terça-feira, 25 de janeiro de 2011

LAOS ABRE SUAS PORTAS PARA O TURISMO

Folha On Line
  Após quase duas décadas de isolamento, o Laos começa a abrir suas portas para o turismo - uma oportunidade sem paralelos para quem pretende vislumbrar a atmosfera da antiga Indochina. Fortemente bombardeada durante a Guerra do Vietnã, a "Terra de Milhões de Elefantes" - como a região era conhecida há seis séculos - ainda mantém exotismo capaz de torná-la, sem exageros, um dos pontos altos de viagens ao Sudeste Asiático. Monges com vestimentas cor de açafrão, vastos arrozais e o sincretismo entre a arquitetura francesa e as construções tradicionais desta ponta da Ásia criam um cenário único, ainda praticamente intocado.
Estátua budista no Laos. Fonte: aerospot.wordpress
  Turismo, turistas, dólares e compras. Acostumado a uma calmaria capaz de causar estranhamento ao viajante recém-chegado, por exemplo, de Bancoc, o povo laociano ainda busca acomodação a esses e outros conceitos distantes de sua realidade recente e se diverte às custas da presença cada vez maior dos "elefantes brancos" - referência comum aos europeus de pele clara e altura bastante superior à média.
 Um dos países menos desenvolvidos e mais enigmáticos do sudeste asiático, o Laos reconhece no estrangeiro motivo de riso e curiosidade e nos cobiçados dólares, uma saída para as precárias condições de vida da população local.
  Em aldeias no interior, onde há pouca gente, além dos nativos, não surpreende que ocidentais sejam considerados verdadeiros alienígenas, alvo fácil de beliscões e capazes de provocar choro nas crianças.
  Mas é justamente essa completa ausência da interferência estrangeira que mantém o charme influenciado pela cultura francesa da época colonial e o exotismo sem paralelos da vida tradicional, permeada pelo budismo em todas as suas instâncias.
  Seja na capital Vientiane ou em pequenas cidades no interior, imensos arrozais convivem com riquíssimos templos e uma arquitetura colonial única, com remanescentes do que foi a Indochina - reunião dos ex-protetorados franceses - Vietnã e Camboja, a que o Laos se juntou oficialmente em 1893, como um membro menos interessante do ponto de vista econômico.
  À época da colonização francesa, percebeu-se que o rio Mekong, que percorre 1.800 km ao longo do país, não é navegável em muitos trechos, e o Laos não tem reservas de metais preciosos. Com terreno montanhoso, oferece pouco espaço para uma agricultura mais moderna.
  Hoje, enquanto o Camboja sofre com fortes divisões internas, e o Vietnã vem se tornando um país cada vez mais industrializado, o Laos parece satisfeito em manter-se alheio às influências da vida moderna, enquanto tenta transformar-se no país mais estável da região, mesmo com uma economia discreta, baseada na agricultura de subsistência.
Paisagem de guerra
  Para completar um quadro que permita compreender a atualidade no Laos, some-se a isso a onipresença das imagens de uma guerra que oficialmente não aconteceu - de campos minados e crateras que lembram a superfície da Lua a vasos de flores e casas construídos sobre destroços de bombas.
  Embora não-envolvido diretamente na Guerra do Vietnã, o país foi fortemente atacado em suas fronteiras e recebeu carregamentos de bombas despejados de aviões que sobrevoavam seu território.
  Isso lhe rendeu o título pouco engrandecedor de país mais bombardeado da história das guerras modernas e uma ajuda internacional de cerca de US$ 2 milhões somente este ano para o esforço de "desminagem" (retirada de minas).
  Calcula-se que tenha sido alvo de 150 mil mísseis e de cerca de 2 milhões de toneladas de bombas. Um dos maiores símbolos desse período, a pequena aldeia de Ban Apa, ao norte da capital, construiu boa parte de suas casas suspensas sobre pilotis que aproveitam carcaças de bombas.

Casas construídas sobre carcaças de bombas na aldeias de Ban Apa. Fonte: Folha On line
  O sítio arqueológico conhecido como Planície dos Jarros também assusta ao remeter a um imaginário de guerra.
Planície dos Jarros. Foto: Google images
  A 4,5 km da pequena cidade de Phonsavan, acessível apenas por meio de um antigo aeroporto militar, a trilha que conduz aos jarros de origem desconhecida, com até 3 m de diâmetro, só deve ser percorrida com um guia local. Grupos de "desminagem" ainda trabalham na área, e é possível ver, dentro dos vasos, algumas das milhares de minas ainda não-detonadas na região.
  Os tours mais comuns conduzem também a uma caverna onde cerca de 400 pessoas morreram após terem sido bombardeadas supostamente por um avião norte-americano. Há crânios e ossos propositalmente espalhados pelo chão.
  Apesar disso, vai se surpreender quem espera um clima desolado no país ou um povo abatido pelas tragédias.
Simpatia na rotina
  Por todos os lugares, circulam, misturados a uma sorridente população, monges e noviços budistas ávidos por exercitar o seu, às vezes, bom inglês, aprendido nos monastérios. Ansiosos por saber mais sobre o ocidente, acabam sendo uma porta de entrada para um bom chá da tarde ou outras cerimônias reservadas.
  A cidade de Luang Prabang, a 140 km da capital, resume de modo singular a simpatia da população e a beleza do país. Considerada Patrimônio Cultural da Humanidade, a cidade de 16 mil habitantes ostentou, até 1975, o título de capital real.
Vista da cidade de Luang Prabang. Foto: Google images
  Hoje ainda conserva 32 dos 66 templos ou wats (na língua local) existentes antes da colonização francesa.
  Situada entre os rios Mekong e Khan, é a mais bela cidade do Laos, com poucas concessões ao estilo do século 20. Os horários de rush resumem-se à saída de estudantes das escolas com suas bicicletas se misturando ao pequeno tráfego de tuk-tuks - motos adaptadas para receber uma pequena carroceria, usadas no transporte de passageiros.
  Seja no belíssimo Wat Xieng Thong, às margens do Mekong nas escadarias do Wat Pha Baat Tai, ou na montanha Phu Si, que oferece visão privilegiada da cidade, o pôr do sol vira atração turística, capaz de rivalizar com templos, pequenas aldeias de camponeses e tribos pelos arredores ou mercados que permitem conhecer mais de perto a vida cotidiana.
Pha That Luang é o mais importante monumento do Laos e símbolo do budismo nacional. Sua construção iniciou-se em 1566 e, ao longo dos anos foram construídos quatro templos ao redor da stupa. Fonte: gentedomundo.blogspot
  Por todos os lados, os alegre habitantes, em especial crianças, formam filas ao redor dos turistas repetindo à exaustão o cumprimento local: SaBayDii (uma espécie de "oi").
Locomoção
  De qualquer modo, há restrições e dificuldades de locomoção pelo país. O regime comunista implantado em 1975 criou uma legião de dissidentes, muitos deles hoje na Tailândia. Órgãos oficiais do governo desaconselham viagens por terra ou barco, temendo eventuais ações de guerrilha - que poderiam desgastar o esforço de aproximação com o ocidente.
  Também há problemas com membros da tribo Hmong, habitantes das montanhas no interior do país, que sonham criar um território independente.
  Como alternativa única para uma viagem considerada segura, a Lao Aviation com sua frota de aviões chineses, na linha dos russos Antonov, conecta praticamente todas as maiores cidades por preços relativamente baixos.
  Com tudo isso, o Laos ainda mantém o ambiente descrito pelo pesquisador francês Henri Mouhout, um dos primeiros viajantes a percorrer e a produzir descrições detalhadas da Indochina.
  Em meados do século passado, Mouhout escreveu: "as vilas consistem de poucas cabanas, e as condições sanitárias são lamentáveis (...). A profunda tranquilidade das florestas e a viçosa vegetação tropical são indescritíveis e, à meia-noite, me impressionam muito."
  Mais de 150 anos depois, a capital Vientiane se orgulha da melhoria em sua infra-estrutura, visível a cada esquina, mas ainda impressiona, não só pela sucessão interminável de templos, como pela presença constante de vacas, deitadas sem cerimônia pelas principais ruas.
Modelo europeu
  Paradoxalmente, a cidade parece ter se esforçado na aproximação aos modelos europeus. Há bulevares de aspecto parisiense, com direito até mesmo a um "Arco do Triunfo", formando uma estranha mistura de arquitetura neo-colonial e influência oriental, ao final da larga avenida Lane Xang.
Patuxai é o "Arco do Triunfo" de Vientiane, que homenageia as pessoas que morreram nas guerras pré-revolucionárias. Foi construído em 1969. Fonte: gentedomundo.blogspot
  A despeito disso, a maior prova de que os franceses estiveram lá são as excelentes baguetes recém-saídas do forno vendidas em barracas e pequenas confeitarias pelas ruas. Acompanhadas de patês, oferecem estranha e saborosa combinação com garrafas de Beer Lao, a cerveja local.
  Os traços da história mais recente surgem muito claros em uma visita ao Museu Revolucionário do Laos. Centenas de imagens e objetos mostram a saga do "povo lao" em sua luta contra os "imperialistas norte-americanos".
Mercados
  Mas o melhor ângulo de aproximação com o dia-a-dia da população surge nos vívidos mercados, na capital e no interior, onde antiquidades e imitações dividem espaço com tudo o que se pode comer nessa terra. Baratas, ratos e até mesmo pequenos tigres comercializados a US$ 6 causam certa repulsa à primeira vista e podem tirar o apetite, mesmo diante dos cardápios mais refinados.
Rato sendo vendido nas ruas das cidades do Laos. Foto: Google images
  Seria exagero afirmar que existe uma infraestrutura turística no país, que recebe menos de 20 mil estrangeiros por ano. Mas alguns bons hotéis, comida e vinhos franceses de boa qualidade e um serviço bancário e de comércio que aceitam as principais moedas e cartões de crédito permitem uma viagem tranquila.
Visto é difícil
  Chegar ao Laos vale a pena, mas exige algum esforço. O país não mantém embaixada no Brasil, o que torna complicada a obtenção do visto obrigatório antes da partida.
  Desde julho de 1997, tornou-se possível conseguir o visto por US$ 50 no Aeroporto de Wattay, em Vientiane, ou na Ponte da Amizade sobre o rio Mekong, na fronteira entre Tailândia e Laos. Nos dois casos, as autoridades locais costumam ser bastante exigentes.
  Quem preferir chegar com a garantia da entrada, pode tentar obter o visto através de agências de turismo. Como não há vôos diretos para o Laos partindo do Brasil, da Europa ou dos EUA, o melhor é aproveitar uma passagem obrigatória pela Tailândia ou pelo Vietnã para resolver o problema. O trâmite pode levar de três a quatro dias. Os vistos são válidos por 15 dias, podendo ser estendidos por mais 15.
  A melhor época para visitar o país é entre dezembro e abril, quando o clima está seco e as temperaturas médias ficam próximas aos 30ºC.
Conheça um pouco de Laos
Nome: República Democrática Popular do Laos
Capital: Vientiane (450.000 hab.)
Vista de Vientiane. Fonte: Google images
Língua: laociano
Independência: 19 de julho de 1949, da França
Área: 236.800 km² (81º)
População: 6.677.534 hab. (101º)
Densidade demográfica: 26 hab./km² (155º)
PIB: U$ 6,341 bilhões (138º)
IDH: 0,497 (122º)
Expectativa de vida: 64,4 anos (140º)
Mortalidade infantil: 51,4/mil nasc. (137º)
Alfabetização: 68,7% (139º)
Moeda: Kip Laosiano
Aspectos Geográficos
  O Laos é um país do Sudeste Asiático, ex-colônia da França e um dos países mais pobres da Ásia. Seu território encontra-se em uma área tropical montanhosa, coberta por densas florestas, o que deixa apenas uma pequena parte das terras adequadas à agricultura. É o único país do Sudeste Asiático que não é banhado pelo oceano.
Paisagem do Laos. Fonte: wordpress
  O budismo prevalece no país, sendo a religião de quase 50% das pessoas, dividindo o espaço com as crenças tradicionais.
Wat Si Saket, decorado com algumas milhares de estátuas de Buda. Fonte: gentedomundo.blogspot
História
  A história conta que no século XII os laos, imigrantes de China, chegaram a zona do império Jemer, onde séculos de luta entre as regiões deram pé a unificação do país em mão de governantes de Luang Pradang que dominavam Laos e Tailândia.  O país foi ocupado por muito tempo pelos imigrantes Tais (uma família etno-lingüística que incluía a Shans, Siameses, laos e muita tribos pequenas) e pelas tribos de Hmong-Mien. A região foi dominada pelo reino Nanzhao até o século XIV, sucedido pelo reino local de Lan Xang. A dinastia de Lan Xang foi ao declínio no século XVIII, quando a Tailândia assumiu o controle da área setentrional do reino. Em 1707 o reino se dividiu em dois estados e obtiveram a supremacia no começo do século XVII.
Estátua de um Shans. Foto: Google images
  No século XIX, a França, que já dominava o Vietnã, assume também o protetorado do Laos, formando assim a Indochina, em 1893.
Mapa da Indochina. Fonte: Ásia Maps
  Durante a Segunda Guerra Mundial, os japoneses invadiram a Indochina. Ao terminar esta guerra, um grupo de resistência de Laos Issara, fez pressão para evitar que voltasse o domínio francês. Em 1949, Laos obteve sua autonomia dentro da União Francesa, e por meio dos termos da Conferência de Genebra de 1954, que pois fim a guerra da Indochina, o país consegue a independência completa, e o Pathet Lao, movimento nacionalista e comunista, fundado alguns anos antes, ocupa duas províncias no norte.
Imagens da Segunda Guerra Mundial em Laos. Fonte: enciclopedia.com
  Com o apoio das forças internacionais, o movimento vai se impondo até que em 1975 a monarquia e o governo de coalizão são abolidos estabelecendo a República Popular Democrática de laos e se nomeia presidente o líder do movimento Pathet.
Pathet Lao - líder revolucionário do Laos. Fonte: Wikipédia
  Mais tarde é reaberta a fronteira com Tailândia e em 1977 se firma um tratado de amizade com Vietnã. Em 1990 o Japão concede ajuda financeira ao país para a realização de diversos projetos. Na atualidade o chefe de estado é Nouthak Phoumsavan, sendo o chefe de governos Khamtai Siohandon desde o ano de 1991.
Economia de Laos
  A economia do Laos é subdesenvolvida, tendo mais de 75% de sua população economicamente ativa trabalhando no campo.
  O Laos é um dos poucos países que adotam a economia socialista no mundo. O Governo começou a descentralizar o controle e a promover a iniciativa privada em 1986. Os resultados se fizeram sentir: o crescimento econômico alcançou a média de 6% a.a., no período de 1988-2004, exceto no curto período da crise asiática (1997/98).
Feirantes nas ruas de Vientiane. Fonte: Google images
  O país ainda depende, em grande parte da agricultura, principalmente do cultivo do arroz, que é praticado na baixada fértil do rio Mekong e seus afluentes, ou em algumas partes montanhosa, no sistema de terraceamento.
Cultivo de arroz nas montanhas, no sistema de terraceamento. Fonte: wordpress.com
  Laos possui uma infraestrutura bastante deficiente. O país não possui ferrovias e as principais rodovias do país conectam os maiores centros urbanos. A maioria das pequenas vilas só se ligam a estas rodovias por meio de pequenas estradas de terra, que nem sempre são navegáveis o ano inteiro.
Imagem de uma vila no interior do Laos. Fonte: wordpress.com
  As telecomunicações internas e com o exterior são limitadas. Recentemente, o país vem investindo no turismo, graças as suas belezas naturais e arquitetônicas.

6 comentários:

  1. vlw marciano muito show seu blog!!!!!!!!
    nianderson

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  2. Excelente abordagem do tema e a esclarecedora menção ao museu que, no Vietnã, recebeu, sem aspas, a denominação de museu do resto, entulho, lixo da guerra.Neste Paraíso budista, a ùnica mácula é rastro da pata dos colonizadores ocidentais, mas a oportunidade de aprender com o povo do Laos está aberta. Muito obrigado professor,pela sua visão brasileira das coisas.

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  3. Obrigado Reinaldo, precisando de algum material é só dizer. Abraços

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  4. Olá, professor, Bom dia...

    Estou pensando montar um bar com o nome Laos.

    Porém, não tenho idéia de como vou relacionar o bar com o nome. Tem alguma idéia?

    Absss

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  5. José Cláudio, sobre a cultura de Laos eles usam a flauta de bambu que, assim como o futebol é a paixão do brasileiro, a flauta é uma paixão dos laocianos. Seus utensílios são feitos de barro (panela, jarro etc.), o arroz é a comida típica dos laocianos, junto com a sopa de fitas, que reúne carne, verduras e pimenta a gosto, dentre outros. Eles adoram também o arroz glutinoso, que é um tipo de arroz de grão curto e é bastante pegajoso. Eles também adoram pratos exóticos, como carne de cobra, macaco, entre outros. Você pode pesquisar na Internet ou mesmo pedir informações a algum nutricionista sobre como fazer esses produtos da culinária laociana.

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