AS CONVENÇÕES CARTOGRÁFICAS

  As convenções cartográficas são uma série de símbolos aceitos internacionalmente e criados pela necessidade de reproduzir um objetivo em um mapa, como, por exemplo, elementos naturais. Sendo assim, são símbolos utilizados para representar e localizar diversos lugares, bem como construções, ouro, prata, cobre, entre outros.
  A representação da realidade num mapa é feita por símbolos denominados convenções cartográficas, que representam rios, florestas, montanhas, cidades, fronteiras entre os países etc. Essa simbologia é reunida em diversos grupos: edificações, hidrografia, vegetação, cultivos agrícolas, relevo, limites administrativos. O azul, por exemplo, geralmente é utilizado para representar a água; o ponto preto, para identificar as sedes dos municípios, e a linha vermelha para representar as estradas.
  As convenções cartográficas envolvem uma série de símbolos, desenhos, cores e códigos utilizados internacionalmente em cartografia para estabelecer uma padronização para a confecção de mapas. Isso serve para que um mapa possa ser lido e compreendido em qualquer lugar do mundo. As convenções envolvem não somente o uso de símbolos, figuras, cores ou linhas, mas também o uso de outros elementos cartográficos como o título do mapa, a escala e a rosa dos ventos.

  • Título - tem a função de apresentar o tema ou a informação principal que será tratada pelo mapa. Geralmente, aparece em destaque, centralizado e no alto do mapa ou então junto da legenda.

O título é fundamental para facilitar a compreensão de um mapa

  • Legenda - geralmente presente ao lado dos mapas, a legenda tem como finalidade principal apresentar o significado das cores e dos símbolos neles utilizados.


Legenda com exemplo de símbolos e cores que podem aparecer em um mapa com seus respectivos significados

  • Orientação - serve para indicar a direção dos pontos cardeais na representação cartográfica. Na maioria das vezes é indicada somente a direção norte, já que esta informação basta para que se possa descobrir os demais pontos cardeais (sul, leste e oeste) e os pontos colaterais (nordeste, sudeste, sudoeste e noroeste).

A Rosa dos Ventos é o símbolo usado para indicar a direção dos pontos cardeais

  • Escala - é utilizada nos mapas para informar a proporcionalidade das distâncias medidas no mapa e as distâncias reais. Caso não seja indicada, fica impossível fazer os cálculos de distâncias entre dois pontos com base somente no mapa. Ela pode ser:

1. Numérica: é a escala que é apresentada na forma de uma fração, sem definição prévia de uma unidade de medida. Ex: 1:1.000.000 ou 1/1.000.000. Essa escala quer dizer que o mapa é 1.000.000 de vezes menor que a realidade, ou seja, se 1 cm for medido no mapa, isso equivalerá a 1.000.000 de centímetros no espaço real.
Escala Gráfica
2. Gráfica: é apresentada utilizando-se uma reta, geralmente graduada em centímetros, com as reais distâncias (em km) indicadas a cada centímetro medido no mapa. No exemplo abaixo, cada centímetro medido no mapa será equivalente a 10 quilômetros na realidade.
Escala Numérica
REFERÊNCIA: CALDINI, Vera; ISOLA, Leda. Atlas geográfico. Saraiva: São Paulo, 2013. p. 78

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

O KEYNESIANISMO E O INTERVENCIONISMO ESTATAL

  A depressão que se seguiu após 1929 pôs em xeque a lógica liberal. Atribuíam-se à competição desenfreada e à superprodução as causas da convulsão. Na década da crise, surgiriam os trabalhos daquele que viria a ser o mais importante economista do século XX: John Maynard Keynes (1883-1946) e sua obra principal, Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, escrita em 1936 e que consiste numa organização político-econômica, oposta às concepções liberais, fundamentada na afirmação do Estado como agente indispensável de controle da economia, com o objetivo de conduzir a um sistema de pleno emprego. Tais teorias tiveram uma enorme influência na renovação das teorias clássicas e na reformulação da política de livre-mercado.
John Maynard Keynes - autor da teoria do keynesianismo
  A escola keynesiana se fundamenta no princípio de que o ciclo econômico não é auto-regulado como defendem os neoclássicos, uma vez que é determinado por um suposto "espírito animal" (animal spirit, no original inglês) dos empresários.
  A teoria keynesiana parte do pressuposto de que o mercado não pode nem deve ficar desregrado; faz-se necessária uma forte intervenção do Estado na economia, exatamente o oposto do que preconizava seu antecessor, Adam Smith, cujas ideias nortearam o liberalismo clássico, principal vertente do capitalismo até então. Agora o liberalismo estava em baixa, e eram as ideias de Keynes que iriam se sobrepor. Entre elas, estava a garantia do pleno emprego como forma de manter aquecido o mercado, já que o trabalhador empregado é um consumidor em potencial - e era o Estado que deveria oferecer essa garantia. Outra pregação keynesiana é a forte intervenção do Estado em prol de uma política de redução de juros, a fim de desestimular o investimento no setor financeiro e o redirecionamento para o setor produtivo. O Estado deveria patrocinar vultosos investimentos públicos como forma de manter a economia em pleno funcionamento.
Fila de desempregados nas ruas de Nova York após a Grande Depressão de 1929
  O keynesianismo ascendia à condição de principal corrente do pensamento econômico no momento da maior crise da história do capitalismo. Suas ideias influenciaram os principais governantes da época que buscavam saídas para a crise. A influência mais notável foi no New Deal, o plano de recuperação econômica para a Grande Depressão, do presidente estadunidense  Franklin D. Roosevelt, que governou os Estados Unidos de 1933 a 1945.
  A teoria de Keynes é baseada no princípio de que os consumidores aplicam as proporções de seus gastos de bens e poupança, em função da renda. Quanto maior a renda, maior porcentagem desta é poupada. Assim, se a renda agregada aumenta em função do aumento do emprego, a taxa de poupança aumenta simultaneamente; e como a taxa de acumulação de capital aumenta, a produtividade marginal do capital reduz-se e o investimento é reduzido, já que o lucro é proporcional à produtividade marginal do capital. Então ocorre um excesso de poupança em relação ao investimento, o que faz com que a demanda (procura) efetiva fique abaixo da oferta e, assim, o emprego se reduza para um ponto de equilíbrio em que a poupança e o investimento fiquem iguais. Como esse equilíbrio pode significar a ocorrência de desemprego involuntário em economias avançadas (onde a quantidade de capital acumulado seja grande e sua produtividade pequena), Keynes defendeu a tese de que o Estado deveria intervir na fase recessiva dos ciclos econômicos com sua capacidade de imprimir moeda para aumentar a procura efetiva através de déficits do orçamento do Estado e assim manter o pleno emprego.
Teoria proposta por Keynes
  O ciclo de negócios, segundo Keynes, ocorre porque os empresários têm "impulsos animais" psicológicos que os impedem de investir a poupança dos consumidores, o que gera desemprego e reduz a demanda efetiva novamente e, por sua vez, causa uma crise econômica. A crise, para terminar, deve ter uma intervenção estatal que aumente a demanda efetiva através do aumento dos gastos públicos.
  Keynes, porém, nunca defendeu a estatização da economia, nos moldes em que foi feita na União Soviética. O que ele defendia na década de 1930 e que os novos desenvolvimentistas defendem atualmente é uma participação ativa de um Estado enérgico nos segmentos da economia que, embora necessários para o bom desenvolvimento de um país, não interessam ou não podem ser atendidos pela iniciativa privada.
  Após a Segunda Guerra Mundial, o keynesianismo consolidou-se como modelo econômico e foi hegemônico na Europa e nos Estados Unidos até meados dos anos 1970, quando passou a ser questionado pelos chamados monetaristas, críticos da política de limitação ao investimento financeiro.
Charge ironizando o setor privado na economia com base na teoria keynesiana
REFERÊNCIA: Silva, Edilson Adão Cândido da
Geografia em rede, 1º ano / Edilson Adão Cândido da Silva, Laércio Furquim Júnior. - 2. ed. - São Paulo: FTD, 2016. - (Coleção geografia em rede).

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

GEOPOLÍTICA E ECOLOGIA DOS MARES FECHADOS

  Os mares são corpos de água salgada que possuem ligação com águas oceânicas. Podem ser: continentais, abertos e fechados.
Mares Continentais - são aqueles que possuem ligações estreitas (geralmente através de estreitos) com as águas oceânicas. Ex: Mar Mediterrâneo (suas águas estabelecem ligação com o Oceano Atlântico através do Estreito de Gibraltar) e Mar Vermelho (suas águas estão ligadas ao oceano Índico através do Estreito de Bab-el-Mandeb).
Imagem de satélite do Estreito de Gibraltar
Mares Abertos - a ligação entre os mares abertos e as águas oceânicas ocorre através de grandes aberturas. Ex: mares do Norte (suas águas possuem ligação com o Oceano Atlântico através do Canal da Mancha - Estreito de Dover), Báltico (localizado na região norte do continente europeu, suas águas estão ligadas ao Oceano Atlântico através dos estreitos de Öresund - entre a Dinamarca e a Suécia -, Grand Belt - entre as ilhas dinamarquesas de Zelândia e Fulen -, e Pequeno Belt - entre a Península da Jutlândia e a Ilha Fulen) e o  Mar do Caribe (localizado a leste da América Central e a norte da América do Sul, está conectado com o Oceano Atlântico através das passagens de Anegada e dos Ventos).
Imagem de satélite do Mar do Norte
Mares fechados - embora ganhem o nome de mares, estes corpos de água salgada são, na verdade, imensos lagos, pois não possuem conexão com as águas oceânicas. Os mares fechados são superfícies líquidas que não possuem ligações com um outro mar ou oceano. Por tradição ou por sua dimensão, não são identificados como lagos. Situados no interior dos continentes, são "regulados" por rios que neles deságuam e, em alguns casos, por águas de degelo que descem das vertentes circundantes. Os mares Morto, Cáspio e de Aral são exemplos típicos de mares fechados.
Mapa com alguns dos principais mares da Europa e da Ásia
Mar Morto
  O Mar Morto possui uma superfície de aproximadamente 650 km², um comprimento máximo aproximado de 50 km e uma largura máxima de 18 km. Em 1930, quando o Mar Morto começou a ser monitorado continuamente, sua  superfície era de aproximadamente 1.050 km², com um comprimento máximo de 80 km e uma largura máxima de 18 km.
  Situado entre Israel, a Cisjordânia e a Jordânia, o Mar Morto é famoso por estar localizado na maior depressão continental do mundo e por seu alto índice de salinidade. No último século, perdeu cerca de 300 km² de superfície e seu nível continua baixando, devido ao uso da água dos rios que nele deságuam (especialmente o Jordão) e à elevada evaporação.
Fotografia de satélite mostrando a localização do Mar Morto
  O Mar Morto recebe esse nome devido à grande quantidade de sal nele contida, dez vezes superior à dos demais oceanos, e em suas águas há a escassez de vida, havendo apenas alguns tipos de arqueobactérias e algas. Qualquer peixe que seja transportado pelo Rio Jordão morre imediatamente assim que deságua neste lago de água salgada. A sua água é composta por vários tipos de sais, alguns dos quais só podem ser encontrados nesta região do mundo. Em termos de concentração, e em comparação com a concentração média dos restantes dos oceanos em que o teor de sal, por 100 ml de água não passa de 3 gramas, no Mar Morto essa taxa é de 30 a 35 gramas de sal por 100 ml de água.

Mar Morto visto do espaço com áreas de extração de sal ao sul
  O Mar Morto perdeu 35% da sua superfície entre 1954 e 2014, em grande parte por causa do aumento na captação das águas de seu principal afluente, o Rio Jordão, por parte das autoridades de Israel e Jordânia, única fonte de água doce da região, além da natural evaporação de suas águas.
  Outro fator importante para essa perda, além da captação de água do Rio Jordão, tem sido a extração descontrolada principalmente de potássio por indústrias mineradoras e químicas, como a Israel Chemicals Ltd., Dead Sea Works e Arab Potash Company, que se instalaram nas décadas de 1940 e 1950. Entre 1930 e 1997, o nível das águas do Mar Morto diminuiu 21 metros.
Tanques de evaporação de potássio no Mar Morto, em 1944
  A contínua perda das águas do Mar Morto causa uma redução em sua área e profundidade, relativamente ao nível médio das águas do Mar Mediterrâneo, o que faz com que seja o maior desnível negativo do mundo, em relação ao nível do mar. Entre 1992 e 2014, a média de aumento deste desnível foi quase  1 metro por ano. Em 1992, o desnível era de 407 metros. Em 2004 era de 417 metros e em 2010 era de 423 metros. Em 2014, o desnível aumentou para 427 metros.
Mar Morto
  A chuva na região do Mar Morto não passa dos 100 mm por ano na parte norte e mal atinge os 50 mm na parte sul. A aridez da zona do Mar Morto é devido ao efeito rainshadow (sombra de chuva) das colinas da Judeia. O planalto leste do Mar Morto recebe mais chuva do que o Mar Morto em si.
  Para evitar que o mar desapareça, as partes interessadas - Autoridade Palestina, Israel e Jordânia - assinaram um acordo, em dezembro de 2013, para "salvar" o mar. A ideia é desviar água do mar Vermelho para o mar Morto por um canal de 80 quilômetros.
A alta salinidade do Mar Morto permite a flutuação das pessoas
Mar Cáspio
  O Mar Cáspio localiza-se na Ásia Central e é dividido em três partes. Na parte norte, assenta-se sobre uma depressão absoluta com altitude média de 28 metros negativos. As porções central e sul apresentam profundidades bem maiores. Por conta do menor volume e profundidade, e por estar junto a áreas continentais baixas, a porção norte é a mais vulnerável às variações de nível. É lá que deságua o Rio Volga, o mais importante afluente. Tudo o que acontece ao longo dessa bacia, onde estão as maiores concentrações urbano-industriais da Rússia, repercute sobre o mar.
  Este mar possui uma superfície de 386.400 km², área um pouco maior que a do estado do Mato Grosso do Sul e possui um volume de 78.200 km³, constituindo uma bacia endorreica (área na qual a água não tem saída superficialmente, por rio, até ao mar). O comprimento do Mar Cáspio é de 1.030 km e sua largura varia de 435 km a um mínimo de 196 km, e sua profundidade máxima é de 1.025 metros. Seu nível de superfície é em torno de -26,5 metros abaixo do nível do mar.
Bacia do Mar Cáspio e antigo Mar de Aral
  O Mar Cáspio é limitado a noroeste pela Rússia, a oeste pelo Azerbaijão, a sul pelo Irã, a sudeste pelo Turcomenistão, e a nordeste pelo Cazaquistão. Pode ser dividido em três partes: norte, centro e sul.
  Cerca de 130 rios pequenos e grandes convergem ao Cáspio, quase todos desaguando nos litorais norte ou oeste. O maior deles é o Rio Volga (maior rio europeu em extensão), que corre por uma área de 1.400.000 km² e deságua no norte do Mar Cáspio. Mais de 90% da água doce que o mar recebe é fornecida pelos cinco maiores rios: o Volga com 241 km³, o Kura com 13 km³, o Terek com 8,5 km³, o Ural com 8,1 km³ e o Sulak com 4 km³. Os rios iranianos menores da costa ocidental fornecem o resto, já que não há fluxos permanentes no lado oriental.
Imagem de satélite do Mar Cáspio
  A história registra que o Mar Cáspio é chamado de mar desde a época dos romanos, que o acharam salgado, especialmente na sua parte sul. Sua área hoje constitui um grande trunfo econômico, com enormes reservas de petróleo e gás natural, que só agora estão começando a ser extraídas plenamente. As reservas de petróleo para toda a região do Mar Cáspio são comparáveis às dos Estados Unidos e do Mar do Norte. As reservas de gás natural são ainda maiores, sendo quase dois terços das reservas de hidrocarbonetos. Além disso, grandes quantidades do peixe esturjão vivem nas suas águas, e o caviar produzido a partir de seus ovos é bem valioso.
  Ao longo do século XX, a soberania sobre o Mar Cáspio foi compartilhada entre a União Soviética e o Irã. Com a desintegração da União Soviética, em 1991, o mar passou a banhar, além do litoral do Irã, terras da Rússia, do Cazaquistão, do Turcomenistão e do Azerbaijão. A descoberta de petróleo e gás na área do Cáspio tornou mais complexo o quadro geopolítico.
  Hoje, há interesses conflitantes entre os cinco países no que se refere à definição jurídica a ser aplicada, especialmente em relação à exploração dos recursos da rica plataforma continental.
Mar Cáspio em Turkmenbasy - Turcomenistão
Mar de Aral
  As tensões que cercam o Cáspio pouco significam se comparada à crise que ameaça a própria existência do Mar de Aral. Situado no coração da Ásia Central, o Aral se estende sobre as terras áridas das antigas repúblicas soviéticas do Cazaquistão e do Uzbequistão. O Mar de Aral foi vítima do planejamento ecologicamente irresponsável conduzido por Moscou.
  No período Terciário (68 a 1,8 milhão de anos atrás), provavelmente a depressão onde se encontra o Mar de Aral estava conectada ao Mar Cáspio, ao Mar Negro e a outros lagos próximos de mesma origem geológica e também de formação endorreica. Durante o Pleistoceno (1,8 milhão até 20 mil anos atrás) certamente ocorreu a separação e o isolamento final do Mar de Aral, porém, ele continuou a ser alimentado simultaneamente com as águas dos rios  Amu Darya e Sir Darya, tornando-o um verdadeiro oásis no deserto da Ásia Central. Com o tempo, a água do lago passou a concentrar todo o sal trazido pelos rios, uma vez que a água acumulada continuou o seu ciclo, evaporando por milhares de anos.
Mapa do Mar de Aral em 1853
  As nascentes dos dois rios afluentes do Mar de Aral (Sir Darya e Amu Darya) ficam nas altas montanhas do sistema do Himalaia e distanciam cerca de dois mil quilômetros da foz. Durante toda esta extensão, os rios cortam quatro países (Afeganistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão), sendo uma preciosa fonte de recursos naturais, com grande variedade biológica, em meio ao clima desértico. A indústria pesqueira era a principal atividade econômica da região. No século XX, os dois rios passaram a receber lixo, esgoto e poluentes com o desenvolvimento das comunidades próximas, e foram alvos de sucessivas drenagens pelo governo soviético das repúblicas da Ásia Central. A partir de 1920, o fluxo dos rios diminuiu consideravelmente.
O Mar de Aral visto do espaço, em 1985
  A presença militar russa no Mar de Aral começou em 1847, com a fundação de Raimsk, que logo foi rebatizado de Aralsk, perto da foz do Sir Darya. Logo, a Marinha Imperial Russa começou a implantar os seus navios no mar. Devido à bacia do Mar de Aral não estar ligada a outros corpos de água, os navios tiveram que ser desmontados em Orenburg, no rio Ural, enviados por via terrestre para Aralsk (presumivelmente por uma caravana de camelos), e então remontados. Os dois primeiros navios, montados em 1847, eram as escunas de dois mastros chamado Nikolai e Mikhail. O primeiro foi um navio de guerra, enquanto o último um mercante que servia para o estabelecimento da pesca no lago grande. Em 1848, estes dois navios pesquisaram a parte norte do mar. No mesmo ano, um grande navio de guerra, Constantino, foi também montado. Comandado pelo tenente Alexey Butakov, o Constantino concluiu o levantamento de todo o Mar de Aral em dois anos. Para a navegação, em 1851, dois navios recém-construídos chegaram da Suécia, novamente de caravanas até Orenburg.
Embarcação abandonada perto do antigo Porto de Aral, Cazaquistão
  O governo soviético começou a desviar parte das águas dos rios que alimentavam o Mar de Aral, o Amu Darya (ao sul) e o Sir Darya (ao nordeste) em 1918. Com o fim da Primeira Guerra Mundial havia a necessidade de aumentar a produção de alimentos, tais como arroz, cereais e melões. Havia também planos de se produzir algodão no deserto próximo ao lago. O algodão, sempre valorizado, era chamado de "ouro branco".
  Nos anos 1940, acelerou-se a construção dos canais de irrigação que captavam água dos afluentes do Mar de Aral. O conhecimento rudimentar da técnica de engenharia produziu canais ineficientes, e havia perda de até 75% de toda a água captada em vazamentos e evaporação.
Mar de Aral em 1989 e 2008
  No início, a irrigação das plantações consumia aproximadamente 20 km³ de água a cada ano, em ritmo crescente. Já na década de 1960, a maior parte do abastecimento de água do lago tinha sido desviado e o Mar de Aral começou a perder tamanho. De 1961 a 1970 o lago baixou 20 cm por ano, e essa taxa cresceu até 1990. Em 1987, a redução contínua do nível da água levou ao aparecimento de grandes bancos de areia, causando uma separação em duas massas de água, formando o Aral do Norte (ou Pequeno Aral) e o Aral do Sul (ou Grande Aral).
  A quantidade de água retirada dos rios que abasteciam o Mar de Aral duplicou entre 1960 e 2000, assim como a produção de algodão. No mesmo período, o Uzbequistão tornou-se o terceiro maior exportador de algodão do mundo. Como consequência da redução do volume de água, a salinidade quase quintuplicou e matou a maior parte de sua fauna e flora naturais. A próspera indústria pesqueira faliu, assim como as cidades ao longo das margens. Houve desemprego e dificuldades econômicas.
Animação do estado do Mar de Aral
  As poucas águas do Mar de Aral também ficaram fortemente poluídas, em grande parte como resultado de testes com armamentos e projetos industriais, além do uso maciço de pesticidas e fertilizantes. As pessoas passaram a sofrer com a falta de água doce e os cultivos na região estão sendo destruídos pelo sal depositado sobre a terra. Nos últimos anos, o vento tem soprado sal a partir do solo seco e poluído, causando danos à saúde pública. Há também relatos de alterações climáticas na região, com verões cada vez mais quentes e secos e invernos mais frios. A situação do Mar de Aral e sua região é descrita como a maior catástrofe ambiental da história.
  O Mar de Aral abrigou uma indústria pesqueira considerável que, no seu auge, empregava cerca de 40 mil pessoas e produzia 1/6 de todo o pescado da União Soviética. Ainda é possível encontrar os restos dessa época de farta produção. O leito do lago, sem água, transformou-se num cemitério para as grandes embarcações que operavam na pesca. Além do pescado, a região deixou de produzir 500.000 peles de rato-almiscarado por ano, uma vez que a caça predatória e a escassez de água contribuíram para o desaparecimento do animal dos deltas do Amu Darya e do Sir Darya.
O lago deu lugar ao Aralkum, um deserto de sal e poluentes sólidos
  A superfície do Mar de Aral já reduziu em 60% do seu tamanho e em cerca de 80% do seu volume. Em 1960, o Mar de Aral era o quarto maior lago do mundo, com uma área aproximada de 68.000 km² e um volume de 1.100 km³. Em 1998, caiu para 28.667 km², tornando-se o oitavo maior lago do mundo. Durante o mesmo período, a salinidade do mar aumentou cerca de 10 gr/l para 45 gr/l.
  Há duas vertentes que pretendem explicar o processo de desertificação:
1. Fenômeno Natural - o Mar de Aral estaria morrendo naturalmente devido à fatores climáticos e geológicos (vertente defendida oficialmente pelo governo soviético no início do fenômeno);
2. Fenômeno Antropogênico - o desvio das águas dos rios que desembocam no Mar de Aral estaria causando o problema (vertente consensual defendida atualmente).
Antigo porto, atualmente abandonado
  O futuro do Mar de Aral é incerto. Não se sabe se é possível, viável e necessário recuperá-lo. Há diversas sugestões no sentido de ajudar em sua recuperação, tais como:

  • melhorar a eficiência dos canais de irrigação;
  • instalar estações de dessalinização de água;
  • instruir os agricultores a usar menos as águas dos rios;
  • plantar cultivares de algodão que necessitem de menos água;
  • usar menos produtos químicos nas plantações;
  • reduzir o número de fazendas de algodão próximas ao lago e afluentes;
  • construir barragens para encher o Mar de Aral;
  • desvio de água dos glaciares da Sibéria para repor a água perdida do Aral;
  • redirecionar a água dos rios Volga, Ob e Irtich. Assim se levaria de 20 a 30 anos para restaurar sua antiga dimensão;
  • diluir a água do Aral com a água do oceano e do Mar Cáspio através de bombas e gasodutos.
Momento em que a ilha Vozrozhdeniya, originalmente no centro do Aral, se converte em uma península (fim de 2000 e começo de 2001)
REFERÊNCIA: Baldraia, André
Ser protagonista: geografia, 3º ano: ensino médio / André Baldraia, Fernando dos Santos Sampaio, Ivone Silveira Sucena. Organizadora: Edições SM. Obra coletiva concedida, desenvolvida e produzida por Edições SM editor responsável Flávio Manzatto de Souza. - 3. ed. - São Paulo: Edições SM, 2016. (Coleção ser protagonista)