec 37.....

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  10. o texto e muito bom mas eu PRECISAR SABER MAIS SOBRE EXTRAÇAO DO OURO

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  11. Professor Marciano, sou aluna e estou cursando o 8° ano, minha professora de historia pediu um trabalho sobre:
    - Corrida do ouro
    - Guerra dos emboabas
    - Controle sobre o ouro
    - Derrama
    - Controle sobre os diamantes
    - Sociedade mineradora
    - Escravos na região mineradora

    Eu procurava pelo google e achava tudo "cortado", então achei seu blog. Ficou perfeito pra mim. Achei praticamente tudo. Seu blog está de parabéns. rsrs

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  12. Olá.
    Gostei bastante do conteúdo , eu , como fanática por história e , como aluna interessada em saber sobre a sociedade mineradora para auxiliar nas tarefas , provas....
    Enfim , acho que deveriam sempre ampliar os conteúdos para que mais pessoas possam tirar suas dúvidas!
    Parabéns!

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  13. Estamos em uma aula diferente, e gostei muito do assunto!

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  14. mt bom o site me ajudo mt no trabalho de Historia

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