quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A FORMAÇÃO E EXPANSÃO TERRITORIAL DOS ESTADOS UNIDOS

  As guerras entre monarquias europeias atuaram como fator decisivo para as independências na América. A Guerra dos Sete Anos (1756-1763) envolveu a França e a Grã-Bretanha na disputa entre colonos franceses e ingleses da América do Norte pelo domínio sobre as terras situadas entre os Montes Apalaches e o Rio Mississipi. A vitória dos colonos ingleses foi o estopim da independência dos Estados Unidos. A insurreição teve início como reação pelo aumento dos impostos cobrados pela Metrópole. Os colonos argumentavam que deviam ser compensados pela ajuda que haviam prestado à Coroa Britânica na luta contra os franceses.
Pintura que retrata a Guerra dos Sete Anos entre franceses e ingleses
  As elites comerciais e os proprietários de terra das Treze Colônias fundadas pelos ingleses na América do Norte, unidos na rejeição aos impostos e às taxas metropolitanas que sugavam a riqueza colonial, declararam a independência dos Estados Unidos, em 04 de julho de 1776.
  A invasão da Espanha pelas tropas francesas de Napoleão, em 1810, deflagrou o processo das independências na América Espanhola. As elites das colônias hispânicas, estimuladas pelas ideias vindas da república independente dos Estados Unidos, e aproveitando-se da situação da metrópole, aderiram ao movimento de libertadores, como Simón Bolívar, e apoiaram os movimentos de independência.
Simón Bolívar - líder do movimento de independência da América Espanhola
AGLUTINAÇÃO E FRAGMENTAÇÃO
  Após as independências, o processo de formação dos Estados nacionais da América seguiu um caminho divergente: de um lado, aglutinação; de outro fragmentação.
  A América Anglo-Saxônica, colonizada pelo Reino Unido e pela França, exibe apenas dois estados nacionais, cujas áreas ocupam a segunda e a quarta posições no mundo: Canadá e Estados Unidos. Essa dinâmica revela-se também na América Portuguesa, que se manteve unida sob a forma do Brasil independente, o quinto país do mundo em área territorial.
  A América Espanhola se subdividiu em dezoito Estados independentes, alguns bastante extensos, como a Argentina e o México, outros muito pequenos, como o El Salvador.
América Espanhola
  Na América Anglo-Saxônica, o traçado das fronteiras completou-se durante o século XIX.
  Na América Latina, o século XIX e o período que vai de 1900 a 1945 representaram as duas fases de definição dos traçados. As fronteiras brasileiras, que delimitam a América Portuguesa, já estavam praticamente definidas em 1900. Na América Espanhola, onde a definição dos limites fronteiriços se prolongou pela primeira metade do século XX, permanecem diversos focos de conflitos.
A EXPANSÃO TERRITORIAL DOS ESTADOS UNIDOS
  No final da guerra de independência, o território dos Estados Unidos abrangia as áreas originais das Treze Colônias, entre os Montes Apalaches e o Atlântico. As terras conquistadas pelos colonos ingleses no conflito com os franceses eram as situadas entre os Apalaches e a margem esquerda do Mississípi.
As Treze Colônias - EUA
  As sete décadas seguintes à independência registrariam um poderoso movimento de incorporação pelos Estados Unidos de territórios britânicos, franceses, espanhóis e mexicanos, estendendo a jovem república ao Golfo do México, ao sul, e ao Pacífico, a oeste.
  A Louisiana, antiga possessão espanhola anexada pela França em 1800, foi comprada pelos Estados Unidos em 1803. A França napoleônica, que já estava em guerra com o Reino Unido e enfrentava a revolta dos escravos do Haiti, preferiu abrir mão da Louisiana por uma quantia irrisória.
  Em 1819, a Espanha abriria mão da Flórida, também vendida para os Estados Unidos por um preço irrisório.
Mapa da expansão territorial dos Estados Unidos
  Essa atividade expansionista em áreas de influência francesa e espanhola, originou diretamente a Doutrina Monroe, que ganhou esse nome por ter sido pronunciada pela primeira vez em uma mensagem do presidente James Monroe ao Congresso dos Estados Unidos, em 1823. Nela, o presidente alertava as potências europeias de que qualquer tentativa de recolonização ou de ingerência delas nos assuntos do continente americano seria considerada uma ameaça à segurança dos Estados Unidos. A frase "A América para os americanos" sintetizava o significado dessa doutrina.
James Monroe - ex-presidente dos Estados Unidos
  O traçado noroeste da fronteira foi completado em 1846, quando o Reino Unido cedeu parte do atual estado de Oregon, e em 1867, quando o Alasca foi comprado da Rússia. A expansão prosseguiu rumo ao sudoeste, sobre terras mexicanas. Entretanto, foi preciso vencer a resistência mexicana pela força das armas. Derrotado, o México perdeu o Texas, o Arizona, o Novo México e a Califórnia.
Texas - estado norte-americano que foi tomado do México
  A república estadunidense se expandiu sob uma base econômica desigual. Os estados do Norte baseavam sua economia no trabalho livre e na propriedade familiar.  Esse padrão expandia-se para as Planícies Centrais, povoadas por colonos europeus.
  Os estados do Sul baseavam sua economia no trabalho escravo e na grande propriedade senhorial. Esse padrão expandia-se na direção do Texas.
  Esses dois modelos de sociedade se enfrentaram na Guerra de Secessão (1861-1865). A derrota do Sul solidificou a unidade territorial dos Estados Unidos em torno do ideário das colônias do Norte. Começava a história de uma grande potência.
Guerra de Secessão - o Norte contra o Sul dos Estados
FONTE: Araújo, Regina. Observatório de geografia: 8° ano: fronteiras e nações / Regina Araújo, Ângela Corrêa da Silva, Raul Borges Guimarães. - São Paulo: Moderna, 2009.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

OS TRANSGÊNICOS E A BIOTECNOLOGIA

  Os transgênicos ou organismos geneticamente modificados (OGM) são seres vivos que tiveram seus caracteres hereditários (genes) alterados por meio de material genético de outras espécies, obtendo-se, assim, características diferentes das que se manifestaram naturalmente. Os OGM podem tornar uma planta resistente a pragas ou a certos tipos de defensivos e aumentar sua capacidade de adaptação climática.
  Os principais argumentos contrário aos usos dos OGM dizem respeito a dúvidas sobre a segurança de seu consumo e a possíveis riscos ao meio ambiente. Além disso, o fato de a tecnologia dos transgênicos ser dominadas por poucas empresas no mundo pode levar vários países a ficarem dependentes delas.
  As empresas de biotecnologia cobram royalties pelo uso de suas sementes modificadas. Desse modo, todos aqueles que as adquirem são obrigados a pagar por seu uso e ficam impedidos de produzir suas próprias sementes para o plantio seguinte. O controle exercido por essas empresas multinacionais pode fragilizar a soberania alimentar de um país.
  O governo brasileiro, durante algum tempo, proibiu o cultivo da soja transgênica, o que foi revisto após grande pressão das empresas que vendiam as sementes e dos agricultores que buscavam um aumento na produtividade.
  Outro ponto importante e motivo de reivindicação é o direito do consumidor de saber quais os alimentos são transgênicos ou os que contêm em sua composição, o que poderia ser especificado no rótulo das mercadorias.
Exemplo de como as empresas que produzem alimentos transgênicos devem informar ao consumidor a origem dos seus produtos
  Em defesa dos alimentos transgênicos, as empresas de biotecnologia alegam que seria uma alternativa aos problemas de sustentabilidade na agricultura, pois poderia ser empregados no combate à fome no mundo, em função da melhoria expressiva da produtividade agrícola. Pregam ainda que a engenharia genética pode proporcionar melhor uso do solo e dos potenciais biológicos na agricultura. No entanto, hoje o desenvolvimento na área de biotecnologia está concentrado em apenas 15 empresas de atuação mundial, das quais 13 são sediadas nos Estados Unidos.
Mapa da produção de transgênicos no mundo
  Outro fator a ser considerado é que a fome não é, em essência, um problema decorrente da deficiência na produção alimentar, mas sim da escassez de renda para obter alimentos. A produção mundial de alimentos é suficiente para alimentar a população mundial. No entanto, a concentração de riquezas impede a superação da carência alimentar que acomete principalmente países da África Subsaariana, da América Latina e de algumas regiões da Ásia.
FONTE: Geografia, 3° ano: ensino médio / organizadores: Fernando dos Santos Sampaio, Ivone Silveira Sucena - 1. ed. - São Paulo: Edições SM, 2010. - (Coleção ser protagonista).

domingo, 25 de setembro de 2011

SHOPPING CENTER: TEMPLO DE CONSUMO

  Construídos a partir da década de 1960, em cidades de diversos países do mundo, os shoppings centers são um dos maiores símbolos da sociedade de consumo, reunindo em um mesmo prédio várias lojas de departamento, supermercados, butiques e prestadoras de serviços. No final do século XIX e início do século XX, porém, já existiam grandes lojas de departamento como a Macy's, em Nova York, e a Harrod's, em Londres. O sucesso dos shoppings centers e dessas lojas de departamento - e mesmo o de hipermercados instalados nos grandes centros urbanos - pode ser equiparado ao sucesso do automóvel, imposto como principal meio de transporte da população de maior poder aquisitivo.
Lojas Macy's em Nova York - uma das primeiras lojas de departamento do mundo
  Todo shopping center possui as lojas-âncora, que são supermercados ou lojas de departamentos que atraem clientes com oferta de promoções, preços mais baixos e maior diversidade e quantidade de produtos. Além dessas lojas - que acabam beneficiando também os donos de estabelecimentos menores, em razão do enorme afluxo de pessoas -, são fatores de atraçãoo de consumidores aos shoppings a localização sempre privilegiada e a facilidade de estacionamento.
Shopping Midway Mall - Natal/RN
  No Brasil, o primeiro shopping center - o Iguatemi, na cidade de São Paulo - foi inaugurado em 1966. Desde então, muitos outros foram construídos nessa e em várias cidades brasileiras.
  A instalação de um shopping center provoca grandes transformações no espaço urbano: em seus arredores, residências vão dando lugar a edifícios, e proliferam estabelecimentos comerciais e de serviços de todo tipo. Aumenta consequentemente a circulação de pessoas - clientes, funcionários e fornecedores - na região, o que muitas vezes exige o redimensionamento da infraestrutura viária, com alargamento de ruas, construção de avenidas, criação de linhas e terminais de ônibus etc.
Shopping Iguatemi, em São Paulo - o primeiro shopping construído no Brasil
FONTE: Araújo, Regina. Observatório de geografia: 9° ano: territórios da globalização / Regina Araújo, Ângela Corrêa da Silva, Raul Borges Guimarães. - São Paulo: Moderna, 2009.

sábado, 24 de setembro de 2011

A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA ATÉ 1985

  Desde o período colonial até os dias de hoje, o desenvolvimento econômico brasileiro, e consequentemente a industrialização, foi comandado por grupos e setores da economia que às vezes têm interesses antagônicos e lutam para atingir melhor desempenho, pressionando os governos para que a política econômica atenda seus interesses.
AS ORIGENS DA INDUSTRIALIZAÇÃO
  Embora a industrialização brasileira tenha começado de forma incipiente na segunda metade do século XIX, período em que se destacaram importantes empreendedores, como o Barão de Mauá, no eixo São Paulo-Rio de Janeiro e Delmiro Gouveia, em Pernambuco, foi principalmente a partir da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que o país passou por um processo significativo de desenvolvimento industrial e de maior diversificação do parque fabril.
Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá - um dos pioneiros na industrialização do Brasil
  Nessa época, as atividades terciárias da economia (como serviços, comércio, energia, transporte e sistema bancário) apontavam índices de crescimento econômico superiores aos das atividades agrícolas e industriais. É no comércio e nos serviços que circula toda a produção agrária e e industrial. A agricultura cafeeira - principal atividade econômica nacional até então - exigia a implantação de uma eficiente rede de transportes, e assim, as ferrovias foram se desenvolvendo no país para escoar a produção do interior para os portos. Também se estabeleceu um sistema bancário integrado à economia mundial.
Transporte ferroviário - o principal meio de transporte do café até o início do século XX
  Em 1919, as fábricas de tecidos, roupas, alimentos, bebidas e fumos eram responsáveis por 70% da produção industrial brasileira; em 1939, no início da Segunda Guerra Mundial, essa porcentagem havia se reduzido para 58% por causa do aumento da participação de outros produtos, como aço, máquinas e material elétrico. Contudo, a industrialização brasileira ainda contava, predominantemente, com indústrias de bens de consumo não duráveis e investimentos de capital privado nacional.
CRISE DO CAFÉ E INDUSTRIALIZAÇÃO
  Embora tenha passado por importantes períodos de crescimento como a Primeira Guerra Mundial, a industrialização brasileira sofreu seu maior impulso a partir de 1929, com a crise econômica mundial decorrente da quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Na região Sudeste, essa crise se refletiu na produção do café. A partir de então, as atividades industriais passaram a apresentar índices de crescimento superiores aos das atividades agrícolas.
Crise de 1929 - afetou a economia no mundo todo
  Com a crise de 1929 reduziu bastante o volume de exportação do café, houve diversificação da produção agrícola, e perda da importância da atividade cafeeira, embora a agricultura ainda continuasse responsável pela maior parte das exportações brasileiras até a década de 1970.
  Nesse período ocorreu a Revolução de 1930, que desalojou a oligarquia agroexportadora paulista do poder e abriu novas oportunidades político-administrativas em favor da industrialização, uma vez que o grupo que tomou o poder com Getúlio Vargas era nacionalista e favorável a tornar o Brasil um país industrial.
Revolução de 1930 - mudou os rumos econômicos do Brasil
  O café, porém, permitiu a acumulação de capitais que serviram para implantar toda a infraestrutura necessária ao impulso da atividade industrial. Os barões do café, que residiam nos centros urbanos, sobretudo na cidade de São Paulo, para cuidar da comercialização da produção nos bancos e investir na bolsa de valores, eram detentores de enorme quantidade de capital aplicado no sistema financeiro, agora disponível para a implantação de indústrias. Todas as ferrovias, construídas com a finalidade de escoar a produção cafeeira para o Porto de Santos, interligavam-se na capital paulista e constituíam um grande e eficiente sistema de transporte. Havia também grande disponibilidade de mão de obra imigrante liberada dos cafezais ou já residente nas cidades, além de significativa produção de energia elétrica. É importante lembrar ainda que, com o colapso econômico mundial, diminuiu a entrada de mercadorias estrangeiras que poderiam competir com as nacionais.
Café - principal produto de exportação do Brasil até a primeira metade do século XX
  A associação desses fatores constituiu a semelhante do processo de industrialização, que passou a germinar notadamente na cidade de São Paulo, onde havia maior disponibilidade de capitais, trabalhadores qualificados e a infraestrutura básica. Áreas dos estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais também intensificaram os seus processos de industrialização.
  Na instalação de novas indústrias predominava, com raras exceções, o capital de origem nacional, acumulado nas atividades agroexportadoras. A maior parte das indústrias era de bens de consumo, com destaque para as de bens não duráveis, como as alimentícias e têxteis. A política industrial comandada pelo governo federal era a de substituir as importações, visando à obtenção de um superávit cada vez maior na balança comercial e no balanço de pagamentos, para permitir um aumento nos investimentos nos setores de energia e transportes.
No início do período de industrialização do Brasil, predominavam as indústrias de bens de consumo, como as alimentícias
O GOVERNO VARGAS E A POLÍTICA DE "SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES"
  De 1930 a 1956, a industrialização no país caracterizou-se por uma estratégia governamental de implantação de indústrias estatais nos setores de bens de produção e de infraestrutura: siderurgia (Companhia Siderúrgica Nacional - CSN), petroquímica (Petrobras) e bens de capital (Fábrica Nacional de Motores - FMN, que além de caminhões e automóveis, fabricava máquinas e motores), e também da extração mineral (Companhia Vale do Rio Doce - CVRD) e da produção de energia hidrelétrica (Companhia Hidrelétrica do São Francisco - Chesf). A implantação desses setores industriais e de infraestrutura estratégica necessitava de investimento inicial muito elevado. Como o retorno do capital era muito lento, essas atividades, na época, eram pouco atraentes ao capital privado, fosse ele nacional ou estrangeiro.
Companhia Siderúrgica Nacional - CSN, em Volta Redonda - RJ
  Portanto, a ação do Estado foi decisiva para impulsionar e diversificar o parque industrial do país, combatendo os principais obstáculos ao crescimento econômico. Além de fornecer os bens de produção e os serviços de que os industriais privados  necessitavam em suas indústrias de bens de consumo, o Estado cobrava por tudo isso preços mais baixos que aqueles que seriam cobradas pelas empresas privadas, fossem elas nacionais ou estrangeiras. Essa medida visava ao fortalecimento do parque industrial brasileiro. Era uma política fortemente nacionalista.
Parque industrial brasileiro - teve forte incremento do governo Federal
  Embora a expressão substituição de importações possa ser utilizada desde que a primeira fábrica foi instalada no país, permitindo substituir a importação de determinado produto, foi o governo Getúlio Vargas (1930-1945) que iniciou a adoção de medidas fiscais e cambiais que caracterizaram uma política industrial voltada à produção interna de mercadorias que até então eram importadas.
 As duas principais medidas adotadas foram a desvalorização da moeda nacional (réis até 1942 e, a seguir, o cruzeiro) em relação ao dólar, o que tornava o produto importado mais caro (desestimulando as importações), e a implantação de leis e tributos que restringiam, e às vezes proibiam, a importação de bens de consumo e de produção que pudessem ser fabricados internamente.
Getúlio Vargas - o presidente que mudou o rumo da economia do Brasil
  Getúlio Vargas assumiu o poder durante a recessão mundial decorrente da crise mundial de 1929. Foi o presidente empossado pela Revolução de 1930, de cunho modernizador. Até então, o mundo capitalista acreditava no liberalismo econômico, ou seja, que as forças do mercado deveriam agir livremente para promover maior desenvolvimento e crescimento econômico. Com a crise, iniciou-se um período em que o Estado passou a intervir diretamente na economia para evitar novos sobressaltos do mercado. Essa prática de intervencionismo estatal na economia ficou conhecida como keynesianismo.
Jonh Maynard Keynes - idealizador do keynesianismo
  Em 1934, Getúlio Vargas promulgou uma nova Constituição, que incluiu a regulamentação das relações de trabalho. Entre as principais medidas que beneficiaram o trabalhador, figuravam a criação do salário mínimo, as férias anuais e o descanso semanal remunerado. Com essa atitude, que garantia o apoio da classe trabalhadora, e com o apoio das elites agrária e industrial, Vargas conseguiu aprovar uma nova Constituição, em 1937, que o manteve no poder como ditador até o fim da Segunda Guerra em 1945.
  Nesse período, conhecido como Estado Novo (1937-45), houve repressão à oposição e manipulação das notícias por intermédio de severa censura aos meios de comunicação e muitos investimentos estatais. Foram criados órgãos estatais de regulamentação da atividade econômica, encabeçados pelo CNE (Conselho Nacional de Economia). Foram criadas também indústrias em setores estratégicos, visando combater os obstáculos ao crescimento econômico. A intervenção estatal no setor de base da economia (petroquímica, siderurgia, energia elétrica e indústria de cimento), foi priorizada.
As medidas populares tomadas por Vargas, fizeram-o ser chamado de "pai dos pobres" e "mãe dos ricos".
  Graças a essa intervenção do Estado, houve grande crescimento da produção industrial nessa época, com exceção do período da Segunda Guerra Mundial. Durante os seis anos de conflito, devido à carência de indústria de base, o crescimento industrial brasileiro foi de 5,4%, uma média inferior a 1% ao ano. A atuação do Estado revelou-se, então, importante para estimular a produção industrial.
O GOVERNO DUTRA E O PLANO SALTE
  Devido à afinidade ideológica de Getúlio Vargas com o nazifascismo, que foi derrotado na Segunda Guerra, as oposições liberais se fortaleceram e, em 1945, conseguiram depor o presidente. Vargas retornou ao poder em 1951, dessa vez eleito pelo povo. Com sua saída, assumiu a presidência o general Eurico Gaspar Dutra, em 1946, que instituiu o Plano Salte, destinando investimentos aos setores de saúde, alimentação, transportes, energia e educação. Até 1950, quando terminou seu mandato, o Brasil passou por grande incremento da capacidade produtiva.
Eurico Gaspar Dutra - o presidente que instituiu o Plano Salte
  Durante a Segunda Guerra, o país exportou diversos produtos agrícolas, industriais e minerais para os países europeus em conflito, obtendo enorme saldo positivo na balança comercial. Esse saldo, porém, foi utilizado no decorrer do governo Dutra, com importação de máquinas e equipamentos para as indústrias têxteis e mecânicas, com o reequipamento de sistemas de transportes e com incremento da extração de minerais metálicos, não metálicos e energéticos.
  Além disso, houve forte mudança na política econômica do país com a abertura à importação de bens de consumo, o que contrariava os interesses da indústria nacional. Os empresários nacionais defendiam a reserva de mercado, isto é, que o governo adotasse medidas que tornassem as mercadorias importadas mais caras ou mesmo proibissem sua entrada no país.
  Boa parte das reservas cambiais acumuladas ao longo da Segunda Guerra foi utilizada na importação de pastas de dente, geladeiras, óleos lubrificantes, chocolates, brinquedos, artigos decorativos e muitos outros produtos que agradavam à classe média. Ao utilizar as reservas, essa mudança obrigou o governo a desvalorizar o cruzeiro em relação ao dólar e emitir papel-moeda, o que levou à inflação e consequente queda de poder aquisitivo dos salários.
Modelo de geladeira da década de 1940 - bem precioso da classe média brasileira da época
O RETORNO DE GETÚLIO E DA POLÍTICA NACIONALISTA
  Ao retornar à presidência em 1951, eleito pelo povo, Getúlio Vargas retomou seu projeto nacionalista:  passou a investir em setores que deram suporte e impulsionaram o crescimento econômico - sistemas de transportes, comunicações, produção de energia elétrica e petróleo - e restringiu a importação de bens de consumo. Apoiado por um grande movimento nacionalista popular, Getúlio dedicou-se à criação da Petrobras e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Petrobras - um dos marcos da política nacionalista de Getúlio Vargas
  No confronto entre os getulistas, defensores da política nacional-desenvolvimentista, e os liberais, que preferiam promover a abertura da economia aos produtos e capitais estrangeiros, o projeto de Getúlio acabou sendo derrotado. Os liberais argumentavam que, com a economia fechada, a modernização e a expansão do parque industrial nacional ficavam dependentes do resultado da exportação de produtos primários. Qualquer crise ou queda de preço desses produtos, particularmente do café, resultava em crise na modernização e expansão do parque industrial.
Suicídio de Vargas - causa revolta na população, principalmente contra os seus opositores
JUSCELINO KUBITSCHEK E O PLANO DE METAS
  Durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), houve um grande crescimento econômico em consequência da implantação do chamado Plano de Metas. Tratava-se de um amplo programa de desenvolvimento que previa maciços investimentos estatais em diversos setores da economia - agricultura, saúde, educação, energia, transportes, mineração e construção civil - tornando o Brasil um país atraente aos investidores estrangeiros. Embalado por uma ideologia desenvolvimentista, o governo divulgava o objetivo de fazer o país crescer "50 anos em 5". Foi nessa época que a capital federal foi transferida do litoral para o interior, com a construção de Brasília, inaugurada em 1960.
Juscelino Kubitschek - idealizador do Plano de Metas
  Na execução desse plano, 73% dos investimentos dirigiram-se aos setores de energia e transportes. Isso permitiu um grande aumento da produção de hidreletricidade e de carvão mineral, forneceu o impulso inicial ao programa nuclear, elevou a capacidade de prospecção e refino de petróleo, pavimentalção e construção de rodovias (14.970 km), além de melhorias nas instalações e serviços portuários e reaparelhamento e construção de pequena extensão de ferrovias (827 km).
  Paralelamente, devido aos investimentos estatais em obras de infraestrutura e incentivos do governo, houve expressivo ingresso de capital estrangeiro, responsável por grande crescimento da produção industrial, principalmente nos setores automobilístico, químico-farmacêutico e de eletrodomésticos. O parque industrial brasileiro passou, assim, a contar com significativa produção de bens de consumo duráveis, o que sustentou e deu continuidade à política de substituição de importações.
JK na inauguração da fábrica da Volkswagen
  Ao longo do governo JK, consolidou-se o tripé da produção industrial nacional, formado pelas indústrias: de bens de consumo não duráveis, que desde a segunda metade do século XIX estavam se implantando, com amplo predomínio do capital privado nacional; de bens de produção e bens de capital, que contaram com investimento estatal nos governos de Getúlio Vargas; e de bens de consumo duráveis, com forte participação de capital estrangeiro.
  O sucesso do Plano de Metas resultou num significativo aumento da inflação e da dívida externa. O afastamento da capital federal do centro econômico e populacional do país e a opção pelo transporte rodoviário, sistema não recomendável em países territorialmente extensos, como o nosso, marcaram economicamente o Brasil de forma duradoura. Esses problemas estruturais, que diminuíram a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional e influenciaram  negativamente a nossa economia, foram identificados já a partir de meados da década de 1960 e têm consequências até os dias atuais.
Brasília - sua construção fazia parte do Plano de Metas
  Apesar da transferência da capital para o Centro-Oeste, a política do Plano de Metas acentuou concentração do parque industrial na região Sudeste, agravando os contrastes regionais. Com isso, as migrações internas intensificaram-se, provocando o crescimento desordenado dos grandes centros urbanos, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro. Com isso, criou-se a necessidade de melhorar a infraestrutura nas regiões metropolitanas, especialmente nas maiores. Como isso não foi atendido, os problemas foram se acumulando e até hoje estão presentes nas paisagens urbanas.
Favelas - consequência do crescimento desordenado das cidades
  A concentração do parque industrial no Sudeste determinou a implementação de uma política federal de planejamento econômico para o desenvolvimento das demais regiões. Em 1959, foi criada a Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) e, nos anos seguintes, dezenas de outros órgãos, como a Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia), a Sudeco (Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste), a Sudesul (Superintendência de Desenvolvimento do Sul) e a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco), entre outras que foram extintas ou transformadas em agências de desenvolvimento a partir do início da década de 1990.
Área de Sudene - órgão criado por JK objetivando diminuir as disparidades existentes entre as regiões do Brasil
O GOVERNO JOÃO GOULART E A TENTATIVA DE REFORMAS
  JOão Goulart, conhecido como Jango, foi um político ligado ao trabalhismo que exerceu o cargo de Ministro do Trabalho de Getúlio Vargas e se elegeu duas vezes como vice-presidente, nos mandatos de JK e Jânio Quadros. Na época, era permitido votar para presidente e vice presidente de partidos ou coligações diferentes. No decorrer do seu governo, o Brasil passou por uma grande crise política, iniciada em 25 de agosto de 1961, com a renúncia do presidente Jânio Quadros, empossado poucos meses antes. A crise agravou-se com os problemas econômicos herdados do governo JK, como a dívida externa e, sobretudo, a inflação.
João Goularte - o Jango
  A posse de Jango, em 25 de setembro de 1961, ocorreu após a instauração do parlamentarismo, que reduziu os poderes do chefe do executivo. Essa manobra política foi a solução encontrada para resolver uma crise institucional que abalava a unidade dos setores militares: os três ministros das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica) pressionavam o Congresso a votar pela desqualificação de Jango como presidente por motivos de "segurança nacional" (no contexto da Guerra Fria, uma forma de desqualificar um governante aos olhos dos setores conservadores da sociedade era tachá-lo de comunista). Contudo, vários comandantes regionais, encabeçados pelo III Exército (Rio Grande do Sul), defendiam a posse do vice-presidente para que a Constituição não fosse violada.
Posse de João Goulart na presidência da República em 07/09/1961
  Durante o período parlamentarista do governo João Goulart (até início de 1963), como o presidente não conseguiu estruturar uma diretriz de política econômica, houve aumento da inflação e do desemprego e redução nas taxas de crescimento, problemas que haviam provocado várias greves em 1962. Nesse contexto, fortaleceu-se a posição dos que defendiam a realização de um plebiscito pelo qual a população poderia optar entre a continuação do regime parlamentarista ou o retorno ao presidencialismo.
  Em 6 de janeiro de 1963, o retorno ao presidencialismo foi aprovado com 82% dos votos, o que conferiu amplos poderes ao presidente, permitindo encaminhar as reformas de base. Propunha-se uma ampla reforma dos sistemas tributário, bancário e eleitoral, a regulamentação dos investimentos estrangeiros e da remessa de lucros ao exterior, além da reforma agrária e de investimentos maciços em educação e saúde. Tal política, de caráter claramente nacionalista, foi tachada como comunista pelos setores mais conservadores da sociedade civil e militar, proporcionando as condições para o golpe militar ocorrido em 31 de março de 1964.
Castelo Branco - o primeiro presidente do período militar
  Na verdade, o que estava em jogo não era o embate entre o socialismo e o capitalismo, mas o papel que cabia ao Estado: investir preferencialmente no setor público (educação, saúde, habitação, infraestrutura urbana e agrária) ou em setores que beneficiavam as empresas privadas (como o de construção, sobretudo, de usinas e rodovias). A vitória, garantida pela força das armas, foi a dos que defendiam a segunda opção. A história recente do nosso país demonstra que o caminho adotado pelas forças conservadoras melhorou a vida de alguns, em detrimento da maioria da população, fato revelado pela crescente  concentração de renda ao longo do regime militar.
Marcha da Família com Deus pela Liberdade - realizada por grupos conservadores que queriam a saída de João Goulart da presidência
O PERÍODO MILITTAR
  Em 1° de abril de 1964, após um golpe de Estado que tirou João Goulart do poder, iniciou-se no país o regime militar, de caráter ditatorial. O Brasil possuía o 43° PIB do mundo capitalista e uma dívida externa de 3,7 bilhões de dólares. Em 1985, ao término do regime, o Brasil apresentava o 9° PIB do mundo capitalista e sua dívida externa era de aproximadamente 95 bilhões de dólares, ou seja, crescemos à custa de um pesado endividamento. O parque industrial cresceu de forma bastante significativa e a infraestrutura nos setores de energia, transportes e comunicações se modernizou. Porém, embora os indicadores econômicos tenham evoluído positivamente, a desigualdade social foi muito ampliada nesse período, concentrando renda nos estratos mais ricos da sociedade. Segundo o IBGE e o Banco Mundial, em 1960 os 20% mais ricos da sociedade brasileira dispunham de 54% da renda nacional, em 1970 passaram a contar com 62% e em 1989, com 67,5% dela.
Parque industrial de Santo André - SP
  Entre 1968 e 1973, período conhecido como "milagre econômico", a economia brasileira desenvolveu-se em ritmo acelerado. Esse ritmo de crescimento foi sustentado por grandes investimentos governamentais que promoveram grande expansão na oferta de alguns serviços prestados por empresas estatais, como energia e comunicações. No entanto, várias obras tinham necessidade, rentabilidade ou eficiência questionáveis, como as rodovias Transamazônica e a Perimetral Norte e o acordo nuclear entre Brasil e Alemanha. O setor de comunicações também foi beneficiado nesse período. Os investimentos foram feitos graças à grande captação de recursos no exterior, o que elevou a dívida externa, pois boa parte desse capital foi investido em setores não rentáveis da economia.
Rodovia Transamazônica - uma das obras faraônicas dos governos militares
  Outro aspecto importante na questão do crescimento econômico no período militar foi o dos investimentos externos. O capital estrangeiro penetrou em vários setores da economia, principalmente na extração de minerais metálicos (projeto Carajás, Trombetas e Jari), na expansão das áreas agrícolas (monoculturas de exportação), nas indústrias química e farmacêutica e na fabricação de bens de capital (máquinas e equipamentos) utilizados pelas indústrias de bens de consumo.
Projeto Carajás - recebeu grandes investimentos estrangeiros
  A taxa de lucro dos empresários foi ampliada com a diminuição dos salários reais, ou seja, reduzindo-se o poder aquisitivo dos trabalhadores. Aumentava-se, assim, a taxa de reinvestimento dos lucros nos setores que geravam empregos, principalmente para os trabalhadores qualificados e excluindo os pobres, o que deu continuidade ao processo histórico de concentração da renda nacional. Ficou famosa a frase do então ministro da Fazenda Delfim Neto, em resposta à inquietação dos trabalhadores ao verem seus salários arrochados: "É necessário fazer o bolo crescer para depois reparti-lo". O bolo (a economia) cresceu - o Brasil, segundo o Banco Mundial, é a 7ª maior economia mundial (2010), com um PIB de 2,090 trilhões de dólares, e até hoje, a renda está muito concentrada.
Delfim Neto - ministro da Fazenda durante o período do milagre econômico
  No final da década de 1970, os Estados Unidos promoveram a elevação da taxa de juros no mercado internacional, reduzindo os investimentos destinados aos países em desenvolvimento. Além de assistir a essa redução, a economia brasileira teve de arcar com o pagamento crescente dos juros da dívida externa, contraída com taxas flutuantes.
  Diante dessa nova realidade, a saída imposta pelo governo para obter recursos que permitissem honrar os compromissos da dívida se resumiu na frase: "Exportar é o que importa". Porém, como tornar os produtos brasileiros internacionalmente competitivos? Tanto em qualidade como em preço, as mercadorias produzidas em um país em desenvolvimento como o Brasil, que quase não investia em tecnologia, enfrentavam grandes obstáculos.
  As soluções encontradas foram desastrosas para o mercado interno de consumo:
  • arrocho salarial;
  • subsídios fiscais para exportação (cobrava-se menos imposto por um produto exportado que por um similar vendido no mercado interno);
  • negligência com o meio ambiente;
  • desvalorização cambial (a valorização do dólar em relação ao cruzeiro, moeda da época, facilitava as exportações e dificultava as importações);
  • combate à inflação por meio da diminuição do poder aquisitivo.
A inflação das décadas de 1970/1980, reduziram o poder de compra dos brasileiros
  Essas medidas, adotadas em conjunto, favoreceram a colocação de produtos no mercado externo, mas prejudicaram o mercado interno, reduzindo o poder de compra do brasileiro. Assim se explica o aparente paradoxo: a economia cresce, mas o povo empobrece.
  Na busca de um maior superávit na balança comercial, o governo aumentou os impostos de importação, não apenas para bens de consumo, como também para os de bens de consumo e de bens intermediários. A consequência dessa medida foi a redução da competitividade do parque industrial brasileiro frente ao exterior ao longo dos anos 1980. Os industriais não tinham capacidade financeira para importar novas máquinas e, por causa da falta de competição com produtos importados, não havia incentivos à busca de maior produtividade e qualidade dos produtos. Com isso, as indústrias, com raras exceções, foram perdendo a competitividade no mercado internacional e as mercadorias comercializadas internamente tornaram-se caras e tecnologicamente defasadas em relação às estrangeiras.
Manifestação do Dia do Trabalhador no Estádio Primeiro de Maio em São Bernardo do Campo, na década de 1980, onde no centro está o ex-presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo - SP
  Os efeitos sociais dessa política econômica se agravaram com a crise mundial, que se iniciou em 1979. As taxas de juros da dívida externa atingiram, em 1982, o recorde histórico de 14% ao ano. A partir de então, a economia brasileira passou por um período em que se alternavam anos de recessão e outros de baixo crescimento. Isso se arrastou por toda a década de 1980 e início da de 1990, período que se caracterizou pela chamada ciranda financeira: o governo emitia títulos públicos para captar o dinheiro depositado pela população nos bancos. Como as taxas de juros oferecidas internamente eram muito altas, muitos empresários deixavam de investir no setor produtivo - o que aumentaria o PIB, geraria empregos e ativaria a economia - para investir no mercado financeiro. Na época, essa "ciranda" criava a necessidade de emissão de moeda em excesso, o que elevou os índices de inflação.
Com a inflação alta na década de 1980, a moeda nacional (o Cruzeiro) ficava cada vez mais desvalorizado
  Outro aspecto negativo da política econômica do período militar merece destaque: se as medidas adotadas tinha como objetivo o crescimento do PIB a qualquer custo, o que fazer com as empresas ineficientes, à beira da falência? A solução encontrada para esse problema foi a estatização. O Estado brasileiro adquiriu empresas em quase todos os setores da economia utilizando recursos públicos, em parte acumulado com o pagamento de impostos por toda a população. O crescimento da participação do Estado na economia, de 1964 a 1985, foi muito grande. em 1985, cerca de 20% do PIB era obtido em empresas estatais, enquanto os serviços tradicionalmente públicos, como saúde e educação, estavam se deteriorando por causa da falta de recursos, que eram redirecionados dos setores sociais para os produtivos.
Vale - empresa estatal que foi privatizada
  Os períodos dos governos militares no Brasil caracterizou-se pela apropriação do poder público por agentes que desviaram os interesses do Estado para as necessidades empresariais. As carências da população ficaram em segundo plano: as prioridades foram o crescimento do PIB e o aumento do superávit na balança comercial. O objetivo de qualquer governo é o de aumentar a produção econômica. O problema é saber como atingi-lo sem comprometer os investimentos em serviços públicos, que possibilitam a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
  Apesar do exposto, durante o período do regime militar, o processo de industrialização e de urbanização continuou avançando, resultantdo em significativa melhora nos índices de natalidade e mortalidade, que registraram queda, além do aumento da expectativa de vida. A interpretação desse fato deve levar em conta o intenso êxodo rural, já que nas cidades aumenta o acesso a saneamento básico e atendimento médico-hospitalar, bem como a remédios e programas de vacinação em postos de saúde, e o fato de que muitos migrantes conseguiram melhorar a qualidade de vida nas cidades.
O aumento da expectativa de vida reflete a melhora da qualidade de vida da população
  O fim o período militar ocorreu em 1985, depois de várias manifestações populares a favor de eleições diretas para presidente. Os problemas econômicos herdados do regime militar foram agravados no governo que se seguiu, o de José Sarney, e só foram enfrentados efetivamente nos anos 1990, quando aumenta no mundo as práticas do processo de globalização.
FONTE: Sene. Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil, volume 2: espaço geográfico e globalização: ensino médio / Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. São Paulo: Scipione, 2010.