sexta-feira, 18 de abril de 2014

DESCOBERTO PLANETA SEMELHANTE À TERRA

  Astrônomos anunciaram a descoberta do primeiro exoplaneta (planeta fora do Sistema Solar) com um tamanho comparável ao da Terra e no qual poderá existir em estado líquido. Ele encontra-se na zona habitável de uma outra estrela.
  O planeta, batizado Kepler-186f, orbita a estrela anã Kepler-186 e se localiza na "zona temperada, onde a água pode ser líquida", de acordo com a astrônoma Elisa Quintana, do Instituto de Pesquisa de Inteligência Extraterrestre, da Agência Espacial Norte-americana (Nasa), que integra a equipe internacional que conduziu a investigação. Essa zona é considerada habitável, uma vez que, segundo os cientistas, a vida - que depende da presença de água - tem mais probabilidade de se desenvolver.
  O Kepler-186f encontra-se num sistema estelar situado a 490 ano-luz do Sol, com cinco planetas de tamanho próximo ao da Terra, sendo 1,1 vez o tamanho do nosso planeta. Porém, só o Kepler-186f está na "zona habitável" , já que os outros estão muito próximo da estrela.
  De acordo com cientistas, uma volta completa do Kepler-186f é de 129,9 dias terrestres. Isso significa que lá o ano tem cerca de um terço do nosso.
Simulações entre a Terra e o Kepler-186f
  O sol de Kepler 186-f é uma estrela com cerca de 50% do tamanho da nossa estrela-mãe. O grupo estrelar está localizado a uma distância de 490 anos-luz do nosso sistema solar.
  Além do tamanho parecido com a Terra, o planeta está a uma distância de seu sol que garante a quantidade certa de radiação para manter uma temperatura necessária para a existência de água líquida na superfície terrestre.
  Kepler-186f também não sofre o risco de sofrer uma chamada "trava gravitacional", que é quando o planeta fica sempre com a mesma face virada para a estrela, como acontece com a Lua em relação ao nosso planeta.
Simulação das órbitas da Terra e de Kepler-186f
  Entre os cerca de 1,7 mil exoplanetas já detectados, em 20 anos, duas dezenas estão ao redor da sua estrela na "zona habitável". Muitos desses planetas são maiores do que a Terra, o que torna difícil verificar se são gasosos ou rochosos. Localizado na Constelação do Cisne, o Kepler-186f está na categoria de planetas rochosos como a Terra, Marte e Vênus.
  Em fevereiro, a Nasa anunciou que o telescópio Kepler tinha detectado 715 novos exoplanetas, quatro deles potencialmente habitáveis, mas 2,5 vezes o tamanho da Terra. A maioria desses novos extrassolares foi identificada nos últimos cinco anos.
  O Kepler foi lançado em 2009 para detectar mais de 150 mil estrelas semelhantes ao Sol, localizadas nas constelações do Cisne e da Lira, e encontrar planetas-irmãos da Terra.
  Um desses planetas é o Kepler-22b, que encontra-se cerca de 600 ano-luz de distância e tem cerca de 2,4 vezes o tamanho da Terra, com uma temperatura de cerca de 22ºC.
Simulação entre os tamanhos de Netuno, Kepler-22b e a Terra
  Kepler-22b está 15% mais perto de seu sol do que a Terra em relação à nossa estrela-mãe, e seu ano dura cerca de 290 dias. No entanto, Kepler-22b tem cerca de 25% menos luz, mantendo a temperatura do planeta amena o suficiente para apoiar a existência de água em estado líquido. Porém, os cientistas ainda não sabem se Kepler-22b é um planeta feito de gás, rocha ou líquidos.
Comparação entre Kepler-22b e os planetas mais próximos do Sistema Solar
FONTE: Agência Brasil

domingo, 13 de abril de 2014

O CALDEIRÃO CULTURAL E OS CONFLITOS EXISTENTES NA REGIÃO DA ANTIGA UNIÃO SOVIÉTICA

  A fronteira da Rússia é um caldeirão explosivo. A desintegração da União Soviética provocou uma onde separatista e de disputas que não foram resolvidas até hoje. São um terreno fértil para a guerra de influência entre potências. Transnístria, Nagorno-Karabakh, Ossétia do Sul e Ossétia do Norte, Abkházia, Chechênia, Crimeia, entre outras regiões, engrossam a lista dos conflitos não resolvidos. São os pontos em que o Ocidente teme uma ingerência maior da Rússia.
  A situação atual da Crimeia não apenas evidencia o que muitos  veem como renovadas ambições expansionistas da Rússia de Vladimir Putin. Também desperta preocupação entre os vizinhos do país do Leste Europeu, trazendo à tona conflitos que estavam esquecidos no tempo e que foram originados após a desintegração da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1991.
  Para muitos analistas, o presidente russo, Vladimir Putin, deseja conter a influência dos Estados Unidos e da União Europeia com uma espécie de União da Eurásia. Desde que assumiu o poder, em 2000, Putin deseja voltar a fazer de Moscou uma grande potência global.
Vladimir Putin - presidente da Rússia
O CALDEIRÃO CULTURAL DA CEI (COMUNIDADE DOS ESTADOS INDEPENDENTES)
  Em 8 de dezembro de 1991, os presidentes da Rússia, da Ucrânia e de Belarus assinaram um documento que sinalizava a criação da Comunidade dos Estados Independentes (CEI). A CEI é uma organização supranacional criada para implementar um mercado econômico comum e promover relações amistosas e de cooperação entre os países-membros. Era composta por doze das quinze repúblicas que pertenciam à antiga União Soviética - Rússia, Belarus, Ucrânia, Moldávia, Azerbaijão, Armênia, Geórgia, Turcomenistão, Quirguistão, Cazaquistão, Tadjiquistão e Uzbequistão -, deixando de participar os países Bálticos (Letônia, Estônia e Lituânia), devido serem mais ligados economicamente aos países da Europa Ocidental, principalmente os países nórdicos. Em 2008, após conflito entre a Geórgia e a Rússia motivado por disputas territoriais, a Geórgia abandonou o bloco, e o recente conflito entre Rússia e Ucrânia pela região da Crimeia levará à Ucrânia a desistir desse bloco.
Mapa da CEI
  Existe uma grande diversidade étnico-cultural na população da CEI. No vasto território desse conjunto geoeconômico e político são faladas cerca de 112 línguas, subdivididas em vários dialetos locais.
  O grupo mais numeroso é o eslavo, formando cerca de 75% da população, que compreende russos (a nacionalidade mais numerosa), ucranianos e bielorrussos - também denominados de russos-brancos.
  Os povos não eslavos, habitantes da Ásia Central, representam 25% da população total e compreendem várias culturas. Os mais numerosos são os uzbeques, cazaques, turcomenos, azerbaijanos, quirguizes e iakutes, que pertencem ao grupo dos turco-tártaros. Armênios, fino-úgricos, latinos e outros grupos completam esse mosaico de povos.
Mapa étnico dos países que faziam parte da antiga URSS
  A religião dos povos eslavos é predominantemente cristã ortodoxa e a dos não eslavos é a muçulmana, com exceção dos armênios, que são cristãos. Além desses grupos, há minorias étnicas como os fineses e os lapões, habitantes da tundra do noroeste da Rússia, os koriaços e os samoiedas, da Sibéria, além de muitos outros.
  Após a desagregação da União Soviética e o fim do socialismo real, as ex-repúblicas soviéticas, na condição de Estados independentes, optaram pela economia de mercado ou capitalismo. Assim, abriram as fronteiras ao capital externo e iniciaram um processo de privatização das empresas estatais.
  A transição do socialismo para o capitalismo causou impactos não só na economia, mas, sobretudo, nas condições sociais. A desagregação repentina acabou provocando um empobrecimento generalizado da população em decorrência de o Estado deixar de fornecer vários serviços e produtos à população.
Mendigo nas ruas de Moscou
  Além disso, com o fim da União Soviética e o consequente afrouxamento das relações de controle e dominação de Moscou sobre as ex-repúblicas, vários conflitos territoriais, étnicos ou de nacionalidades até então reprimidos eclodiram.
CONFLITOS TERRITORIAIS E DE NACIONALIDADES
  Quando ocorreu a revolução socialista de 1917, mais de 35 milhões de russos já haviam migrado para o leste, ultrapassando os Montes Urais e chegando à Ásia. A política de expansão territorial russa e de subjugação de povos continuou durante o Estado soviético.
  Durante a existência da União Soviética e do Estado autoritário que se instaurou, a "adesão" das mais de cem etnias existentes nas ex-repúblicas soviéticas foi mantida por meio da força e da repressão. Com a glasnost e a perestroika do governo Gorbatchev, a partir de 1985, a possibilidade de reafirmação da identidade étnica, cultural, histórica e de nacionalidade de muitos povos ganhou espaço e se intensificou. Surgiram muitos movimentos pró-independência de enclaves, ou seja, territórios totalmente circundados por outro território. Vários desses movimentos utilizaram força militar.
Mapa da divisão regional da Rússia
O SEPARATISMO RUSSO NA CRIMEIA
  A Ucrânia vive uma grave crise social e política desde novembro de 2013, quando o governo do então presidente Viktor Yanukovich desistiu de assinar um acordo de livre-comércio e associação política com a União Europeia, alegando que decidiu manter relações comerciais mais próximas com a Rússia, até então, seu principal aliado.
  A oposição e parte da população não aceitaram a decisão, e foram às ruas, realizando protestos violentos que deixaram várias pessoas mortas e que culminou, no dia 22 de fevereiro de 2014, na destituição do presidente pelo Parlamento ucraniano e no agendamento de eleições antecipadas para o dia 25 de maio do corrente ano.
  Assim, houve a criação de um novo governo pró-União Europeia e anti-Rússia, acirrando as tensões separatistas na região da Crimeia.
Mapa da Ucrânia
  A Crimeia, península situada na costa setentrional do Mar Negro, é uma república da Ucrânia, mas com população predominantemente russa - cerca de 66% da população total. Em 1992, essa população de origem russa fez um movimento em prol de sua anexação à Rússia, logo combatido pelo governo ucraniano. 
  Essa região pertenceu à Rússia, no período em que os dois países faziam parte da ex-União Soviética. Em 1954, a Ucrânia anexou a Crimeia ao seu território, na época em que Nikita Krushchev - que era de origem ucraniana - governava a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Diferente do restante do território ucraniano, a Crimeia possui uma população majoritariamente russa. Em 1991, com a desintegração da União Soviética e a criação de 15 novos países, a Crimeia passou a ser uma república semi-autônoma da Ucrânia, com fortes laços políticos com o país e com a vizinha Federação Russa.
Mapa da Crimeia
  A Crimeia se tornou foco da atenção da diplomacia internacional nas últimas semanas com uma escalada militar russa e ucraniana na região. As tensões separatistas, de maioria russa, se tornaram mais acirradas com a deposição do presidente ucraniano Viktor Yanukovich, que tinha desistido de assinar um tratado de livre-comércio com a União Europeia, preferindo estreitar relações econômicas com a Rússia. A renúncia de Viktor Yanukovich levou a Rússia a aprovar o envio de tropas para "normalizar" a situação. A medida só piorou as relações entre Ucrânia e Rússia, gerando grande perigo para a região.
  Na Crimeia, o parlamento local foi dominado por um comando pró-Rússia, que nomeou Sergei Axionov como premiê. Esse novo governo, considerado ilegal pela Ucrânia, aprovou sua adesão à Federação Russa e a realização de um referendo sobre o status da região, que ocorreu no dia 16 de março de 2014.
  Com a intensificação das tensões separatistas, o Parlamento russo aprovou o envio de tropas para a região da Crimeia. Essas tropas não tinham identificação, porém, demonstravam claramente que eram russas - por meio de placas registradas nos veículos - e tomaram a Crimeia, dominando bases militares e aeroportos. A Rússia justificou o movimento dizendo se reservar o direito de proteger seus interesses e os de seus cidadãos em caso de violência na Ucrânia e na região da Crimeia.

Grupo pró-Rússia sobre tanque soviético em frente ao Parlamento de Simferopol
  A escalada militar fez com que diversos oficiais do exército ucraniano se juntassem ao governo local pró-russo. Outros abandonaram seus postos. No dia 4 de março, o novo governo da Crimeia anunciou que assumiu o controle da península, dando um ultimato para que os últimos oficiais leais à Ucrânia se rendessem.
  Para muitos russos, a Crimeia e sua "Cidade Heroica" de Sebastopol, da era soviética, sitiada pelos invasores nazistas, têm uma ressonância emocional muito forte, por já ter sido parte do país e ainda ter a maioria de sua população de origem russa. Além disso, a maior parte da frota russa do Mar Negro está na Crimeia. Para a Ucrânia, a perda da Crimeia para a Rússia significaria um duro golpe.

Principais grupos étnicos da Crimeia
  Além da Crimeia, outra região ucraniana vem sofrendo com propostas de separatismo: o Leste da Ucrânia. Assim como ocorreu na Crimeia, os manifestantes pró-Rússia pedem a desintegração de três cidades (Donetsk, Lugansk e Kharkiv) e a anexação à Rússia. Eles exigem um referendo para que a população local vote a favor ou contra a anexação dessas cidades pela Federação Russa. Porém, diferente da Crimeia, que já era uma república autônoma, esse processo pode sofrer um revés, já que essas cidades possuem uma maioria populacional ucraniana e não russa, além de não terem autonomia política dentro do país.
Donetsk - Ucrânia
REGIÕES RUSSAS FORA DO CÁUCASO QUE LUTAM PELA INDEPENDÊNCIA
 1. TARTARISTÃO
  A anexação da Crimeia pela Rússia levou a esperança de regiões russas a se tornarem independentes. Uma delas é o Tartaristão. O Tartaristão, ou terra dos tártaros, é a região mais ao norte do mundo com maioria muçulmana e está localizada na Região Econômica do Volga. Os tártaros ficaram mais conhecidos pelo fato de que muitos dos seus habitantes terem sido deportados em massa da Crimeia por Stálin. A Ucrânia e o Tartaristão possuem um ponto em comum: a morte de milhões de pessoas  de fome devido às decisões políticas do governo da União Soviética. Entre 1921 e 1922, dois milhões de tártaros morreram de fome. Entre 1932 e 1933, uma decisão similar na Ucrânia, levou a morte mais de 7,5 milhões de pessoas.
  O Tartaristão, ao lado da Chechênia, foi a única das 88 regiões autônomas da Rússia que não assinaram um acordo com a recém-criada Federação Russa depois do fim da União Soviética. Acabariam sendo forçados a assinar depois - diferente dos chechenos que nunca assinaram até serem arrasados militarmente. Mais da metade da população do Tartaristão considera-se tártara, e apenas 40% russos. Cerca de 55% da população segue a religião islâmica.
Mapa do Tartaristão
2. KALININGRADO
  Quem olha o mapa da Europa muitas vezes não repara que há um pequeno território entre a Polônia e a Lituânia que não é parte de nenhum destes dois Estados. Trata-se de um território histórico da Prússia, e depois da Alemanha: é o enclave russo de Kaliningrado - nome em homenagem a Mikhail Kalinin, chefe de Estado oficial da União Soviética entre 1919 e 1946.
  O território foi tomado da Alemanha no fim da Segunda Guerra Mundial e a União Soviética decidiu anexá-lo ao seu território dentro da Rússia soviética - e não dentro da Lituânia, que também era parte da União Soviética. O território possui grande importância estratégica, pois com mísseis nucleares de pequeno e médio alcances dá para atingir quase toda a Europa.
  Nos últimos anos, têm-se criado movimentos em prol da autonomia e até da independência. Foi fundado o Partido Republicano Báltico, criado como um "movimento da sociedade civil".
Em marrom a região de Kaliningrado
A MOLDÁVIA E AS DISPUTAS TERRITORIAIS
  Vizinha da Ucrânia, a Moldávia teme ser a próxima vítima do expansionismo russo. Recentemente, o presidente do Parlamento da Transnístria, no leste do país, viajou a Moscou e pediu para que a Duma, o Parlamento russo, autorize a anexação da região, uma pequena faixa de terra e que é habitada por meio milhão de pessoas. O objetivo da Transnístria é receber o mesmo tratamento dispensado à Crimeia.
  Durante a desagregação da União Soviética em 1991, a Transnístria, uma porção do território moldávio localizado na porção leste do país e de maioria russa, exigiu a independência em um confronto armado. Com a mediação da Rússia, o cessar-fogo foi decretado, e os separatistas aceitaram a proposta do governo moldávio de conceder ampla autonomia à região.
  Na prática, a Transnístria se separou da Moldávia e a maioria de sua população fala russo.  As autoridades locais já tinham pedido ao Parlamento russo a anexação da região à Rússia, sendo que um referendo em 2006, respaldou essa ideia. A comunidade internacional não reconhece sua independência, e o território, que mantém um tenso enfrentamento com a Moldávia, é tida como uma região dominada pelo crime organizado e pelo contrabando.
Em rosa a região da Transnístria
  A Transnístria tem moeda, Constituição, hino, bandeira e Parlamento próprios. Assim como na Crimeia, a Rússia possui vários soldados na região. A relação de Moscou com a Moldávia é marcada pelo ponto fraco do pequeno país, a economia, que é semelhante à relação entre Moscou e a Ucrânia.
  No caso da Transnístria, o movimento separatista já estava bem adiantado antes mesmo da crise da Crimeia. O território, além de ser dominado por políticos pró-Rússia, já funciona como um Estado independente da Moldávia, não respondendo às ordens do governo do país desde 1990, quando seus chefes políticos declararam a independência da região sob o pretexto de que a Moldávia buscasse se unir à Romênia.
  Apesar da comunidade internacional não reconhecer a independência da região, os habitantes possuem passaportes locais. Fotografias das suas cidades mostram cenários que parecem viver a época da antiga União Soviética, com estátuas de Vladimir Lênin enfeitando dezenas de praças.
Estátua de Lênin, em Tiraspol, capital da Transnístria
  A Moldávia é o país mais pobre da Europa, e sua economia depende em grande parte da exportação de vinho. A União Europeia deseja integrá-la à Associação Oriental, programa do bloco de aproximação com ex-repúblicas soviéticas ao leste, assim como Belarus, Azerbaijão, Armênia, Geórgia e Ucrânia. Mas, quando o país começou a se aproximar do Ocidente, a Rússia - seu principal parceiro comercial - vetou a importação de vinho moldávio. Esse mesmo tipo de aproximação com a União Europeia motivou os conflitos na Ucrânia e levou à anexação da Crimeia pela Rússia.
Composição étnica da Moldávia
  No sul do país, as autoridades moldávias também enfrentaram conflitos na região da Gaugázia, habitada por cristãos ortodoxos turcos. Em 1996, à semelhança do que ocorreu com a Transnítria, foram afirmados acordos que concederam autonomia a essa minoria étnica. A Gaugázia é formalmente conhecudo como Unidade Territorial Autônoma da Gaugázia.
  O povo gaugaz descende dos turcos seljúcidas que migraram dos Balcãs orientais (atual Bulgária) e se instalaram na região.
Regiões da Moldávia
  OS CONFLITOS NO CÁUCASO
  O Cáucaso corresponde a um sistema montanhoso situado entre os mares Negro e Cáspio, abrangendo o sul do território russo, além da Armênia, da Geórgia e do Azerbaijão. Nessa região, após o fim da União Soviética, eclodiram vários conflitos étnicos e nacionalistas, mas Moscou insiste em se manter presente nos países do Cáucaso. É no Cáucaso que se situam as linhas de defesa das fronteiras meridionais da Rússia. Além disso, Geórgia e Azerbaijão vêm estabelecendo relações econômicas e militares cada vez mais estreitas com os Estados Unidos, o que poderá tirar o Cáucaso da área de influência da Rússia. Assim, os conflitos nessa região não é só de choques de nacionalidades, mas também de caráter geopolítico.
Região do Cáucaso
  Os principais conflitos nessa região são:
1. OSSÉTIA
  Desde o tempo de Stálin como dirigente do Comitê para as Nacionalidades do Partido Comunista da URSS, os ossetianos foram divididos. Uma parte ficou no território russo (a Ossétia do Norte) e outra parte ficou no território da Geórgia (Ossétia do Sul). Em 1990, a Ossétia do Sul declarou independência da Geórgia e propôs se integrar à Ossétia do Norte. O governo da Geórgia, em 1991, iniciou uma ofensiva militar que resultou em mais de 1.500 pessoas mortas. Em 2004 a guerra voltou a ocorrer e em 2007 são reatadas as negociações entre os ossetianos e o governo da Geórgia para que a Ossétia do Sul obtenha a independência. Em 2008, Moscou usou a maioria russa na Ossétia como justificativa para atacar as tropas da Geórgia, que tentavam recuperar o controle da região separatista.
  Na Ossétia do Sul, a maioria a população é de origem persa e cristã e a Ossétia do Norte possui uma população de cristãos e muçulmanos. Os ossetas do sul contam que são discriminados pelos georgianos e, por isso, querem a separação da Geórgia e a unificação com a Ossétia do Norte.
Mapa da Geórgia
2. ABKHÁZIA
  Na Abkházia, os abecazes foram reduzido a uma minoria depois do deslocamento de milhares de georgianos para a região, na época da extinta União Soviética. Separatistas abecazes (que são muçulmanos ortodoxos) lutam contra os georgianos (que são cristãos), desde 1992, pela criação de uma república independentes. Em 1994, declararam-se novamente independentes, mas não obtiveram o reconhecimento internacional.
  Combates voltaram a ocorrer em 1998, 2002 e 2008.
  Atualmente, a Abkházia permanece em grande medida de fato independente da Geórgia e mantém controle sobre grande parte do seu território, embora não seja reconhecida internacionalmente.
Mapa da Abkházia
3. INGUCHÉTIA E DAGUESTÃO
  Habitada por povos muçulmanos, a Inguchétia e o Daguestão são repúblicas autônomas da Rússia. Após a desagregação da União Soviética, passaram a reivindicar independência, o que causou conflitos armados com as tropas russas.
  Quando não são conflitos, ocorrem atentados às autoridades e aos pró-Rússia, como o de 2009, que matou mais de 20 pessoas e deixou cerca de 140 pessoas feridas.
  O Daguestão é a maior república russa do Cáucaso. Possui uma maioria muçulmana e grande importância para os russos, uma vez que abriga campos de petróleo e oleodutos. Também nessa república encontra-se o único porto russo no mar Cáspio, que pode ser usado durante os 365 dias do ano. A região abriga 32 povos diferentes que só se uniram no século XIX para enfrentar o Império Russo, o qual lutaram durante 30 anos.
  A partir de 1999, o Daguestão foi cenário de incursões de rebeldes fundamentalistas muçulmanos da Chechênia. Moscou respondeu com uma vasta ofensiva militar na república.
Localização do Daguestão
  Em 1920, o poder soviético foi estabelecido no território da Inguchétia, e em 1924 criou-se um oblast (distrito), dentro da Inguchétia Autônoma na Rússia Soviética, com a cidade de Vladikavkaz (atual Alania) como seu centro administrativo. Em 1934, a Chechênia e a Inguchétia foram unidas para formar o Oblast Autônomo da Chechênia-Inguchétia, tornando-se república autônoma em 1936. Em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, Stálin acusou os inguchétios de colaborar com o sistema nazista, sendo deportados em grande escala para a Ásia Central.
  Em 1957, os inguchétios voltaram para a sua terra natal e passaram a exigir a devolução de Prigorodni Rayon, um distrito que se estende ao longo do rio Terek, que havia sido transferido para a Alania durante o seu exílio.
Divisão da Federação Russa
  Quando a Chechênia declarou a sua independência da Rússia em novembro de 1991, pouco antes da dissolução da União Soviética, os inguchétios se separaram da Chechênia para formar a sua própria república. Em dezembro de 1992, o Congresso dos Deputados do Povo da Rússia reconheceu a Inguchétia como uma república autônoma na Rússia. A nova entidade continuou a exigir a devolução do distrito nas mãos da Ossétia do Norte, provocando hostilidades entre as regiões vizinhas. Os líderes russos e inguchétios passaram a mediar o conflito.
  A Inguchétia continua a ser uma das mais pobres regiões russas. O conflito na vizinha Chechênia se alastrou para a Inguchétia e a república tem sido desestabilizada por vários crimes, protestos anti-governo, ataques a funcionários e soldados e excessos militares, piorando de forma crítica a situação dos direitos humanos.
Mapa da Inguchétia
4. CHECHÊNIA
  A Chechênia, a mais conhecida região separatista da Rússia, chegou a ser independente logo no início da existência da União Soviética, entre 1917 e 1921, quando caiu sob o domínio soviético. Na fase final da Segunda Guerra Mundial, Stálin acusou os chechenos de colaborarem com os nazistas, e num único dia em 1944, lotou trens de gado e enviou cerca de 60% da população para a Sibéria e a Ásia Central - 20% da população morreu de fome, sede e maus tratos nessa "viagem".
  A Chechênia, região de maioria muçulmana, declarou-se independente em 1991. Em 1994, foi invadido por tropas militares russas, o que deixou um saldo de 80 mil mortos. Apesar do acordo de paz de 1997, os conflitos entre os separatistas e o governo russo prosseguiram. Em 1999, após invasão ao vizinho Daguestão por guerrilheiros chechenos com a finalidade de criar um Estado islâmico, a Chechênia sofreu um ciclo de violência, dessa vez precedida por bombardeios aéreos intensos e culminando em um verdadeiro massacre de civis pelo exército russo. Nessa guerra, mais de 370 mil pessoas foram deslocadas. A população de Grozny, capital da Chechênia, passou de 400.000 (número antes da guerra) para cerca de 30.000 pessoas.
A capital da Chechênia, Grozny, destruída após bombardeios russos em 1999
  Em 2003, um referendo realizado pelo governo checheno pró-Rússia, reafirmou a subordinação a Moscou. Em 2004, rebeldes chechenos invadiram uma escola na cidade de Beslan, na Ossétia do Norte. No confronto com forças russas, 331 pessoas morreram, sendo 186 crianças.
  A vitória na segunda guerra da Chechênia, significou a transformação do presidente russo, Vladimir Putin, em líder inconteste da Rússia.
  Os grupos separatistas perderam sua força original, mas, para o governo de Moscou, principalmente após o episódio da Crimeia, continuam a representar uma série de ameaças, tanto na Chechênia quanto no Daguestão.
Mapa da Chechênia
5. NAGORNO-KARABAKH
  A região de Nagorno-Karabakh é foco de conflito entre a Armênia e o Azerbaijão por sua natureza peculiar. Desde o início do século XX, Armênia e Azerbaijão disputam essa região, encravada no território do Azerbaijão, país de origem muçulmana, mas com 80% da população cristã e de origem armênia.
  Em 1988, aproveitando à abertura política soviética, a Armênia passou a reivindicar o território, iniciando uma guerra entre as duas repúblicas.
  Em 1991, essa região proclamou sua independência, iniciando uma série de conflitos. Em 1992, a Armênia conquistou o enclave e formou o corredor de Latchine, ligando Nagorno-Karabakh a seu território. A continuidade dos combates provocou o colapso econômico dos dois países. Em maio de 1994, é assinado um cessar-fogo.
  As negociações bilaterais sobre o destino da região não avançaram nos anos seguintes. Em 2001, os presidentes armênio e azeri reuniram-se em março na França e em maio desse ano nos Estados Unidos. É discutida a concessão do enclave do status de república autônoma do Azerbaijão, com Constituição e Exército próprios e o direito de vetar leis azeris. A Armênia teria que sair da área contígua, ocupada durante a guerra. Nada foi decidido por causa da forte resistência interna nos dois países. Em 2008, as tropas dos dois países reiniciaram os confrontos, e os conflitos prosseguem sem nenhuma trégua.

Mapa de Nagorno-Karabakh
6. CARACHAI-CIRCÁSSIA E CABÁRDIA-BALCÁRIA
  A Cabárdia-Balcária ou Cabardino-Balcária é uma divisão federal da Federação Russa. Possui cerca de 900 mil habitantes distribuídos em uma área de 12.500 km². Tornou-se uma região autônoma da República Socialista Soviética da Rússia em 1921, passando em 1936 para República Autônoma Socialista Soviética. Em 1997, foi adotada a Constituição da República da Cabárdia-Balcária.
  A Cabárdia-Balcária é uma república multiétnica habitada majoritariamente por povos de língua caucasiana ao norte, na Cabárdia, e por povos de língua altaica do ramo turco ao sul, na Balcária.
Mapa da Cabárdia-Balcária
  Os cabardinos constituem o grupo mais numeroso, com cerca de 55% da população total, seguido dos russos com 25% e os balcares com 12%. Tanto cabardinos como balcares são de tradição muçulmana sunita.
  A República da Carachai-Circássia foi constituída em 1991 pela elevação à condição de República do Oblast de Carachai-Circássia. É uma república multiétnica habitada majoritariamente por cherquesses e abazas, povos de língua caucasiana, ao norte, e por carachaios, povos de língua altaica do ramo turco, ao sul. Os carachaios constituem o grupo mais numeroso, com cerca de 39% da população total, seguidos dos russos com 34% e os cherquesses com 11%. Tanto os carachaios como os cherqueses são de tradição muçulmana sunita.
Mapa da Carachai-Circássia
  Os circassianos ganharam notoriedade recentemente por causa das Olimpíadas de Inverno na cidade de Sochi. Os circassianos e os cabardinos fazem parte do mesmo grupo. Já os balcários e os caraches também possuem ligações históricas, compartilhando língua, religião e processos de deportação em massa de Stálin. Em comum, o fato de só haver cerca de 25% de russos nas duas regiões e o grande desgosto com o passado de dominação russa, leva os nacionalistas a lutarem pela independência dessas duas regiões.
7. CALMÚQUIA
  A Calmúquia é o único território de maioria budista da Europa, localizado na margem oeste do Mar Cáspio. Durante os anos iniciais, os budistas locais até foram relativamente respeitados, já que a União Soviética não queria usar o suposto bom tratamento aos budistas devido às suas intenções de atrair os territórios budistas da Mongólia e do Tibete para a sua área de influência. Mas, devido ao fato de os calmuques serem excessivamente não-russos, irritou Stálin, que resolveu forçar a coletivização da terra.
  Durante a Segunda Guerra Mundial, a capital da Calmúquia, Elista, foi tomada pelos nazistas, que chegaram com armas e propaganda. Milhares de calmuques se uniram aos nazistas contra os soviéticos, que tinham massacrado os calmuques por mais de 10 anos.
  Após a expulsão nazista pelos soviéticos, Stálin acusou toda a população da Calmúquia de ter colaborado com os nazistas e ordenou a deportação de toda a população local para a Sibéria e para a Ásia Central. Somente em 1957, o presidente soviético Nikita Krushchev permitiu a volta dos calmuques, que passaram a ser maioria, sendo hoje composta por 60% da população total da Calmúquia e, por isso, os calmuques lutam pela independência da região.
Mapa da Kalmúquia
8. ADJÁRIA
  A República Autônoma da Adjária, é uma república da Geórgia, localizada no sudoeste do país, fazendo fronteira com o sul da Turquia e banhada pelo Mar Negro. Pertenceu ao Império Otomano e à União Soviética.
  Em 1991, conflitos em torno da autonomia econômica e política, provocou a morte de milhares de pessoas. Em 2004, explodiu a maior crise na região, com ameaças de um confronto armado.
  Por muitos anos, a Rússia manteve sua 12ª Base Militar na região, gerando uma enorme tensão entre a Rússia e a Geórgia. Em 17 de novembro de 2007, a Rússia retornou à base de Batoumi e, atualmente, essa base desempenha uma imensa pressão a favor da Adjária contra a Geórgia.
Mapa da Adjária
9. VALE DO PANKISI
  Vale longo, de 80 quilômetros, considerado pela Rússia e pelos Estados Unidos base de apoio para os combatentes chechenos e da Al-Qaeda.
  Em 2002, ocorreu a rebelião no vale de Pankisi, que foi um conflito entre a Geórgia, os militantes chechenos e a Al-Qaeda. A Geórgia foi obrigada pela Rússia e pelos Estados Unidos a ir contra a Al-Qaeda na Garganta de Pankisi. Para isso, a Geórgia recebeu um apoio significativo do Estados Unidos durante o conflito.
  Atualmente, essa região ainda serve como esconderijo, tanto para combatentes chechenos quanto para integrantes da Al-Qaeda, contribuindo para aumentar as tensões no local.
Vale do Pankisi
 O TEMOR RUSSO NO BÁLTICO
  Estônia, Letônia e Lituânia, as três repúblicas bálticas que pertenceram à União Soviética durante 51 anos, acompanham de perto as tensões envolvendo a Rússia e a Ucrânia.
  Em 2004, os três se uniram à União Europeia e à Otan (aliança militar ocidental), afrontando o presidente russo Vladimir Putin. A presença significativa de uma minoria étnica russa é um tema delicado nos países bálticos, que dependem em grande parte do gás russo.
  Na Estônia, os russos representam cerca de um terço da população, e muitos se queixam de preconceito por parte dos estonianos. Na Letônia, 25% da população fala russo, e seus direitos são um tema espinhoso para o país. Já na Lituânia, apenas 5% da população é russa. O temor de restabelecimento das fronteiras russas deixa os países bálticos em estado de tensão, pois temem que a Federação Russa possa desestabilizar esses três países.
 FONTE: Adas, Melhem. Expedições geográficas. Melhem Adas, Sérgio Adas. - 1. ed. - São Paulo: Moderna, 2011.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

NEPAL: O PAÍS DO "TETO DO MUNDO"

   O Nepal está localizado entre a Índia e a China, na Cordilheira do Himalaia. Nela se encontra o Monte Everest, a montanha mais alta do planeta, com 8.848 metros de altitude. Na língua nepalesa, Everest quer dizer "rosto do céu".
  A Cordilheira do Himalaia é formado por terrenos recentes e rochosos, pobre em recursos minerais. Além disso, são muito íngremes, o que dificulta a agricultura. Como a população do Nepal vive do plantio de subsistência, cultivando arroz, preservar o solo é uma questão de sobrevivência. Por isso, o cultivo é praticado em terraços (para evitar a erosão acelerada), no vale e nas encostas das montanhas.
No Nepal a maior parte da população vive da agricultura de subsistência
  A religião é marcante na vida dos habitantes do Nepal. As duas principais religiões, o hinduísmo e o budismo, convivem harmoniosamente e determinam os costumes locais.
HISTÓRIA DO NEPAL
  O Nepal é um país pequeno com uma longa história, que remonta há milhares de anos na origem e permanece até os dias de hoje. Essa história é cheia de conflitos no sopé do Everest e entre outros picos do Himalaia. Dos Kiratis até os dias atuais, muitas coisas interessantes aconteceram neste pequeno e impressionante país asiático.
  Antes da nossa era, os Kiratis eram os habitante destas terras. Era um poderoso império que dominava terras do atual Nepal, de territórios da Índia, de Butão e do sul da China.
Povos Kiratis do Nepal
  A lenda conta que o vale de Katmandu foi, nas suas origens, um belo lago no qual flutuava uma flor de lótus da qual emanava uma mágica luz. O patriarca chinês Manjushri teria decidido, ante tanta beleza, drenar a água do lago para que a flor pousasse no solo. Para tal, teria se utilizado de sua espada para cortar a parede que fechava o vale e permitir que a água saísse. No lugar em que o lótus teria pousado, o patriarca teria construído um templo (a estupa de Swayambhunath) e uma pequena aldeia de madeira denominada Manjupatan. Atualmente, a estupa de Swayambhunath é conhecido como o "Templo dos Macacos", devido a grande quantidade de macacos que circula nesse templo.
Estupa de Swayambhunath
  Os kiratis, apareceram no século VIII a.C., ajudando a fundar no vale, um reino que governaram 28 monarcas. Os kiratis eram comerciantes e ganadeiros.
  Por volta do século V a.C., em Lumbini, localidade no sul do atual território nepalês, nasceu Sidartma Gautama, príncipe do clã Shakya. Quando adulto, Sidartma tornou-se monge errante e foi para a Índia, onde passou a pregar suas ideias religiosas, onde passou a ser conhecido por Buda, ou "Desperto", título este que o povo havia lhe conferido. Suas ideias baseavam-se na extinção do desejo como meio para se atingir a felicidade e a sobrevivência. Até os dias atuais suas ideias são postas em práticas na religião budista.
  Consta que Buda retornou à sua terra natal para pregar sua filosofia e para converter sua família, inclusive sua esposa e seu filho, os quais havia abandonado quando iniciou sua jornada em busca da verdade.
Gautama com seus cinco companheiros que compuseram a primeira Sangha (comunidade monástica budista)
  No século III a.C., o sul do Nepal ficou sob influência do Império Mauria, o primeiro império a unificar a Índia. O criador do império, Asoca, foi um patrocinador do budismo, tendo visitado o local de nascimento de Buda e dado a mão de sua filha em casamento a um príncipe local.
  A partir daí, ocorreu uma sucessão de impérios na região.  As dinastias indianas dos Lichávis, Tacuris e Malas sucederam-se no controle da região até que, por volta do século XIV, o Nepal ficou dividido sob a influência de três cidades: Katmandu, Patan e Badgaon. A região somente foi unificada com a invasão dos ghurkas, povo mongol procedente da Índia, em 1769. Os ghurkas fundaram uma dinastia que permaneceu no poder até o século XXI.
Ilustração dos ghurkas em 1815
  Em sua extensão máxima, o Reino do Nepal se estendeu desde o Punjab até o Siquim, ambos localizados no território indiano. Entre os séculos XVII e XVIII, os xerpas migraram do Tibete para o norte do Nepal. No fim do século XVIII e início do século XIX, a política expansionista do Reino do Nepal se chocou contra o Império Chinês, ao norte, e contra a Companhia Britânica das Índias Orientais, ao sul, leste e oeste. Os nepaleses foram derrotados pelos chineses e forçados a abrir mão de seus interesses no Tibete.
  Também foram derrotados pelos britânicos nas chamadas Guerras Anglo-Nepalesas ou Guerras Ghurkas, sendo forçados a ceder as regiões do Siquim, do Terai, de Cumaon e de Garval.
  A Guerra Anglo-Nepalesa (1814-1816) levou o Nepal a concessões territoriais e a aceitar uma espécie de protetorado da Grã-Bretanha, por meio dos tratados de Katmandu e de Segowlie. Durante os 30 anos seguintes, grupos a favor e contra a Inglaterra se revezaram no poder.
Resultado da Guerra Anglo-Nepalesa
  Em 1846, Jung Bahadur, líder do grupo armado a favor da Inglaterra, tomou da dinastia ghurka Shah o controle do governo e assumiu o cargo de primeiro-ministro, dando início a um grande período de domínio político da dinastia Rana. O cargo de primeiro-ministro passou a ser transmitido hereditariamente, concentrando ditatorialmente todos os poderes. Com isso, o rei passou a ocupar uma posição meramente decorativa e os ghurkas foram recrutados para servirem aos exércitos britânico e indiano.
Jung Bahadur - fundador da dinastia Rana
  Em 1923, o governo britânico reconheceu formalmente a plena independência do Nepal, mas só após o fim da Segunda Guerra Mundial ocorreriam alterações revolucionárias na estrutura do Estado.
  Em 1950, os nepaleses residentes na Índia se aliaram aos membros da família real para derrubar o regime da família Rana. Com o apoio do governo da Índia, o rei Tribuvana Bir Bikram restabeleceu a autoridade real, e as forças revolucionárias assumiram cargos na administração. Durante essa década, os conflitos políticos continuaram e ocorreram várias mudanças de governo.
Tribuvana Bir Bikram
  Em 1955, Mahendra Bir Bikram subiu ao trono, reinando de forma mais democrática. Em 1959, foi criada uma nova Constituição para o país e ocorreram eleições parlamentares. Em 1960, devido a divergências entre a Coroa e o Gabinete, o rei Mahendra destituiu o Parlamento e instaurou um regime de poder pessoal. Em 1962, foi promulgada uma nova Constituição onde, por meio dela, aumentou o poder da família real. Durante vários anos, o rei exerceu um controle autocrático por todo o país, já que a Constituição não previa a existência de partidos políticos de oposição.
Mahendra Bir Bikram
  Com a morte do rei, em 1972, sucedeu no poder o seu filho Birendra Bir Bikram, que continuou a política do seu pai. Em 1980, por meio de uma consulta popular, o poder do rei foi ratificado, desprezando a democracia parlamentar.
  Em 1983, o rei nomeou o Nepal como Estado de paz, recebendo o respaldo de 37 países, aumentando para 97, em 1988. Porém, a Índia e a União Soviética não reconheceram esta zona de paz.
Birendra Bir Bikram
  Em 1990, o rei dissolveu a Assembleia e formou um novo governo, do qual se tornou primeiro-ministro K. B. Bhattaral. O monarca apresentou uma nova Constituição na qual se estabeleceu a democracia multipartidária.
  Em maio de 1991, ocorreram as primeiras eleições livres multipartidárias, onde o Partido do Congresso Nepalês saiu vitorioso, tendo como líder Girija Prasad Koirala. Nesse mesmo ano, soldados nepaleses participaram de missões das Nações Unidas no Oriente Médio.
Girija Prasad Koirala
  Após as eleições de 1994, o rei dissolveu o parlamento, em resposta a pedidos do Partido Comunista, convidando seu gabinete para assumir o governo interinamente até as próximas eleições. Com isso, Birendra continuou como chefe de estado e Mohan Adhikari, como chefe de governo. A partir de 1996, começaram os confrontos armados pelo poder, a partir do desenvolvimento de uma guerrilha maoísta, denominada de Guerra do Povo Nepalês.
  Em 1º de junho de 2001, o rei Birendra, a rainha Aishwarya e quase todos os membros da família real foram assassinados, tendo como principal suspeito, o príncipe herdeiro Dipendra Bir Bikram, que suicidou-se. Antes de morrer, Dipendra, em estado de coma, foi proclamado rei (de acordo com a tradição nepalesa), onde viria a morrer horas depois.
Dipendra Bir Bikram
  Em consequência da morte dos herdeiros diretos do trono do Nepal, Gyanendra Bir Bikram Shah Dey, irmão de Birendra, subiu ao trono em 4 de junho de 2001. Em três dias, Gyanendra concluiu uma investigação sobre a morte do rei anterior e sua família. O monarca apresentou uma nova Constituição na qual se estabeleceu a democracia multipartidária.
Gyanendra Bir Bikram Shah Dey
  Em 15 de janeiro de 2007, os partidos políticos do país, incluindo os governistas e os ex-rebeldes maoistas, colocaram de acordo para abolir a monarquia no país. A partir de 28 de maio de 2008, a Assembleia Constituinte do país aboliu a monarquia e instalou a república no Nepal.
GEOGRAFIA DO NEPAL
  O Nepal está localizado no sul da Ásia, entre a Índia e o Tibete, que pertence à China.
Mapa topográfico do Nepal
  O relevo do país é composto em grande parte por altas montanhas da Cordilheira do Himalaia. Devido a sua elevada altitude, o Nepal é conhecido como "o país do teto do mundo". O Nepal abriga oito das 14 montanhas mais elevadas do planeta, todas possuindo mais de 8 mil metros acima do nível do mar: Monte Everest (8.848,43 metros), Kachenjunga (8.586 metros), Lhotse (8.516 metros), Makalu (8.462 metros), Cho Oyu (8.201 metros), Dhaulagiri I (8.167 metros), Manaslu (8.156 metros) e Annapurna I (8.091 metros).
Monte Everest - a montanha mais elevada do planeta
  O Nepal divide-se em 14 estados e 75 distritos. A maior parte da população do país vive em vilas nas montanhas, que são demarcadas por região e números. O clima é frio, e no topo das montanhas ocorre as chamadas "neves eternas".
  Geograficamente, o Nepal é dividido em três regiões distintas: o Terai ao sul, cuja altitudes variam entre 400 e 1.000 metros e culturalmente e geograficamente se assemelha à Índia; a região dos Vales, cuja altitudes variam entre 1.000 e 2.000 metros e onde se localiza a capital Katmandu; e a região do Himalaia, cuja altitudes são superiores a 2.000 metros.
Vila Namche Bazaar Khumbur
  O Nepal segue o regime de monções tendo três meses, de meados de junho a meados de setembro, de chuvas. Na região do Terai e dos Vales, as chuvas não são tão prejudiciais, já para quem pratica trekkings, a melhor época é na primavera (entre março e abril) e no outono (outubro e novembro), pois nessas estações a visibilidade das montanhas é bem melhor e a temperatura não é tão fria.
  A diversidade da flora no Nepal é uma das maiores do planeta, graças as elevadas altitudes, o clima e o solo da região. Existe aproximadamente mais de 7.000 espécies de plantas no Nepal, sendo que 5% delas são endêmicas do país.
  Sobre a fauna, existe algumas espécies que são únicas do Nepal, como o tagarela espinhoso (Turdoides nipalensis).
O Nepal possui uma grande diversidade de plantas
DEMOGRAFIA DO NEPAL
  Os nepaleses são descendentes de três grandes migrações que ocorreram no país: Índia, Tibete e norte da península da Indochina.
  Entre os primeiros habitantes do país estão os kiratis, que se localizaram na região leste, os newars, que habitaram o vale do Katmandu, e os aborígenes tharu, que habitaram a região sul do Terai. Os ancestrais das castas brâmanes e xátrias da Índia vieram de grupos presentes em Kumaon, Garhwal e Caxemira, enquanto que outros grupos étnicos tem suas origens no norte de Myanmar, Yunnan e Tibete, na China. No Terai, em parte da bacia do rio Ganges, cerca de 20% da área total do país, a população é fisicamente e culturalmente semelhante à do indo-arianos do norte da Índia. As altas montanhas são escassamente povoadas, enquanto que o vale do Katmandu é a região mais densamente povoada do país.
  O Nepal é um país bilíngue, multirreligioso e possui uma sociedade bastante heterogênea. A influência indiana é cada vez mais forte, originando uma sociedade de castas fortemente indianizada e um poderoso centro budista.
Mulheres nepalesas
ECONOMIA DO NEPAL
  O Nepal é uma nação pobre, com uma economia baseada na agricultura e no turismo. Cerca de 90% dos seus habitantes trabalham na agricultura, onde o principal produto cultivado é o arroz. Além do arroz, são cultivados milho, trigo, cana-de-açúcar e tubérculos. Esse cultivo se dá na forma de subsistência. Na pecuária se destaca a criação de cabras, galinhas, búfalos e iaque, tipo de bovino encontrado no Himalaia. A população vive em grande parte na extrema pobreza. Além da agropecuária, se destaca também a indústria têxtil e o processamento dos produtos agrícolas, como açúcar, tabaco e grãos.
Iaque
  Na área do Himalaia, o turismo de escalada e os acampamentos são muito fortes. Nessa região surgiram pequenas cidades localizadas perto de campos de base de expedições, principalmente europeus. Nessas cidades habitam os sherpas, os guias de turismo. Nas grandes cidades o comércio é a atividade mais importante.
ALGUNS DADOS DO NEPAL
NOME: República Democrática Federal do Nepal
CAPITAL: Catmandu

Rua no centro de Catmandu
LÍNGUA OFICIAL: nepalês
GOVERNO: República Federal
FORMAÇÃO: 1093 d.C.

Reino declarado: 25 de setembro de 1768
Estado declarado: 15 de janeiro de 2007
República declarada: 28 de maio de 2008
GENTÍLICO: nepalês
LOCALIZAÇÃO: Subcontinente Indiano
ÁREA: 147.181 km² (92º)
POPULAÇÃO (ONU - Estimativa 2013): 29.391.883 habitantes (41º)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA: 199,69 hab./km² (39º)
MAIORES CIDADES (Estimativa 2013):  

Catmandu: 1.342.543 habitantes
Catmandu - capital e maior cidade do Nepal
Pokhara: 532.987 habitantes
Pokhara - segunda maior cidade do Nepal
Patan (Laliptpur): 322.231 habitantes
Patan - terceira maior cidade do Nepal
PIB (FMI - 2013): U$ 19,415 bilhões (106º)
IDH (ONU - 2012): 0,463 (157º)
EXPECTATIVA DE VIDA (ONU - 2005/2010): 67,42 anos (133º)
CRESCIMENTO VEGETATIVO (ONU - 2005-2010): 1,97% ao ano (55º)
MORTALIDADE INFANTIL (
CIA World Factbook - 2012): 38,71/mil (
138º)
TAXA DE URBANIZAÇÃO (CIA World Factbook - 2011): 17% (185º)
TAXA DE ALFABETIZAÇÃO (Pnud - 2009/2010):
48,6% (162º)
PIB PER CAPITA (FMI - 2011): U$ 653 (162º)
MOEDA: Rúpia Nepalesa
RELIGIÃO: hinduísmo (71,4%), crenças tradicionais (10,1%), budismo (9,4%), islamismo (4,1%), outras religiões (3,6%), sem religião, ateus e dupla filiação (1,4%).
DIVISÃO: o Nepal é dividido em 14 zonas e em 75 distritos,que estão agrupados em 5 regiões do desenvolvimento.
  As cinco regiões são: Extremo-Oeste, Centro-Oeste, Oeste, Centro e Leste.
Regiões do Nepal
  As zonas do Nepal são (os números correspondem as zonas no mapa): 1. Bagmati, 2. Bheri, 3. Dhawalagiri, 4. Gandaki, 5. Janakpur, 6. Karnali, 7. Koshi, 8. Lumbini, 9. Mahakali, 10. Mechi, 11. Narayani, 12. Rapti, 13. Sagarmatha, 14. Seti.
  Os distritos do Nepal são: 1. Achham, 2. Arghaklanchi, 3. Baglung, 4. Baitadi, 5. Bajhang, 6. Bajura, 7. Banke, 8. Bara, 9. Bardiya, 10. Bhaktapur, 11. Bhojpur, 12. Chitwan, 13. Dadeldhura, 14. Dailekh, 15. Dang, 16. Darchula, 17. Dhading, 18. Dhankuta, 19. Dhanusa, 20. Dolkha, 21. Dolpa, 22. Doti, 23. Gorkha, 24. Gulmi, 25. Humla, 26. Ilam, 27. Jajarkot, 28. Jhapa, 29. Jumla, 30. Kailali, 31. Kalikot, 32. Kanchanpur, 33. Kapilvastur, 34. Kaski, 35. Katmandu, 36. Kavrepalanchok, 37. Khotang, 38. Laliptur, 39. Lamjung, 40. Mahottari, 41. Mankwanpur, 42. Manang, 43. Morang, 44. Mugu, 45. Mustang, 46. Myiagdi, 47. Nawalparasi, 48. Nuwakot, 49. Okhaldhunga, 50. Palpa, 51. Panchthar, 52. Parbat, 53. Parsa, 54. Pyuthan, 55. Ramechhap, 56. Rasuwa, 57. Rautahat, 58. Rolpa, 59. Rukum, 60. Rupandehi, 61. Salyan, 62. Sakhuwasabha, 63. Saptari, 64. Sarlahi, 65. Sindhuli, 66. Sindhulpalchok, 67. Siraha, 68. Solukhumbu, 69. Sunsari, 70. Surkhet, 71. Syangja, 72. Tanahu, 73. Taplejung, 74. Terhathum, 75. Udayapur.
Distritos do Nepal
FONTE: Sampaio, Fernando dos Santos. Para viver juntos: geografia, 6º ano: ensino fundamental / Fernando dos Santos Sampaio. -- 3. ed. -- São Paulo: Edições SM, 2012. -- (Para viver juntos)

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