domingo, 30 de setembro de 2012

A DINÂMICA DA ORGANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO AUSTRALIANO

  A Austrália é um Estado federal, oficialmente conhecido como Comunidade da Austrália. A federação está dividida em seis estados - Austrália Ocidental, Austrália Meridional, Queensland, Nova Gales do Sul, Vitória e Tasmânia - e dois territórios - o Território da Capital da Austrália (Australian Capital Territory - ACT) e o Território do Norte.
NOVA GALES DO SUL
  Com uma área de 809.444 km², possuindo uma população de 7.299.700 habitantes (2010), Nova Gales do Sul, localizado no sudeste do país, é o mais populoso estado da Austrália. Mais de 60% da população se concentra em Sydney, a capital do Estado e cidade mais importante do país e que recebe, desde a década de 1970, a maior parte dos imigrantes de origem asiática. O espírito empreendedor da comunidade chinesa aí instalada explica por que Nova Gales do Sul é a porta aberta da Austrália em direção à região do Pacífico. A localização e o dinamismo dessa cidade, cuja importância cresce à medida que a Austrália se integra na região do Pacífico, favorecem a ambição de sua população de que Sydney se torne uma das capitais financeiras do mundo.
Sydney - maior e mais importante cidade de Nova Gales do Sul
 Produtos manufaturados são a maior fonte de renda do Estado, e incluem maquinários agrícolas, químicos, tecidos, fertilizantes, vidros, ferro e aço, maquinário industrial, automóveis e papel. A indústria de mineração é muito importante para a economia local, tendo como principais minérios o carvão, cobre, ouro, chumbo, prata e zinco.
  Além de Sydney, outras cidades também se destacam, como Newcastle, Wollongong e Port Kembla.

VITÓRIA
  Também localizada no Sudeste, possui uma área de 237.629 km² e uma população de 5.627.700 habitantes (2010), e é o menor estado da Austrália continental. Vitória apresenta a segunda maior população da federação, a maior densidade demográfica e a industrialização mais importante do país.
  A tradicional rivalidade entre Melbourne, a capital de Vitória, e Sydney, capital de Nova Gales do Sul, vem desde o início do século XIX. Isso porque os colonizadores, que na época se estabeleceram em Port Phillip (distrito de Nova Gales do Sul), recusavam-se a receber os convicts (prisioneiros) enviados pelas autoridades de Sydney e, além disso, lutaram até serem reconhecidos como uma colônia independente de Nova Gales do Sul, o que aconteceu em 1851. O nome Vitória, foi uma homenagem à rainha Vitória, do Reino Unido, e o nome da capital homenageou o primeiro-ministro, lorde Melbourne.
Melbourne - capital e maior cidade de Vitória
  A economia de Vitória é baseada nas minas de ouro e de carvão, bem como a extração de petróleo. Fora Melbourne, dominada pela produção, o resto da terra é dedicada à agricultura e à pecuária, especialmente de ovinos.
  Além de Melbourne, outras cidades importantes são: Casey, Greater Geelong, Monash, Brimbank e Boroondara.
  Hoje, Sydney e Melbourne, as cidades mais importantes da Austrália, disputam a liderança industrial e financeira do país. Melbourne tem mais chances de exercer o papel de capital industrial.
QUEENSLAND
  Ocupando uma área de 1.852.642 km² e uma população de 4.497.100 habitantes (2010), o Estado de Queensland estende-se do nordeste do território australiano até as proximidades do paralelo 30° de latitude sul. Com praias e florestas tropicais exuberantes, a costa litorânea é circundada pelos recifes de corais da Grande Barreira de Corais em uma área de cerca de 2.400 quilômetros ao longo do Pacífico. Desde que a Austrália intensificou seus interesses na região do Pacífico, o estado de Queensland vem sendo beneficiado por um fluxo considerável de australianos procedentes de Nova Gales do Sul e de Vitória.
Grande Barreira de Corais - contém a maior fonte de vida marinha do planeta
  A maior proximidade com a Ásia facilita o desenvolvimento de novas atividades econômicas, como a indústria da pesca, que atende ao mercado japonês. O turismo, graças a um quadro natural favorável, com mais de 200 parques nacionais selvagens, e à variedade de atividades de lazer oferecidas, tende a se firmar como atividade econômica mais promissora. Brisbane, a capital, é a terceira mais importante cidade da Austrália.
Brisbane - capital de Queensland
  Outras cidades importantes de Queensland, são: Costa do Ouro, Moreton Bay, Costa do Sol e Logan.
AUSTRÁLIA OCIDENTAL
  Com 2.645.615 km² e uma população de 2.296.411 habitantes (2010), a Austrália Ocidental ocupa quase toda a porção oeste das terras emersas do continente, sendo o maior estado australiano. Apenas o norte e o sul escapam do clima árido; ao norte, o clima é o tropical úmido, e, ao sul, é mediterrâneo. Por isso, esse estado apresenta densidades demográficas muito baixas, às vezes inferiores a um habitante por quilômetro quadrado.
  Perth, a capital, e a periferia que a circunda abrigam quase 75% da população da Austrália Ocidental, em razão das condições climáticas mais favoráveis encontradas no sudoeste do estado. Mas a intensificação da exploração mineral em seu rico subsolo, tem atraído, desde 1970, mão de obra dos estados de Nova Gales do Sul, Vitória e Tasmânia, assim como imigrantes asiáticos, sobretudo de Mianmar (antiga Birmânia). Em razão das riquezas minerais, os conflitos com os aborígenes continuam muito fortes, tendo se acirrado depois que o governo federal reconheceu, em 1992, os direitos dos nativos aos territórios de seus ancestrais.
Perth - capital da Austrália Ocidental
  Além de Perth, as cidades mais importantes são: Stirling, Joondalup, Wanneroo, Swan e Gosnells.
AUSTRÁLIA MERIDIONAL
  Com 984.377 km² e uma população de 1.664.642 habitantes, localiza-se no centro-sul do território australiano. Apresenta elevado índice de população urbana, que se concentra no sul do estado, certamente porque o norte e o oeste são muito áridos. Apenas o sul possui terras férteis, que se estendem da península de Fleurieu, no oeste, até a área irrigada pelo rio Murray, no leste. Nessa área destacam-se a cidade de Adelaide e os vales férteis de Barossa e Clare. A fertilidade dessas terras explica por que, durante o século XIX, a Austrália Meridional foi o "celeiro de trigo" da colônia britânica. Hoje essa área produz três quartos do vinho australiano.
Vale de Barossa - Austrália Meridional
  A capital Adelaide, concentra quase 75% da população da Austrália Meridional, primeiro estado da federação a reconhecer os direitos dos aborígenes aos territórios de seus ancestrais. Hoje, porém, a maior parte da população aborígene (inferior a 20 mil habitantes) vive em cidades, principalmente em Adelaide e Port Augusta, o que evidencia os danos provocados pela colonização britânica.
Adelaide - capital da Austrália Meridional
  Além de Adelaide, outras cidades importantes são: Port Augusta,  Onkaparinga, Salisbury, Charles Sturt e Tea Tree Gully.
TASMÂNIA
  Seu nome é uma homenagem ao navegador holandês Abel Tasman, primeiro europeu a chegar a essa ilha, no século XVII. O território da Tasmânia, ocupa uma área de 68.401 km² e abriga uma população de 582.600 habitantes (2010). Foi palco dos conflitos mais sangrentos com os aborígenes, massacrados um a um. A sua capital é Hobart.
Hobart - capital da Tasmânia
  As atividades do setor primário - cultivo de frutas e legumes, e criação de bovinos e ovinos - continuam predominando. Recentemente, porém, a indústria da pesca, inclusive de crustáceos, se desenvolveu muito para atender à exportação. O turismo é, certamente, a indústria mais promissora, pois as várias regiões selvagens e desabitadas - últimos espaços virgens do planeta - permitem desenvolver o chamado turismo ecológico.
  A Tasmânia é o estado da Austrália que tem o maior percentual de áreas em parques nacionais ou reservas turísticas, particularmente o litoral oeste e sudoeste do território. A Unesco reconhece alguns desses parques como patrimônio da humanidade, pois são as últimas regiões selvagens do mundo temperado. O mais célebre é o Cradle Montain, com 1.262 km².
Parque Nacional Cradle Montain - Tasmânia
  As principais cidades da Tasmânia, além de Hobart, são: Launceston, Queenstown, Swansea, Devonport, Burnier, Mt. William, Straham e Stanley.
TERRITÓRIO DO NORTE
  Com 1.420.968 km² e uma população de 229.675 habitantes (2010), o Território do Norte não tem o status de estado membro da federação por ter um povoamento muito reduzido. Os aborígenes representam cerca de de um quarto da população do Território do Norte. O reconhecimento, em 1993, dos direitos dos aborígenes à terra dos ancestrais melhorou as relações entre brancos e aborígenes que aí vivem.
  Sua localização relativamente próxima da Indonésia, quarto país mais populoso do mundo, explica porque a cidade de Darwin, a capital do Território, é estratégica para as ambições da Austrália de ser uma "potência média" do mundo contemporâneo.
Darwin - capital do Território do Norte
  Além de Darwin, outras cidades importantes do Território do Norte, são: Alice Springs, Palmerston, Litchfield e Katherine.
TERRITÓRIO DA CAPITAL DA AUSTRÁLIA (ACT)
  Com 2.358 km² e uma população de 358.894 habitantes (2010), esse território originou-se de uma disputa acirrada entre as lideranças políticas, econômicas e culturais de Sydney e Melbourne a respeito da criação da capital da Austrália. O crescimento demográfico desse território se acentuou muito depois de 1960: sua população, que era de 100 mil habitantes em 1967, hoje é de mais 360 mil habitantes. É a unidade político-administrativa que apresenta as taxas mais elevadas de crescimento da população australiana. Em relação a todo o país, porém, essa taxa é pouco superior a 1%.
Camberra - capital da Austrália
FONTE: Vesentini, José William. Geografia crítica / José William Vesentini, Vânia Vlach. -- 4. ed. -- São Paulo: Ática, 2009.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA

  A atual configuração espacial das atividades agropecuárias e da zona rural é resultado da ação da sociedade sobre a natureza ao longo da História, o que ocorreu de modo muito desigual entre os diversos países e regiões do planeta.
  Por exemplo, há países, como a França, e regiões, como o Oeste Paulista, onde a agricultura é moderna e utiliza tecnologia de ponta na produção; em outros, como vários países da África Subsaariana, e em áreas do Sertão Nordestino, onde se pratica uma agricultura de subsistência, a atividade é rudimentar e utiliza técnicas primitivas de produção.
  Assim, as condições socieconômicas, os aspectos físicos e ambientais, os diferentes hábitos alimentares, o nível de desenvolvimento tecnológico, a estrutura legal, o destino da produção, o modelo de política agrária, os índices de produtividade, entre outros fatores, determinam a configuração socioespacial e a sustentabilidade ambiental das atividades agropecuárias.
Mulheres cultivando na África
  Nas atividades agropecuárias, tanto a diversidade quanto a alteração das relações de trabalho com a natureza são resultado da existência de diferentes sistemas de produção.
OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA
  Considerar a produção agrícola como um sistema envolve a análise de suas dimensões naturais (fertilidade do solo, topografia, disponibilidade de água) e socioeconômicas (desenvolvimento tecnológico, grau de capitalização, estrutura fundiária, relações de trabalho). Dada a diversidade de modos de vida e de produção, das leis trabalhistas e ambientais, das condições econômicas e da oferta de crédito, além de outros fatores, as condições da produção agrícola mundial são muito heterogêneas. Porém, alguns aspectos são comuns a todos os sistemas. Por exemplo, a sustentabilidade dos sistemas agrícolas é essencial para o desenvolvimento do espaço rural tanto em regiões ricas quanto em regiões pobres. Um sistema agrícola é sustentável quando é ambiental, social e economicamente estável, ou seja, tem condições de continuar existindo porque sua estrutura permite que se reproduza ao longo de sucessivas gerações.
  Nesse contexto, os sistemas agrícolas, assim como a produção pecuária, podem ser classificados como intensivos e extensivos, de acordo com o grau de capitalização e o índice de produtividade, decorrente do uso de insumos, maquinaria e tecnologia de ponta. É importante destacar que essa classificação independe do tamanho da área de cultivo ou de criação.
  As propriedades que, por meio da utilização de modernas técnicas de preparo do solo, cultivo e colheita (uso de adubos, fertilizantes, sistema de irrigação e mecanização), apresentam elevados índices de produtividade e conseguem explorar a terra de forma sustentável praticam a agricultura intensiva. Já as propriedades que praticam a agricultura extensiva são as que utilizam técnicas rudimentares, com baixa exploração da terra e reduzidos índices de produtividade.
Agricultura intensiva
  Na pecuária, o rendimento é avaliado pelo número de cabeças por hectare. Quanto maior a densidade de cabeças, independentemente de o gado estar solto ou confinado, maior é a necessidade de ração, de pastos cultivados e de assitência veterinária. Com tudo isso, há um aumento da produtividade e do rendimento, que são características da pecuária intensiva. Quando o gado se alimenta apenas em pastos naturais e a criação apresenta baixa produtividade e sustentabilidade, trata-se de pecuária extensiva.
Pecuária extensiva
  Outra maneira de classificar os sistemas de produção está relacionado à forma de gestão da mão de obra. Isso permite distinguir o predomínio de agricultura familiar ou de agricultura empresarial (patronal).
AGRICULTURA FAMILIAR
  Na agricultura familiar a administração da propriedade e dos investimentos necessários às decisões sobre o que e como produzir são tomados pelos membros de uma família, sendo eles ou não os donos da terra - algumas famílias produzem em terras arrendadas. Em geral, nesse tipo de agricultura o trabalho é realizado pelos membros da família, mas muitas vezes há contratação de mão de obra no mercado.
Agricultura familiar
  Um tipo de agricultura familiar que prevalece nas regiões pobres é a agricultura de subsistência, voltada às necessidades imediatas de consumo alimentar dos próprios agricultores e seus dependentes. A produção é obtida em pequenas e médias propriedades ou em parcelas de grandes propriedades (nesse caso, parte da produção é entregue ao proprietário  como pagamento do aluguel da terra), com utilização de técnicas tradicionais e rudimentares. Por falta de assistência técnica e de recursos, não há a preocupação com a conservação do solo, as sementes utilizadas são de qualidade inferior, não se investe em fertilizantes e, portanto, a produção e a produtividade são baixas. Após alguns anos de cultivo, há uma diminuição da fertilidade natural do solo, quase sempre expostos a processos erosivos. Em alguns casos, ao perceber que o volume de produção está diminuindo, a família desmata uma área próxima e pratica a queimada para acelerar o plantio, dando início à degradação acelerada de uma nova área, a qual será brevemente abandonada - nesse caso temos a agricultura itinerante.
Agricultura itinerante
  Na agricultura familiar de subsistência, predominam as pequenas propriedades, que podem ser cultivadas em parceria, quando o agricultor aluga a terra e paga por seu uso com parte da produção, arrendamento, quando o aluguel é pago em dinheiro, ou em regime de posse, quando os agricultores simplesmente ocupam terras devolutas - terras desocupadas, vagas, que não possuem dono ou que pertencem ao Estado. Essa realidade existe nos dias de hoje em boa parte dos países da África Subsaariana, no Sul e no Sudeste da Ásia e na América Latina, mas o que prevalece atualmente é uma agricultura de subsistência voltada ao comércio urbano: o agricultor e sua família cultivam algum produto que será vendido na cidade mais próxima, mas o dinheiro que recebem é suficiente apenas para lhes garantir a subsistência. Não há excedente de capital que lhes permita buscar uma melhoria das técnicas de cultivo e o aumento da produtividade. Esse tipo de agricultura é comum em áreas onde falta infraestrutura e a terra é mais barata.
Comercialização de produtos da agricultura familiar
  Outro tipo de agricultura familiar é a chamada agricultura de jardinagem. Essa expressão originou-se no Sul e no Sudeste Asiático, onde há enormes plantações de arroz em planícies inundáveis, com utilização intensiva de mão de obra. Esse sistema é cultivado em pequenas e médias propriedades cultivadas pelo dono da terra e sua família ou em parcelas de grandes propriedades. A diferença é que nessa forma de produção se obtém alta produtividade, pois se recorre à seleção de sementes, à utilização de fertilizantes, à aplicação de avanços biotecnológicos e às técnicas de preservação do solo que permitem a fixação da família na propriedade por tempo indeterminado.
Agricultura de jardinagem no Japão
  Em países como Filipinas, Tailândia, Indonésia e outros do Sudeste Asiático, que apresentam elevada densidade demográfica, as famílias contam com áreas muitas vezes inferiores a um hectare e com condições de vida bastante precárias. Em países que realizaram reforma agrária - Japão, Coreia do Sul e Taiwan - e ao redor dos grandes centros urbanos de áreas tropicais, após a comercialização da produção e a realização de investimentos para a nova safra, há um excedente de capital que permite melhorar, a cada ano, as condições de trabalho e a qualidade de vida da família. Entretanto, como a propriedade e, consequentemente, o volume de produção são pequenos, os agricultores dependem de subsídios governamentais para permanecer produzindo.
Cultivando de arroz em terraços na Indonésia
  Na China, a produção também é, predominantemente, obtidas em propriedade muito pequenas (inferiores a um hectare por família) e em condições de trabalho quase sempre precárias. Como a população é muito numerosa, a opção de incentivos governamentais voltados à modernização da produção agrícola foi substituída pela utilização de enormes contingentes de mão de obra. No entanto, am algumas províncias litorâneas está ocorrendo um processo de modernização, impulsionado pela expansão de propriedades particulares e da capitalização proporcionada pela abertura econômica.
Agricultura em terraços na China
  Outro tipo de agricultura com predomínio de mão de obra familiar é encontrado nos cinturões verdes e nas bacias leiteiras. Ambos localizam-se ao redor dos grandes centros urbanos, principalmente nos países desenvolvidos e emergentes, onde a terra é valorizada. Nela se pratica agricultura e pecuária intensivas para atender às necessidades de consumo da população local. Em tais áreas, produzem-se hortifrutigranjeiros e cria-se gado para a produção de leite e derivados em pequenas e médias propriedades. Após a comercialização da produção, o excedente obtido é aplicado na modernização das técnicas.
Localizado na Zona Norte de Natal, Gramorezinho é o principal cinturão verde da Grande Natal
  Se a política agrícola está voltada à fixação das famílias no campo, ao aumento da oferta de alimentos no mercado regional e à geração de maior número de postos de trabalho, a agricultura familiar tem um papel importante em seu desenvolvimento. Ela pode promover uma maior oferta de alimentos e reduzir o fluxo migratório para as cidades, já que um maior contingente de mão de obra permanece ocupado no campo.
  Em geral, se considera, equivocadamente, que a agricultura familiar não tem condições de produzir excedentes exportáveis por causa da dimensão das propriedades. No entanto, por meio do cooperativismo, a associação de vários pequenos e médios produtores tem possibilitado aumentar sua participação no mercado mundial, como é o caso da Coamo Agroindustrial Cooperativa, entre muitas outras. Sediada em Campo Mourão (PR), a Coamo é a maior cooperativa do Brasil e da América Latina: formada em 1970 por 79 agricultores, no final de 2008 possuía 21.172 cooperados e ao longo daquele ano exportou 523 milhões de dólares.
AGRICULTURA PATRONAL
  Na agricultura patronal (ou empresarial), prevalece a mão de obra contratada e desvinculada da família do administrador ou do proprietário da terra. As grandes empresas agrícolas são as responsáveis pelo desenvolvimento dos sistemas agrícolas em que predominam os complexos agroindustriais, nos quais as atividades agrícolas estão integradas às industriais. Aparecem sobretudo nos países desenvolvidos - Estados Unidos, Canadá, Austrália e alguns países da União Europeia -, em economias emergentes como Brasil, Argentina, Indonésia e Malásia, e em algumas regiões tropicais da África que vêm recebendo investimento estrangeiro, principalmente da China e de países do Oriente Médio. Nessas empresas, a produtividade é muito alta em decorrência da seleção de sementes, do uso intensivo de fertilizantes, do elevado grau de mecanização no preparo do solo, no plantio e na colheita, da utilização de silos de armazenagem e do sistemático acompanhamento de todas as etapas de produção e comercialização por técnicos, engenheiros e administradores. Sua produção é voltada ao abastecimento tanto do mercado interno quanto do externo.
Produção de melão em Mossoró - RN. Exemplo de agricultura patronal
  Desta forma, as atividades agrícolas e pecuárias estão plenamente integradas aos setores industriais e de serviços, criando uma grande cadeia produtiva. Os insumos (fertilizantes, agrotóxicos, rações, vacinas, combustíveis) e equipamentos (tratores, colheitadeiras, sistemas de irrigação, estufas etc.) utilizados pela agropecuária são produzidos por indústrias especializadas. Em contrapartida, os produtos agrícolas abastecem as agroindústrias responsáveis pelo processamento de matérias-primas e de alimentos, as indústrias químicas, têxteis, de mobiliário e de muitos outros produtos que são consumidos no mercado interno e/ou exportados.
  A agropecuária exerce influência direta sobre vários setores da economia, criando uma vasta cadeia produtiva. Essa influência é chamada pelos economistas de "efeitos a montante e a jusante". Antes da produção agrícola e pecuária, são acionadas indústrias de máquinas, adubos, agrotóxicos, vacinas, rações, arames para cercas etc. Após a produção, as atividades na agroindústria, na armazenagem e na comercialização são postas em ação. Além disso, ao longo de toda a cadeia estão envolvidos os setores de transportes, energia, comunicações, administração, marketing, vendas, seguros e muitos outros. Essa extensa cadeia produtiva constitui os complexos agroindustriais, que são as unidades onde se obtém a produção, e os agronegócios, que envolvem todas as atividades primárias, secundárias e terciárias que fazem parte da cadeia produtiva.
Produtos da agroindústria familiar
  Os governos costumam analisar o setor agropecuário considerando sua ligação com outras esferas socioeconômicas: a importância dos agronegócios para o mercado de trabalho e no combate ao desemprego, a garantia de abastecimento alimentar em quantidade e qualidade satisfatórias e, finalmente, sua influência na balança comercial ao reduzir as importações e estimular as exportações. Esses fatores levam muitos países, sobretudo os desenvolvidos, a estabelecerem políticas protecionistas e subsídios à produção agropecuária, o que cria fortes distorções no mercado mundial e prejudica muito os países em desenvolvimento e emergentes.
  Nos países desenvolvidos e nas regiões modernas dos países em desenvolvimento, onde os complexos agroindustriais se implantaram, verificou-se uma tendência à concentração de terras e à especialização produtiva.
  Nos Estados Unidos, por exemplo, as grandes propriedades organizaram-se em cinturões em função das características do clima e do solo. O alto nível de capitalização exigiu uma especialização produtiva em grandes propriedades. Na área de um cinturão, embora haja outros produtos, predomina um determinado tipo de cultivo que lhe dá o nome, como é o caso, por exemplo, do cinturão do milho/soja.
Mapa dos cinturões agrícolas dos Estados Unidos
  No Brasil também existem várias regiões especializadas em determinado produto: cana-de-açúcar e laranja no Oeste Paulista, grãos (soja, milho e outros) na Campanha Gaúcha, no Oeste Baiano, no sul do Maranhão e Piauí e em vastas áreas do Centro-Oeste, criação de aves e suínos e processamento de sua carne no Oeste Catarinense, produção irrigada de frutas no Vale do São Francisco, entre muitos outros exemplos.
A modernização na agricultura é responsável pelo aumento da produção de grãos no país
  Outro tipo de agricultura cuja mão de obra está desvinculada do proprietário ou do administrador é a plantation - grande propriedade monocultora, com produção de gêneros tropicais, voltada para a exportação. Forma de exploração típica dos países tropicais, a plantation foi amplamente utilizada durante a colonização europeia na América, com mão de obra escrava. Expandiu-se posteriormente para a África e para o Sul e Sudeste Asiático. Na atualidade, esse sistema permanece em várias regiões de países em desenvolvimento (Colômbia, países da América Central, Gana, Costa do Marfim, Índia, Malásia etc.). Além de mão de obra assalariada, utiliza trabalho semiescravo, quando se trabalha em troca de moradia e alimentação, adota tecnologias defasadas e não obtém grande produtividade.
Plantation da cana-de-açúcar
A REVOLUÇÃO VERDE
A partir da década de 1950, os Estados Unidos e a ONU incentivaram a implantação de mudanças na estrutura fundiária e nas técnicas agrícolas em vários dos então chamados países subdesenvolvidos, muitos dos quais ex-colônias recém-independentes. Em plena Guerra Fria, a intenção dos norte-americanos era evitar o surgimento de focos de insatisfação popular por causa da fome. Eles temiam pela instalação de regimes socialistas em alguns países do então Terceiro Mundo. Além do mais, a indústria química, que se desenvolveu voltada para o setor bélico, apresentava certa  capacidade ociosa nesse período.

Indústria química - um dos fatores que impulsionou a Revolução Verde
  O conjunto de mudanças técnicas na produção agropecuária - proposto aos países pobres para resolver o problema da fome - ficou conhecido por Revolução Verde. Consistia na modernização das práticas agrícolas (utilização de adubos químicos, inseticidas, herbicidas, sementes melhoradas) e na mecanização do preparo do solo - do cultivo e da colheita - visando o aumento da produção de alimentos.
  Com esse objetivo os Estados Unidos ofereceram financiamentos para a importação dos insumos, maquinaria e capacitação de técnicos e professores para as faculdades e cursos técnicos agrícolas. Os governos dos então países subdesenvolvidos passaram a promover pesquisa e divulgação de técnicas de cultivo entre os agricultores, e a fornecer créditos subsidiados.
A implementação de máquinas e equipamentos agrícolas nos países subdesenvolvidos, foi um dos principais destaques da Revolução Verde
  Entretanto, a proposta era a adoção do mesmo padrão de cultivo em todas as regiões onde se implantou a Revolução Verde, desconsiderando a variação das condições naturais, das necessidades e possibilidades dos agricultores. Assim, a médio e longo prazo, essas inovações causaram impactos socioeconômicos e ambientais muito graves. Tal modelo proporcionou aumento de produtividade por área cultivada e crescimento considerável da produção de alimentos, principalmente de cereais e tubérculos. Porém, isso ficou restrito às grandes propriedades que possuíam terras em condições ideais para a modernização e condições climáticas favoráveis, entre outros. Em países que não realizaram reforma agrária e os trabalhadores agrícolas não tinham propriedade familiar, sobretudo na África e no Sudeste Asiático, a mecanização da produção diminuiu a necessidade de mão de obra, contribuindo para o aumento dos índices de pobreza e provocou o êxodo rural.
Apesar de aumentar a produção agrícola a Revolução Verde provocou o aumento da concentração de terras
  O sistema mais utilizado pelos países que seguiram as premissas da Revolução Verde foi a monocultura, o que resultou em sérios impactos ambientais.
OS PROBLEMAS AMBIENTAIS RURAIS
  O cultivo de espécie vegetal única (soja, trigo, algodão, milho, entre outros) em grandes extensões de terras favorece o desenvolvimento de grande quantidade de pequenas espécies animais invasoras, as pragas que se alimentam desses produtos. É o caso da lagarta da soja, do besouro-bicudo do algodão e de bactérias como o ácaro dos mamoeiros, o cancrocítrico dos laranjais e as diversas pragas dos cafezais, dos fungos que atacam o trigo e o milho e das pragas que infestam os canaviais. Já o cultivo de várias espécies, ou seja, a policultura, implica competitividade entre elas e elimina a possibilidade de disseminação de pragas. Nas monoculturas, as pragas proliferam rapidamente, e em dois ou três dias uma plantação de soja ou de algodão pode ser totalmente dizimada. Para evitar isso, utilizam-se cada vez mais inseticidas e fungicidas químicos, que podem ser altamente prejudiciais à saúde do homem.
Lagarta da soja - pode disseminar a plantação em poucos dias
  O cultivo mecanizado é obrigatoriamente acompanhado do uso de fertilizantes químicos, e para o controle das chamadas "ervas daninhas", ou do "mato", que nascem e crescem mais rapidamente que as espécies plantadas, aplicam-se os herbicidas, tão tóxicos quanto os venenos empregados para controlar insetos e fungos.
Herbicidas - usados para matar as ervas daninhas
  A aplicação frequente de quantidades cada vez maiores desses produtos químicos, genericamente chamados de insumos agrícolas, contamina o solo. Além disso, eles são transportados pelas chuvas para riachos e rios, afetando, desse modo, a qualidade das águas que alimentam o gado, abastecem as cidades e abrigam os peixes. O veneno afeta a fauna, e os pássaros e os peixes desaparecem rapidamente das áreas de monocultura, favorecendo a proliferação de pragas, lagartas, mosquitos e insetos em geral. A impregnação do solo com venenos e adubos químicos tende a torná-lo estéril pela eliminação da vida microbiana.
Agrotóxicos - contamina os solos e rios destruindo a cadeia alimentar
  Além dos desequilíbrios ambientais causados pela monocultura, a modernização substituiu as inúmeras variedades vegetais por algumas poucas, levando à chamada erosão genética (extinção das variedades de uma dada espécie). Assim, grandes indústrias iniciaram o processo de controle sobre o comércio e a pesquisa que modificam a semente dos vegetais cultivados e passaram a controlar toda a cadeia de insumos. Entretanto essas sementes modificadas não são férteis, o que obriga os agricultores a comprar novas sementes a cada safra se quiserem obter boa produtividade. Isso se tornou um grande obstáculo para os pequenos agricultores, pois trouxe a necessidade de compra e reposição constante de sementes e fertilizantes que se adaptem melhor a elas, aumentando muito o custo de produção.
 POPULAÇÃO RURAL E O TRABALHADOR AGRÍCOLA

  Até a década de 1970, de forma geral, a organização do espaço rural mundial era amplamente condicionada pela agropecuária. Essas atividades deveriam garantir não só o abastecimento de alimentos à população, mas também o fornecimento de matéria-prima a vários setores industriais e, em muitos casos, gerar excedentes exportáveis que permitissem a entrada de divisas no país. Naquela época, a grande maioria da população rural trabalhava na agropecuária.

A modernização da agropecuária é a responsável pela diminuição da população rural
  Atualmente, nos países e nas regiões em que predominam modernas técnicas de produção, os agricultores são a minoria dos trabalhadores e até mesmo dos moradores do espaço rural. Isso acontece porque os habitantes da zona rural, em sua maioria, trabalham em atividades não agrícolas ou em cidades próximas. Ecoturismo e turismo rural, hotéis-fazenda, campings, pousadas, sítios, casas de campo, restaurantes típicos, parques temáticos, prática de esportes variados, transportes, produção de energia, abastecimento de água etc. são atividades rurais que ocupam um contingente  de trabalhadores maior que as atividades agropecuárias. Nos Estados Unidos, por exemplo, somente 12% dos trabalhadores da zona rural exercem atividade agropecuarista e apenas 1% da PEA desse país está empregada nesse setor. No entanto, quando consideramos as pessoas que trabalham nas diversas atividades ligadas à cadeia produtiva que envolve a agropecuária (fábricas de insumos, sementes, tratores, irrigação, comercialização, transportes e outros, que compõem os agronegócios), a participação da PEA sobe para 20%, o mesmo ocorrendo em outros países desenvolvidos.


Turismo rural - uma das atividades não agrícolas do campo
  Em contrapartida, onde a agropecuária é descapitalizada e utiliza técnicas rudimentares de produção, como é predominante nos países em desenvolvimento, especialmente nos mais pobres, a maioria dos trabalhadores rurais se dedica a atividades diretamente ligadas à agropecuária. Nessas regiões, o papel do Estado na regulamentação das relações de trabalho, do acesso à propriedade da terra e da política de produção, financiamento e subsídios agrícolas assume importância fundamental no combate à pobreza, à subnutrição e à fome. Já nos chamados “Estados falidos”, como Haiti, Sudão, Afeganistão, Timor Leste e outros dominados por conflitos e desagregação social, a ação internacional é muito importante para a busca do desenvolvimento socioeconômico.
  Em regiões e países de economia moderna, embora tenha havido redução no número de trabalhadores agrícolas, vêm aumentando a densidade de atividades encontradas no espaço rural e a de trabalhadores urbanos que aí querem residir, provocando alteração na distribuição da população entre cidade e campo. Além disso, muitos cidadãos urbanos trabalham no campo e se deslocam diariamente da cidade onde moram para trabalhar em agroindústrias ou em comércio e prestação de serviços localizados fora do perímetro urbano.
Muitos bóias frias residem nas cidades
BIOTECNOLOGIA E ALIMENTOS TRANSGÊNICOS
Os transgênicos ou organismos geneticamente modificados (OGM) são seres vivos que tiveram seus caracteres hereditários (genes) alterados por meio de material genético de outras espécies, obtendo-se, assim, características diferentes das que se manifestaram naturalmente. Os OGM podem tornar uma planta resistente a pragas ou a certos tipos de defensivos e aumentar sua capacidade de adaptação climática.
  Os principais argumentos contrário aos usos dos OGM dizem respeito a dúvidas sobre a segurança de seu consumo e a possíveis riscos ao meio ambiente. Além disso, o fato de a tecnologia dos transgênicos ser dominadas por poucas empresas no mundo pode levar vários países a ficarem dependentes delas.

  As empresas de biotecnologia cobram royalties pelo uso de suas sementes modificadas. Desse modo, todos aqueles que as adquirem são obrigados a pagar por seu uso e ficam impedidos de produzir suas próprias sementes para o plantio seguinte. O controle exercido por essas empresas multinacionais pode fragilizar a soberania alimentar de um país.
  O governo brasileiro, durante algum tempo, proibiu o cultivo da soja transgênica, o que foi revisto após grande pressão das empresas que vendiam as sementes e dos agricultores que buscavam um aumento na produtividade.
  Outro ponto importante e motivo de reivindicação é o direito do consumidor de saber quais os alimentos são transgênicos ou os que contêm em sua composição, o que poderia ser especificado no rótulo das mercadorias.

Exemplo de como as empresas que produzem alimentos transgênicos devem informar ao consumidor a origem dos seus produtos
  Em defesa dos alimentos transgênicos, as empresas de biotecnologia alegam que seria uma alternativa aos problemas de sustentabilidade na agricultura, pois poderia ser empregados no combate à fome no mundo, em função da melhoria expressiva da produtividade agrícola. Pregam ainda que a engenharia genética pode proporcionar melhor uso do solo e dos potenciais biológicos na agricultura. No entanto, hoje o desenvolvimento na área de biotecnologia está concentrado em apenas 15 empresas de atuação mundial, das quais 13 são sediadas nos Estados Unidos.
Mapa da produção de transgênicos no mundo
  Outro fator a ser considerado é que a fome não é, em essência, um problema decorrente da deficiência na produção alimentar, mas sim da escassez de renda para obter alimentos. A produção mundial de alimentos é suficiente para alimentar a população mundial. No entanto, a concentração de riquezas impede a superação da carência alimentar que acomete principalmente países da África Subsaariana, da América Latina e de algumas regiões da Ásia.
FONTE: Sene, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil, volume 3: espaço geográfico e globalização: ensino médio / Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. - São Paulo: Scipione, 2010.

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