domingo, 16 de março de 2014

A INTERIORIZAÇÃO DO CRESCIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL

  O Brasil teve sua geografia alterada na última década no sentido de aprofundar o processo de interiorização. Isso se reflete na expansão das cadeias produtivas de carne, grãos e algodão em direção ao Centro-Oeste e ao Norte. Isso tudo é fruto das políticas desenvolvidas pelo governo brasileiro há décadas.
  Diversas políticas de interiorização do crescimento desde a década de 1940, atraíam populações para a região central do país, num movimento conhecido como Marcha para o Oeste.
  A Marcha para o Oeste foi um projeto dirigido pelo governo Getúlio Vargas no período do Estado Novo, para ocupar e desenvolver o interior do Brasil, principalmente o Centro-Oeste, onde havia muitas terras desocupadas. O objetivo era produzir matérias-primas e gêneros alimentícios a baixo custo para subsidiar a implantação da industrialização no Sudeste, além de diminuir os desequilíbrios existentes entre as diversas regiões do país.
Cartaz da década de 1930 incentivando a população brasileira a se mudar para a recém-inaugurada capital de Goiás, Goiânia
  A ocupação do Centro-Oeste visava também promover uma etapa preliminar à ocupação da Amazônia.
  Os principais objetivos da Marcha para o Oeste eram: criar uma política demográfica de incentivo à migração, criação de colônias agrícolas, construção de estradas, realizar a reforma agrária e incentivar à produção agropecuária de sustentação. Em Goiás foi instalada a primeira colônia agrícola do país, em 1941, na cidade de Ceres, a Colônia Agrícola Nacional de Goiás (CANG).
  Esse projeto se intensificou anos mais tarde, com a construção de Brasília e sua inauguração, em 1960, durante o governo de Juscelino Kubitschek, transformando-se na nova capital do Brasil.
Inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960
  A infraestrutura rodoviária construída para viabilizar a transferência do poder para a nova capital integrou amplas regiões do país. Novas vias de circulação possibilitaram maior mobilidade da população, como a construção das rodovias que interligaram Rio De Janeiro e São Paulo a Brasília e a Rodovia Brasília (concluída em 1974).
  A modernização da agricultura na Região Sul, a partir da década de 1970, liberou um excedente de mão de obra que migrou para o Centro-Oeste e para o Norte, fazendo avançar a fronteira agrícola. Tal processo de colonização teve o incentivo governamental e de empresas interessadas em atrair contingentes populacionais para seus empreendimentos, formando as frentes pioneiras, caracterizadas pela presença de capital na produção.
  As frentes pioneiras era o deslocamento de várias pessoas para a ocupação de determinado espaço nacional. A princípio, um grupo de pessoas iniciavam a ocupação, vivendo primeiramente da agricultura e depois da mineração. Isso atraía pessoas de vários locais do Brasil, transformando em pouco tempo terras ociosas em produtivas e povoadas.
Frentes pioneiras no Brasil
  A expansão do povoamento se fez em direção a novos espaços de fronteira econômica, dinamizados pela utilização de formas capitalistas de organização da produção.
  A implementação do Plano de Integração Nacional (PIN) na década de 1970 e a consequente construção de diversas rodovias, como a Cuiabá-Santarém (1973), a Manaus-Boa Vista (1976) e a Transamazônica (1972), abriram as  portas para os deslocamentos de nordestinos e sulistas para a Região Norte. O PIN foi criado durante o governo militar do General Médici por meio do Decreto-Lei Nº 1.106, de 16 de julho de 1970, objetivando utilizar a mão de obra nordestina, que sofria com as secas de 1969 e 1970, e preencher os vazios demográficos da Amazônia, com os lemas "Integrar para não entregar" e "Uma terra sem homens para homens sem terra".
Construção da Transamazônica
  Para incentivar a ocupação regional foram criados centros de colonização - as agrovilas - em meio a floresta. Essas agrovilas eram pequenas comunidades localizadas nas margens da Transamazônica.
  No papel, cada agrovila teria até 64 famílias, escola, igreja ecumênica, posto médico e pequeno comércio. Umas poucas agrovilas prosperaram e se tornaram cidades, como o caso  de Rurópolis e Pacajá, no Pará, atualmente com mais de 40 mil habitantes cada. Porém, a maior parte dessas agrovilas não prosperaram devido a falta de investimentos, por parte do governo, para que os agricultores pudessem desenvolver suas atividades. Sem tecnologia para produzir, a maior parte dos colonos abandonaram as terras, buscando outros espaços ou até mesmo voltando para sua terra natal.
Pacajá - PA
  Com a participação de empresas transnacionais, incentivos fiscais e investimentos do governo federal, nas décadas de 1970 e 1980, foram implantados no norte do país projetos de mineração, que atraíram muitos garimpeiros para a região. Um exemplo desses projeto foi o Projeto Grande Carajás.
  O Projeto Grande Carajás (PGC), é um projeto de exploração mineral, iniciado em 1980, na mais rica área de minério do planeta, pela Vale - antiga Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Estende-se por 900 mil km², numa área que corresponde a um décimo do território brasileiro, sendo cortada pelos rios Xingu, Tocantins e Araguaia e englobando terras do sudeste do Pará, norte do Tocantins e sudoeste do Maranhão. É a maior área de minério de alto teor de ferro do mundo. Além do minério de ferro são explorados nessa área manganês, cobre, níquel, ouro, bauxita e cassiterita. O Japão é o maior parceiro do Brasil, garantindo em Carajás o suprimento de matéria-prima ao parque industrial japonês. A China também é outro importante parceiro do Brasil na exportação dos produtos de Carajás.
Exploração mineral na Serra do Carajás - PA
  Algumas consequências desses projetos foram os problemas socioambientais decorrentes dessa ocupação. O desmatamento, realizado na maior parte das vezes por madeireiros, de maneira ilegal, empobrece os solos da região, tornando-os muitas vezes inadequados para a agricultura e impedindo a população nativa de obter o seu sustento com o extrativismo.
O desmatamento e a ampliação das áreas de pecuária são um dos principais problemas da Amazônia
  A violência na região também é um problema. Muitos migrantes instalaram-se como posseiros ou grileiros, causando diversos problemas com as populações nativas e indígenas e, ainda, com os defensores desses povos, como padres e missionários.
  Os posseiros são lavradores que juntamente com a família ocupam pequenas áreas de terras devolutas ou improdutivas, ou seja, que não estão sendo utilizadas e que pertencem ao governo. Eles têm a posse da terra, mas não têm um documento oficial que prove que eles são os donos ou proprietários da terra. Já os grileiros são, geralmente, grandes empresas ou fazendeiros que se utilizam da força e da violência para se apropriar de terras devolutas ou terras trabalhadas por posseiros. Contratam jagunços para "limpar" o terreno, expulsam índios e posseiros e conseguem a documentação falsa da terra, transformando a propriedade em objeto de especulação imobiliária ou instrumento de negócios.
Posseiros são pequenos agricultores que ocupam um pedaço de terra sem o título de propriedade
  Um exemplo do conflito entre posseiros, grileiros, nativos e de missionários que defendem os povos da floresta aconteceu com o assassinato da Irmã Dorothy Stang, que foi assassinada com seis tiros no município de Anapu, no estado do Pará.
  Irmã Dorothy estava presente na Amazônia desde a década de 1970 junto aos trabalhadores rurais da região do Xingu, e sua atividade pastoral e missionária buscava a geração de emprego e renda com projetos de reflorestamento em áreas degradadas, focando-se, também, na minimização dos conflitos fundiários na região.
  Defensora de uma reforma agrária justa e consequente, Irmã Dorothy mantinha intensa agenda de diálogo com as lideranças camponesas, políticas e religiosas, na busca de soluções duradouras para os conflitos relacionados à posse e à exploração da terra na Amazônia.
Irmã Dorothy Stang - uma grande defensora dos povos da floresta

FONTE: Terra, Lygia. Conexões: estudos de geografia do Brasil / Lygia Terra, Regina Araújo, Raul Borges Guimarães. - 1. ed. São Paulo: Moderna, 2009.

quarta-feira, 12 de março de 2014

O MOVIMENTO OPERÁRIO E OS SOCIALISTAS

  Hoje em dia, em muitos países do mundo, os trabalhadores têm alguns direitos básicos, como limitação de sua jornada de trabalho, descanso semanal remunerado, férias anuais, assistência médica, aposentadoria, entre outros. Isso não existia no século XIX, quando os trabalhadores assalariados começaram a existir em grande número. Os direitos dos trabalhadores foram conquistados ao longo de décadas, depois de muitas greves, manifestações e confrontos com a polícia.
  Essa luta por condições mais justas de trabalho e de vida é chamada de movimento operário e surgiu na Europa no século XIX. Em um primeiro momento, reivindicou apenas melhores salários e condições de trabalho. Com o tempo, alguns trabalhadores passaram a acreditar que isso não bastava. Era necessário criar um mundo socialista, onde não existiria mais a exploração dos trabalhadores pelos patrões.
Símbolo do socialismo: o martelo significa o proletariado industrial e a foice o campesinato
A ORIGEM DO MOVIMENTO OPERÁRIO
  Movimento operário é um termo que refere-se à organização coletiva de trabalhadores para a defesa de seus próprios interesses, através da implementação de leis específicas para reger as relações de trabalho.
  Inicialmente surgiu como uma reação às consequências da Revolução Industrial, partindo dos artesãos que se viram privados de seus meios originais de trabalho. Revoltados, grupos de artesãos atacavam as fábricas, quebrando as máquinas. Desse mesmo tipo também foi a reação dos operários jogados na miséria pelas primeiras crises de desemprego. Depois de algum tempo, os operários foram percebendo que o problema não estava nas fábricas, nem nas máquinas em si, mas na forma como a burguesia havia organizado os meios de produção.
  No início do século XIX, os operários trabalhavam até vinte horas diárias, sem descanso semanal, inclusive aos sábados e domingos e não tinham direito a férias nem seguro que os sustentasse em caso de doença ou acidente de trabalho. Assim, os movimento dos trabalhadores se fez sentir por meio de demonstrações em massa, como motins e petições. Nesse mesmo século, começou a surgir os sindicatos como uma nova facção no cenário político.
Os artesãos foram os primeiros a se revoltarem com a Revolução Industrial
  As condições de trabalho eram terríveis. Na Inglaterra, a maior parte dos operários trabalhavam em fábricas de tecidos, onde as máquinas a vapor elevavam a temperatura ambiente a 50ºC. Isso ressecava os fios e, para evitar sua quebra, os donos das fábricas mandavam instalar chuveiros de água fria, que molhavam também os trabalhadores, provocando muitas doenças provocadas pelo choque térmico. Acidentes de trabalho eram comuns; muitos operários tinham braços ou pernas esmagados ou mesmo decepados pelas pesadas, instáveis e perigosas máquinas da época.
Fábrica de tecelagem no século XVIII
  Nas minas de carvão e ferro a situação era pior. Os mineiros trabalhavam sem nenhuma proteção em túneis e galerias pouco ventilados. Nas minas onde não havia máquinas a vapor eram os próprios trabalhadores que empurravam até a superfície os carrinhos cheios de minérios.
  Nas poucas horas que passavam em casa, os trabalhadores aproveitavam para simplesmente dormir. Suas casas tinham em geral apenas um cômodo, que funcionava como quarto e cozinha. Os banheiros eram coletivos e ficavam fora das casas. As vilas operárias ficavam próximas às fábricas, em locais onde as chaminés lançavam uma fumaça preta que impregnava as paredes, roupas e as pessoas.
  A base da mentalidade dos burgueses da época era a exploração máxima da classe trabalhadora - o proletariado - de maneira que pudessem garantir e manter a classe operária dependente. Os trabalhadores, submetidos a essa nova ordem, muito sofreram em busca de melhorias de vida que nunca chegavam, devido ao salário extremamente baixo. Acabavam realizando seus serviços pela própria subsistência, trabalhado até o limite das forças, as vezes também, eram tidos como negligentes e insubordinados pelos seus empregadores.
Trabalhadores em uma fábrica nos anos de 1800
  Os trabalhadores utilizavam os meios de produção que lhes pertenciam e geravam excedentes que, da mesma forma, nunca iriam lhes pertencer, com a única finalidade de produzir o lucro para os burgueses. Esses patrões os utilizariam para continuar a financiar a industrialização, enriquecendo frente ao contínuo empobrecimento dos proletários.
  Infelizmente, em pleno século XXI, as más condições pelo qual viveu o trabalhador no início da Revolução Industrial, ainda é uma realidade para a maioria dos trabalhadores, que recebem baixos salários, e o que é pior, com o processo de globalização, os trabalhadores que não possuem qualificação profissional (que são a maioria, principalmente nos países subdesenvolvidos), são forçados a sofrer a exploração, e muitas vezes, ainda são obrigados a trabalharem em condições subumanas ou até mesmo a realizarem o trabalho escravo.
Em pleno século XXI, o trabalho escravo ainda é uma realidade para muitos trabalhadores
O TRABALHO INFANTIL
  Entre os trabalhadores europeus do século XIX, havia muitas crianças. Para os patrões era vantajoso empregar crianças: elas costumavam ser mais submissas do que os adultos, recebiam salários ainda mais baixos e podiam se movimentar por espaços estreitos. Muitas vezes as crianças se arrastavam por debaixo das máquinas para recolher os restos de lã que caíam dela. Os retalhos eram recolhidos e retornavam à máquina para que não houvesse desperdício de matéria-prima, correndo o risco de serem esmagadas.
  Antes da Revolução Industrial, as famílias europeias viviam nas áreas rurais. Nessa época, as crianças começavam a trabalhar muito pequenas, auxiliando os pais nas tarefas do campo. No entanto, elas não realizavam trabalhos repetitivos e exaustivos, pois praticavam diferentes tarefas, que variavam desde semear até a fabricação de calçados. O convívio entre pais e filhos era bem intenso, pois o trabalho não ocupava o dia inteiro das pessoas e sobravam tempo para reuniões e festas entre famílias.
Durante o Feudalismo era comum o trabalho de crianças
  A vida nas cidades alterou completamente esse panorama das relações de trabalho familiares. Ao passar o dia nas fábricas, os pais perderam o convívio com seus filhos. As crianças, além de perderem o contato com a natureza e se depararem com um cenário urbano que se diferenciava na paisagem natural das zonas rurais, também foram atingidas pelas transformações nas relações de trabalho.
  A mudança do campo para a cidade contribuiu para a utilização do trabalho infantil nas indústrias. Inicialmente, só as crianças abandonadas em orfanatos eram entregues aos patrões para trabalharem nas fábricas. Com o passar do tempo, as crianças que tinham famílias começaram a trilhar o mesmo caminho, trabalhando por longas e exaustivas horas, perdendo toda a sua infância.
  Elas começavam a trabalhar aos seis anos de idade de maneira exaustiva. A carga horária era equivalente a uma jornada de 14 horas por dia, começando às 5 da manhã e encerrando às 7 horas da noite, e seu salário correspondia a quinta parte de um salário de uma pessoa adulta. As condições de trabalho eram precárias e as crianças estavam expostas a acidentes fatais e a diversas doenças.
Crianças trabalhando em uma fábrica de tecidos no século XIX
  Muitas vezes as crianças ficavam cansadas, sonolentas e não conseguiam manter a velocidade exigida pelas máquinas. Quando isso ocorria, em geral apanhavam para trabalhar mais rápido ou tinham a cabeça mergulhada na água fria para ficarem acordadas. Também eram punidas quando chegavam atrasadas ao trabalho ou quando conversavam com outras crianças, sendo até acorrentadas e enviadas à prisão.
  O trabalho infantil, em geral, é proibido por lei. Especificamente, as formas mais nocivas ou cruéis de trabalho infantil não apenas são proibidas, mas também constituem crime.
  A exploração do trabalho infantil é comum em países subdesenvolvidos e nos países emergentes, como o Brasil. Na maioria das vezes isto ocorre devido à necessidade de ajudar financeiramente a família. Muitas destas famílias são geralmente de pessoas pobres que possuem muitos filhos. É comum nas grandes cidades brasileiras a presença de menores em cruzamento de vias de grande tráfego, vendendo bens de pequeno valor monetário e até mesmo na zona rural, trabalhando nas carvoarias ou na roça.
Crianças trabalhando em carvoarias do Centro-Oeste
REVOLTA DOS OPERÁRIOS
  Revoltado com essa situação, os trabalhadores começaram a organizar lutas em prol de melhores condições de trabalho. A primeira luta de caráter político, empreendida pelos operários ingleses, foi a conquista do direito de voto. Nessa luta, o movimento operário contou inicialmente com o apoio da burguesia, uma vez que esta classe não podia enviar seus deputados para a câmara dos Comuns, que estava nas mãos dos latifundiários. A revolução de 1830 na França, acabou dando um grande impulso a esse movimento. Em 1832, o Parlamento promulgou um reforma do sistema eleitoral, beneficiando a burguesia e negando qualquer benefício aos operários.
  Em 1836, desencadeou-se uma crise industrial e comercial que lançou à rua milhares de operários. Organizou-se então, a Associação dos Operários para a luta pelo Sufrágio Universal. O Sufrágio foi o fim do voto censitário para todos os homens (nessa época, as mulheres ainda não podiam votar). No ano seguinte essa associação elaborou uma extensa petição (Carta do Povo) para ser enviada ao Parlamento. Por meio dessa petição, surgiu o movimento denominado cartismo. Reivindicava-se o Sufrágio Universal, a igualdade dos distritos eleitorais, a supressão do censo exigido dos candidatos do Parlamento, o voto secreto, eleições anuais e salário para os membros do Parlamento.
Motim cartista em Londres
  De 1838 em diante, o movimento cartista espalhou-se  por toda a Inglaterra, ganhando a adesão maciça dos trabalhadores e ampliando a pauta de reivindicações nitidamente operárias: limitação da jornada de trabalho, abolição da Lei dos Pobres e fim das casas operárias.
OS DESTRUIDORES DE MÁQUINAS
  Desde o início do processo de industrialização houve revoltas individuais que não levaram a consequências imediatas. Apesar de sua revolta, para ter o que comer os operários eram obrigados a aceitar as condições  de trabalho oferecidas pelos donos das fábricas. Ainda por cima, desde o fim do século XV os cidadãos ingleses estavam sujeitos a duras leis contra a recusa ao trabalho. Segundo essas leis, aqueles que não tinham licença do Estado para mendigar eram definidos como vagabundos. Eram açoitados, tinham metade da orelha cortada - para serem facilmente identificados - e podiam ser até mesmo condenados à morte, como traidores do Estado.
A insalubridade marcava a vida dos trabalhadores no século XVIII
  Diante dessas péssimas condições de vida, os operários não demoraram a se revoltar. A primeira forma de revolta coletiva aconteceu na Inglaterra no início do século XIX. Essa revolta começou na noite de 12 de abril de 1811, quando cerca de 350 homens, mulheres e crianças atacaram a fábrica de tecidos  de William Cartwrigth, próxima ao povoado de Arnold, no condado de Nottingham. Os revoltosos destruíram os teares e incendiaram as instalações. Dezenas de teares foram destruídos naquela noite em outros povoados das redondezas. Nos dias subsequentes, os condados vizinhos de Derby, Leicester e York também foram atacados, e a agitação se expandiu pela Inglaterra por dois anos.
Desenho de dois homens destruindo uma máquina de tear em 1812
  Esses destruidores de máquinas eram chamados de ludistas ou luditas, em referência a Ned Ludd, ou King Ludd, o suposto líder do movimento. O ludismo foi um movimento que ia contra a mecanização do trabalho proporcionado pelo advento da Revolução Industrial. Adaptado aos dias de hoje, o termo ludita (do inglês luddite) identifica toda pessoa que se opõe à industrialização intensa ou a novas tecnologias, geralmente vinculadas ao movimento operário anarcoprimitivista. Alguns autores acreditam que Ludd realmente existiu, mas ele pode ter sido apenas uma invenção dos operários para confundir a polícia. Vários ludistas que foram enforcados na década de 1810 se diziam o próprio Ned Ludd. O ludismo ou movimento ludista foi desarticulado com a mobilização de 10 mil soldados ingleses e desapareceu depois do enforcamento de seu último condenado, em 1816.
Gravura de 1812 que mostra o líder dos ludistas
  Além de organizar grupos para destruir máquinas à noite, os ludistas enviavam cartas ameaçadoras aos proprietários de máquinas.
ANARQUISMO E COMUNISMO
  Nem ludistas nem cartistas foram capazes de encontrar soluções para os problemas enfrentados pelos operários. Não era possível combater os patrões apenas quebrando suas máquinas. Também era muito difícil alcançar melhores condições de trabalho solicitando-as ao governo, pois muitos industriais faziam parte dele.
  Em meio a essas revoltas, surgiram novas formas de organização dos operários: os chamados movimentos socialistas. Eles defendiam a ideia de que para melhorar as condições de trabalho dos operários era necessário mudar a sociedade como um todo.
  Os dois principais movimentos socialistas surgidos no século XIX foram o anarquismo e o comunismo.
Símbolo do anarquismo
  Os anarquistas acreditavam que melhorar as condições de vida dos operários só seria possível com a extinção do Estado e de todas as formas de poder. Para os anarquistas, somente uma sociedade organizada sem autoridade, sem escola, sem polícia e sem quaisquer outras instituições estatais poderia acabar com a exploração dos seres humanos.
  Os comunistas, por sua vez, acreditavam que a situação de exploração só teria fim quando os operários assumissem o controle do Estado e organizassem um governo capaz de criar outros valores sociais.
A foice, o martelo e a estrela vermelha são os símbolos do comunismo
  Com os objetivos semelhantes, mas métodos diferentes, anarquistas e comunistas lideravam o movimento operário e suas várias correntes ao longo do século XIX. Diversos intelectuais se juntaram a esses movimentos, como o russo Mikhail Bakunin (1814-1876), o francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), os alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), entre outros. Karl Marx e Friedrich Engels publicaram manifestos sobre a condição dos trabalhadores e estudos de economia nos quais defendiam uma proposta de sociedade comunista.
  Pierre-Joseph Proudhon é considerado um dos mais influentes teóricos e escritores do anarquismo, sendo também o primeiro a se autoproclamar anarquista. Seu primeiro e maior trabalho foi O que é a Propriedade? Pesquisa sobre o Princípio do Direito e do Governo, publicado em 1840.
  Proudhon favoreceu a associação dos trabalhadores ou cooperativas, bem como o propriedade coletiva dos trabalhadores da cidade e do campo em relação aos meios de produção, em contraposição à nacionalização da terra e dos espaços de trabalho. Ele considerava que a revolução social poderia ser alcançada através de formas pacíficas.
Pierre-Joseph Proudhon
  Karl Marx foi o responsável pela análise econômica e histórica mais detalhada da evolução das relações econômicas entre as classes sociais, razão pela qual é considerado o pai do "socialismo científico". Marx procurou demonstrar a dinâmica econômica que levou a sociedade, partindo do comunismo primitivo, até a concentração cada vez mais acentuada do capital e o aparecimento da classe operária. Esta, ao mesmo tempo, seria filha do capitalismo e a fonte de sua futura ruína, explicando a evolução da sociedade em termos puramente econômicos, referindo à acumulação do capital através da mais-valia, ou seja, a diferença entre o valor final da mercadoria produzida e a soma do valor dos meios de produção e do valor do trabalho, que seria a base do lucro no sistema capitalista.
Karl Marx
  Principal colaborador de Karl Marx, Friedrich Engels desempenhou papel de destaque na elaboração da teoria comunista, a partir do materialismo histórico e dialético. Era o filho mais velho de um rico industrial de Barmen, na Alemanha.
  Na juventude, ficou impressionado com a miséria em que viviam os trabalhadores das fábricas de sua família. Indignado, desenvolveu um detalhado estudo sobre a situação da classe operária na Inglaterra. Em 1842, com 22 anos de idade, Engels foi enviado por seus pais para Manchester, Inglaterra, para trabalhar numa fábrica de sua família que fazia linhas de costura.
  Quando ainda era estudante, Engels aderiu as ideias de esquerda, aproximando-se de Karl Marx. Assumiu por alguns anos a direção de uma das fábricas de seu pai em Manchester e suas observações nesse período formam a base de uma de suas principais obras: A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra, publicada em 1845.
  Muitos de seus trabalhos posteriores são produzidos em colaboração com Marx, sendo o mais famoso deles o que foi intitulado Manifesto Comunista, lançado em 1848.
Friedrich Engels
Cardoso, Oldimar. Leituras da história, 8º ano / Oldimar Cardoso. 1. ed. -- São Paulo: Escala Educacional, 2012. (Leituras da história).

domingo, 9 de março de 2014

A CRISE NA CRIMEIA

  A Crimeia é uma república autônoma da Ucrânia e está localizada em uma península do Mar Negro. Essa região pertenceu à Rússia, no período em que os dois países faziam parte da ex-União Soviética. Em 1954, a Ucrânia anexou a Crimeia ao seu território, na época em que Nikita Krushchev - que era de origem ucraniana - governava a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Diferente do restante do território ucraniano, a Crimeia possui uma população majoritariamente russa. Em 1991, com a desintegração da União Soviética e a criação de 15 novos países, a Crimeia passou a ser uma república semi-autônoma da Ucrânia, com fortes laços políticos com o país e com a vizinha Federação Russa.
Foto de satélite da península da Crimeia e do Mar de Azov
  A Crimeia possui seu próprio corpo legislativo e o poder executivo é detido por um Conselho de Ministros, governado por um presidente que serve de acordo com a aprovação do presidente da Ucrânia. Já os tribunais, fazem parte do sistema judicial da Ucrânia e não possuem autoridade autônoma.
GEOGRAFIA DA CRIMEIA
  A Crimeia possui uma área de 26.081 km², um pouco menor que o estado de Alagoas. Sua população em 2013 estava estimada em 2.143.321 habitantes. Faz fronteira com a região do Kherson a norte, com o Mar Negro ao sul e a oeste e com o Mar de Azov a leste. Conecta-se coma a Ucrânia pelo istmo de Perekop. No extremo oriental encontra-se a península de Kerch, de frente para a península de Taman, em terras russas. Entre as penínsulas de Kerch e Taman encontra-se o estreito de Kerch, que liga o Mar Negro ao Mar de Azov. A capital da Crimeia é Simferopol.
Simferopol - capital da Crimeia
  A costa da Crimeia é repleta de baías e portos. Na costa sudeste existe uma cadeia de montanhas conhecida como Cordilheira da Crimeia. Essas montanhas são acompanhadas por uma segunda cadeia paralela. A cadeia principal dessas montanhas ergue-se abruptamente do fundo do Mar Negro, alcançando uma altitude de 600 a 750 metros, começando no sudoeste da península, denominada de Cabo Fiolente.
Cordilheira da Crimeia
ECONOMIA DA CRIMEIA
  Durante os anos de poder soviético, as vilas e as dachas - fazendas, casas de campo ou mansão - da costa da Crimeia eram privilégio dos políticos fiéis ao regime socialista. Também encontram-se vinhedos e pomares nessa região. Outras atividades econômicas importantes são a pesca, a mineração e a produção de diversos óleos. Inúmeros edifícios da família imperial russa também embelezam a região, bem como pitorescos castelos gregos e medievais.
  Durante vários séculos a Ucrânia foi chamada de "celeiro agrícola da Rússia", devido ter sido a grande produtora de grãos que serviam para alimentar o vasto império czarista. Ainda hoje, a Ucrânia é um dos maiores produtores mundiais de milho e trigo, graças ao seu solo escuro e rico em matéria orgânica, o tchernoziom. Grande parte dos produtos agrícolas exportados pela Ucrânia passa pelos portos da Crimeia.
Baía de Laspi, no Mar Negro - Crimeia
  O turismo é outra importante fonte de renda, porém, o clima semiárido obriga a Crimeia a ser dependente da Ucrânia, tanto na questão da água como na alimentação.
  O quadro de energia na Crimeia e também na Ucrânia é bastante complicado. A maior parte da eletricidade da região vem da Ucrânia, e a Europa importa da Rússia cerca de 25% do gás natural. Além disso, o gás que a Rússia envia para a Europa passa por gasodutos que cortam a Ucrânia, que recebe ajuda russa por esse transporte. Uma guerra na região afetaria diretamente a economia europeia.
Gasodutos russos
ANTECEDENTES POLÍTICOS NA CRIMEIA
  De 1853 a 1856, a Guerra da Crimeia agitou a área, quando a França, Inglaterra e o Império Otomano lutaram contra os russos pelo controle da Crimeia e do Mar Negro. A Rússia acabou perdendo e cedeu sua reivindicação para a península, porém, antes de ceder a região da Crimeia, os russos devastaram as cidades e aldeias da região.
  Apesar de sua devastação, a Guerra da Crimeia foi notável por vários avanços: Florence Nightingale e cirurgiões russos introduziram métodos modernos de enfermagem e campos de batalha, os russos aboliram o sistema medieval de servidão e o uso da fotografia e do telégrafo deu a guerra um elenco distintamente moderno.
Florence Nightingale (1820-1910) - enfermeira britânica
  A entrada de povos tártaros no século XIII foi primordial para a introdução da religião islâmica na região. Esse povo era conhecido como mercadores de escravos que invadiram terras no extremo norte, na atual Polônia.
  Durante a Segunda Guerra Mundial, os tártaros da Crimeia foram deportados para servir como trabalhadores braçais na Rússia em condições desumanas, resultando na morte de milhares de tártaros.
  Após a desintegração da União Soviética, os tártaros começaram a retornar à Crimeia e hoje representa cerca de 12% da população da região. Numa eventual anexação da Crimeia por parte da Rússia, os tártaros poderão sofrer retaliações, pois a sua grande maioria é contrária a anexação.
Principais grupos étnicos da Crimeia
  A Crimeia proclamou sua independência em 5 de maio de 1992, mas concordou em permanecer parte integrante da Ucrânia como uma República autônoma. A cidade de Sebastopol está situada dentro da República, mas tem um status municipal especial na Ucrânia.
ATUAL CRISE POLÍTICA NA CRIMEIA
  A Crimeia se tornou foco da atenção da diplomacia internacional nas últimas semanas com uma escalada militar russa e ucraniana na região. As tensões separatistas, de maioria russa, se tornaram mais acirradas com a deposição do presidente ucraniano Viktor Yanukovich, que tinha desistido de assinar um tratado de livre-comércio com a União Europeia, preferindo estreitar relações econômicas com a Rússia. A renúncia de Viktor Yanukovich levou a Rússia a aprovar o envio de tropas para "normalizar" a situação. A medida só piorou as relações entre Ucrânia e Rússia, gerando grande perigo para a região.
Soldados russos no aeroporto de Simferopol
  Na Crimeia, de maioria russa, o parlamento local foi dominado por um comando pró-Rússia, que nomeou Sergei Axionov como premiê. Esse novo governo, considerado ilegal pela Ucrânia, aprovou sua adesão à Federação Russa e a realização de um referendo sobre o status da região, que ocorrerá no dia 16 de março de 2014.
  Com a intensificação das tensões separatistas, o Parlamento russo aprovou o envio de tropas para a região da Crimeia. Essas tropas não tinham identificação, porém, demonstravam claramente que eram russas - por meio de placas registradas nos veículos - e tomaram a Crimeia, dominando bases militares e aeroportos. A Rússia justificou o movimento dizendo se reservar o direito de proteger seus interesses e os de seus cidadãos em caso de violência na Ucrânia e na região da Crimeia.
Grupo pró-Rússia sobre tanque soviético em frente ao Parlamento de Simferopol
  A escalada militar fez com que diversos oficiais do exército ucraniano se juntassem ao governo local pró-russo. Outros abandonaram seus postos. No dia 4 de março, o novo governo da Crimeia anunciou que assumiu o controle da península, dando um ultimato para que os últimos oficiais leais à Ucrânia se rendessem.
  Para muitos russos, a Crimeia e sua "Cidade Heroica" de Sebastopol, da era soviética, sitiada pelos invasores nazistas, têm uma ressonância emocional muito forte, por já ter sido parte do país e ainda ter a maioria de sua população de origem russa. Além disso, a maior parte da frota russa do Mar Negro está na Crimeia. Para a Ucrânia, a perda da Crimeia para a Rússia significaria um duro golpe.
  Crimeia (incluindo Sebastopol)
  Restante da Ucrânia
  O novo governo ucraniano, pró-União Europeia, criticou os movimentos separatistas e classificou a aprovação de intervenção militar russa como uma declaração de guerra, convocando todas as suas reservas militares para reagir a um possível ataque russo. O país pediu apoio do Conselho de Segurança da ONU para conter a crise na península e defender sua integridade territorial.
  Os Estados Unidos e outros países ocidentais exigem o recuo das tropas russas na Crimeia, ameaçando a Rússia com sanções, como a suspensão de transações comerciais com o país e o cancelamento do acordo de cooperação militar com Moscou.
  Outros países do ocidente também pressionam a Rússia por uma saída diplomática. A escalada da tensão provocou uma ruptura entre as grandes potências, inclusive ameaçando a Rússia de deixar de fazer parte do G-8.
  O temor mundial é que qualquer ação militar ocidental direta provocaria uma guerra entre as superpotências nucleares. Relativamente pequena e com arsenal reduzido, as forças da Ucrânia poderiam agir, mas correriam o risco de incitar uma invasão russa muito mais ampla que poderia leva à dominação do país.
Manifestantes que apoiam a intervenção russa estendem a bandeira do país no centro de Simferopol
  A Rússia pode cortar o fornecimento de gás para a Europa, cujos gasodutos passam pela Ucrânia, e poderia provocar um ataque cibernético que poderiam ser usadas contra a Ucrânia ou o Ocidente.
FONTE: Agência de Notícias Reuters

sexta-feira, 7 de março de 2014

ASPECTOS FÍSICOS DA AMÉRICA ANGLO-SAXÔNICA

  A expressão América Anglo-Saxônica refere-se aos países das Américas que tem como principal idioma o inglês e que também possuem laços históricos, étnicos, linguísticos e culturais com o Reino Unido. Os dois países que compõem essa parte do continente são os Estados Unidos e o Canadá.
  No continente americano existe outros países que também possuem forte relação com o Reino Unido, mas não fazem parte da América Anglo-Saxônica devido a sua condição de subdesenvolvimento, como Belize e algumas ilhas do Caribe, na América Central, e a Guiana, na América do Sul.
  Os Estados Unidos é um dos países mais extensos do mundo. Ele contém terras contínuas, onde se encontram 48 dos 50 estados da Federação e ainda porções descontínuas, como os estados do Alasca (que se situa ao norte do Canadá) e o Havaí, um arquipélago vulcânico que se localiza no oceano Pacífico.
Divisão política dos Estados Unidos
  O Canadá, mesmo tendo vasta extensão (é o segundo maior país em extensão do mundo, perdendo apenas para a Federação Russa), apresenta baixa densidade demográfica. Essa característica pode ser explicada pelo fato de boa parte de sua área localizar-se nas proximidade e até mesmo dentro do Círculo Polar Ártico, o que resulta em condições climáticas extremamente rigorosas, dificultando, assim, a ocupação do território canadense.
  Os Estados Unidos e o Canadá apresentam grande diversidade de paisagens em razão da interação entre suas formas de relevo, seus tipos climáticos e suas formações vegetais.
Divisão política do Canadá
O RELEVO DA AMÉRICA ANGLO-SAXÔNICA
  Os territórios do Canadá e dos Estados Unidos são divididos em três grandes unidades de relevo: as montanhas e planaltos antigos do leste, as montanhas jovens do oeste e as planícies centrais.
Mapa físico da América Anglo-Saxônica
Montanhas e planaltos antigos do leste
  Essa área da América Anglo-Saxônica abrange os planaltos Laurenciano e do Labrador e os montes Apalaches, um conjunto de planaltos e montanhas muito antigos e desgastados pela erosão, que atua há muito tempo sobre as rochas formadas nos primeiros períodos da Terra e, por isso, apresentam altitudes moderadas, oscilando entre mil e dois mil metros. Sendo a primeira região a ser colonizada pelos europeus, encontra-se hoje intensamente transformada. Seus recursos naturais, especialmente os minérios, sustentaram por muito tempo a industrialização dos Estados Unidos. O ponto culminante dessa porção do relevo é o monte Mitchell, nos Estados Unidos, com 2.037 metros. A planície litorânea ou costeira acompanha o contorno do oceano Atlântico.
Monte Mitchell, nos Estados Unidos
Montanhas jovens do oeste
  Estão situadas em uma extensa área de contato entre a placa tectônica do Pacífico e a Norte-Americana. Nesta região, no período terciário da Era Cenozoica (entre 70 e 2 milhões de anos atrás), formou-se uma ampla cadeia de montanhas denominada de Montanhas Rochosas ou Rochosas. Essa extensa cordilheira chega a elevar-se cerca de 4 mil metros de altitude, chegando a mais de 6 mil metros.
  As Montanhas Rochosas seguem por mais de 4.800 quilômetros a partir da parte norte da Colúmbia Britânica, no oeste do Canadá, até o Novo México, no sudoeste dos Estados Unidos. O pico mais alto de toda a América Anglo-Saxônica é o monte McKinley, no Alasca, com 6.194 metros acima do nível do mar.
Monte McKinley
  As Montanhas Rochosas foram formadas há cerca de 65 milhões de anos atrás pela Orogenia Laramide. A erosão pela água e os glaciares são os principais agentes modeladores do relevo na região, dando origem a vales e picos íngremes.
  Grande parte da cordilheira foi transformada no Parque Nacional das Montanhas Rochosas. Atualmente, a área conservada preserva os ecossistemas naturais e a beleza cênica do local. O turismo é uma das principais atividades econômicas desenvolvidas na região.
Parque Nacional das Montanhas Rochosas, no Canadá
  Na porção oeste dos Estados Unidos encontra-se o Grand Canyon, formado em áreas constituídas de rochas sedimentares, que, no decorrer de milhões de anos, vem sendo desgastadas pelas águas do Rio Colorado, que percorre a região. Os processos erosivos vêm desenhando longos e profundos vales em forma de canyons.
  O Grand Canyon é considerado uma das sete maravilhas naturais do mundo e é um ponto turístico visitado por milhares de turistas anualmente. Possui  cerca de 126.025 metros e fica localizado entre Las Vegas e Albuquerque.
Grand Canyon
Planícies Centrais
  Localizado no centro da América Anglo-Saxônica, as planícies centrais são extensas áreas de planície que vão do Golfo do México até as águas do Oceano Glacial Ártico, cujas altitudes vão além dos 500 metros. O Rio Mississipi atravessa as planícies centrais nos Estados Unidos e forma, com seus afluentes vindos dos  montes Apalaches a leste e das montanhas Rochosas a oeste, uma densa rede hidrográfica. No norte, os lagos são muito numerosos, caracterizando as planícies lacustres do Canadá. No centro, aparecem as planícies dos Grandes Lagos. Essas planícies correspondem às regiões mais férteis dos dois países.
Cataratas do Niágara, nas planícies centrais canadenses
A HIDROGRAFIA DA AMÉRICA ANGLO-SAXÔNICA
  A América Anglo-Saxônica possui uma enorme região lacustre no nordeste, na fronteira dos Estados Unidos com o Canadá - a chamada região dos Grandes Lagos. Existe também vários lagos interiores, como o Superior, Michigan, Erie e Ontário, em meio a muitos outros menores. Esses lagos estão ligados ao oceano Atlântico pelo rio São Lourenço.
  A América Anglo-Saxônica possui vários rios de grande importância para os dois países. Esses rios estão divididos em quatro vertentes: Pacífico, Golfo do México, Atlântico e Ártico.
Mapa da hidrografia da América Anglo-Saxônica
Vertente do Ártico
  Essa vertente compreende os rios que nascem nas Montanhas Rochosas ou no Planalto Canadense e correm para o norte. A maior parte deles deságua na Baía de Hudson.
  A principal característica dos rios da vertente Ártica é que suas águas ficam congeladas durante boa parte do ano, pois estão localizados em altas latitudes da América Anglo-Saxônica. Além disso, são rios sem muita importância socioeconômica, pois correm sobre terras escassamente povoadas ou despovoadas.
  O Rio Mackenzie é o maior e mais importante rio da vertente Ártica. Ele nasce no Grande Lago de Escravo e deságua no Oceano Glacial Ártico, depois de percorrer mais de 4.200 quilômetros sobre terras geladas do Canadá.
Rio Mackenzie
Vertente do Pacífico
  Devido ao relevo das regiões que percorre, os rios da vertente do Pacífico são geralmente pequenos e têm curso encachoeirado, pois quase sempre descem das altas montanhas do Oeste.
  Na América Anglo-Saxônica, diferente dos rios da América Latina, onde as montanhas jovens são mais largas e de menores altitudes que na América do Sul, há alguns rios de relativa expressão. Entre eles, destaca-se o Rio Colorado.
  O Rio Colorado nasce no planalto de mesmo nome e seu curso tem 2.334 quilômetros. Ao percorrer rochas sedimentares pouco resistentes à erosão, o Rio Colorado escavou profundos vales chamados canyons, como o Grand Canyon.
Rio Colorado na Horseshoe Bend (Dobra da Fechadura)
Vertente do Golfo do México
  Diversos rios deságuam no Golfo do México, vindos tanto das montanhas jovens do oeste quanto das montanhas velhas do leste. O principal deles é o rio Mississipi.
  O Mississipi nasce perto dos Grandes Lagos e corre para o sul, atravessando a grande planície que leva seu nome. É um típico rio de planície, sendo navegável em quase toda a sua extensão, que é de 3.779 quilômetros. Graças a sua condição de navegabilidade, esse rio desempenhou um papel histórico importante, a ponto de ser apelidado de "rio da unidade nacional".
Nascente do Rio Mississipi
  Além do Mississipi, outro rio destaca-se na vertente do Golfo do México: o Rio Grande. Esse rio nasce no Planalto do Colorado e serve de fronteira natural entre os Estados Unidos e o México. Por dividir os dois países, vários mexicanos e latino-americanos já morreram tentando atravessá-lo para buscar trabalho e melhores condições de vida nos Estados Unidos.
Rio Grande, na fronteira entre os Estados Unidos e o México
Vertente do Atlântico
  A vertente do Atlântico é a mais extensa de todo o continente americano. É também a mais importante por causa do grande número de bacias que dela fazem parte e do papel desempenhado por muitos rios no povoamento e na economia das regiões que percorrem.
  Na América Anglo-Saxônica, ao contrário da América do Sul, os rios dessa vertente são de pequena dimensão, com exceção do Rio São Lourenço, que nessa porção do continente, é o principal rio da vertente do Atlântico. Outro rio de grande importância, por banhar uma das maiores cidades do mundo, Nova York, é o Rio Hudson.
Rio Hudson
  O Rio São Lourenço, que conecta os Grandes Lagos com o oceano Atlântico. Sua foz é o Golfo de São Lourenço, o maior estuário do mundo. Às margens desse rio encontram-se importantes cidades como Kingston, Montreal, Quebec e Trois-Riviéres, no Canadá.
Rio São Lourenço, em Quebec - Canadá
A região dos Grandes Lagos
  Os  Grandes Lagos são um conjunto de cinco lagos situados na América Anglo-Saxônica. Formado pelos lagos Superior, Michigan, Huron, Erie e Ontário, os Grandes Lagos são o maior grupo de lagos de água doce do mundo. Esses lagos nasceram com o recuo da imensa calota glaciária que, há mais de 10 mil anos, cobria o Canadá e o norte dos Estados Unidos.
Imagem de satélite dos Grandes Lagos
  A região dos Grandes Lagos é dotada de uma singular importância histórica, cultural e econômica para os Estados Unidos e o Canadá, que apresentam perto das suas margens as mais tradicionais zonas de povoamento e industrialização. Além de desempenharem, há mais de um século, o papel de zona de trânsito e transporte entre polos industriais, passou a servir, a partir de 1959, também à navegação e ao comércio transoceânico em razão da abertura da via marítima do Rio São Lourenço. Essa via permite aos navios de regiões distantes chegarem a importantes cidades, como Detroit, Cleveland e Chicago, nos Estados Unidos, ou Toronto e Hamilton, nas margens canadenses, todas situadas longe das costas marítimas mais acessíveis.
Lago Superior, no Canadá
  A intensa e antiga presença humana vem gerando sérios impactos ambientais e alterações nas paisagens dessa porção da América Anglo-Saxônica, e a poluição das águas representa hoje uma das mais sérias ameaças à exuberância de sua natureza.
O CLIMA DA AMÉRICA ANGLO-SAXÔNICA
Mapa climático da América Anglo-Saxônica
  A inter-relação entre fatores naturais existentes na América Anglo-Saxônica propiciam a formação de uma grande variedade de climas e vegetação.
  A totalidade da América Anglo-Saxônica situa-se ao norte do Trópico de Câncer, onde o clima temperado, predominante na região, é responsável por temperaturas médias anuais inferiores a 20ºC. O clima temperado caracteriza regiões cuja temperatura varia regularmente ao longo do ano, com a média acima de 10ºC, nos meses mais quentes, e entre -3ºC e -18ºC, nos meses mais frios. Esse clima possui quatro estações bem definidas: um verão relativamente quente, um outono com temperaturas gradativamente mais baixas com o passar dos dias, um inverno frio, e uma primavera com temperaturas gradativamente mais altas com o passar dos dias. A umidade depende da localização e condições geográficas de uma dada região.
Clima temperado continental úmido de Nova York - EUA
  A cadeia montanhosa, localizada a oeste do território, representa uma barreira natural para as massas de ar que vêm do oceano Pacífico em direção ao interior do continente. Essa barreira bloqueia a umidade das chuvas e contribui para a formação de áreas de desertos.
  As áreas desérticas da América Anglo-Saxônica correspondem ao deserto de Sonora, do qual faz parte os desertos do Arizona e o de Mojave, na Califórnia, localizados no oeste dos Estados Unidos.
Deserto de Sonora, no Arizona - EUA

  Nos territórios anglo-saxões localizados nas porções norte do continente, registra-se a presença de climas mais frios, visto que há menor incidência direta de radiação solar nas áreas de elevada latitude. Nessas áreas predomina o clima polar.
  O clima polar possui temperaturas médias muito baixas ficando entre -30ºC. No verão as temperaturas não ultrapassam os 10ºC, porém, durante o inverno a temperatura pode chegar a -50ºC. Os ventos são intensos e o solo fica coberto de gelo a maior parte do ano. No inverno há dias em que o Sol não nasce - a chamada noite polar - e no verão, há dias em que o Sol não se põe no horizonte - o chamado sol da meia-noite.
Área de clima polar em Nunavut - Canadá
  A corrente marítima quente do Golfo, propicia a entrada de ventos úmidos e a formação de climas mais chuvosos na porção leste dos Estados Unidos. Já as correntes frias, como a da Califórnia que atinge a porção oeste do território estadunidense, diminuem a evaporação, favorecendo a existência de climas mais frios e secos.
A VEGETAÇÃO DA AMÉRICA ANGLO-SAXÔNICA
Mapa das formações vegetais da América Anglo-Saxônica
  A vegetação obedece às condições impostas pelo clima. Na América Anglo-Saxônica, as principais formações vegetais presentes são a floresta temperada, a floresta boreal ou taiga, a savana, a vegetação de estepes e pradarias, a vegetação mediterrânea, a vegetação de altitude, a tundra e a vegetação desértica.
Tundra
  Localizada no extremo norte do continente, nos territórios do Canadá e do Alasca, a vegetação de tundra é um tipo de vegetação que só ocorre durante o curto verão polar, quando o gelo derrete e a vegetação floresce e se reproduz. É composta por arbustos, ciperáceas - plantas herbáceas -, gramíneas, líquens e musgos. Logo após o verão, quando se reinicia o longo inverno, a tundra volta a desaparecer sob o gelo.
Vegetação de tundra no norte do Canadá
Floresta de coníferas
  Também denominada de floresta boreal ou taiga, desenvolve-se em regiões de clima frio que apresenta apenas duas estações: um inverno longo e um verão curto. No Canadá, usa-se o termo floresta boreal para designar a parte mais meridional desse bioma, e o termo taiga é usado para designar as áreas menos arborizadas ao sul da linha de vegetação arbórea do Ártico.
  Na floresta de coníferas, diferente da tundra, o solo descongela por completo no verão permitindo a formação de florestas aciculifoliadas - plantas com folhas em forma de agulha - e há migração de animais de grande e médio portes. As principais espécies desse tipo de vegetação são larícios, abetos, pinheiros e espruces, além de algumas plantas de folhas largas, como vidoeiros, faias, salgueiros e sorveiras.
Floresta boreal no Canadá
Floresta temperada
  A floresta temperada é um tipo de vegetação que cresce nas áreas onde as quatro estações do ano são bem definidas. A vegetação predominante é a caducifólia - que perde suas folhas durante uma certa estação do ano. As principais espécies são o carvalho, os bardos, as faias, as nogueiras, entre outras. Atualmente, essa vegetação se encontra fortemente alterada pela ação humana.
Floresta temperada em Oregon - EUA
Vegetação de estepes e pradarias
  As estepes e as pradarias ocorrem na região central dos Estados Unidos, cuja vegetação predominante são gramíneas e herbáceas. É uma formação vegetal de planície com poucas árvores, composta de herbáceas e pequenos bosques. As estepes ocorrem mais em áreas de clima semiárido e as pradarias ocorrem em áreas de clima mais úmido. Às vezes aparece numa zona de transição vegetativa e climática entre a área de savana e o deserto.
Vegetação de pradarias em Kansas - EUA
Vegetação desértica
  Ocorre nas regiões onde atua o clima desértico, muito seco ao longo do ano. Nessas áreas encontram-se plantas adaptadas a escassez de água, as denominadas plantas xerófilas.
  As paisagens desérticas têm alguns elementos em comum. O solo do deserto é principalmente composto de areia, com frequente formação de dunas. Paisagens de solo rochoso são típicas, e refletem o reduzido desenvolvimento do solo e a escassez de vegetação. Os processos de erosão eólica (provocada pelo vento) são importantes fatores na formação de paisagens desérticas.
Deserto do Arizona - EUA
Vegetação de alta montanha
  Localizada nas áreas de altas montanhas, trata-se de uma vegetação bastante variável conforme a altitude e a posição do relevo. Predominantemente campestre, é composta de gramíneas e arbustos nas partes mais baixas do relevo, e musgos e línquens nas partes mais elevadas.
Vegetação de montanhas no Canadá
Vegetação mediterrânea
  O litoral sudoeste dos Estados Unidos apresenta uma vegetação densamente arborizada, caracterizada por árvores de pequeno e médio porte adaptadas a períodos secos. Essa região, normalmente, recebe ventos úmidos e chuva durante o inverno, apresentando verões quentes e secos e invernos úmidos e frios.
Vegetação mediterrânea, na Califórnia - EUA
FONTE: Torrezani, Neiva Camargo. Vontade de saber geografia, 8º ano / Neiva Camargo Torrezani. - 1. ed. - São Paulo: FTD, 2012.

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