quinta-feira, 12 de junho de 2014

NAVEGAÇÃO OCEÂNICA

  A navegação oceânica, também chamada de marítima, constitui, em termos quantitativos, o principal modo de transporte intercontinental de cargas. As cargas subdividem-se em três categorias: líquidos (petróleo e derivados), que representam mais de 40% do total; secos (como carvão, minérios, produtos florestais e agrícolas) e produtos finais (máquinas, equipamentos de transporte, alimentos, manufaturados em geral).
Petroleiro próximo a uma plataforma de petróleo na Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro
  O transporte marítimo ganhou forte impulso no século XIX, com os navios a vapor. A construção do Canal de Suez, inaugurado em 1869, possibilitou a ligação entre os mares Mediterrâneo e Vermelho, reduzindo as distâncias e o custo dos trajetos entre a Europa e a região do Oceano Índico. Mais tarde, o canal tornou-se a principal rota de petroleiros entre a área produtora do Golfo Pérsico e os mercados consumidores europeus.
  O Canal de Suez liga o porto egípcio de Said, no Mar Mediterrâneo, a Suez, no Mar Vermelho. Com extensão de 195 quilômetros, permite que embarcações naveguem da Europa à Ásia sem terem que contornar a África pelo Cabo da Boa Esperança. Antes da sua construção, as mercadorias tinham que ser transportadas por terra entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho.
  O canal não possui eclusas, pois todo o trajeto está ao nível do mar, contrariamente ao Canal do Panamá. O canal permite a passagem de navios de 22 metros de calado.
  Aproximadamente 15 mil navios por ano atravessam o canal, representando 14% do transporte mundial de mercadorias. Uma travessia demora de 11 a 16 horas.
Navios atravessando o Canal de Suez, no Egito
  No entanto, para que os navios petroleiros chegassem ao Canal de Suez, é preciso transpor dois estreitos estratégicos: o de Bab el Mandeb e o de Ormuz.
  O Estreito de Bab el Mandeb interliga o Mar Vermelho e o Oceano Índico, numa estreita passagem de 50 quilômetros que, caso fosse fechada, causaria enormes prejuízos, pois forçaria as embarcações a contornar o continente africano pelo Cabo da Boa Esperança.
  Em árabe Bab el Mandeb significa "Portão das Lágrimas" e separa a Ásia (Iêmen) da África (Djibouti). O seu nome deriva dos perigos que rondam a sua navegação ou, de acordo com uma lenda árabe, da quantidade de pessoas afogadas pelo sismo que teria separado o continente asiático do africano. Possui uma grande importância estratégica e comercial, sendo uma das rotas marítimas mais navegadas do mundo.
  Provavelmente, o Estreito de Bab el Mandeb tenha sido testemunha das primeiras emigrações do continente africano, entre 85 mil e 75 mil anos. Nesse período os oceanos possuíam um nível muito mais baixo e os estreitos eram menos largos ou mais secos.
Mapa do Estreito de Bab el Mandreb
  O Estreito de Ormuz, serve como porta de saída para o Oceano Índico de 88% do petróleo exportado do Golfo Pérsico. É um pedaço de oceano relativamente estreito entre o Golfo de Omã ao sudeste e o Golfo Pérsico ao sudoeste. Na sua costa norte está o Irã e na costa sul os Emirados Árabes Unidos e um enclave de Omã.
  Próximo da costa norte situam-se algumas ilhas, que incluem Kish, Queixome, Abu Musa e as Tunbs Maior e Menor. Essas ilhas possuem uma enorme posição estratégica, funcionando como plataformas de controle do tráfego marítimo, além de ser uma importante rota de escoamento de petróleo oriundo dos países produtores da região.
Mapa do Estreito de Ormuz
  A construção do Canal do Panamá, completada em 1914, interligou os oceanos Pacífico e Atlântico por meio do istmo centro-americano. No início, o canal funcionou como rota entre as costas leste e oeste dos Estados Unidos. Depois, tornou-se a principal via de circulação entre o leste dos Estados Unidos e a Europa Ocidental, de um lado, e os países a Bacia do Pacífico, do outro.
  O Canal do Panamá é um canal marítimo com 81 quilômetros de extensão. É considerado como um ponto importante para o comércio internacional devido a grande diminuição do percurso feito pelos navios.
  Esse canal possui dois grupos de eclusas no lado do Pacífico (Pedro Miguel e Miraflores) e um no lado do Atlântico (Gatúm).
  Atualmente, o Canal do Panamá é responsável por cerca de 5% do comércio mundial, e por ano passam cerca de 15 mil navios. As principais trajetórias saem do litoral leste norte-americano com destino, principalmente, à costa oeste da América do Sul. Há também um fluxo da Europa para a costa oeste dos Estados Unidos e do Canadá.
Canal do Panamá
  Todo este tráfego converge para um ponto estratégico, o Estreito de Malaca, localizado entre a Indonésia e a Malásia. Com uma extensão de 800 quilômetros e variando de 50 a 300 quilômetros de largura, é o maior estreito utilizado pela navegação internacional. Por ali passam cerca de 50 mil navios por ano, o que representa 30% do comércio mundial e 80% do Japão.
  O Estreito de Malaca é a principal passagem marítima entre os oceanos Índico e Pacífico e encontra-se entre a Península Malaia e a ilha de Sumatra, na Indonésia.
  Esse estreito é uma das mais antigas e importantes vias marítimas do mundo. Nas proximidades de Cingapura o estreito se restringe a uma largura mínima de 2,5 km, o que torna a navegação mais difícil devido ao intenso tráfego. Em suas águas ocorrem numerosos episódios de pirataria. Outro problema para a navegação é a intensa fumaça, provocada pelas queimadas na ilha de Sumatra, que reduz a visibilidade por até 200 metros e provoca a diminuição da velocidade do tráfego marítimo.
Navios circulando no Estreito de Málaca
  Embora as redes de oleodutos sejam uma alternativa para o transporte de petróleo, como ocorre entre a região do Mar Cáspio e a Europa Central, a opção por navio ainda é mais barata. A construção de cargueiros cada vez maiores é uma tendência para manter baixos os custos de fretes, mas algumas classes de superpetroleiros e supergraneleiros, por causa do seu calado, não podem passar pelos canais transoceânicos ou mesmo por certos estreitos do Sudeste Asiático. Assim, as rotas pelo Cabo da Boa Esperança, no sul da África, e pelo Estreito de Magalhães, no sul da América, foram revalorizadas. Ao mesmo tempo, velhos portos foram ampliados, com a modernização dos seus equipamentos, e surgiram inúmeros novos terminais especializados.
  O Cabo da Boa Esperança, ou primitivamente conhecido como Cabo das Tormentas, localiza-se ao sul da Cidade do Cabo e a oeste da Baía Falsa, na província do Cabo Oriental, na África do Sul. É considerado um dos grandes cabos dos oceanos meridionais, e teve especial significado para os marinheiros durante vários séculos.
  É uma importante rota dos navios que saem da América do Sul e se destinam ao Extremo Oriente e a Austrália.
Cabo da Boa Esperança
  O Estreito de Magalhães é uma passagem navegável de aproximadamente 600 km, localizado no sul da América do Sul. Situa-se entre a Terra do Fogo e o Cabo Horn a sul. Este estreito é a maior e mais importante passagem natural entre os oceanos Atlântico e Pacífico. O estreito é conhecido também pela dificuldade de navegação, devido ao clima hostil e à sua pequena largura. Antes da criação do Canal do Panamá, o Estreito de Magalhães era a única passagem de travessia do Atlântico para o Pacífico.
Mapa do Estreito de Magalhães
  A localização dos maiores portos oceânicos reflete a distribuição dos principais fluxos do comércio mundial e a situação geográfica dos polos econômicos globais.
PORTOS MAIS MOVIMENTADOS DO MUNDO
1. Porto de Xangai - China
  O Porto de Xangai, na China, está localizado mas redondezas da cidade chinesa de Xangai e é o porto mais ativo do mundo em toneladas transportadas. O porto pode ser caracterizado como marítimo ou fluvial, devido ao fato de tanto o Mar da China Oriental e a Baía de Hangzhou quanto os rios Yang-tsé e Huangpu serem usados para o atracamento dos navios. Compreende um porto de águas profundas e um porto fluvial. Por esse porto entra a maioria dos produtos importados pela China e, naturalmente, saem toneladas de material que a China exporta para quase todos os países do mundo.
Porto de Xangai, na China
2. Porto de Ningbo-Zhoushan - China
  Formada como uma iniciativa de colaboração entre o porto de Ningbo e Zhoushan no ano de 2006, o porto de Ningbo-Zhoushan é o segundo maior porto do mundo. Apoiando três rios - o Yang-tsé, o Yong e o Qaintang - o porto deverá ter um grande impulso com a construção de um grande terminal - o Dapukuo Jintang -, composto por cinco leitos e que deverá está em pleno vapor até o final de 2014.
Porto de Ningbo-Zhoushan, na China
3. Porto de Cingapura - Cingapura
  O Porto de Cingapura, que já foi considerado o maior do mundo, caiu algumas posições e agora está em terceiro lugar. Do ponto de vista da economia do país, esse porto desempenha um papel muito importante para Cingapura, pois atende ao mercado de re-exportação em uma escala gigantesca. Está conectado a mais de 600 portos em mais de uma centena de países. Abrange todas as instalações e terminais que mantêm o fluxo comercial marítimo do país. Esse porto é responsável por metade do suprimento anual de óleo cru para navegação.
Porto de Cingapura
4. Porto de Roterdã - Países Baixos (Holanda)
  O Porto de Roterdã, na Holanda, junto à foz do Rio Reno, concentra grande parte do comércio das áreas mais industrializadas da União Europeia e movimenta cerca de 300 milhões de toneladas de carga ao ano.
  O Porto de Roterdã é o maior porto marítimo da Europa. Localizado na cidade de Roterdã, na Holanda do Sul - Países Baixos. De 1962 até 2004 foi o maior porto do mundo.
  Todos os anos, cerca de 300 milhões de toneladas de mercadorias são transportadas por este porto. Seu calado permite que os navios carreguem até 350 mil toneladas. Existe um grande ponto para importação de frutas cítricas na Europa e vários pontos de distribuição de mercadorias asiáticas, mas, a maior área de concentração do porto está reservada à indústria, principalmente a química e a petroquímica.
Porto de Roterdã
5. Porto de Tianjin - China
  Situado no Rio Haihe, o Porto de Tianjin é o quinto maior porto do mundo e o terceiro maior da China. Atualmente, está conectado a mais de 400 portos em cerca de 200 países. Todos os anos, cerca de 300 milhões de toneladas de mercadorias são transportadas por esse porto. É o principal ponto para o transporte de produtos do norte da China.
Porto de Tianjin
6. Porto de Guangzhou - China
  Maior porto do sul da China, o porto de Guangzhou goza de conectividade com mais de 300 portos em quase 100 países. Constitui a principal base para o cinturão industrial das regiões de Guangxi, Yunnan, Hunan e Jiangxi. O porto de Huangpu também faz parte do porto de Guangzhou. Esse porto serve como importante centro econômico e de transporte para o delta do Rio das Pérolas.

Porto de Guangzhou
7. Porto de Qingdao - China
  O Porto de Qingdao localiza-se na península de Shandong, leste da China. Foi construído em 1892 e se divide atualmente em três partes: zona antiga, atraque para navios petroleiros e zona nova de Qianwan. Possui 15 terminais e 73 atracadouros. É um porto de negócios de contêineres, carvão, óleo pesado, minerais ferrosos e cereais, estando conectado a mais de 450 portos de mais de 130 países e regiões, sendo um importante elo de transporte marítimo e comércio internacional na costa ocidental do Pacífico.
Porto de Qingdao
8. Porto de Qinhuangdao - China
  Operando há três décadas e localizado no Mar Bohai, é o porto mais importante para o transporte de carvão da China, sendo também o maior porto de embarque de carvão do mundo, responsável por quase 50% do transporte carbonífero do país entre o norte e o sul.
Porto de Qinhuangdao
9. Hong Kong - China
  O Porto de Hong Kong é um porto natural, situado no Mar da China Meridional e tem sido fundamental na promoção econômica da cidade. Serve de elo entre dois tipos de transporte: o marítimo, que envolve grandes embarcações do Pacífico, e o fluvial, que compreende as embarcações menores. É também o único porto de águas profundas totalmente modernizado.
Porto de Hong Kong
10. Porto de Busan - Coreia do Sul
  O porto de Busan é o maior porto da Coreia do Sul. Situado no rio Naktong, forma uma grande rota comercial entre o Oceano Pacífico e os países da Eurásia. Está prevista a construção de um novo porto, que deve ser confluído em 2015.
Porto de Busan
PRINCIPAIS PORTOS DO BRASIL


1. Porto de Santos
  O porto de Santos, localizado entre os municípios de Santos e Guarujá - SP, é o principal porto do Brasil. O Complexo Portuário de Santos responde por mais de um quarto da movimentação da balança comercial brasileira e inclui na pauta de suas principais cargas produtos como açúcar, soja, cargas conteinerizadas, café, milho, trigo, sal, polpa de fruta, suco de laranja, papel, automóveis, álcool e outros granéis líquidos. É o porto mais movimentado do Brasil e da América Latina.
Porto de Santos
2. Complexo Portuário do Espírito Santo
  O Complexo Portuário do Espírito Santo é um dos mais importantes do Brasil. É responsável por cerca de 9% do valor exportado e por 5% do valor importado pelo país. No total, movimenta cerca de 45% do PIB do Espírito Santo. Sua estrutura permite a movimentação de diversos tipos de carga. É composto pelos seguintes portos:
  • Porto de Vitória
   Localizado na capital capixaba e administrado pela Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa), movimenta contêineres e carga geral por meio dos terminais Cais de Vitória, Companhia Portuária de Vila Velha (CPVV), terminal de Vila Velha (TVV), Capuaba, Peiú, Paul/Codesa e Flexibrás.
Porto de Vitória
  • Porto de Tubarão
  Localizado no município de Tubarão - ES -, esse porto é administrado pela Vale e é o maior exportador de minério e pelotas de ferro do mundo. O minério de ferro vem, em grande parte, do Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, escoado por meio da Estrada de Ferro Vitória-Minas. Permite o acesso de graneleiros de grande porte. Além do minério de ferro, movimenta diversas outras cargas, como grãos e combustíveis.
Porto de Tubarão
  • Porto de Praia Mole
  Localizado no município de Vitória - ES -, é constituído pelo Terminal de Produtos Siderúrgicos (TPS), operado pelo consórcio ArcelorMittal Tubarão, Usiminas e Gerdau Açominas, é responsável por 50% das exportações brasileiras de produtos siderúrgicos e pelo Terminal de Carvão, operado pela Vale, que é responsável pela importação de carvão que atende a essas usinas siderúrgicas.
Terminal Portuário de Praia Mole
  • Porto de Ubu
  Localizado no município de Anchieta, no sul do Espírito Santo, é um terminal operado pela Samarco Mineração. Foi construído para escoar a produção de pelotas de minério de ferro e também movimenta cargas diversas para consumo da empresa e de terceiros.
Porto de Ubu
  •  Portocel
  Também chamado de Porto de Barra do Riacho, está localizado no município de Aracruz, no norte do Espírito Santo. Atende as unidades da Fibria, Veracel, Bahia Sul/Suzano e Cenibra. É o maior porto brasileiro especializado no embarque de celulose, sendo considerado um dos mais eficientes do mundo. Com três berços em operação e capacidade anual para 7,5 milhões de toneladas, responde por 70% das exportações de celulose do Brasil.
Portocel
  • Terminal Vila Velha (TVV)
  Localizado no município capixaba de Vila Velha, é o único especializado em contêineres no Espírito Santo, sendo operado pela Vale, por meio da Log-In Internacional e Logística. É uma excelente alternativa para operações de importação e exportação de contêineres e carga geral, destacando-se como um dos mais produtivos terminais brasileiros nesse segmento.
Complexo Portuário de Vila Velha
  • Companhia Portuária de Vila Velha (CPVV)
  Localizado no município de Vila Velha, é controlado e operado pelo Grupo Coimex, atendendo as operações de offshore de exploração e exportação de petróleo no Espírito Santo. Tem registrado significativo volume de atracações e de serviços prestados às grandes corporações petrolíferas.
Companhia Portuária de Vila Velha (CPVV)
3. Porto de Paranaguá
  O Porto de Paranaguá, localizado no município paranaense é o porto que mais exporta produtos agrícolas no Brasil, com destaque para a soja em grãos e farelo de soja, sendo também o maior porto graneleiro da América Latina. Exporta e importa grãos, fertilizantes, contêineres, líquidos, automóveis, madeira, papel, sal, açúcar, entre outros. A maioria dos navios oriundos de outros países são provenientes dos Estados Unidos, China, Japão e Coreia do Sul.
Porto de Paranaguá
4. Porto do Rio Grande
  O Porto do Rio Grande está localizado na margem direita do canal do norte, que liga a Lagoa dos Patos ao Oceano Atlântico, no município gaúcho de Rio Grande. A barra do porto é mantida graças a dois molhes construídos na boca do canal de acesso. Movimenta cerca de 150 milhões de toneladas por ano, equivalente a 3% de toda movimentação nacional.
Porto do Rio Grande
5. Porto do Rio de Janeiro
  Localizado na cidade do Rio de Janeiro, capital carioca, esse porto atende os estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, sudoeste de Goiás, entre outros. É um dos mais movimentados do país quanto ao valor de mercadorias e tonelagem. Os principais produtos escoados são minério de ferro, manganês, carvão mineral, trigo, gás natural e petróleo. É administrado pela Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ).
Porto do Rio de Janeiro
6. Porto de Itajaí
  O Porto de Itajaí, localizado na cidade catarinense de Itajaí, é o segundo maior do país em movimentação de contêineres, atuando como porto de exportação e escoando quase toda a produção de Santa Catarina. Os principais produtos exportados são madeira, pisos cerâmicos, máquinas, açúcar, papel e fumo, e os principais produtos importados são trigo, produtos químicos, motores, têxteis, papel e pisos cerâmicos.
Porto de Itajaí
 7. Porto de Pecém - CE
  O Terminal Portuário de Pecém está localizado no município de São Gonçalo do Amarante - CE -, e opera sob a modalidade  de Terminal de Uso Privativo Misto. É administrado pela Companhia de Integração Portuária do Ceará (CearáPortos). Localizado em uma área estratégica para a movimentação de cargas para a Europa e a América do Norte, foi projetado no modelo offshore (permite a atracação de navios a certa distância da costa). O porto conta com um Terminal de Insumos e Produtos Siderúrgicos e Carga Geral (PÍER 1), um Terminal de Petróleo/Derivados e Granéis Líquidos (PÍER 2), ponte de acesso de 2.142 metros de extensão, pátio de armazenagem de carga e pier (passarela sobre água) de rebocadores.
  Atualmente, o Porto de Pecém é um dos líderes de movimentação de frutas e calçados, o terceiro em produtos siderúrgicos e o segundo no transporte de algodão. A maioria das frutas exportadas saem do Estado ou do vizinho Rio Grande do Norte, como melão, melancia, mamão, manga, banana e castanha de caju, cujo destino principal são Holanda, Grã-Bretanha, Estados Unidos e Alemanha.
Porto de Pecém
7. Porto de Suape
  Localizado entre os municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho - PE -, o Porto de Suape é um dos que mais cresce no Brasil. Seu projeto foi baseado na integração porto-indústria, espelhado em modelo de países como França e Japão. Sua área de influência abrange todo o estado de Pernambuco, Alagoas e Paraíba.
  Atualmente, o porto já movimenta mais de 5 milhões de toneladas de carga por ano, destacando-se os granéis líquidos (derivados de petróleo, produtos químicos, álcool combustível, óleos vegetais, alimentos, entre outros).
Porto de Suape
  Numa época de crescente globalização econômica, a situação das economias nacionais em relação aos mares é crucial. Uma das notáveis vantagens comparativas dos países asiáticos de industrialização recente consiste no fato de estarem localizados em rotas oceânicas destacadas. Já o continente africano, em virtude do traçado de suas fronteiras políticas, apresenta a desvantagem de concentrar países sem saídas marítimas. Nesses países, conectados a portos estrangeiros por ferrovias arcaicas ou rodovias precárias, os custos totais de transporte chegam a representar 40% do valor das exportações.
Mapa das principais rotas comerciais da atualidade
FONTE:Terra, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral / Lygia Terra, Regina Araújo, Raul Borges Guimarães. - 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2009.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

UMA CAATINGA MENOS ÁRIDA

  Iniciativas como o armazenamento de água têm mudado a imagem do Semiárido nordestino.
  Caminhar pela região do Semiárido brasileiro no período de chuva é se deparar com uma realidade muito diferente daquela consagrada pelo imaginário da seca e da pobreza. Nessa época do ano, conhecida entre os sertanejos como inverno e que compreende os meses de novembro a abril, a Caatinga - que em tupi significa "mata branca" - se reveste de tons verdes.
  Na região do Araripe, no Sertão de Pernambuco, bem como em todo o Sertão nordestino, algumas das tecnologias que visam melhorar o convívio com o clima do Semiárido do Nordeste brasileiro, como as cisternas, reservatórios subterrâneos que captam e armazenam a água da chuva, já estão presentes na vida de muitos agricultores e têm conseguido garantir um inverno mais longo e farto.
Mapa da região do Araripe
  Na comunidade de Vidéu Velho, no município de Ouricuri, que está distante 620 quilômetros de Recife, a família de dona Maria Viana tem colhido os frutos que a água pode oferecer. Beneficiada pelo Programa Um Milhão de Cisternas, criada pela organização não governamental ASA (Articulação no Semiárido Brasileiro) ela não apenas lutou pela construção da cisterna calçadão - que consiste em um calçadão de cimento de 200 m², de onde a água escorre para uma cisterna de 52 mil litros, como trabalhou na construção dela.
  Além da cisterna a família recebeu uma espécie de "bolsa cisterna", que inclui sementes de hortaliças, mudas de árvores frutíferas, um lote com dez galinhas poedeiras e um galo, além de um casal de suíno ou caprino. Recebeu também um kit para irrigação por microaspersão e cursos de capacitação para o uso racional da água, para a produção agroecológica e para a irrigação.
Dona Maria Viana e sua cisterna calçadão
  Iniciativas de convivência com o Semiárido procuram prolongar os benefícios da chuva por meio de tecnologias simples de armazenamento de água, numa tentativa de desacelerar o processo de evaporação.
  Outro problema que contribui para o problema do armazenamento da água é a composição do subsolo. Cerca de 70% da área do Semiárido é formada por rochas cristalinas rasas, que dificultam a formação de rios perenes e tornam a água salinizada, imprópria para o consumo humano.
  Dentro desse contexto de chuvas irregulares, déficit hídrico por conta da rápida evaporação e solo com alto índice de infiltração, o segredo para melhorar a vida do sertanejo passa, obrigatoriamente, por um mecanismo eficiente de armazenamento da água que cai do céu, a cisterna. E esse mecanismo tem mudado a paisagem do Sertão e a vida do sertanejo. No Sertão, sempre dissemos que o problema não é a seca, mas a cerca.
Mapa do semiárido nordestino
  O Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) é uma das ações do Programa de Formação e Mobilização Social para a convivência com o Semiárido da ASA. Ele vem desencadeando um movimento de articulação e de convivência sustentável como o ecossistema do Semiárido, através do fortalecimento da sociedade civil, da mobilização, do envolvimento e capacitação das famílias, por meio de uma proposta de educação processual.
  O objetivo do P1MC é beneficiar  cerca de cinco milhões de pessoas em toda a região semiárida com água potável para beber e cozinhar, através das cisternas de placas. Juntas, elas formam uma infraestrutura descentralizada de abastecimento com capacidade para acumular mais de 16 bilhões de litros de água.
  O programa é destinado às famílias com renda de até meio salário mínimo por membro da família, incluídas no Cadastro Único do governo federal e que contenham o Número de Identificação Social (NIS). É preciso também o beneficiado residir na zona rural e não ter acesso ao sistema público de abastecimento de água.
Residências beneficiadas com o P1MC
  Abaixo temos algumas tecnologias que estão mudando a vida de muitos sertanejos nordestinos.
Cisterna
  A cisterna é uma tecnologia popular para a capacitação da água da chuva, onde a água que escorre do telhado da casa é captada pelas calhas e cai direto na cisterna, onde é armazenada. Com capacidade para 16 mil litros de água, a cisterna supre a necessidade de consumo de uma família de cinco pessoas por um período de oito meses de estiagem.
  Dessa forma, o sistema de armazenamento por cisterna representa uma solução de acesso à água para a população rural de baixa renda do Semiárido brasileiro. Além da melhoria na qualidade da água consumida, a cisterna reduz o aparecimento de doenças em adultos e crianças.
Cisterna
Cisterna-calçadão
  A cisterna-calçadão capta a água da chuva por meio de um calçadão de cimento de 200 m², construído sobre o solo. Com essa área do calçadão, 300 mm de chuva são suficientes para encher a cisterna, que tem capacidade para 52 mil litros. Por meio de canos, a chuva que cai no calçadão escoa para a cisterna, construída na parte mais baixa do terreno e próxima à área de produção.
  O calçadão também é usado para secagem de alguns grãos como feijão e milho, raspa de mandioca, entre outros. A água captada é utilizada para irrigar quintais produtivos, plantar fruteiras, hortaliças e plantas medicinais, além da criação de animais.
Cisterna-calçadão
Cisterna-enxurrada
  Há também a cisterna-enxurrada, que tem capacidade para acumular 52 mil litros e é construída dentro da terra, ficando somente a cobertura de forma cônica acima da superfície. O terreno é utilizado como área de captação. Quando chove, a água escorre pela terra e antes de cair para a cisterna passa por duas ou três pequenas caixas, uma seguida da outra, que são os decantadores. Os canos instalados auxiliam o percurso da água que escoa para dentro do reservatório. Com a função de filtrar a areia e outros detritos que possam seguir junto com a água, os decantadores retêm esses resíduos para impedir o acúmulo no fundo da cisterna.
  A retirada da água da cisterna-enxurrada é feita por meio de uma bomba de repuxo manual. A água estocada serve para a criação de pequenos animais, cultivo de hortaliças e plantas medicinais e frutíferas.
Cisterna-enxurrada
Barreiro trincheira
  Outra tecnologia utilizada pelo sertanejo para a convivência com a seca é o barreiro trincheira, que são tanques longos, estreitos e fundos escavados no solo. Partindo do conhecimento que as famílias têm da região, o barreiro trincheira é construído em um terreno plano e próximo ao terreno da área de produção. Com capacidade para armazenar, no mínimo, 500 mil litros de água, o barreiro trincheira tem a vantagem de ser estreito, o que diminui a ação do vento e do sol sobre a água. Isso faz com que a evaporação seja menor e a água permaneça armazenada por mais tempo durante o período de estiagem.
  A tecnologia armazena água da chuva para a dessedentação animal e para a produção de verduras e frutas que servirão à alimentação da família, garantindo a soberania e a segurança alimentar. O excedente do que é produzido pode ser comercializado, garantindo a geração de renda para as famílias.
Barreiro trincheira
Barragem subterrânea
  A barragem subterrânea é outra tecnologia de sobrevivência do semiárido. É construída em áreas de baixios, córregos e riachos que se formam no inverno. Sua construção é feita escavando-se uma vala até a camada impermeável do solo, a rocha. Essa vala é forrada por uma lona de plástico e depois fechada novamente. Desta forma cria-se uma barreira que "segura" a água da chuva que escorre por baixo da terra, deixando a área encharcada.
  Para garantir água no período mais seco do ano são construídos poços há uma distância aproximada de cinco metros da área do barramento. O poço serve para retirar a água armazenada na barragem que pode ser utilizada para pequenas irrigações, possibilitando a produção durante o ano inteiro. No inverno é possível plantar culturas que necessitam de mais água, como arroz e alguns tipos de capim. Dependendo do tipo de cultura implantada pode-se ter mais de uma colheita por ano. A barragem subterrânea pode também ser de cimento.
Construção de uma barragem subterrânea de lona
Tanque de pedra
  Outra técnica que está sendo muito utilizada pelo sertanejo é o tanque de pedra. Os tanques de pedra são reservatórios feitos com as rochas típicas da paisagem do semiárido, que retêm a água da chuva e ajudam a matar a sede de muitos agricultores. São fendas largas, barrocas ou buracos naturais, normalmente de granito, construídas em áreas de serra ou onde existem lajedos, que funcionam como área de captação da água da chuva. As formações rochosas que afloram na superfície terrestre de muitos municípios nordestinos garantem água limpa para muitos agricultores. Quando cheios, os tanques de pedra podem armazenar mais de 100 mil litros de água, dependendo do tamanho do mesmo.
Tanque de laje de pedra
Barraginhas
  As barraginhas têm entre dois e três metros de profundidade, com diâmetros que variam de 12 a 30 metros. É construída no formato de uma concha ou semicírculo. O reservatório armazena água da chuva por um maior período. A recomendação é que sejam sucessivas. Assim, quando uma sangrar a água pode abastecer a seguinte. A umidade no entorno também é favorável ao plantio de milho, feijão, maxixe, melão, pepino e outras frutas, verduras e legumes.
  A tecnologia dá condições para um manejo agroecológico das unidades produtivas familiares e mobiliza as famílias para uma ação coletiva. Também melhora a qualidade do solo por acumular matéria orgânica e mantém o microclima ao redor da barraginha mais agradável.
Barraginha
Bomba d'água popular
  A bomba d'água popular aproveita os poços tubulares desativados para extrair água subterrânea por meio de um equipamento manual, que contém uma roda volante. Quando girada, essa roda puxa grandes volumes de água, com pouco esforço físico. Pode ser instalada em poços de até 80 metros de profundidade. Nos poços de 40 metros, chega a puxar até mil litros de água em um período de uma hora.
  É uma tecnologia de uso comunitário, de baixo custo e fácil manuseio. Se bem cuidada, pode durar até 50 anos. A água da bomba tem vários usos: produzir alimentos, dar de beber aos animais e usar nos afazeres domésticos. Geralmente, cada bomba beneficia cerca de 10 famílias.
Bomba d'água popular
Bioágua
  Diferente das tecnologias de captação de água, o bioágua favorece as famílias com o objetivo de reaproveitar a água de uso doméstico para a produção de alimentos, através da irrigação por gotejamento.
  O processo da bioágua é simples: a água cinza (toda a água utilizada na residência) é coletada na residência, passa por uma caixa de gordura - que é um primeiro filtro bem simples e que retém as gorduras contidas na água, principalmente da cozinha e do chuveiro. Logo após a água entra num filtro biológico caseiro, que é feito de duas camadas de material orgânico, húmus de minhoca e serragem de madeira, e três camadas de material inorgânico, que é areia lavada, brita de pedras e seixos. O filtro deve ser coberto para proteger do sol e da chuva.
Bioágua
Barragem sucessiva de contenção de sedimentos
  A barragem sucessiva de contenção de sedimentos é uma estrutura construída com pedras soltas, cuidadosamente arrumadas e em formato de arco romano deitado, realizada na rede de drenagem da microbacia hidrográfica, em pequenos tributários ou riachos afluentes de um rio de maior ordem hidrográfica.
  Essa barragem tem por finalidades: promover o assoreamento ou sedimentação gradativa dos leitos erodidos e rochosos dos pequenos cursos; reduzir o assoreamento dos reservatórios e rios; promover o ressurgimento da biodiversidade da caatinga; disponibilizar água para múltiplos usos;  favorecer a disponibilidade diversificada de alimentos no fundo do vale; dentre outros inúmeros benefícios.
  Com o acúmulo dos sedimentos trazidos pelas águas dos rios ou riachos, cria-se um pequeno lençol freático dentro da barragem e uma pequena fonte por trás da mesma, ou seja, a água vai ficar retida juntamente com a areia e aos poucos vai sendo liberada.
  Esse tipo de construção além de ser uma das mais baratas é também muito fácil de se fazer.
Barragem de contenção de sedimentos feito por Dean Carvalho, de Carnaúba dos Dantas - RN, mais conhecido por "Aventureiro da Caatinga"
Fonte: RIBEIRO, E. W. Seca e Determinismo: a gênese do discurso do Semiárido nordestino. Anuário do Instituto de Geociências - UFJR, Rio de Janeiro, v. 22, 1991.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

HISPANO-AMERICANISMO E PAN-AMERICANISMO

  O hispano-americanismo era o conjunto das ideias e dos sentimentos que ligava a Espanha e a América espanhola.
  A América Hispânica, ou América espanhola, se refere à parte da América colonizada por espanhóis - incluindo os de língua não-castelhana, como bascos, galegos e catalães. Estas populações representam a maior parte dos hispanófonos no mundo, e são chamados de "hispano-americanos".
  A América hispânica inclui países da América do Norte, América Central e América do Sul, que têm a língua espanhola como idioma oficial, ou co-oficial.
  É uma região cultural, incluída na América Latina, integrando 19 nações com cerca de 400 milhões de habitantes. Apesar de estar dentro da América Latina, distingue-se dela por não incluir as nações americanas francesas e portuguesas, além das nações saxônicas.
América Hispânica
  O pan-americanismo foi uma tentativa de unificar todos os territórios da América espanhola, formando uma superpotência. Ela foi idealizada em 1826 pelo criollo venezuelano Simón Bolívar depois de ter lutado junto com o governador da província de Mendonza, San Martín, contra o domínio e a exploração espanhola, e de ter feito independente vários territórios da América espanhola. Porém, essa tentativa de unificação fracassou pela oposição da Inglaterra e dos Estados Unidos, que eram contra a formação de uma nova superpotência, já que isso poderia ameaçar os planos de ambos.
FORMAÇÃO DOS ESTADOS LATINO-AMERICANOS
  Parte dos países da América originou-se no início do século XIX, a partir de lutas pela independência nas colônias sob o domínio de Espanha e Portugal. Nesse processo, a América hispânica se desmembrou em várias repúblicas, ao passo que na América portuguesa a emancipação política constituiu o Império do Brasil.
  Na América Central Continental ou Ístmica, a formação dos Estados independentes ocorreu entre 1821 e 1848, com exceção de Belize, dominado pelo Reino Unido até 1981, e do Panamá, criado como Estado independente em 1903 pelo desmembramento do território da Colômbia, decorrente de pressões exercidas pelos Estados Unidos, que desejavam construir o Canal do Panamá.
Independência da América espanhola
Independência dos países sul-americanos
  Na América hispânica, as lutas pela libertação colonial foram influenciados pelos ideais que mobilizaram a Independência dos Estados Unidos (1776), acontecimento que abriu caminho para o surgimento da primeira república da América, os Estados Unidos da América do Norte, por meio da Declaração de Independência.
  A Declaração da Independência dos Estados Unidos da América foi o documento no qual as Treze Colônias da América do Norte declararam a sua independência do Reino Unido, bem como justificativas para o ato. Foi ratificado no Congresso Continental em 4 de julho de 1776, considerado o dia da independência dos Estados Unidos.
Declaração da Independência dos Estados Unidos
  Além disso, a Revolução Francesa (1789), ao abolir a servidão e pôr fim aos privilégios da nobreza, teve alcance revolucionário que extrapolou os limites da França, influenciando o modo como muitos americanos entendiam sua relação com os colonizadores ibéricos.
  A Revolução Francesa (1789-1799) foi um período de intensa agitação política e social na França, que teve um impacto duradouro na história do país e, mais amplamente, em todo o continente europeu. A monarquia absolutista que tinha governado a nação durante séculos entrou em colapso. A sociedade francesa passou por uma grande transformação, quando privilégios feudais, aristocráticos e religiosos deixaram de existir e grupos radicais de esquerda, as massas menos privilegiadas e os camponeses, lutaram por mudanças que atingiram não só a França, mas toda a Europa e também as colônias europeias em diversas partes do mundo.
Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789. Início da Revolução Francesa
  Os movimentos a favor da independência acirraram-se em 1808, depois que as tropas francesas de Napoleão Bonaparte invadiram a Espanha. Enfraquecida, a metrópole espanhola não podia lutar contra os insurgentes na América.
  Em 1810 iniciou-se o processo de libertação das colônias espanholas nas Américas do Sul e Central.
  Na América do Sul, sob o comando de líderes militares, como o venezuelano Simón Bolívar, o argentino José de San Martín e o chileno Bernardo O'Higgins, os exércitos conquistaram a vitória contra a metrópole espanhola por meio de duas ofensivas: a capitaneada por San Martín partiu do sul do continente para o norte, saindo de Buenos Aires, e, depois de libertar a Argentina, atravessou os Andes para auxiliar Bernardo O'Hoggins a libertar o Chile e ainda invadiu o Peru; a liderada por Simón Bolívar saiu do norte e caminhou para o sul, tendo partido de Caracas para libertar sucessivamente a Venezuela, a Colômbia, o Equador e o Peru, onde os dois generais libertadores completaram as guerras de independência, em 1824.
Quadro de Pedro Subercaseaux "El Abrazo de Maipú
Independência dos países da América Central
  Em 1823, Costa Rica, Nicarágua, Guatemala, Honduras e El Salvador se agruparam formando as Províncias Unidas da América Central. No entanto, o confronto entre grupos de interesses diversos levou ao início de sua desagregação em 1838 e à formação dos atuais países da América Central Continental.
  As Províncias Unidas da América Central, ou Estados Unidos da América Central, foi uma república federal situada na América Central Continental, e sua formação foi baseada no modelo de formação dos Estados Unidos. A federação teve sua Constituição aprovada em 1824. Em meados da década de 1830, foi criada uma nova república, Los Altos, com capital em Quetzaltenango, a qual ocupava parte daquilo que hoje são as terras altas da Guatemala e o Estado mexicano de Chiapas.
Mapa das Províncias Unidas da América Central
  Nas Antilhas, o processo de independência foi mais tardio, com exceção do Haiti, que obteve sua independência em 1804. A República Dominicana tornou-se independente em 1865, após várias tentativas sem sucesso.
  Cuba conseguiu sua independência somente em 1898. Entretanto, seu território foi ocupado militarmente pelos Estados Unidos entre 1899 e 1902. As tropas estadunidenses foram retiradas após conseguirem que o governo cubano aprovasse o projeto de lei (a chamada Emenda Platt), por meio do qual os Estados Unidos, ao se sentirem prejudicados em seus negócios em Cuba, poderiam interferir nos assuntos internos do país. Cuba libertou-se da Espanha, mais foi submetida à área de influência dos Estados Unidos - situação que se estendeu até 1959, quando ocorreu a Revolução Cubana.
  Por meio da Emenda Platt, o território cubano passou a ser um protetorado estadunidense, restringindo o exercício soberano da política externa e comercial de Cuba.
  O processo de autonomia das Pequenas Antilhas teve início por volta da segunda metade do século XX. Em outubro de 2010, as ilhas de Curaçao e São Martinho, até então colônias da Holanda, tornaram-se territórios autônomos. Contudo, ainda restam nas Pequenas Antilhas territórios dependentes do Reino Unido, da Holanda, da França e dos Estados Unidos.
O HISPANO-AMERICANISMO DE SIMÓN BOLÍVAR
  Simón Bolívar defendeu um projeto de união política, econômica e militar entre as repúblicas hispano-americanas recém-independentes. Desejava formar uma confederação de Estados que se estenderia da Argentina ao México.
  Bolívar convocou os Estados da América Latina recém-libertos para o Congresso do Panamá, em 1826, a fim de discutir a união. O Congresso do Panamá ocorreu de junho a julho de 1826, e estiveram presentes os representantes do México, da Federação Centro-Americana, da Grã-Colômbia (Colômbia, Venezuela e Equador) e do Peru (que incluía também a Bolívia). Estiveram ausentes os países já independentes do continente americano: Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai, Brasil, Estados Unidos e Haiti.
  Nesse congresso foi estabelecido os seguintes princípios:
  • Firmaram, numa eterna aliança, uma confederação das repúblicas hispânicas, com o objetivo de defesa comum, solução pacífica de conflitos e preservação da integridade dos territórios dos estados-membros;
  • abolição do tráfico de escravos africanos;
  • estabelecia o contingente dos efetivos militares, no Exército e na Marinha, buscando um equilíbrio entre as forças dos estados-membros;
  • fixava as futuras reuniões do congresso, a serem realizadas em tempos de paz ou de guerra.
Simón Bolívar
  No entanto, forças contrárias à formação da confederação de Estados impediram que ela se concretizasse: a Inglaterra e os Estados Unidos não desejavam que a confederação se tornasse realidade, pois ela poderia contrariar os interesses econômicos e políticos desses dois países na vasta região.
  As principais forças contrárias estavam no próprio território da pretendida confederação: a sua extensão, a dificuldade de integração diante de uma geografia de montanhas (os Andes) e as rivalidades entre as oligarquias regionais, desejosas de ter o domínio político e econômico sobre os seus territórios. Assim, a formação da "Pátria Grande" sonhada por Bolívar acabou se dissipando.   Após o fracasso do Congresso do Panamá, a própria Grande Colômbia, que fora presidida por Bolívar, fracionou-se em 1830, dando origem à Venezuela, à Colômbia e ao Equador, e, em 1839, as Províncias da América Central também se separaram.
  A Grande Colômbia ou Grã-Colômbia é o nome do Estado-Império, estabelecido pelo chamado Congresso de Angostura. Na prática foi uma junta de governantes ou vice-presidentes liderados por Simón Bolívar existente entre 1819 e 1831, formado pelos antigos territórios do Vice-reino de Nova Granada, Capitania Geral da Venezuela e Real Audiência de Quito e terras conquistadas por anexação ou guerra.
Mapa da Grande Colômbia
O PAN-AMERICANISMO DOS ESTADOS UNIDOS E DA AMÉRICA LATINA
  No decorrer dos séculos XIX e XX, sucessivos governos estadunidenses buscaram promover e consolidar seu domínio nas Américas. Existiram quatro fases de relacionamento entre os Estados Unidos e a América Latina.
  • Primeira fase: consolidação de poder na esfera regional (1823-1889)
  Ao mesmo tempo que ocorria o processo de independência da América hispânica, em 1823 o presidente dos Estados Unidos, James Monroe (1817-1825), pronunciou um discurso dirigido ao Congresso daquele país em que lançou a doutrina que leva o seu sobrenome - a chama Doutrina Monroe -, baseada no princípio "A América para os americanos".
  Primeira visão pan-americanista estadunidense, a Doutrina Monroe defendia que, em nome de sua segurança, esse país não poderia permitir que nenhuma potência europeia voltasse a estabelecer domínio sobre os territórios do continente americano.
  O pensamento de James Monroe consistia em três pontos:
  • a não criação de novas colônias nas Américas;
  • a não intervenção nos assuntos internos dos países americanos;
  • a não intervenção dos Estados Unidos em conflitos relacionados aos países europeus como guerras entre estes países e suas colônias.
James Monroe e sua doutrina "A América para os americanos"
  A Doutrina Monroe reafirmava a posição dos Estados Unidos contra o colonialismo europeu, inspirando-se na política isolacionista de George Washington, no seu discurso de despedida da presidência dos Estados Unidos, em 17 de setembro de 1796, segundo a qual "a Europa tinha um conjunto de interesses elementares sem relação com os nossos ou senão muito remotamente" e desenvolvia o pensamento de Thomas Jefferson, segundo o qual "a América tem um Hemisfério para si mesma", o qual tanto poderia significar o continente americano como o seu próprio país.
George Washington - primeiro presidente dos Estados Unidos
  Se por um lado, a doutrina reafirmava a independência das antigas colônias da América, por outro, dava sinais do desejo de transformar a América  Latina em área de influência política e econômica dos Estados Unidos.
  As ideias da Doutrina Monroe foram recuperadas na primeira Conferência Pan-Americana de Washington, realizada entre os anos de 1889 e 1890, ocasião que marcou a inauguração da política pan-americana dos Estados Unidos. Essa foi a primeira de uma série de conferências convocadas pelo governo dos Estados Unidos para promover o comércio entre os países americanos, adotar medidas para a resolução pacífica de disputas territoriais e afastar definitivamente os europeus. Com isso, consolidariam sua hegemonia política e dominariam o comércio no continente.
Delegados que participaram da Primeira Conferência de Washington
  • Segunda fase: intervenção, cooperação e imperialismo (1889-1945)
  Em 1904, o presidente estadunidenses Theodore Roosevelt divulgou o Corolário Roosevelt, um conjunto de ideias que defendiam o direito de intervenção militar dos Estados Unidos na América Latina, alegando que isso ocorreria sempre que seus países violassem direitos internacionais ou se mostrassem com dificuldades em "manter a ordem" no interior de suas fronteiras.
  Conhecida como política do Big Stick (Grande Porrete), o Corolário Roosevelt foi expresso na Mensagem Anual do Presidente ao Congresso dos EUA de 1904. Os Estados Unidos se declararam dispostos a ocupar militarmente países que estivessem passando por uma crise devido a sua dívida externa. Na Mensagem, Roosevelt expressou sua convicção de que uma nação que consegue manter a ordem e cumprir com suas obrigações não precisa temer a intervenção dos Estados Unidos. No entanto, uma "nação civilizada" como os Estados Unidos teria que assumir o papel de "polícia do mundo", e ser obrigada a intervir, no caso de um enfraquecimento dos laços da sociedade civilizada em outros países.
Cartoon que ilustra o Big Stick (Grande Porrete)
  O maior resultado dessa política foi submeter pela força militar países da América Central para consolidar o domínio dos Estados Unidos, como também diminuir a influência das potências europeias na América. Para isso, o governo dos Estados Unidos usou o sistema de protetorado.
  O Corolário Roosevelt foi motivado pela reação violenta do Reino Unido, Itália e Alemanha à crise da dívida venezuelana em 1902 e 1903. Essa política foi lembrado por presidentes dos EUA nas intervenções norte-americanas em Cuba (1906-1910), Nicarágua (1909-1911, 1912-1925 e 1926-1933), Haiti (1915-1934) e República Dominicana (1916-1924).
  O Corolário Roosevelt foi suplantado pela Política da Boa Vizinhança, apresentada no discurso inaugural de Franklin Roosevelt, em 1933.
Theodore Roosevelt (1858-1910)
 Roosevelt e a Política da Boa Vizinhança
  Em 1933, iniciou-se nos Estados Unidos o primeiro mandato presidencial de Franklin Delano Roosevelt, que permaneceu no cargo até 1945. Esse presidente anunciou a substituição da política do Big Stick pela Política da Boa Vizinhança, que procurou estimular a negociação diplomática e a colaboração militar e econômica dos Estados Unidos com os países latino-americanos.
  Oficialmente essa política consistia em investimentos e venda de tecnologia norte-americana para os países latino-americanos, mas em troca, esses deveriam dar apoio à política norte-americana. Ela consistia de um esforço para aproximação cultural entre os EUA e a América Latina, cujas relações vinham se deteriorando devido ao forte intervencionismo norte-americano durante a política do Big Stick.
  Essa nova política permitiu aos Estados Unidos conservar sua hegemonia no continente americano e fortalecer a sua política externa, o que era importante para que o país se recuperasse da crise de 1929 - pois poderia contar com mercado consumidor externo e fornecedores de matérias-primas - e pudesse instalar bases militares em países da América Latina durante a Segunda Guerra Mundial.
O presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt (sentado à direita) e o presidente brasileiro Getúlio Vargas (sentado à esquerda), no Rio de Janeiro, em 1936, quando o presidente norte-americano veio ao Brasil para formalizar o acordo de segurança coletiva continental.
  • Terceira fase: a Guerra Fria e a Doutrina de Contenção (1947-1989)
  Durante a Guerra Fria, período marcado pela disputa mundial por poder entre os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), a política estadunidense para a América Latina foi remodelada, passando a ser orientada segundo a Doutrina de Contenção, que pretendia impedir a expansão do socialismo no mundo. Esta política foi uma resposta a uma série de jogadas da União Soviética para expandir a influência comunista na Europa Oriental, China, Coreia e Vietnã.
  Para alcançar esse objetivo, várias estratégias foram desenvolvidas pelos Estados Unidos, como a criação do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar) e da Organização dos Estados Americanos (OEA), e a realização de vários tipos de intervenções nos países latino-americanos.
Charge ironizando a Guerra Fria
Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar)
  O Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, também conhecido pela sigla Tiar ou como Tratado do Rio, é um tratado de defesa mútua celebrado entre os diversos países americanos.
  O Tiar foi assinado em 1947, na Conferência Interamericana para a Manutenção da Paz e da Segurança, realizada em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Ainda em vigor nos dias atuais, estabeleceu o direito à legítima defesa de um país ("defesa individual") ou de vários países americanos ("defesa coletiva"), em caso de ataque armado por parte de qualquer Estado.
  O princípio básico do Tiar consiste na ideia de que um ataque armado contra um Estado americano é considerado uma agressão contra todos os demais do continente, que ficam, assim, obrigados a se mobilizar contra um eventual Estado agressor.
Países membros do Tiar (azul escuro) e os que deixaram o tratado (azul claro)
A Organização dos Estados Americanos (OEA)
  Por iniciativa dos Estados Unidos, em 30 de abril de 1948 foi criada a OEA, na IX Conferência Interamericana, realizada em Bogotá. Todos os países do continente passaram a fazer parte desse organismo internacional (exceto Cuba, que foi expulsa em 1962 por alinhar-se à URSS).
  A OEA tem por objetivo promover a solidariedade entre os países-membros e o auxílio mútuo em questões econômicas, políticas, técnicas e científicas. Também como o Tiar, considera que a agressão externa a um dos países-membros significa agressão a todos.
  A Carta da Organização dos Estados Americanos foi assinada por 21 países, reunidos em Bogotá, Colômbia, onde a organização definia-se como um organismo regional dentro da Organização das Nações Unidas (ONU). Os países-membros se comprometiam a defender os interesses do continente americano, buscando soluções pacíficas para o desenvolvimento econômico, social e cultural.
  Membro fundador
  Membro subsequente
  Não-membros
  Em 11 de setembro de 2001 foi assinada a Carta Democrática Interamericana entre todos os países-membros da OEA. Este documento visa fortalecer o estabelecimento de democracias representativas no continente.
Estados Unidos: intervenções e apoio às ditaduras na América Latina
  Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos realizaram vários tipos de intervenções em países da América Central para impedir que se alastrassem regimes políticos antiamericanos na região. Além disso, apoiaram golpes de Estado contra governos eleitos democraticamente na América do Sul, por entenderem, entre outros motivos, que os governantes golpistas poderiam agir de modo mais eficiente contra a ameaça que consideravam ser o socialismo. Dentre essas intervenções estão: Guatemala (1954), Cuba (1959), República Dominicana (1965), Ilha de Granada (1983-1984), Nicarágua (1988) e Panamá (1989).
  No Brasil, com o apoio político e do serviço secreto dos Estados Unidos, deu-se um golpe de Estado em 1964, contra o presidente João Goulart, e implantou-se a ditadura militar, regime que vigorou no país por mais de vinte anos (até 1985).
  Outros golpes de Estado também instalaram regimes militares autoritários no Uruguai (1973), no Peru (1962 e 1968), no Equador (1963), em Honduras (1963), no Chile (1973), na Argentina (1976), entre outros.
  Durante as ditaduras, milhares de pessoas, por serem contrárias ao regime, foram mortas, torturadas, presas e dadas como desaparecidas pelos militares.
Intervenções militares dos Estados Unidos em alguns países da América Latina
  • Quarta fase: o pós-Guerra Fria (1989 até os dias atuais)
  Após vários acontecimentos mundiais que contribuíram para o fim da Guerra Fria entre os anos 1989 e 1991, os Estados Unidos continuaram a exercer influência no continente americano.
  Entretanto, com a desagregação da União Soviética em 1991 e a crise do socialismo, a Doutrina de Contenção perdeu o sentido e teve de ser substituída por outras ações para que os Estados Unidos mantivessem sua hegemonia econômica e pudessem contornar problemas internacionais, como terrorismo, tráfico de drogas, migrações, entre outros.
Após os atentados de 2001, as atenções dos EUA se voltaram para o terrorismo
FONTE: Adas, Melhem. Expedições geográficas / Melhem Adas, Sérgio Adas. - 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2011.

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