segunda-feira, 4 de março de 2019

OS LIMITES E AS FRONTEIRAS DO BRASIL

  A configuração territorial, ou seja, a forma do território de um país, é definida pelos limites que indicam até onde esse território se estende.
  Em geral, esses limites são reconhecidos pelos países por meio de acordos e tratados. Com base nesses acordos, os limites são definidos levando-se em consideração pontos de referência como rios, serras e montanhas e marcos construídos no terreno.
  Nos mapas, com base na definição dos pontos de referência, são traçadas linhas que registram os limites dos territórios representados. Essas linhas não podem ser observadas diretamente no lugar, por isso são chamadas imaginárias. Assim, quando observamos, por exemplo, um rio que separa dois países, não vemos uma linha sobre ele, mas sabemos que suas águas separam o território desses dois países.
Fronteira entre a Alemanha e a República Tcheca
  Limite, porém, não tem o mesmo significado de fronteira. Quando falamos em fronteira, estamos nos referindo a uma faixa de terra que se estende ao longo dos limites de um país. As fronteiras podem ser terrestres, que são aquelas localizadas ao longo dos limites que separam dois países, ou marítimas, que ficam ao longo dos limites que separam o território de um país das águas oceânicas.
Essa linha de metal, no Centro de Negócios Eurode, refere-se à fronteira entre a Alemanha e os Países Baixos (Holanda)
  No mundo, diversas áreas de fronteiras terrestres são habitadas e, na maioria das vezes, se caracterizam por apresentar um intenso intercâmbio econômico (mercadorias), social (pessoas) e, principalmente, cultural.
  Isso ocorre, por exemplo, na faixa de fronteira entre o território do Brasil e do Uruguai, localizada entre os municípios de Santana do Livramento, no estado do Rio Grande do Sul, e Rivera, no Uruguai.
Fronteira entre o Brasil e o Uruguai: à esquerda, a cidade brasileira de Chuí (RS), à direita, a cidade de Chuy, Uruguai
  O Brasil possui limites terrestres e marítimos bastante extensos. O país é o maior da América do Sul, correspondendo a quase 48% do território sul-americano. Banhado a leste pelo Oceano Atlântico, o território brasileiro possui 23.102 km de fronteiras, sendo 15.735 km terrestres e 7.367 km marítimas. Com uma área superior a 8,54 milhões de km², antes mesmo de ser uma nação soberana, o território brasileiro começou a ser delimitado pelos tratados de Madri (1750) e Santo Ildefonso (1777), que estabeleciam a separação das terras espanholas e portuguesas na América. A formação do atual território do Brasil, contudo, remonta ao século XIV, início da chamada Era dos Descobrimentos, quando foi estabelecido o Tratado de Tordesilhas.
As primeiras rotas das Grandes Navegações
Tratados que definiram os limites do Brasil
1. Tratado de Tordesilhas
  O Tratado de Tordesilhas, assinado na povoação castelhana de Tordesilhas, em 7 de junho de 1494, foi um tratado celebrado entre o Reino de Portugal e a Coroa de Castela para dividir as terras "descobertas e por descobri" por ambas as Coroas fora da Europa. Este tratado surgiu na sequência da contestação portuguesa às pretensões da Coroa de Castela, resultantes da viagem de Cristóvão Colombo, que um ano e meio antes chegara ao chamado Novo Mundo, reclamando-o oficialmente para Isabel, a Católica (1474-1504).
  O tratado definia como linha de demarcação o meridiano 370 léguas a oeste da ilha de Santo Antão, no arquipélago de Cabo Verde. Esta linha estava situada a meio caminho entre estas ilhas (então portuguesas) e as ilhas das Caraíbas descobertas por Colombo, no tratado referidas como "Cipango" e "Antilia". Os territórios a leste deste meridiano pertenceriam a Portugal, e os territórios a oeste, a Castela. O tratado foi ratificado por Castela em 2 de julho e por Portugal a 5 de setembro de 1494. Algumas décadas mais tarde, na sequência da chamada "Questão das Molucas", o outro lado da Terra seria dividido, assumindo como linha de demarcação, a leste, o antimeridiano, correspondente ao Meridiano de Tordesilhas, pelo Tratado de Saragoça, a 22 de abril de 1529.
Áreas demarcadas pelo Tratado de Tordesilhas
2. Tratado de Utrecht
  São chamados Tratados ou Paz de Utrecht os acordos que, firmados na cidade de Utrecht, nos Países Baixos (1713-1715), puseram fim à guerra da sucessão espanhola (1701-1714), na qual entraram em conflito interesses de várias potências europeias. O trono da Espanha era pretendido por Filipe d'Anjou, neto do rei francês Luís XIV, e por Carlos, da casa da Áustria. As negociações se abriram em 29 de janeiro de 1712, mas só em abril de 1713 foram assinados os principais acordos, dos quais o último é de 1714.
  Os opositores da disputa eram, de um lado, a França, em apoio a Filipe d'Anjou; do outro, a Grande Aliança, contra Luís XIV e a favor do príncipe Carlos, formada por Grã-Bretanha, República Holandesa, Prússia, Portugal e a Casa de Saboia.
  Por meio desse tratado, em 1713, foi reconhecida a soberania de Portugal sobre as terras da América Portuguesa, compreendidas entre os rios Amazonas e Oiapoque (atual Amapá). Em 1715, acordou-se a restituição dos portugueses da Colônia de Sacramento.
Tratado de Utrecht
3. Tratado de Madri
  O tratado de Madri foi um tratado firmado na capital espanhola entre os reis Dom João V, de Portugal, e Fernando VI, da Espanha, em 13 de janeiro de 1750, para definir os limites entre as respectivas colônias sul-americanas, pondo fim assim às disputas territoriais no continente americano entre os dois países. O objetivo do tratado era substituir o Tratado de Tordesilhas, o qual já não era mais respeitado na prática. Pelo tratado, ambas as partes reconheciam ter violado o Tratado de Tordesilhas na América e concordavam que, a partir de então, os limites deste tratado se sobreporiam aos limites anteriores. As negociações basearam-se no chamado Mapa das Cortes, privilegiando a utilização de rios e montanhas para demarcação dos limites. O diploma consagrou o princípio do direito privado romano do uti possidetis, ita possideatis (quem possui de fato, deve possuir de direito), delineando os contornos aproximados do Brasil de hoje.
Tratado de Madri
4. Tratado de Santo Ildefonso
  O Tratado de Santo Ildefonso foi o acordo assinado em 1 de outubro de 1777 na cidade espanhola de San Ildefonso, na província espanhola de Segóvia, na Comunidade Autônoma de Castela e Leão, com o objetivo de encerrar a disputa entre Portugal e Espanha pela posse da colônia sul-americana do Sacramento, situação que se prolongava desde a Paz de Utrecht e a guerra de 1735-1737. O tratado foi intermediado pela Inglaterra e pela França, que tinham interesses políticos internacionais na pacificação das relações entre Portugal e Espanha.
  Com a assinatura do Tratado, a rainha de Portugal, D. Maria I, e o rei da Espanha, Carlos III, praticamente revalidaram o Tratado de Madri e concederam fundamento jurídico a uma situação de fato: os espanhóis mantiveram a colônia e a região dos Sete Povos das Missões, que depois passou a compor grande parte do estado do Rio Grande do Sul e do Uruguai; em troca, reconheceram a soberania dos portugueses sobre a margem esquerda do rio da Prata, cederam pequenas faixas fronteiriças para compensar as vantagens obtidas no sul e devolveram a ilha de Santa Catarina, ocupada poucos meses antes.
Tratado de Santo Ildefonso
5. Tratado de Badajoz
  O Tratado de Badajoz, também referido como Paz de Badajoz, foi celebrado na cidade espanhola de Badajoz, em 6 de junho de 1801, entre Portugal, por uma parte, e a Espanha e a França coligadas, pela outra.
  Este diploma colocava fim à chamada Guerra das Laranjas, embora tenha sido assinado por Portugal sob coação, já que o país encontrava-se ameaçado pela invasão de tropas francesas estacionadas na fronteira, em Cidade Rodrigo, município da Espanha.
  Pelos seus termos, bastante severos para Portugal, estabelecia-se:

  • Portugal fecharia os portos de todos os seus domínios às embarcações da Grã-Bretanha (art. II);
  • a Espanha restituía a Portugal as fortificações e territórios conquistados de Juromenha, Arronches, Portalegre, Castelo de Vide, Barbacena, Campo Maior e Ouguela, com artilharia, espingardas e munições de guerra (art. III);
  • a Espanha conservava, na qualidade de conquista, a praça-forte, território e população de Olivença, mantendo o rio Guadiana como linde daquele território com Portugal (art. IV);
  • eram indenizados, de imediato, todos os danos e prejuízos causados durante o conflito pelas embarcações da Grã-Bretanha ou pelos súditos de Portugal, assim como dadas as justas satisfações pelas presas feitas ilegalmente pela Espanha antes do conflito, com infrações do território ou debaixo do tiro de canhão das fortalezas dos domínios portugueses (art. V).

Ponte da Ajuda, sobre o rio Guadiana, vista da margem esquerda, no lado espanhol
  Os termos do tratado foram ratificados pelo Príncipe-Regente de Portugal, D. João, no dia 14, e por Carlos IV de Espanha, a 21 do mesmo mês, mas foram rejeitados pelo primeiro cônsul da França, Napoleão Bonaparte. A manutenção das suas tropas em território espanhol, forçou Portugal a aceitar alterações à redação do Tratado. Desse modo, a 29 de setembro de 1801, era assinado um novo diploma, o chamado Tratado de Madri que, se por um lado formulou imposições mais severas a Portugal, por outro, evitou uma nova violação do seu território. Por ele, eram mantidos os termos de Badajoz, mas Portugal, adicionalmente, obrigava-se a pagar à França um montante de 20 milhões de francos.
  Por esse novo diploma, Portugal cedia ainda metade do território do Amapá à França, comprometendo-se a aceitar como fronteira entre o Brasil e a Guiana Francesa, o rio Arawani (Araguari) até a foz. Estas condições adicionais foram estabelecidas e ditadas por Napoleão.
Mapa do Brasil e tratados até 1801
6. Tratado de Petrópolis
  O Tratado de Petrópolis, firmado em 17 de novembro de 1903, formalizou a permuta de territórios entre Brasil e Bolívia - uma faixa de terra entre os rios Madeira, o rio Abunã do Brasil para a Bolívia - e o território do atual estado do Acre da Bolívia para o Brasil. O governo brasileiro também se comprometia a construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré para dar trânsito às trocas comerciais bolivianas pelo rio Amazonas, além de o governo brasileiro pagar à Bolívia a quantia de 2 milhões de libras esterlinas (cerca de 2,5 bilhões de reais a preços atuais) para indenizar a Bolivian Syndicate, um consórcio de investidores estadunidenses, pela rescisão do contrato de arrendamento, firmado em 1901 com o governo boliviano. Esse contrato foi motivado pela incapacidade do governo da Bolívia ocupar o atual território do Acre ante à crescente invasão do seu território por brasileiros.
Mapa do Tratado de Petrópolis
Disputas de fronteira
1. Com a Bolívia

  • Ilha de Guajará-Mirim (nome brasileiro) ou Isla Suárez (nome boliviano), uma ilha fluvial no rio Mamoré, que é reivindicada tanto pela Bolívia quanto pelo Brasil. A delimitação deste trecho foi estabelecida pelo Tratado de Ayacucho, de 1867. Em 1º de abril de 1930, a Legação Brasileira em La Paz, reclamou da ocupação indevida da ilha. Em 1937 foi apresentado pelo Ministro das Relações Exteriores da Bolívia, Enrique Finot, um completo estudo da região, alegando a maior proximidade da ilha do lado boliviano. A soberania da ilha ficou indefinida após o Acordo de Roboré, de 1938.
Em amarelo a área em disputa
2. Com o Uruguai

  • Rincão das Artigas - é um território de 237 km², localizado entre o norte do Uruguai e o sul do Brasil, dentro do município de Santana do Livramento, no estado do Rio Grande do Sul. O Uruguai considera que, por um erro de demarcação do limite entre ambos os países em 1856, esse território passou a integrar o território brasileiro em 1861. Desde 1934, o governo uruguaio solicita ao Brasil a revisão da demarcação fronteiriça neste ponto. A partir de 1974, os mapas uruguaios indicam este território como "limite contestado" e consideram que pertence ao Departamento de Artigas.

Mapa do Uruguai com a área contestada pelos uruguaios

  • Ilha Brasileira - é uma pequena ilha fluvial localizada na foz do rio Quaraí, entre os municípios de Barra do Quaraí, no Brasil, Monte Caseros, na Argentina, e Bella Unión, no Uruguai. A ilha tem, aproximadamente, 2 quilômetros de extensão por 0,5 quilômetro de largura. Administrativamente, a ilha pertence ao município brasileiro de Barra do Quaraí (RS). É reclamada há mais de um século pelo Uruguai. Porém, nenhum dos países mostraram interesse ativamente pela ilha.

Em amarelo a Ilha Brasileira, reivindicada pelo Uruguai
REFERÊNCIA: Garcia, Valquíria Pires
Projeto mosaico: geografia: ensino fundamental / Valquíria Pires Garcia, Beluce Bellucci. 1. ed. -- São Paulo: Scipione, 2015.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

SLIDES DO PROFESSOR MARCIANO DANTAS: PAÍSES DESENVOLVIDOS X PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS


AS CONVENÇÕES CARTOGRÁFICAS

  As convenções cartográficas são uma série de símbolos aceitos internacionalmente e criados pela necessidade de reproduzir um objetivo em um mapa, como, por exemplo, elementos naturais. Sendo assim, são símbolos utilizados para representar e localizar diversos lugares, bem como construções, ouro, prata, cobre, entre outros.
  A representação da realidade num mapa é feita por símbolos denominados convenções cartográficas, que representam rios, florestas, montanhas, cidades, fronteiras entre os países etc. Essa simbologia é reunida em diversos grupos: edificações, hidrografia, vegetação, cultivos agrícolas, relevo, limites administrativos. O azul, por exemplo, geralmente é utilizado para representar a água; o ponto preto, para identificar as sedes dos municípios, e a linha vermelha para representar as estradas.
  As convenções cartográficas envolvem uma série de símbolos, desenhos, cores e códigos utilizados internacionalmente em cartografia para estabelecer uma padronização para a confecção de mapas. Isso serve para que um mapa possa ser lido e compreendido em qualquer lugar do mundo. As convenções envolvem não somente o uso de símbolos, figuras, cores ou linhas, mas também o uso de outros elementos cartográficos como o título do mapa, a escala e a rosa dos ventos.

  • Título - tem a função de apresentar o tema ou a informação principal que será tratada pelo mapa. Geralmente, aparece em destaque, centralizado e no alto do mapa ou então junto da legenda.

O título é fundamental para facilitar a compreensão de um mapa

  • Legenda - geralmente presente ao lado dos mapas, a legenda tem como finalidade principal apresentar o significado das cores e dos símbolos neles utilizados.


Legenda com exemplo de símbolos e cores que podem aparecer em um mapa com seus respectivos significados

  • Orientação - serve para indicar a direção dos pontos cardeais na representação cartográfica. Na maioria das vezes é indicada somente a direção norte, já que esta informação basta para que se possa descobrir os demais pontos cardeais (sul, leste e oeste) e os pontos colaterais (nordeste, sudeste, sudoeste e noroeste).

A Rosa dos Ventos é o símbolo usado para indicar a direção dos pontos cardeais

  • Escala - é utilizada nos mapas para informar a proporcionalidade das distâncias medidas no mapa e as distâncias reais. Caso não seja indicada, fica impossível fazer os cálculos de distâncias entre dois pontos com base somente no mapa. Ela pode ser:

1. Numérica: é a escala que é apresentada na forma de uma fração, sem definição prévia de uma unidade de medida. Ex: 1:1.000.000 ou 1/1.000.000. Essa escala quer dizer que o mapa é 1.000.000 de vezes menor que a realidade, ou seja, se 1 cm for medido no mapa, isso equivalerá a 1.000.000 de centímetros no espaço real.
Escala Gráfica
2. Gráfica: é apresentada utilizando-se uma reta, geralmente graduada em centímetros, com as reais distâncias (em km) indicadas a cada centímetro medido no mapa. No exemplo abaixo, cada centímetro medido no mapa será equivalente a 10 quilômetros na realidade.
Escala Numérica
REFERÊNCIA: CALDINI, Vera; ISOLA, Leda. Atlas geográfico. Saraiva: São Paulo, 2013. p. 78

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

O KEYNESIANISMO E O INTERVENCIONISMO ESTATAL

  A depressão que se seguiu após 1929 pôs em xeque a lógica liberal. Atribuíam-se à competição desenfreada e à superprodução as causas da convulsão. Na década da crise, surgiriam os trabalhos daquele que viria a ser o mais importante economista do século XX: John Maynard Keynes (1883-1946) e sua obra principal, Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, escrita em 1936 e que consiste numa organização político-econômica, oposta às concepções liberais, fundamentada na afirmação do Estado como agente indispensável de controle da economia, com o objetivo de conduzir a um sistema de pleno emprego. Tais teorias tiveram uma enorme influência na renovação das teorias clássicas e na reformulação da política de livre-mercado.
John Maynard Keynes - autor da teoria do keynesianismo
  A escola keynesiana se fundamenta no princípio de que o ciclo econômico não é auto-regulado como defendem os neoclássicos, uma vez que é determinado por um suposto "espírito animal" (animal spirit, no original inglês) dos empresários.
  A teoria keynesiana parte do pressuposto de que o mercado não pode nem deve ficar desregrado; faz-se necessária uma forte intervenção do Estado na economia, exatamente o oposto do que preconizava seu antecessor, Adam Smith, cujas ideias nortearam o liberalismo clássico, principal vertente do capitalismo até então. Agora o liberalismo estava em baixa, e eram as ideias de Keynes que iriam se sobrepor. Entre elas, estava a garantia do pleno emprego como forma de manter aquecido o mercado, já que o trabalhador empregado é um consumidor em potencial - e era o Estado que deveria oferecer essa garantia. Outra pregação keynesiana é a forte intervenção do Estado em prol de uma política de redução de juros, a fim de desestimular o investimento no setor financeiro e o redirecionamento para o setor produtivo. O Estado deveria patrocinar vultosos investimentos públicos como forma de manter a economia em pleno funcionamento.
Fila de desempregados nas ruas de Nova York após a Grande Depressão de 1929
  O keynesianismo ascendia à condição de principal corrente do pensamento econômico no momento da maior crise da história do capitalismo. Suas ideias influenciaram os principais governantes da época que buscavam saídas para a crise. A influência mais notável foi no New Deal, o plano de recuperação econômica para a Grande Depressão, do presidente estadunidense  Franklin D. Roosevelt, que governou os Estados Unidos de 1933 a 1945.
  A teoria de Keynes é baseada no princípio de que os consumidores aplicam as proporções de seus gastos de bens e poupança, em função da renda. Quanto maior a renda, maior porcentagem desta é poupada. Assim, se a renda agregada aumenta em função do aumento do emprego, a taxa de poupança aumenta simultaneamente; e como a taxa de acumulação de capital aumenta, a produtividade marginal do capital reduz-se e o investimento é reduzido, já que o lucro é proporcional à produtividade marginal do capital. Então ocorre um excesso de poupança em relação ao investimento, o que faz com que a demanda (procura) efetiva fique abaixo da oferta e, assim, o emprego se reduza para um ponto de equilíbrio em que a poupança e o investimento fiquem iguais. Como esse equilíbrio pode significar a ocorrência de desemprego involuntário em economias avançadas (onde a quantidade de capital acumulado seja grande e sua produtividade pequena), Keynes defendeu a tese de que o Estado deveria intervir na fase recessiva dos ciclos econômicos com sua capacidade de imprimir moeda para aumentar a procura efetiva através de déficits do orçamento do Estado e assim manter o pleno emprego.
Teoria proposta por Keynes
  O ciclo de negócios, segundo Keynes, ocorre porque os empresários têm "impulsos animais" psicológicos que os impedem de investir a poupança dos consumidores, o que gera desemprego e reduz a demanda efetiva novamente e, por sua vez, causa uma crise econômica. A crise, para terminar, deve ter uma intervenção estatal que aumente a demanda efetiva através do aumento dos gastos públicos.
  Keynes, porém, nunca defendeu a estatização da economia, nos moldes em que foi feita na União Soviética. O que ele defendia na década de 1930 e que os novos desenvolvimentistas defendem atualmente é uma participação ativa de um Estado enérgico nos segmentos da economia que, embora necessários para o bom desenvolvimento de um país, não interessam ou não podem ser atendidos pela iniciativa privada.
  Após a Segunda Guerra Mundial, o keynesianismo consolidou-se como modelo econômico e foi hegemônico na Europa e nos Estados Unidos até meados dos anos 1970, quando passou a ser questionado pelos chamados monetaristas, críticos da política de limitação ao investimento financeiro.
Charge ironizando o setor privado na economia com base na teoria keynesiana
REFERÊNCIA: Silva, Edilson Adão Cândido da
Geografia em rede, 1º ano / Edilson Adão Cândido da Silva, Laércio Furquim Júnior. - 2. ed. - São Paulo: FTD, 2016. - (Coleção geografia em rede).

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

GEOPOLÍTICA E ECOLOGIA DOS MARES FECHADOS

  Os mares são corpos de água salgada que possuem ligação com águas oceânicas. Podem ser: continentais, abertos e fechados.
Mares Continentais - são aqueles que possuem ligações estreitas (geralmente através de estreitos) com as águas oceânicas. Ex: Mar Mediterrâneo (suas águas estabelecem ligação com o Oceano Atlântico através do Estreito de Gibraltar) e Mar Vermelho (suas águas estão ligadas ao oceano Índico através do Estreito de Bab-el-Mandeb).
Imagem de satélite do Estreito de Gibraltar
Mares Abertos - a ligação entre os mares abertos e as águas oceânicas ocorre através de grandes aberturas. Ex: mares do Norte (suas águas possuem ligação com o Oceano Atlântico através do Canal da Mancha - Estreito de Dover), Báltico (localizado na região norte do continente europeu, suas águas estão ligadas ao Oceano Atlântico através dos estreitos de Öresund - entre a Dinamarca e a Suécia -, Grand Belt - entre as ilhas dinamarquesas de Zelândia e Fulen -, e Pequeno Belt - entre a Península da Jutlândia e a Ilha Fulen) e o  Mar do Caribe (localizado a leste da América Central e a norte da América do Sul, está conectado com o Oceano Atlântico através das passagens de Anegada e dos Ventos).
Imagem de satélite do Mar do Norte
Mares fechados - embora ganhem o nome de mares, estes corpos de água salgada são, na verdade, imensos lagos, pois não possuem conexão com as águas oceânicas. Os mares fechados são superfícies líquidas que não possuem ligações com um outro mar ou oceano. Por tradição ou por sua dimensão, não são identificados como lagos. Situados no interior dos continentes, são "regulados" por rios que neles deságuam e, em alguns casos, por águas de degelo que descem das vertentes circundantes. Os mares Morto, Cáspio e de Aral são exemplos típicos de mares fechados.
Mapa com alguns dos principais mares da Europa e da Ásia
Mar Morto
  O Mar Morto possui uma superfície de aproximadamente 650 km², um comprimento máximo aproximado de 50 km e uma largura máxima de 18 km. Em 1930, quando o Mar Morto começou a ser monitorado continuamente, sua  superfície era de aproximadamente 1.050 km², com um comprimento máximo de 80 km e uma largura máxima de 18 km.
  Situado entre Israel, a Cisjordânia e a Jordânia, o Mar Morto é famoso por estar localizado na maior depressão continental do mundo e por seu alto índice de salinidade. No último século, perdeu cerca de 300 km² de superfície e seu nível continua baixando, devido ao uso da água dos rios que nele deságuam (especialmente o Jordão) e à elevada evaporação.
Fotografia de satélite mostrando a localização do Mar Morto
  O Mar Morto recebe esse nome devido à grande quantidade de sal nele contida, dez vezes superior à dos demais oceanos, e em suas águas há a escassez de vida, havendo apenas alguns tipos de arqueobactérias e algas. Qualquer peixe que seja transportado pelo Rio Jordão morre imediatamente assim que deságua neste lago de água salgada. A sua água é composta por vários tipos de sais, alguns dos quais só podem ser encontrados nesta região do mundo. Em termos de concentração, e em comparação com a concentração média dos restantes dos oceanos em que o teor de sal, por 100 ml de água não passa de 3 gramas, no Mar Morto essa taxa é de 30 a 35 gramas de sal por 100 ml de água.

Mar Morto visto do espaço com áreas de extração de sal ao sul
  O Mar Morto perdeu 35% da sua superfície entre 1954 e 2014, em grande parte por causa do aumento na captação das águas de seu principal afluente, o Rio Jordão, por parte das autoridades de Israel e Jordânia, única fonte de água doce da região, além da natural evaporação de suas águas.
  Outro fator importante para essa perda, além da captação de água do Rio Jordão, tem sido a extração descontrolada principalmente de potássio por indústrias mineradoras e químicas, como a Israel Chemicals Ltd., Dead Sea Works e Arab Potash Company, que se instalaram nas décadas de 1940 e 1950. Entre 1930 e 1997, o nível das águas do Mar Morto diminuiu 21 metros.
Tanques de evaporação de potássio no Mar Morto, em 1944
  A contínua perda das águas do Mar Morto causa uma redução em sua área e profundidade, relativamente ao nível médio das águas do Mar Mediterrâneo, o que faz com que seja o maior desnível negativo do mundo, em relação ao nível do mar. Entre 1992 e 2014, a média de aumento deste desnível foi quase  1 metro por ano. Em 1992, o desnível era de 407 metros. Em 2004 era de 417 metros e em 2010 era de 423 metros. Em 2014, o desnível aumentou para 427 metros.
Mar Morto
  A chuva na região do Mar Morto não passa dos 100 mm por ano na parte norte e mal atinge os 50 mm na parte sul. A aridez da zona do Mar Morto é devido ao efeito rainshadow (sombra de chuva) das colinas da Judeia. O planalto leste do Mar Morto recebe mais chuva do que o Mar Morto em si.
  Para evitar que o mar desapareça, as partes interessadas - Autoridade Palestina, Israel e Jordânia - assinaram um acordo, em dezembro de 2013, para "salvar" o mar. A ideia é desviar água do mar Vermelho para o mar Morto por um canal de 80 quilômetros.
A alta salinidade do Mar Morto permite a flutuação das pessoas
Mar Cáspio
  O Mar Cáspio localiza-se na Ásia Central e é dividido em três partes. Na parte norte, assenta-se sobre uma depressão absoluta com altitude média de 28 metros negativos. As porções central e sul apresentam profundidades bem maiores. Por conta do menor volume e profundidade, e por estar junto a áreas continentais baixas, a porção norte é a mais vulnerável às variações de nível. É lá que deságua o Rio Volga, o mais importante afluente. Tudo o que acontece ao longo dessa bacia, onde estão as maiores concentrações urbano-industriais da Rússia, repercute sobre o mar.
  Este mar possui uma superfície de 386.400 km², área um pouco maior que a do estado do Mato Grosso do Sul e possui um volume de 78.200 km³, constituindo uma bacia endorreica (área na qual a água não tem saída superficialmente, por rio, até ao mar). O comprimento do Mar Cáspio é de 1.030 km e sua largura varia de 435 km a um mínimo de 196 km, e sua profundidade máxima é de 1.025 metros. Seu nível de superfície é em torno de -26,5 metros abaixo do nível do mar.
Bacia do Mar Cáspio e antigo Mar de Aral
  O Mar Cáspio é limitado a noroeste pela Rússia, a oeste pelo Azerbaijão, a sul pelo Irã, a sudeste pelo Turcomenistão, e a nordeste pelo Cazaquistão. Pode ser dividido em três partes: norte, centro e sul.
  Cerca de 130 rios pequenos e grandes convergem ao Cáspio, quase todos desaguando nos litorais norte ou oeste. O maior deles é o Rio Volga (maior rio europeu em extensão), que corre por uma área de 1.400.000 km² e deságua no norte do Mar Cáspio. Mais de 90% da água doce que o mar recebe é fornecida pelos cinco maiores rios: o Volga com 241 km³, o Kura com 13 km³, o Terek com 8,5 km³, o Ural com 8,1 km³ e o Sulak com 4 km³. Os rios iranianos menores da costa ocidental fornecem o resto, já que não há fluxos permanentes no lado oriental.
Imagem de satélite do Mar Cáspio
  A história registra que o Mar Cáspio é chamado de mar desde a época dos romanos, que o acharam salgado, especialmente na sua parte sul. Sua área hoje constitui um grande trunfo econômico, com enormes reservas de petróleo e gás natural, que só agora estão começando a ser extraídas plenamente. As reservas de petróleo para toda a região do Mar Cáspio são comparáveis às dos Estados Unidos e do Mar do Norte. As reservas de gás natural são ainda maiores, sendo quase dois terços das reservas de hidrocarbonetos. Além disso, grandes quantidades do peixe esturjão vivem nas suas águas, e o caviar produzido a partir de seus ovos é bem valioso.
  Ao longo do século XX, a soberania sobre o Mar Cáspio foi compartilhada entre a União Soviética e o Irã. Com a desintegração da União Soviética, em 1991, o mar passou a banhar, além do litoral do Irã, terras da Rússia, do Cazaquistão, do Turcomenistão e do Azerbaijão. A descoberta de petróleo e gás na área do Cáspio tornou mais complexo o quadro geopolítico.
  Hoje, há interesses conflitantes entre os cinco países no que se refere à definição jurídica a ser aplicada, especialmente em relação à exploração dos recursos da rica plataforma continental.
Mar Cáspio em Turkmenbasy - Turcomenistão
Mar de Aral
  As tensões que cercam o Cáspio pouco significam se comparada à crise que ameaça a própria existência do Mar de Aral. Situado no coração da Ásia Central, o Aral se estende sobre as terras áridas das antigas repúblicas soviéticas do Cazaquistão e do Uzbequistão. O Mar de Aral foi vítima do planejamento ecologicamente irresponsável conduzido por Moscou.
  No período Terciário (68 a 1,8 milhão de anos atrás), provavelmente a depressão onde se encontra o Mar de Aral estava conectada ao Mar Cáspio, ao Mar Negro e a outros lagos próximos de mesma origem geológica e também de formação endorreica. Durante o Pleistoceno (1,8 milhão até 20 mil anos atrás) certamente ocorreu a separação e o isolamento final do Mar de Aral, porém, ele continuou a ser alimentado simultaneamente com as águas dos rios  Amu Darya e Sir Darya, tornando-o um verdadeiro oásis no deserto da Ásia Central. Com o tempo, a água do lago passou a concentrar todo o sal trazido pelos rios, uma vez que a água acumulada continuou o seu ciclo, evaporando por milhares de anos.
Mapa do Mar de Aral em 1853
  As nascentes dos dois rios afluentes do Mar de Aral (Sir Darya e Amu Darya) ficam nas altas montanhas do sistema do Himalaia e distanciam cerca de dois mil quilômetros da foz. Durante toda esta extensão, os rios cortam quatro países (Afeganistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e Uzbequistão), sendo uma preciosa fonte de recursos naturais, com grande variedade biológica, em meio ao clima desértico. A indústria pesqueira era a principal atividade econômica da região. No século XX, os dois rios passaram a receber lixo, esgoto e poluentes com o desenvolvimento das comunidades próximas, e foram alvos de sucessivas drenagens pelo governo soviético das repúblicas da Ásia Central. A partir de 1920, o fluxo dos rios diminuiu consideravelmente.
O Mar de Aral visto do espaço, em 1985
  A presença militar russa no Mar de Aral começou em 1847, com a fundação de Raimsk, que logo foi rebatizado de Aralsk, perto da foz do Sir Darya. Logo, a Marinha Imperial Russa começou a implantar os seus navios no mar. Devido à bacia do Mar de Aral não estar ligada a outros corpos de água, os navios tiveram que ser desmontados em Orenburg, no rio Ural, enviados por via terrestre para Aralsk (presumivelmente por uma caravana de camelos), e então remontados. Os dois primeiros navios, montados em 1847, eram as escunas de dois mastros chamado Nikolai e Mikhail. O primeiro foi um navio de guerra, enquanto o último um mercante que servia para o estabelecimento da pesca no lago grande. Em 1848, estes dois navios pesquisaram a parte norte do mar. No mesmo ano, um grande navio de guerra, Constantino, foi também montado. Comandado pelo tenente Alexey Butakov, o Constantino concluiu o levantamento de todo o Mar de Aral em dois anos. Para a navegação, em 1851, dois navios recém-construídos chegaram da Suécia, novamente de caravanas até Orenburg.
Embarcação abandonada perto do antigo Porto de Aral, Cazaquistão
  O governo soviético começou a desviar parte das águas dos rios que alimentavam o Mar de Aral, o Amu Darya (ao sul) e o Sir Darya (ao nordeste) em 1918. Com o fim da Primeira Guerra Mundial havia a necessidade de aumentar a produção de alimentos, tais como arroz, cereais e melões. Havia também planos de se produzir algodão no deserto próximo ao lago. O algodão, sempre valorizado, era chamado de "ouro branco".
  Nos anos 1940, acelerou-se a construção dos canais de irrigação que captavam água dos afluentes do Mar de Aral. O conhecimento rudimentar da técnica de engenharia produziu canais ineficientes, e havia perda de até 75% de toda a água captada em vazamentos e evaporação.
Mar de Aral em 1989 e 2008
  No início, a irrigação das plantações consumia aproximadamente 20 km³ de água a cada ano, em ritmo crescente. Já na década de 1960, a maior parte do abastecimento de água do lago tinha sido desviado e o Mar de Aral começou a perder tamanho. De 1961 a 1970 o lago baixou 20 cm por ano, e essa taxa cresceu até 1990. Em 1987, a redução contínua do nível da água levou ao aparecimento de grandes bancos de areia, causando uma separação em duas massas de água, formando o Aral do Norte (ou Pequeno Aral) e o Aral do Sul (ou Grande Aral).
  A quantidade de água retirada dos rios que abasteciam o Mar de Aral duplicou entre 1960 e 2000, assim como a produção de algodão. No mesmo período, o Uzbequistão tornou-se o terceiro maior exportador de algodão do mundo. Como consequência da redução do volume de água, a salinidade quase quintuplicou e matou a maior parte de sua fauna e flora naturais. A próspera indústria pesqueira faliu, assim como as cidades ao longo das margens. Houve desemprego e dificuldades econômicas.
Animação do estado do Mar de Aral
  As poucas águas do Mar de Aral também ficaram fortemente poluídas, em grande parte como resultado de testes com armamentos e projetos industriais, além do uso maciço de pesticidas e fertilizantes. As pessoas passaram a sofrer com a falta de água doce e os cultivos na região estão sendo destruídos pelo sal depositado sobre a terra. Nos últimos anos, o vento tem soprado sal a partir do solo seco e poluído, causando danos à saúde pública. Há também relatos de alterações climáticas na região, com verões cada vez mais quentes e secos e invernos mais frios. A situação do Mar de Aral e sua região é descrita como a maior catástrofe ambiental da história.
  O Mar de Aral abrigou uma indústria pesqueira considerável que, no seu auge, empregava cerca de 40 mil pessoas e produzia 1/6 de todo o pescado da União Soviética. Ainda é possível encontrar os restos dessa época de farta produção. O leito do lago, sem água, transformou-se num cemitério para as grandes embarcações que operavam na pesca. Além do pescado, a região deixou de produzir 500.000 peles de rato-almiscarado por ano, uma vez que a caça predatória e a escassez de água contribuíram para o desaparecimento do animal dos deltas do Amu Darya e do Sir Darya.
O lago deu lugar ao Aralkum, um deserto de sal e poluentes sólidos
  A superfície do Mar de Aral já reduziu em 60% do seu tamanho e em cerca de 80% do seu volume. Em 1960, o Mar de Aral era o quarto maior lago do mundo, com uma área aproximada de 68.000 km² e um volume de 1.100 km³. Em 1998, caiu para 28.667 km², tornando-se o oitavo maior lago do mundo. Durante o mesmo período, a salinidade do mar aumentou cerca de 10 gr/l para 45 gr/l.
  Há duas vertentes que pretendem explicar o processo de desertificação:
1. Fenômeno Natural - o Mar de Aral estaria morrendo naturalmente devido à fatores climáticos e geológicos (vertente defendida oficialmente pelo governo soviético no início do fenômeno);
2. Fenômeno Antropogênico - o desvio das águas dos rios que desembocam no Mar de Aral estaria causando o problema (vertente consensual defendida atualmente).
Antigo porto, atualmente abandonado
  O futuro do Mar de Aral é incerto. Não se sabe se é possível, viável e necessário recuperá-lo. Há diversas sugestões no sentido de ajudar em sua recuperação, tais como:

  • melhorar a eficiência dos canais de irrigação;
  • instalar estações de dessalinização de água;
  • instruir os agricultores a usar menos as águas dos rios;
  • plantar cultivares de algodão que necessitem de menos água;
  • usar menos produtos químicos nas plantações;
  • reduzir o número de fazendas de algodão próximas ao lago e afluentes;
  • construir barragens para encher o Mar de Aral;
  • desvio de água dos glaciares da Sibéria para repor a água perdida do Aral;
  • redirecionar a água dos rios Volga, Ob e Irtich. Assim se levaria de 20 a 30 anos para restaurar sua antiga dimensão;
  • diluir a água do Aral com a água do oceano e do Mar Cáspio através de bombas e gasodutos.
Momento em que a ilha Vozrozhdeniya, originalmente no centro do Aral, se converte em uma península (fim de 2000 e começo de 2001)
REFERÊNCIA: Baldraia, André
Ser protagonista: geografia, 3º ano: ensino médio / André Baldraia, Fernando dos Santos Sampaio, Ivone Silveira Sucena. Organizadora: Edições SM. Obra coletiva concedida, desenvolvida e produzida por Edições SM editor responsável Flávio Manzatto de Souza. - 3. ed. - São Paulo: Edições SM, 2016. (Coleção ser protagonista)

domingo, 27 de janeiro de 2019

A OTAN E O PACTO DE VARSÓVIA

  Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos e a União Soviética procuraram formar, isoladamente, algumas alianças militares para fortalecer os laços com seus aliados e se proteger de ameaças.
  A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), criada em 1949, liderada pelos Estados Unidos, contava com diversos países europeus e com o Canadá.
  Em 1955, como resposta à Otan, foi assinado o Tratado de Assistência Mútua da Europa Oriental, conhecido como Pacto de Varsóvia, liderado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Símbolos da Otan e do Pacto de Varsóvia
A OTAN
  O bloco liderado pelos Estados Unidos era a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Criada em 1949, em Washington D.C. (Estados Unidos), a Otan tinha como objetivo principal estabelecer uma aliança de defesa contra o avanço socialista. Por causa da presença de tropas soviéticas na Europa ao longo da Segunda Guerra Mundial e do desejo explícito de aumentar a influência do país naquela parte do mundo, os países europeus entenderam que era preciso se organizar para evitar a dominação socialista. O acordo que criou a Otan estabeleceu que os países-membros trabalhariam para a manutenção da paz e teriam o compromisso de reagir em conjunto em caso de ataque a uma das partes.
  A organização constitui um sistema de defesa coletiva através do qual seus Estados-membros concordam com a defesa mútua em resposta a um ataque por qualquer entidade externa à organização.
O então presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, junto com outros líderes, na assinatura da criação da Otan, em 4 de abril de 1949
  A sede da Otan localiza-se em Bruxelas, na Bélgica, um dos 29 países que fazem parte da organização.
  A Otan era pouco mais que uma associação política, até a Guerra da Coreia consolidar os Estados-membros da organização e uma estrutura militar integrada ser constituída sob a direção de dois comandantes dos Estados Unidos. A Guerra Fria levou a uma rivalidade com os países do Pacto de Varsóvia. As dúvidas sobre a força da relação entre os países europeus e os Estados Unidos eram constantes, junto com questionamentos sobre a credibilidade das defesas da Otan contra uma potencial invasão da União Soviética, o que levou ao desenvolvimento da dissuasão nuclear francesa independente e a retirada da França da estrutura militar da organização em 1966 por 30 anos.
  Após a queda do Muro de Berlim, em 1989, a organização foi levada a intervir na dissolução da Iugoslávia e conduziu suas primeiras intervenções militares na Bósnia-Herzegovina, em 1992-95, e, posteriormente, na Iugoslávia em 1999. Politicamente, a organização procurou melhorar as relações com países do antigo Pacto de Varsóvia, muitos dos quais passaram a fazer parte da organização entre 1999 e 2004.
Sede da Otan, em Bruxelas - Bélgica
  A Otan nasceu do artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte e requer que os Estados-membros auxiliem qualquer membro que esteja sujeito a um ataque armado, compromisso que foi convocado pela primeira e única vez após os ataques de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos, quando tropas foram mobilizadas para o Afeganistão, sob a Força Internacional de Assistência para Segurança (ISAF), liderada pela Otan. A organização tem operado uma série de funções adicionais desde então, incluindo o envio de instrutores ao Iraque, auxílio em operações contra pirataria e a imposição de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, de acordo com a resolução 1973, do Conselho de Segurança da ONU em 2011.
  O artigo 4º do tratado é menos potente, visto que apenas invoca a consulta entre os membros da Otan. Este artigo foi convocado cinco vezes: pela Turquia, em 2003, por conta da Guerra do Iraque; novamente pelos turcos, em junho de 2012, por conta da Guerra Civil Síria, após a derrubada de um caça turco F-4 de reconhecimento desarmado; de novo pela Turquia em outubro de 2012, quando um morteiro foi disparado contra o território turco a partir da Síria; pela Polônia, em 2014, após a intervenção militar russa na Crimeia; e novamente pela Turquia em janeiro de 2017, depois de vários ataques terroristas no seu território pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante.
Cúpula da Otan em 2014
  A base para a Otan foi estabelecida em 1948, quando Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo, França e Reino Unido assinaram o Tratado de Bruxelas, criando uma aliança de defesa europeia. O tratado e o Bloqueio de Berlim pelos soviéticos levou à criação da Organização de Defesa e União da Europa Ocidental, em setembro de 1948. No entanto, a participação dos Estados Unidos foi considerada necessária, tanto para contrapor o poderio militar da União Soviética quanto para evitar o ressurgimento do militarismo nacionalista. Então as negociações para uma nova aliança militar começaram imediatamente, resultando no Tratado do Atlântico Norte, assinado em Washington D.C. em 4 de abril de 1949. Ele incluiu os membros do Tratado de Bruxelas, além de Estados Unidos, Canadá, Portugal, Itália, Noruega, Dinamarca e Islândia.
  O primeiro Secretário Geral da Otan, o indiano-britânico Lord Ismay, afirmou em 1949 que o objetivo da organização era "manter os russos fora, os americanos dentro e os alemães embaixo". O apoio popular ao tratado não foi unânime e alguns islandeses participaram de protestos pró-neutralidade e antiadesão em março de 1949.
Um E-3A da Otan voando com caças F-16 da Força Aérea dos Estados Unidos durante um exercício militar
  A criação da Otan pode ser visto como a consequência institucional primária de uma escola de pensamento chamada atlantismo, que salientava a importância da cooperação trans-atlântica.
  Os membros concordaram que um ataque armado contra qualquer um deles na Europa ou na América do Norte seria considerado um ataque contra todos eles. Consequentemente, eles concordaram que, se um ataque armado ocorresse, cada um deles, no exercício do direito de legítima defesa individual ou coletiva, poderia ajudar o membro atacado, tomando as medidas que julgasse necessário, incluindo o uso da força armada, para restaurar e manter a área de segurança do Atlântico Norte. O tratado não requer, necessariamente, que os membros respondam com uma ação militar contra um agressor.
  Embora tenham a obrigação de responder de alguma maneira, eles mantêm a liberdade de escolher o método pelo qual fazem isso. Este ponto difere do artigo IV do Tratado de Bruxelas, que afirma claramente que a resposta será de natureza militar. No entanto, é assumido que os membros da Otan ajudarão ao membro atacado militarmente.
Ministros de Defesa e das Relações Exteriores da Otan reunidos na sede da organização em Bruxelas, em 2015
O Pacto de Varsóvia
  Do lado socialista, em 1955, foi criado o Pacto de Varsóvia, uma aliança militar firmada na capital da Polônia. Para muitos autores o objetivo maior do Pacto era defender os países socialistas europeus e equilibrar a relação com a Otan. Participaram do Pacto os seguintes países: Albânia (que saiu em 1968), Bulgária, Tchecoslováquia (que na época reunia a República Tcheca e Eslováquia), Hungria, Polônia, República Democrática da Alemanha (antiga Alemanha Oriental), Romênia e União Soviética. O acordo foi proposto pelo então primeiro-secretário do Partido Comunista da União Soviética, Nikita Khrushchev.
  Um episódio marcou a criação do Pacto: o questionamento da hegemonia soviética pela Iugoslávia, governada pelo Marechal Tito, também socialista, que não aceitou ingressar no Pacto. O argumento de Tito era o de que os interesses soviéticos eram diferentes dos de seu país.
Assembleia que criou o Tratado de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua, ou o Pacto de Varsóvia, em 14 de maio de 1955
  Os objetivos do Pacto de Varsóvia eram muito semelhantes aos da Otan. A ideia era criar um sistema de defesa mútuo, que protegesse os membros contra agressões externas. Mas havia uma cláusula que restringia a liberdade dos países e que praticamente os obrigava a permanecer no Pacto. As reuniões de seus membros eram anuais.
  Porém, as principais ações do Pacto foram dentro dos países-membros para a repressão de revoltas internas. Em 1956, tropas reprimiram manifestações populares na Hungria e na Polônia, e em 1968, na Tchecoslováquia, na chamada Primavera de Praga, que pediam a descentralização parcial da economia e a democratização.
Tanques russos em Praga (capital da então Tchecoslováquia, atualmente República Tcheca) durante a Primavera de Praga, em 1968
  Os Estados do bloco do Leste Europeu mantinham, antes da assinatura do Tratado, uma estreita relação militar com a União Soviética, cujo Exército havia permitido sua libertação durante a Segunda Guerra Mundial, assim como as forças britânicas e dos Estados Unidos tinham feito na Alemanha Ocidental, a oeste da Áustria, Bélgica, Itália, França e Grécia, no quadro acordado na Conferência de Yalta. A profunda influência exercida pela União Soviética no bloco, tinha sido percebida como um desafio às outras potências aliadas, que consideraram a expansão do comunismo como uma ameaça imediata para o domínio político e econômico na Europa pelos Estados Unidos e governos capitalistas europeus.
  A polarização entre a órbita dos Estados Unidos, que com a criação da Otan quebrou a longa tradição de isolamento, e os militares soviéticos seria o caráter determinante dos 45 anos da Guerra Fria.
Emblema do Pacto de Varsóvia
  Os membros do Pacto de Varsóvia concordaram, em termos muito semelhantes aos utilizados pela Otan, a cooperação na manutenção da paz, a organização imediata em caso de ataque previsível (art. 3), a defesa mútua se um membro for atacado (art. 4), e o estabelecimento de uma pauta conjunta para coordenar os esforços nacionais (art. 5). Composta por 11 artigos no total, o Pacto não se referiu diretamente ao sistema de membros do governo, foi aberta a "todos os Estados", com uma única exigência da humanidade dos outros signatários na sua admissão (art. 9). Foi assinado em quatro exemplares, russo, alemão, tcheco e polonês.
  A comissão política, composto por chefes de governo dos países membros, reuniam-se anualmente para estabelecer políticas e objetivos anuais. A maioria das negociações também contaram com a presença dos ministros da Defesa, os chefes das forças armadas e membros dos Estados-Maiores de cada um deles. Além da comissão política, o Pacto de Varsóvia tinham uma comissão militar consultiva, técnico e pesquisa. Ivan Stepanovich Koniev foi seu primeiro comandante-em-chefe.
Em vermelho, os países que faziam parte do Pacto de Varsóvia
  O Pacto de Varsóvia foi uma das muitas ferramentas desenvolvidas pelas superpotências em conflito como parte da distribuição das forças. A União Soviética repassou aos seus aliados do Pacto tecnologia e armamento que fossem capazes de competir com os Estados Unidos e seus aliados, em caso de uma Terceira Guerra Mundial na Europa. Possuía tanques T-72 e T-80, que rivalizavam com os M60 Patton e M1 Abram, respectivamente, helicópteros de ataque Mi-24 Hind contra os AH-1 Cobra e AH-64 Apache, aviões caça-tanques Sukhoi Su-25 Frogfoot contra os A-10 Thunderbolt II Warthog, caças MIG-29 e Sukhoi Su 27 contra os F-15 e F-16, rifles de assalto da família Kalashnikov contra os da família Colt, RPGs contra M-72 LAW, mísseis nucleares Foguete SS-18 Satan, SS-N-1 e SS-25 contra os LGM-30 Minuteman, LGM-118 Peacekeeper, Trident II, os mísseis de cruzeiro Scud contra os BGM-109 Tomahawk, sistema antimísseis SA-15 Gauntlet contra o Patriot, submarinos nucleares Typhoon contra os da classe Ohio. O Pacto não tinha porta-aviões para competir com os Estados Unidos, sendo o Almirante Kuznetsov terminado apenas depois do fim da URSS e do próprio Pacto de Varsóvia.
T-72 com Blindagem reativa
  Embora a Otan e o Pacto de Varsóvia não se tenham enfrentado em qualquer conflito armado direto, a Guerra Fria permaneceu ativa durante mais de 35 anos. Em dezembro de 1988, Mikhail Gorbachev, líder da União Soviética na época, anunciou a chamada Doutrina Sinatra, declarando que a Doutrina Brejnev seria abandonada e que os países da Europa Oriental poderiam fazer o que entendessem adequado, ou seja, poderiam fazer as reformas que bem entendessem e não teriam os países invadidos pelas tropas do Pacto, caso quisessem escolher o sistema capitalista e aderir à Otan.
  A validade da Doutrina Sinatra contribuiu para a aceleração das mudanças que varreram a Europa Oriental em 1989. Os novos governos do Leste Europeu eram menos propensos do que os anteriores para a manutenção do Pacto de Varsóvia e, em janeiro de 1991, a Tchecoslováquia, Hungria e Polônia anunciaram que iriam se retirar do Pacto em 1 de julho daquele ano. A Bulgária se retirou em fevereiro, e o Pacto foi dissolvido para todos os efeitos práticos. A solução oficial aceita pela União Soviética foi formalizada na Reunião de Praga, em 1 de julho de 1991.
Submarino classe Thyfoon Akula
  Durante os anos seguintes todos os soldados soviéticos estacionados em bases militares cedidas pelos governos da Alemanha Oriental, Polônia, Hungria e Tchecoslováquia tiveram que se retirar e voltar para a Rússia, e alguns deles acabaram ficando desempregados. Os políticos russos conseguiram, entretanto, compensações financeiras pela perda das bases militares. Os tratados que deram esse fim na presença militar soviética fora de suas fronteiras foram realizadas por Gorbachev e pagos com dinheiro da Alemanha Ocidental.
Varsóvia - capital da Polônia e onde se deu a criação do Tratado de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua (Pacto de Varsóvia)
O novo papel da Otan e o fim do Pacto de Varsóvia
  Após a crise dos países socialistas do Leste Europeu, no fim da década de 1980, o Pacto de Varsóvia esvaziou-se e acabou sendo dissolvido em 1991.
  Com o fim da Guerra Fria, a Otan vem passando por uma reestruturação e iniciou um processo de expansão para áreas do antigo bloco soviético na Europa.
  Em 12 de março de 1999, a República Tcheca, a Hungria e a Polônia ingressaram na organização. Em 2004, foi a vez de Bulgária, Romênia, Eslovênia, Eslováquia, Letônia, Lituânia e Estônia.
  A Otan constitui atualmente uma organização militar que oferece apoio e cooperação em matéria de segurança para a ONU, defesa contra o terrorismo e combate ao tráfico de drogas.
Países europeus integrantes da Otan até 2004
  Estrategicamente, a manutenção de uma organização militar que envolva a Europa e os Estados Unidos reduz a possibilidade de criação de uma organização dessa natureza representando a União Europeia.
  Assim, ampliar a atuação da Otan nos principais conflitos mundiais e processos de ocupação significativa ampliar a participação financeira da Europa nesses processos. A Otan, dessa forma, vem se colocando em posição de equilíbrio entre Estados Unidos e União Europeia, apesar dos desentendimentos entre ambos, como no caso da ocupação do Iraque, em 2003.
  Atualmente, fazem parte da Otan 29 países: Albânia, Alemanha, Bélgica, Bulgária, Canadá, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, França, Grécia, Hungria,  Islândia, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Montenegro, Noruega, Países Baixos (Holanda), Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Romênia e Turquia.
  Em maio de 2002, a Rússia e a Otan selaram um acordo de cooperação com a criação do Conselho Otan-Rússia. A partir de então, o país passou a participar das decisões dos países-membros em assuntos de interesses mútuo, como a definição de estratégias político-militares a serem aplicados no controle da proliferação de armas nucleares e no combate ao terrorismo.
Mapa da Otan com os respectivos anos de entrada dos países
REFERÊNCIA: Lucci, Elian Aliabi
Geografia: homem & espaço, 9º ano / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco. -- 27 ed. -- São Paulo: Saraiva, 2015.

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