sábado, 31 de março de 2018

AVANÇOS SOCIOECONÔMICOS NO NORDESTE

  No Brasil, a Constituição de 1988 marcou o início de um período de gradativa promoção de direitos, cidadania e melhorias nas condições de vida da população. Em anos recentes, as políticas e os programas de transferência de renda tornaram possíveis avanços socioeconômicos significativos, notadamente no Nordeste, e diminuíram as desigualdades no país, que, apesar disso, ainda continuam profundas.
ÍNDICE DE VULNERABILIDADE
  O Índice de Vulnerabilidade Social (VS) no Brasil caiu 27% entre 2000 e 2010, segundo estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O indicador que mede a exclusão social da população passou de 0,446 para 0,326 no período analisado. Com o resultado, o Brasil passou da faixa de alta vulnerabilidade social para a faixa de média do índice. Esse índice reúne 16 parâmetros de infraestrutura urbana, saúde, educação, renda e trabalho. Quanto maior o índice, piores são as condições de vida da população. O levantamento atualiza o índice dos 5.565 municípios brasileiros, segundo a avaliação feita em 2010.
Mapa de vulnerabilidade do Brasil de acordo com os Censos de 2000 e 2010
  A quantidade de municípios com vulnerabilidade social baixa ou muito baixa subiu de 638 para 2.326 em dez anos, segundo o documento. Os municípios com alta ou muita vulnerabilidade, que eram 3.610 em 2000, somaram 1.981 em 2010. A melhoria foi mais intensa nos indicadores de trabalho e renda, e menor na área de infraestrutura urbana, segundo o Ipea.
  Ao analisar os dados, o instituto reconhece a permanência de "um quadro de disparidades regionais", com a concentração das populações "mais vulneráveis" no Norte e Nordeste. O problema se agrava em estados como Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Maranhão, Pará, Pernambuco, Rondônia e em parte da Bahia. Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, cerca de metade dos municípios está na faixa de vulnerabilidade social, com IVS entre 0,2 e 0,3.
  O Ceará foi o segundo estado que mais avançou no Índice de Vulnerabilidade Social (IVS). Em 2011, o Estado apresentava IVS de 0,304, indicando nível "médio" quanto à condição de fragilidade dos indivíduos diante dos riscos produzidos pelo contexto econômico-social. Já em 2015, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), houve uma redução de cerca de 6%, passando para 0,286, ficando na categoria "baixa". O estado nordestino que apresentou o melhor resultado foi o Piauí, que apresentou um IVS de 0,285, que em 2011 tinha apresentado um IVS de 0,308.
  A pior situação entre os estados nordestinos foi a do Maranhão, que apresentou um IVS de 0,353.
Sobral (CE) - depois de Fortaleza é o município com o melhor IDH do estado
AUMENTO DA RENDA: 2000-2010
  De 2000 a 2010, a renda per capita nacional passou de R$ 592,46 para R$ 793,87, um aumento de 34%.
Melhoria do padrão de vida
  Apesar de o aumento da renda per capita ter sido mais acentuado no Nordeste, o nível de renda nessa Grande Região ainda é muito mais baixo que em outras (Centro-Oeste, Sul e Sudeste).
Mapa de "prosperidade social" de acordo com o Censo de 2010
  No Piauí, a renda per capita passou de 254,78 para 416,93 (variação de 63%, muito acima da média nacional). Para as famílias mais pobres, um aumento maior que R$ 160,00 representa mudanças no padrão de vida.
Redução da desigualdade
  Com as políticas sociais voltadas principalmente às populações mais pobres, a Grande Região Nordeste foi a que teve o maior aumento (52,8%) na renda per capita, que chegou a R$ 472,82. Apesar disso, a desigualdade ainda é enorme: segundo o Censo de 2010, apenas 12 municípios nordestinos tinham renda per capita média acima da nacional.
Apesar da melhora nos indicadores sociais do Nordeste nas duas últimas décadas, muita gente ainda vive em condições precárias de vida na região
PROGRESSO NAS CONDIÇÕES DE VIDA: 2000-2010
  A Constituição de 1988 estabeleceu metas para universalizar os serviços de saúde e educação. Nos anos 2000, esse processo de universalização foi intensificado.
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
  O IDH mede as condições de vida com base na esperança de vida ao nascer, na escolarização e na renda per capita da população. Esse índice varia de 0 a 1,0. O IDH brasileiro no período (2000-2010) passou de 0,612 para 0,727. A redução da desigualdade de renda e a melhoria na saúde, em especial nas regiões mais pobres do país, foram as principais responsáveis pelo aumento do índice. As regiões Norte e Nordeste foram as que representaram mais avanços no período. Mesmo assim, 61,3% dos municípios nordestinos apresentavam IDH baixo em 2010.
Mapa do IDH entre os estados brasileiros
  Em Alagoas, o IDH passou de 0,471 para 0,631 (diferença de 0,160). Alguns municípios da região Nordeste já desfrutam de um IDH elevado, a exemplo de Fernando de Noronha, Recife, Aracaju, Natal, Salvador e Fortaleza. Cerca de 70% dos mil municípios de menor IDH do país estão em áreas semiáridas ou sub-úmidas, mas não se pode afirmar uma relação direta entre pobreza e o clima semiárido, visto que várias cidades dessa área possuem IDH maior que outras de áreas úmidas, e que estados mais chuvosos, como o Maranhão e Alagoas, têm percentuais de extrema pobreza.
Nem sempre as condições climáticas são responsáveis pelos níveis de IDH, como é o caso do município de Belágua - MA, que apesar de está localizado em área de clima úmido, apresenta um elevado índice de pobreza na sua população
  O Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal, que mede o desenvolvimento humano, econômico e social dos estados e municípios, classificou os estados do Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco como os três melhores do Norte-Nordeste em qualidade de vida. Entre as capitais, Natal, Teresina, São Luís e Recife obtiveram os melhor índices.
  Em uma pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 2005, Aracaju foi apontada como a capital com a melhor qualidade de vida do Norte-Nordeste, classificando-a como a décima segunda melhor cidade do país para se viver, segundo o índice de satisfação dos seus habitantes. Contudo, tal fato foi questionado, visto que apenas 40% da capital sergipana possui saneamento básico.
Aracaju - SE
  A região Nordeste ainda sofre com o trabalho infantil, principalmente no interior, e com a prostituição infantil nos núcleos urbanos. Outros graves problemas são, assim como no resto do Brasil, o aumento da criminalidade, o inchaço das periferias das maiores cidades, a corrupção e o baixo desenvolvimento econômico do interior. Grande parte do Nordeste também enfrenta graves problemas com a desigualdade, tanto social quanto racial (Alagoas possui a maior diferença de IDH entre brancos e negros).
Mapas do Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios (IDHM) de acordo com os Censos de 1991, 2000 e 2010
  A ampliação do acesso aos serviços básicos de saúde, como postos de saúde e equipes médicas móveis, reduziu  algumas desigualdades regionais. De 2000 a 2010, enquanto a mortalidade infantil no Brasil caiu de 26 para 16 óbitos a cada 1.000 crianças nascidas vivas, no Nordeste caiu de 36 para 19.
  Cerca de 58,8% dos municípios que mais avançaram nos indicadores educacionais, como o percentual de adultos com Ensino Fundamental completo, estão localizados no Nordeste.
O trabalho infantil é uma tarefa longe de ser erradicado no Nordeste
REFERÊNCIA: Adas, Melhem
Expedições geográficas / Melhem Adas, Sérgio Adas. - 2. ed. - São Paulo: Moderna, 2015.

sexta-feira, 9 de março de 2018

OS POVOS PRÉ-COLOMBIANOS QUE VIVIAM NO NORTE E NA FAIXA CENTRAL DA AMÉRICA

  Muitos povos viviam nas terras que formam a atual América antes da chegada dos europeus. Alguns desses grupos tinham uma organização social e econômica bem desenvolvida. Conhecer povos do passado é fundamental para entender a origem de tradições presentes nos países.
  Além disso, esses povos fazem parte de uma herança cultural relevante, que se expressa na paisagem e nos costumes. A forma como transformam a natureza e produzem o espaço geográfico pode ser encontrada ainda hoje em reservas indígenas, ainda que alguns deles já vivam em cidades.
As primeiras nações, métis e inuítes
  Nas terras que hoje pertencem ao Canadá são reconhecidos três grandes grupos de povos indígenas: as chamadas "primeiras nações", os métis e os inuítes. Em 2011, segundo o Censo do Canadá, eles representavam cerca de 4,3% da população do país, com pouco mais de 1,4 milhão de pessoas de um total de cerca de 32,5 milhões de habitantes. Parte dos povos indígenas vive em reservas, áreas delimitadas e reconhecidas pelo Estado para uso e que colaboram com a manutenção de suas tradições, e parte vive em áreas urbanas.
Daniel Cranmer e Andy Everson (líderes das Primeiras Nações do Canadá) e a premiê da Colúmbia Britânica canadense Christy Clark
  A expressão "primeiras nações" é usada para identificar centenas de povos que ainda hoje mantêm suas tradições.  De acordo com o Censo canadense de 2011, integram as primeiras nações 617 comunidades, que correspondem a 50 povos, com 50 línguas definidas. Fazem parte desse grupo os hurons-wendat, caçadores que viviam em áreas que permitiam a agricultura e plantavam milho, feijão e abóbora.
Índios da nação Huron-Wendat
  Os hurons-wendat é uma comunidade que habita uma reserva no município de Wendake, na província de Quebec. Falantes da língua wendat, da família linguística iroquesa, foram os primeiros indígenas a terem contato com os colonizadores europeus. Atualmente, cerca de 3.500 pessoas vivem nessa província (Quebec). A maioria são católicos e falam o francês. São conhecidos por sua produção de artesanato e objetos tradicionais, como mocassins e raquetes de neve.
Botas artesanais produzidas pelos hurons-wendat
  Outro povo que se destaca nas "primeiras nações" é o tahltan, que fala a língua na-dene ou athabaskan. Assim como os hurons-wendat, esse povo também é caçador, além de pescar e colher frutos silvestres. Habitam uma área a noroeste da Colúmbia Britânica, centrada principalmente no rio Stikine. Atualmente, a comunidade desenvolve atividades para recuperar e manter suas tradições. Uma delas foi a criação de uma página na internet (http://didenekeh.com), na qual é possível aprender o na-dene. Além disso, eles criaram uma associação que busca defender seus direitos e organizar a atividade econômica.
Povos da nação Tahltan
  Os métis são identificados como descendentes gerados do casamento entre europeus com mulheres de origem indígena, uma vez que poucas mulheres europeias atravessaram o oceano na época da colonização. Eles falam o michif, uma língua que surgiu da combinação do francês com línguas nativas. A principal atividade desse povo era a caça de búfalos, mas depois eles passaram a atuar como intérpretes entre colonos e grupos indígenas, já que conheciam as duas tradições.
Pessoas de origem métis
  Os inuítes, são um povo que habita o norte do Canadá, em áreas com temperaturas baixíssimas. Caçadores e pescadores, eles inicialmente utilizavam osso e pele de animais para produzir suas vestimentas. Além disso, desenvolveram técnicas construtivas que geraram abrigos adaptados ao frio. Mais tarde, com a chegada dos europeus, vendiam peles em troca de alimentos. Ainda assim, preservam suas línguas originais, o inuktitut e o inuinnaqtun, idiomas oficiais no Território de Nunavut, reconhecido pelo governo canadense em 1999.
Crianças inuítes
  Os inuítes vivem no Ártico há milhares e conservam grandes experiências de sobrevivência no gelo. Além disso, são caçadores de focas muito habilidosos e grandes pescadores, o que lhes garante uma boa alimentação, mesmo no rigoroso inverno.
  Os inuítes são povos tradicionais que aprenderam a conviver com o clima polar e sua região. Ao longo de sua história, desenvolveram técnicas para a caça e a pesca em condições muito adversas, sob temperaturas muito baixas. Suas habilidades tradicionais permitiram a construção de moradias com materiais simples, mas que oferecem razoável segurança e conforto em relação às condições naturais. Possuem conhecimento astronômico muito rico, assim como a habilidade de se orientarem em meio à uniformidade das áreas cobertas por gelo. Atualmente, poucos deles vivem de acordo com suas tradições mais antigas. O contato com os europeus resultou na assimilação de técnicas, costumes e hábitos diferentes da sua tradição, inclusive são praticantes do cristianismo.
Inuíte em frente à sua habitação, o iglu
Cherokee e diné
  Nas terras que hoje pertencem aos Estados Unidos também havia muitos povos indígenas. De acordo com o Censo de 2010 dos Estados Unidos, declararam ter origem indígena cerca de 3,5 milhões de pessoas, distribuídos em reservas e em áreas urbanas. Estimativas dos pesquisadores apontam que eles eram cerca de 8 a 10 milhões antes da chegada dos europeus.
  Entre os grupos indígenas, os que se encontram em maior número são os cherokee (pouco mais de 875 mil indivíduos declararam ao Censo de 2010 ter origem nesse grupo indígena) e os navajo (cerca de 310 mil declararam-se oriundos desse grupo.)
Tribos indígenas dos Estados Unidos
  O grupo cherokee possui 144 escolas de nível básico e superior. Desse modo, conseguem manter sua língua, o cherokee, que foi unificada em um código em 1820. Por isso é possível encontrar textos antigos nesse idioma, bem como obras ocidentais traduzidas para a língua. A agricultura é praticada pelas mulheres, e a caça, pelos homens.
  O idioma cherokee é da família iroquois, que é uma língua polissíndeta escrita com um silabário (alfabeto em que cada símbolo representa uma sílaba inteira, não um único fonema), inventado pelo líder indígena Sequoyah. Acredita-se, atualmente, que já havia uma silabário ancestral que teria inspirado Sequoyah a criar o sistema.
Índios cherokee
  O povo navajo prefere usar a palavra diné para autorreferir-se. A língua usada por eles é o diné bizaad, que, como no caso dos cherokee, tem origem no ramo athabaskan. Eles eram caçadores. Hoje vivem em reservas e, também, em áreas urbanas.
  Os navajos entraram em conflito com os colonizadores espanhóis e mexicanos no fim do século XVIII e início do século XIX. Seus contatos com os espanhóis foi curto, mas importante, pois introduziram cavalos, ovinos e caprinos, o que deu grande impulso na economia. Em 1846, os navajos assinaram seu primeiro tratado com o governo dos Estados Unidos, mas alguns conflitos com as tropas do exército, motivados pela ganância, levaram às hostilidades em 1849.
Índios navajos
Olmecas e zapotecas
  Também havia povos que habitavam a região que se estende do atual México Meridional até a Guatemala. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estadística y Geografia do México, 6% da população do país, estimada em 105 milhões de habitantes, falava ao menos uma língua indígena.
Territórios indígenas do México
  Na faixa que vai da Guatemala ao sul do México estavam os olmecas, no período de 1250 a.C. a 400 a.C.. Estudos de arqueólogos apontaram que essas terras permitiam o cultivo do milho, pois eram férteis e também ocorriam chuvas regulares e temperaturas elevadas na região. Além de serem ótimos escultores, criaram também o primeiro calendário astronômico de que se tem notícia. Por isso, muitos arqueólogos acreditam que eles influenciaram as culturas que os sucederam.
  Os olmecas são a designação do povo e da civilização que estiveram na origem da antiga cultura pré-colombiana da Mesoamérica e que se desenvolveram nas regiões tropicais durante o período pré-clássico, próximo de onde hoje estão localizados os estados mexicanos de Vera Cruz e Tabasco. Crê-se que a cultura olmeca tenha sido a civilização-mãe de todas as civilizações mesoamericanas que se desenvolveram posteriormente.
Monumento 1, uma das quatro cabeças colossais encontradas em La Venta, com altura aproximada de 3 m3tros
  Os zapotecas criaram um sistema de escrita em que usavam glifos, que são símbolos gravados, para separar as letras. Acredita-se que esse sistema constituiu a base da escrita para as civilizações posteriores.
  Os zapotecas também construíram cidades monumentais, como Monte Alban (400 a.C a 700 d.C.), que está situada no estado de Oaxaca, no México. Estima-se que cerca de 50 mil pessoas viveram na cidade em seu auge. Considerada Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas, a Ciência e a Cultura (Unesco), essa cidade também era reconhecida por abrigar rituais religiosos, alguns envolvendo sacrifícios humanos. Os zapotecas desenvolveram uma agricultura muito variada e para ter boas colheitas rendiam culto ao Sol, à chuva, à terra e ao milho.
Monte Alban
Maias e toltecas
  Os maias surgiram por volta de 1000 a.C., e seu Império se estendia das terras da atual Guatemala até o Vale do Yucatán, no México. Conhecedor do calendário astronômico dos olmecas e da escrita zapoteca, esse povo também edificou grandes pirâmides.
  Ao contrário de outras civilizações, os maias não se organizaram politicamente através de uma estrutura de poder político centralizado. O esplendor da sociedade maia é fundamentalmente explicado pelo controle e as disciplinas empregadas no desenvolvimento da agricultura. Entre os vários alimentos que integravam a dieta alimentar dos maias, destacam-se o milho (produto de grande consumo), o cacau, o algodão e o agave. Para ampliar a vida útil de seus terrenos, os maias costumavam organizar um sistema de rotação de culturas.
Ruínas da antiga cidade-Estado maia de Zaculeu, nas terras altas da Guatemala
  O processo de organização da sociedade maia era bastante rígido e se orientava pela presença de três classes sociais. No topo da hierarquia encontramos os governantes, os funcionários de alto escalão e os comerciantes. Logo em seguida, vinham os funcionários públicos e os trabalhadores especializados. Na base da pirâmide ficavam os camponeses e trabalhadores braçais.
  Os maias criaram inovações técnicas na Astronomia. Eles construíram observatórios, como o Chichén Itzá (550 d.C.), por meio dos quais realizaram observações da Lua e de outros astros, como Vênus. Esses avanços técnicos os tornaram militarmente superiores a outros povos, que foram dominados pelos maias nessa época.
Chichén Itzá - localizado em Yucatán, México - mais importante cidade da antiga civilização maia
  Após o declínio de Teotihuacán, os toltecas, oriundos de áreas mais ao norte, ocuparam o México Central. Entre as cidades que construíram, Tula (900 d.C.) era a capital do Império, na qual se estima que viveram cerca de 30 mil pessoas. Ocuparam Chichén Itzá por cerca de 200 anos. A antiga capital tolteca revela pistas sobre as crenças e comportamentos de seus habitantes.
  No fim do século XII, Tula foi praticamente destruída, marcando o declínio dos toltecas. Mas ainda se encontram esculturas desse povo no sítio arqueológico que abrigou a cidade, a 84 quilômetros da capital mexicana. Com o aparecimento dos chichimecas, povo bárbaro que deu origem posteriormente ao Império Asteca, o império tolteca entrou em declínio.
Guerreiros toltecas representados pelos famosos Atlantes de Tula, no México
Mexicas
  Os mexicas, também chamados de astecas pelos colonizadores e historiadores europeus, consideravam-se descendentes dos toltecas, aos quais admiravam pela capacidade de construir enormes esculturas. Estima-se que os mexicas chegaram ao Vale do México entre 1200 e 1300 d.C., onde, em 1325, edificaram Tenochtitlán, cidade hoje enterrada no mesmo sítio que abriga a Cidade do México.
  Na época, Tenochtitlán estava localizada em uma ilha no Lago Texcoco. Ela foi alagada pouco antes da chegada dos espanhóis e praticamente reconstruída em poucos anos. Dotada de um sofisticado sistema de distribuição de água, chegou a abrigar mais de 100 mil pessoas.
Representação de Tenochtitlán, capital e maior cidade asteca
  Assim como os maias, os mexicas valorizavam os militares, o que os levou a dominar e escravizar muitos povos. O seu amplo domínio chegou ao seu apogeu no início do século XVI, e Montezuma II foi o maior imperador mexica.
  Entretanto, uma crença religiosa foi uma das razões do fim do Império. Os mexicas acreditavam que o deus Quetzalcóatl retornaria à Terra como humano, vindo do Oriente. Foi justamente do Oriente que surgiu Hernán Cortés (1485-1547), comandante espanhol que, montado em seu cavalo, foi associado ao deus mexica. Ele foi recebido no palácio de Montezuma II, que morreu pouco depois da chegada do colonizador.
Representação que marca a luta entre os espanhóis e os mexicas
  Os mexicas tinham armas e maior contingente, mas foram insuficientes para combater as armas de fogo e as armaduras espanholas. Isso resultou no pleno domínio dos mexicas pelos espanhóis. Em 1521, doenças como varíola e sarampo, trazidas pelos europeus, dizimaram a população mexica, que, segundo estimativas, chegou a cerca de 1 milhão de indivíduos, um décimo do que era antes dos conflitos com os invasores.
Sociedade mexica
REFERÊNCIA: Ribeiro, Wagner Costa
Por dentro da Geografia, 8º ano / Wagner Costa Ribeiro. - 3. ed. - São Paulo: Saraiva, 2015.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

A REGIÃO DE FLANDRES E O SEPARATISMO NA BÉLGICA

  Flandres é uma região localizada no norte da Bélgica. Nessa região, a língua predominante é o holandês (neerlandês), embora o dialeto local desta língua seja conhecida popularmente por flamengo, mesmo nome dado aos seus habitantes. Considera-se que o flamengo e o holandês seja uma mesma língua, embora com algumas variações regionais ao nível da terminologia. Ao sul da Bélgica, encontra-se a região da Valônia.
  A população flamenga é de origem predominantemente holandesa e a sua gênese remonta ao período em que Flandres ainda fazia parte dos Países Baixos (popularmente conhecida como Holanda). Há também uma diversidade de povos vindos de diferentes partes do mundo.
Mapa da Bélgica
  Durante a ocupação espanhola, muitos protestantes abandonaram a região (que hoje possui uma maioria católica) e mudaram-se para a República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos. Historicamente, a região de Flandres não possui uma religião oficial, mas predomina o catolicismo.
  Flandres é uma região administrativa e política belga criada desde a criação do país. Possui um governo, parlamento e receitas próprias, e tem procurado maior autonomia, sendo atualmente a de maior poder econômico da Bélgica.
  Flandres é dividido em províncias, cada uma com uma cidade principal. As províncias com suas respectivas capitais são: Antuérpia (Antuérpia), Limburgo (Hasselt), Flandres Oriental (Gent), Flandres Ocidental (Bruges) e Brabante Flamengo (Leuven). A capital da Bélgica, Bruxelas, é uma região autônoma, mas se localiza na região de Flandres.
Mapa da Bélgica dividido em regiões
  Devido sua localização estratégica (bem no meio das rotas comerciais da Europa e com a presença de grandes portos), Flandres tem uma história marcada por mudanças de poder,  conquistas e casamentos com intuitos políticos.
  Essa região da Bélgica é bastante famosa por sua arte flamenga (grande produção de cerveja artesanal, chocolate e a famosa Folha-de-Flandres) e por ser o berço de famosos artistas de estilo, principalmente grandes pintores (Jan Gossaert, Joachim Patinir, Jean Clouet, Rosso Fiorentino, Francesco Primaticio, Eyck, Rogier van de Weyden, Peter Paul Rubens, Hans Memling, Hugo van der  Goes, Hieronymus Bosch, Peter Bruegel, dentre outros).

Caronte atravessando o Estige, obra de Joachim Patinir
  As cidades de Flandres preservam toda a riqueza de sua história, do seu legado cultural e sua identidade. Pode-se visitar castelos e ver  as majestosas casas das guildas medievais em Bruxelas ou Antuérpia, dentre outras centenas de atrações.
  Todos os monumentos e locais de interesse estão concentrados numa pequena área, o que facilita o passeio, seja qual for a cidade escolhida. Flandres é também é famosa pela sua cerveja, pelos seus deliciosos chocolates e queijos e por sua fina culinária.
A Descida da Cruz - obra de Peter Paul Rubens, e que está exposta na Catedral de Antuérpia
  Conhecida por sua cultura da moda e como o centro mundial de diamantes, Antuérpia fica a cerca de 46 quilômetros da capital Bruxelas. Possui uma população de 523.432 habitantes (estimativa 2018) e é a cidade do pintor Peter Paul Rubens.
  Os principais pontos turísticos da cidade são: a Estação Central - Antwerpen Centraal Station - (construída no século XIX e considerada a mais bonita da Europa), o Castelo Het Steen (construído no início da Idade Média, é considerada a construção mais antiga da cidade), a Catedral de Nossa Senhora (Onze Lieve Vrouwekathedraal - construída no século XIV, possui uma torre de 123 metros de altura), o Forte Steen, o Grote Maarkt, entre outras.
Castelo Het Steen
O SEPARATISMO BELGA
  A história da fundação da Bélgica como país promoveu o surgimento de movimentos separatistas flamengos e valões. Do lado de Flandres, partidos como o Nieuw-Vlaamse Alliantie (Nova Aliança Flamenga) e o extremamente conservador Vlaams Belang (Interesse Flamengo) lutam pela separação da região.
  Questões socioeconômicas e étnicas são as principais causas da tensão entre duas regiões na Bélgica. Ao norte predomina a comunidade flamenga, na região de Flandres. Por meio de seu partido conservador, os flamengos querem a separação da região sul, conhecida como Valônia, onde a maioria da população é de origem francesa.
Antuérpia - Bélgica
  Esta questão tem sua gênese no passado da Bélgica, quando a Valônia era a região mais rica e o seu povo menosprezava Flandres e tudo o que dela vinha, pelo fato de se considerar que os flamengos eram de condições mais modestas. Nesse período, os flamengos foram oprimidos por falarem uma língua diferente do francês, considerada como inferior, e possuíam poucos ou quase nenhum direito civil, se comparados com os seus compatriotas da Valônia. Quando a situação se inverteu, muitos flamengos que se sentiam injustamente oprimidos, adotaram uma posição radical.
Boom - Bélgica
  Uma das grandes questões discutidas hoje é o conservadorismo dos valões. Apesar de o holandês ser uma das línguas oficiais da Bélgica, poucos francófonos fazem questão de o aprender, optando até mesmo pelo inglês, quando se trata de se comunicar com seus compatriotas do norte. Em contrapartida, os flamengos esforçam-se por aprender o francês (língua oficial da Valônia), assim como o alemão, que é falado em uma pequena parte do país (numa zona junto à fronteira alemã e que faz, oficialmente, parte da Valônia).
Grote Maarkt - Antuérpia
  Esta complexa situação está na origem da profunda crise política vivida pela Bélgica desde 2009, cujo aspecto mais visível é a dificuldade em constituir governo (como aconteceu em 2010-2011, quando o país ficou 541 dias sem governo). Entre os flamengos verifica-se uma significativa tendência para se defender a separação da Bélgica, ou seja, para obter a independência total de Flandres. A maioria, no entanto, rejeita esta solução, sendo favorável a uma maior autonomia. Por outro lado, existem camadas da juventude belga, tanto na Valônia como em Flandres, que começaram a manifestar-se em 2011 contra o bloqueio político provocado pelo conflito entre as regiões, ridicularizando-o sob a designação de "guerra das batatas fritas".
Essen - Bélgica
  Embora a dissolução de um Estado-membro da União Europeia levaria a admissão automática de estados resultantes, existem na Europa discrepâncias sobre a sua adequação, pois acredita que poderia ser o caminho para continuar a encorajar o separatismo em outras regiões, como o País Basco e a Catalunha na Espanha, ou a Escócia no Reino Unido.
  Em relação a isto e, dada a heterogeneidade cultural da população belga e suas semelhanças respectivas com os países próximos, alguns círculos conservadores propõem a dissolução da Bélgica e sua integração com os países vizinhos: Flandres aos Países Baixos, Valônia à França e a comunidade germanófona do leste da Valônia à Alemanha. Propõe-se também que, em tal caso, a cidade de Bruxelas se torne um assunto federal, administrado diretamente pela União Europeia, que agiria como a capital do bloco.
Bruxelas - capital da Bélgica
REFERÊNCIA: Projeto Apoema geografia 9 / Cláudia Magalhães... [et al]. -- 2. ed. -- São Paulo: Editora do Brasil, 2015. -- (Projeto Apoema; v.9).

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

A DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (DIT)

  Um dos grandes acontecimentos do século XX foi o fim dos impérios coloniais entre 1945 e 1975. As novas nações independentes, em sua maioria localizadas na África e na Ásia, passaram a fazer parte do grande bloco de países subdesenvolvidos, então chamados Terceiro Mundo, do qual também faziam parte as antigas colônias da América, com exceção dos Estados Unidos e do Canadá.
  Nesse contexto, estabeleceu-se a Divisão Internacional do Trabalho (DIT), denominação clássica que caracterizava as relações entre os países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos não industrializados.
  A DIT é uma divisão produtiva em âmbito internacional. Os países emergentes ou em desenvolvimento que obtiveram uma industrialização tardia e que possuem economias ainda frágeis e passíveis de crises econômicas, oferecem aos países industrializados um leque de benefícios e incentivos para a instalação de indústrias, tais como a inserção parcial ou total de impostos, mão de obra abundante e barata, entre outros.
  Com a independência política do então Terceiro Mundo e a oligopolização dos mercados, as empresas multinacionais, hoje chamadas, mais apropriadamente, transnacionais, mantiveram a sede em seu país de origem e abriram unidades de produção em países subdesenvolvidos para conseguir menores custos de matéria-prima, mão de obra, incentivos fiscais e mercado consumidor. Isso criou condições para que esses países se industrializassem. Foi o que aconteceu com Brasil, México, Argentina, Índia e África do Sul, em uma primeira etapa, e, mais tarde, com Cingapura, Taiwan, Coreia do Sul e Hong Kong, os chamados Tigres Asiáticos.
  Com a industrialização de alguns países subdesenvolvidos e a crescente movimentação de capitais na economia mundial, outra Divisão Internacional do Trabalho passou a vigorar com a DIT clássica, expressando as relações entre os países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos industrializados.
  Essa nova DIT é muito mais complexa, pois envolve o fluxo de mercadorias e de capital, de ambos os lados, isto é, os novos países industrializados deixaram de ser unicamente fornecedores de matéria-prima para os países desenvolvidos.
  A DIT direciona uma especialização produtiva global, já que cada país fica designado a produzir um determinado produto ou partes do mesmo, dependendo dos incentivos oferecidos em cada país. Esse processo se expandiu na mesma proporção que o capitalismo. Nesse sentido, um exemplo que pode ser dado é a montagem de um automóvel realizado na Argentina, porém, com componentes oriundos de diferentes países, como a parte elétrica e eletrônica de Taiwan, borrachas da Indonésia e assim por diante. Isso ocorre porque cada país oferece atrativos. Desta forma, o custo do produto final será menor, aumentando os lucros.
  Em meados do século XX, com a superação da crise, a economia retomou seu crescimento, fazendo com que a concentração empresarial se tornasse mais complexa. Foi quando surgiram os conglomerados, constituídos por empresas que diversificam sua produção para dominar a oferta de determinados produtos ou serviços. Geralmente, esses conglomerados são administrados por holdings (empresa criada para administrar outras), que pode ser definida como o estágio mais avançado do capitalismo monopolista.
  Também nesse período surgiram nova invenções, como os primeiros computadores (1946), o transistor (componente eletrônico utilizado como amplificador e interruptor de sinais elétricos) e os satélites artificiais, e novos materiais, como diversos tipos de plástico (desenvolvidos pela indústria petroquímica), fertilizantes agrícolas e inúmeros outros produtos que envolvem tecnologia de ponta e vultosos investimentos controlados por grandes corporações empresariais.
  Como consequência da utilização de novas tecnologias, o capitalismo foi se tornando informacional e incorporou cada vez mais o conhecimento à atividade produtiva, levando a economia a iniciar sua jornada rumo à globalização, aprimorando cada vez mais a DIT.
  Após a segunda metade do século XX, os computadores e as tecnologias de comunicação se aperfeiçoaram e permitiram o armazenamento de dados e a transmissão de informação com velocidade cada vez maior. Isso tornou possível a reestruturação do modo de produção capitalista, fazendo com que esse sistema entrasse na era informacional.
  A partir da década de 1970, o conhecimento tornou-se tão importante que empresas passaram a investir bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Nessa nova etapa da DIT, os avanços tecnológicos podem agregar mais valor aos produtos fabricados ou serviços oferecidos e proporcionar melhorias na produção por meio do processamento de informações e da expansão das atividades que fazem parte do setor terciário, como atividades financeiras, os transportes e os serviços em geral.
  Surge, assim, uma sociedade pós-industrial, chamada sociedade da informação, que se torna parte de uma economia global, devido às novas tecnologias de comunicação e de transporte. Os principais componentes dessa economia, como consumo, circulação, trabalho, matéria-prima, tecnologia e mercado funcionam em escala mundial, daí chamarmos globalização esse processo de fortalecimento do capitalismo.
  Assim, a dependência econômica dos fluxos informacionais garante poder a quem domina e controla suas tecnologias, tornando as regiões excluídas cada vez menos importantes no cenário da economia global e consolidando uma nova Divisão Internacional do Trabalho, na qual é possível distinguir:
  • produtores de alto valor, que mantêm seus negócios com base no trabalho informacional: centros industriais de alta tecnologia (informática, biotecnologia, robótica, telecomunicações, aeroespaciais, etc.), os chamados tecnopolos, como Bangalore (Índia), Campinas, São Carlos e São José dos Campos - SP (Brasil), Vale do Silício (Estados Unidos), Tsukuba (Japão), Taedok (Coreia do Sul), dentre outras;
  • produtores de grandes volumes, com trabalho de menor custo: países e regiões que obtêm grande produção com mão de obra não qualificada (de baixo custo), como México, Brasil, Argentina, China, dentre outros;
  • produtores de matérias-primas que são recursos naturais: a maioria dos países da África, da América Latina e da Ásia, que são produtores e exportadores de minérios e de produtos agrícolas. Esse grupo enfrenta também o fato de as matérias-primas estarem desvalorizadas em relação aos produtos de alta tecnologia;
  • produtores cujo trabalho perde valor nesse sistema: regiões nas quais o desemprego é expressivo e crescem o trabalho informal e o subemprego.
Bangalore - Índia
  Assim, a nova DIT não segue as fronteiras nacionais. As diversas categorias podem ser encontradas em um mesmo país, seja ele desenvolvido, seja ele em desenvolvimento. Um exemplo disso é o Brasil, que apresenta centros de alta tecnologia (Campinas, São José dos Campos e São Carlos); regiões com agroindústrias, como o planalto ocidental paulista, onde se encontram as cidades de Araçatuba, Presidente Prudente, Catanduva, entre outras; e centros produtores de matérias-primas minerais e agrícolas, como o Complexo de Carajás, no Pará.
Unidade de produção de laticínios da Nestlé, em Araçatuba - SP
  Três fatores conjugados dão aos lugares a diversificação de excelência: o conhecimento de altas tecnologias, o nível educacional da população e a mão de obra qualificada.
  A Divisão Internacional do Trabalho também provoca desigualdades. Os países emergentes ou em desenvolvimento, como México, Argentina, Brasil e outros, adquirem tecnologias a preços altos, enquanto que os produtos exportados pelos países citados não atingem preços satisfatórios, favorecendo os países ricos.
REFERÊNCIA: Almeida, Lúcia Marina Alves de
Fronteiras da globalização / Lúcia Marina Alves de Almeida, Tércio Barbosa Rigolin. -- 3. ed. --São Paulo: Ática, 2016.

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