quarta-feira, 23 de novembro de 2011

AS AGROINDÚSTRIAS

  A agropecuária é o núcleo central da produção agrícola e representa o processo de cultivo de plantas e de criação de animais. Normalmente, é o campo que fornece os produtos para a indústrias de transformação e os alimentos in natura (em sua forma natural) para o consumo.
  Assim, a agropecuária é composta pela agricultura (que se divide em lavouras temporárias e permanentes), pela pecuária (criações de aves, gado etc.) e pelo extrativismo comercial.
  Há vários tipos de agroindústria: 
1. Agroindústria de processamento - transforma os produtos vindos da agropecuária em bens de consumo. São exemplos disso o setor têxtil e de vestuário (com a transformação do algodão e de outras fibras naturais), o setor alimentício (sucos, bebidas, café, leite, alimentos processados etc.) e a agroindústria florestal (madeira, papel, celulose, móveis etc.).
Produtos da agroindústria de processamento
2. Agroindústria de bens de capital - responde pela produção de insumos e instrumentos que possibilitam o aumento da produtividade na agricultura. Estão nesse ramo industrial a produção de tratores, colheitadeiras e implementos agrícolas, os sistemas de irrigação, as indústrias de fertilizantes, corretivos e defensivos, a produção de ração animal e a de sementes melhoradas, mudas etc.
Máquinas agrícolas - fazem parte da agroindústria de bens de capitais
3. Agrosserviços - estão ligados ao desenvolvimento de serviços que influem diretamente na produção agropecuária. O agrosserviço divide-se em três ramos distintos:
a) Agrosserviço de preparação e logística - nele se incluem casas de beneficiamento para frutas frescas (laranjas, maçãs, uvas etc.), o setor de armazenamento (silos, armazéns, depósitos etc.), estruturas de seleção e empacotamento (para arroz, feijão, milho, batata, cebola etc.) e o setor de transporte (para produtos perecíveis, hortifrútis e cargas em geral).
Silos agrícolas - compreende os agrosserviços de preparação e logística
b) Agrosserviço de aprimoramento e ampliação - está associado à prestação de serviços especializados na gestão e no aprimoramento dos negócios agropecuários, tais como a manutenção de equipamentos agrícolas (assistência técnica, oficinas etc.), o planejamento e gerenciamento financeiro e contábil, serviços de terraplenagem e pesquisa e desenvolvimento para a agropecuária (adaptação de tecnologia etc.).
Crédito Agrícola - corresponde ao agrosserviço de aprimoramento e ampliação
c) Agrosserviço transacional e de distribuição - engloba pessoas e estruturas especializadas na comercialização dos produtos agropecuários, tais como atacadistas e varejistas, feiras livres e empresas de exportação, bolsas de mercadorias etc.
Comercialização de produtos agrícolas - corresponde ao agrosserviço de distribuição
FONTE: Geografia, 1° ano: ensino médio / organizadores: Fernando dos Santos Sampaio, Ivone Silveira Sucena - 1. ed. - São Paulo: Edições SM, 2010. - (Coleção ser protagonista).

terça-feira, 22 de novembro de 2011

OS CONFLITOS EM CHIAPAS - MÉXICO

  Os estados de Chiapas, Oaxaca e Guerrero são considerados as regiões mais carentes do México. Habitados principalmente por camponeses descendentes de indígenas, esses estados promoveram um grande movimento popular armado na década de 1990.
  Em 1982, formou-se em Chiapas o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), que reivindicava a manutenção das línguas, dos costumes e das tradições indígenas, o direito de cultivar a terra, além de melhorias nos setores econômico e social. A organização teve um expressivo crescimento, pois recebeu a adesão de diversas comunidades indígenas da região.
Sub-comandante Marcos - líder do EZLN
  Em 1994, explodiu a rebelião em Chiapas. Os integrantes do EZLN utilizaram armas de todos os tipos, desde pedaços de madeira e espingardas de ar comprimido até metralhadoras de última geração. Quinze dias após o início da rebelião, o governo federal mexicano tomou a iniciativa do cessar-fogo. Em todo o país ocorreram manifestações de apoio ao movimento de Chiapas, assim como de protestos contra o Nafta.
  Em 1996, o governo mexicano propôs alguns acordos garantindo direitos e autonomia aos indígenas, os quais foram ratificados no ano de 2001.
  Desde o início do movimento, os rebelados zapatistas declararam que não lutavam para se separar do México, mas apenas para manter suas raízes indígenas e garantir autonomia e melhores condições de vida.
Protesto de zapatistas em Palenque - Chiapas
 FONTE: Geografia, 3° ano: ensino médio / organizadores: Fernando dos Santos Sampaio, Ivone Silveira Sucena - 1. ed. - São Paulo: Edições SM, 2010. - (Coleção ser protagonista)

sábado, 12 de novembro de 2011

TERRORISMO E GUERRILHA

  De acordo com o Dicionário de política, terrorismo é a "prática política de quem recorre sistematicamente à violência contra as pessoas ou as coisas provocando o terror". Quando uma organização qualquer faz algum atentado terrorista, seja instalando uma bomba em algum local ou utilizando um homem-bomba num ataque suicida, está querendo intimidar, disseminar o medo em uma comunidade ou país para atingir algum fim, que pode ser a difusão de uma ideologia, a autonomia político-territorial, a autoafirmação étnica ou religiosa etc.
  É importante também fazer uma distinção entre guerrilha e terrorismo, embora muitas vezes um grupo guerrilheiro possa lançar mãos de táticas terroristas. A guerrilha se caracteriza por se um conflito que opõe formações irregulares de combatentes e forças armadas de um Estado. É típica de países onde há profundas injustiças políticas e sociais e, portanto, parte da população está disposta a lutar por mudanças ou apoiar o grupo que se propuser a isso. Segundo o Dicionário de política: "A destruição das instituições existentes e a emancipação social e política das populações são, de fato,  os objetivos precípuos dos grupos que recorrem a este tipo de luta armada". Em geral, os grupos guerrilheiros atacam alvos militares e pontos estratégicos do Estado contra o qual lutam. Preocupam-se em fazer o mínimo de vítimas civis e em conquistar a simpatia e o apoio da população para sua causa. Já os terroristas procuram fazer o máximo de vítimas civis, com o intuito de causar pânico, e não se interessam em dialogar com a população nem obter seu apoio.
Soldados do Exército de Libertação Nacional (ELN) - segundo maior grupo guerrilheiro da Colômbia
  Há vários exemplos históricos de grupos guerrilheiros em diversos países, especialmente na América Latina, na África e na Ásia, continentes marcados pela pobreza e injustiça social.
  Na América Latina, o grupo guerrilheiro mais representativo ainda em atuação são as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que lutam contra o Estado colombiano pelo controle de parte do seu território. Fundada em 1964 por Manuel Marulanda, no início era uma guerrilha rural de inspiração revolucionária (tinha ligações com o Partido Comunista da Colômbia) que lutavam contra as injustiças sociais. Entretanto, as Farcs se tornaram  um grupo terrorista por causa de seus métodos violentos, que inclui sequestros de civis, além de envolvimento com o narcotráfico, hoje sua principal fonte de renda. Por isso, não têm mais o apoio da população. A partir de 2002 o governo colombiano passou a combatê-los mais intensamente com recursos e armas fornecidos pelos Estados Unidos por meio de um acordo batizado por Plano Colômbia. Em 2008, as Farcs sofreram um duro golpe: numa operação forças armadas colombianas na selva, três de seus mais importantes líderes, entre os quais Manuel Marulanda, foram mortos; em outra operação, 15 reféns que estavam em poder do grupo foram resgatados.
Soldados das Farcs (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)
  Na África, em diversos países, houve grupos guerrilheiros que lutavam contra o colonialismo, como o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a União para a Independência Total de Angola (Unita) que combateram a dominação portuguesa. Entretanto, após a independência política, obtida em 1975, o conflito armado em Angola entrou na lógica da Guerra Fria. O MPLA se consolidou no poder com o apoio da União Soviética e a Unita, apoiada pelos Estados Unidos e pela África do Sul, passou a lutar contra o governo. A guerra em Angola se estendeu até 2002, quando foi selado um acordo de paz. A Unita deixou de ser um grupo guerrilheiro e se tornou um partido de oposição ao MPLA.
Soldados da Unita
  Há outros grupos guerrilheiros que adotam táticas terroristas contra um Estado nacional tentando separar parte do território ou expulsar tropas de ocupação. Encaixam-se nessa definição o ETA (Pátria Basca e Liberdade, dobasco Euskadi Ta Askatasuna), no norte da Espanha, os grupos chechenos, na Rússia, e os curdos, na Turquia. É o caso também dos atuais grupos palestinos, como o Hamas, o Jihad Islâmica e as Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, que reivindicam territórios ocupados por Israel.
Militantes do Hamas, na Faixa de Gaza - Palestina
  Finalmente, há grupos que espalham o terror como afirmação de seu fundamentalismo religioso contra a hegemonia da sociedade cristã ocidental, representada pelos Estados Unidos. É esse o caso da rede terrorista Al Qaeda ("a base", em árabe), que teve como fundador e líder o milionário saudita Osama Bin Laden - morto em maio de 2011 no Paquistão pelas tropas norte-americanas.
Osama Bin Laden - foi o fundador e líder do grupo terrorista Al Qaeda
  O terrorismo também pode ser praticado pelo Estado. Nos anos 1920, Josef Stálin, então secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), perseguiu seus opositores e os mandou para campos de concentração. Na Alemanha, no início dos anos 1930, com a ascensão dos nazistas sob a liderança de Hitler, o Estado deu início a um processo de genocídio contra judeus, comunistas e ciganos.
Holocausto - morte de milhões de judeus provocado pelo regime nazista
  Na África do Sul, enquanto vigorou o regime segregacionista chamado apartheid ("separação", em inglês), também havia um Estado terrorista. Após a independência política em 1961, chegou ao poder o Partido Nacional, controlado pelos descendentes de holandeses e alemães (conhecidos como afrikaners); a partir de então, a minoria branca (14% da população) oficializou o apartheid. Essa minoria controlava o aparelho estatal, as empresas, as terras e explorava a maioria negra (composta por diversas etnias: zulus, xhosas, pedis, sothos etc.), que vivia confinada em guetos, coagida pela violência e sem direitos políticos  mínimos. Em 1994, quando Nelson Mandela (de etnia xhosa), após 27 anos preso, foi eleito presidente, esse regime segregacionista foi extinto.
Apartheid - regime segregacionista da África do Sul que separava os negros dos brancos
  O terrorismo de Estado também foi comum na América Latina durante as várias ditaduras militares que se instalaram durante a Guerra Fria: Brasil (1964-1985), Chile (1973-1990), Argentina (1976-1983), entre outras. Nesse período, milhares de pessoas foram presas sem julgamento, torturadas e muitas delas assassinadas, apenas porque faziam oposição ao governo vigente. Em reação ao fechamento político e à ausência de diálogo surgiram grupos armados que passaram a adotar práticas terroristas contra os governos ditatoriais, acirrando o conflito e a violência.
Ditadura militar no Brasil - uma página na história do terrorismo do país
 FONTE: Sene, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil, volume 2: espaço geográfico e globalização: ensino médio / Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. - São Paulo: Scipione, 2010.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO BRASIL E A DIDÁTICA

  Nos últimos anos, diversos estudos têm sido dedicados à história da Didática no Brasil, suas relações com as tendências pedagógicas e à investigação do campo de conhecimentos. No Brasil, as tendências pedagógicas são classificadas em dois grupos: as de cunho liberal - Pedagogia Tradicional, Pedagogia Renovada e Tecnicismo Educacional -, e as de cunho progressista - Pedagogia Libertadora e Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos.
PEDAGOGIA TRADICIONAL
  A Didática é uma disciplina normativa, um conjunto de princípios e regras que regulam o ensino. A atividade de ensinar é centrada no professor que expõe e interpreta a matéria. Às vezes são utilizados meios como a apresentação de objetos, ilustrações, exemplos, mas o meio principal é a palavra, a exposição oral. Supõe-se que ouvindo e fazendo exercícios repetitivos, os alunos "gravam" a matéria para depois reproduzi-la, seja através das interrogações do professor, seja através de provas. Para isso é importante que o aluno "preste atenção", porque ouvindo facilita-se o registro do que se transmite na memória. O aluno é, assim, um recebedor da matéria e sua tarefa é decorá-la. Os objetivos, explícitos e implícitos, referem-se à formação de um aluno ideal, desvinculado da sua realidade concreta. O professor tende a encaixar os alunos num modelo idealizado de homem que nada tem a ver com a vida presente e futura. A matéria de ensino é tratada isoladamente, desvinculada dos interesses dos alunos e dos problemas reais da sociedade e da vida. O método é dado pela lógica e sequência da matéria, é o meio utilizado pelo professor para comunicar a matéria e não dos alunos para aprendê-la. É forte a presença dos métodos intuitivos. Baseiam-se na apresentação de dados sensíveis, de modo que os alunos possam observá-los  formar imagens deles em sua mente.
PEDAGOGIA RENOVADA
  Inclui várias correntes: a Progressivista (que se baseia na teoria educacional de John Dewey), a não-diretiva (principalmente inspirada em Carl Rogers), a ativista-empiritualista (de orientação católica), a culturalista, a piagetiana, a montessoriana e outras. Todas de alguma forma estão ligadas ao movimento da pedagogia ativa que  surge no final do século XIX como contraposição à Pedagogia Tradicional.
DIDÁTICA DA ESCOLA NOVA OU DIDÁTICA ATIVA
  É entendida como "direção da aprendizagem", considerando o aluno como sujeito da aprendizagem. O que o professor tem a fazer é colocar o aluno em condições propícias para que, partindo das suas necessidades e estimulando os seus interesses, possa buscar por si mesmo, conhecimentos e experiências. A ideia é a de que o aluno aprende fazendo, no sentido de trabalho manual, ações de manipulação de objetos. Trata-se de colocar o aluno em situações em que seja mobilizada a sua atividade global e que se manifesta em atividade intelectual, atividade de criação, de expressão verbal, escrita, plástica ou outro tipo. O centro da atividade escolar não é o professor nem a matéria, é o aluno ativo e investigador. O professor incentiva, orienta, organiza as situações de aprendizagem, adequando-as às capacidades de características individuais dos alunos. Por isso a didática ativa dá grande importância aos métodos e técnicas como trabalho de grupo, atividades cooperativas, estudo individual, pesquisas, projetos, experimentações etc., bem como os métodos de reflexão e método científico de descobrir conhecimentos. Tanto na organização das experiências de aprendizagem como na seleção de métodos, importa o processo de aprendizagem e não diretamente o ensino. O melhor método é aquele que atende as exigências psicológicas do aprender. A Didática ativa dá menos atenção aos conhecimentos sistematizados, valorizando mais o processo de aprendizagem e os meios que possibilitam o desenvolvimento das capacidades e habilidades intelectuais dos alunos. Os adeptos da Escola Nova costumam dizer que o professor não ensina, antes, ajuda os alunos a aprender, ou seja, a Didática não é a direção do ensino, é a orientação da aprendizagem, uma vez que esta é uma experiência própria do aluno através da pesquisa, da investigação.
DIDÁTICA MODERNA
  Surgiu a partir dos anos de 1950, sendo uma proposta de Luis Alves de Mattos. A Didática Moderna é inspirada na pedagogia da cultura, corrente pedagógica de origem alemã. Mattos identifica sua Didática com as seguintes características: o aluno é o fator pessoal decisivo na situação escolar;  em função dele giram as atividades escolares para orientá-lo e incentivá-lo na sua educação e na sua aprendizagem, tendo em vista desenvolver-lhe a inteligência e formá-lhe o caráter e a personalidade. O professor é o incentivador, orientador e controlador da aprendizagem, organizando o ensino em função das reais capacidades dos alunos e do desenvolvimento dos seus hábitos de estudo e reflexão. A matéria é o conteúdo onde se encontram os valores lógicos e sociais a serem assimilados pelos alunos; está a serviço do aluno para formar as suas estruturas mentais, e por isso, sua seleção, dosagem e apresentação. Vinculam-se às necessidades e capacidades reais dos alunos. O método representa o conjunto dos procedimentos para assegurar a aprendizagem, isto é, existe em função da aprendizagem, razão  pela qual, a par de estar condicionado pela natureza da matéria, relaciona-se com a psicologia do aluno.
  Para Mattos, o ensino é a atividade direcional sobre o processo de aprendizagem e a aprendizagem é a atividade mental intensiva e propositada do aluno em relação aos dados fornecidos pelos conteúdos culturais.
  Definindo a Didática como disciplina normativa, técnica de dirigir e orientar eficazmente a aprendizagem das matérias tendo em vista os seus objetivos educativos, Mattos propõe a "Teoria do Ciclo Docente", que é o método didático em ação. O ciclo docente, abrangendo as  fases de planejamento, orientação e controle da aprendizagem e suas subfases, é definido como "o conjunto de atividades exercidas, em sucessão ou ciclicamente, pelo professor, para dirigir e orientar o processo de aprendizagem dos seus alunos, levando-o a bom termo. É o método em ação.
TECNICISMO EDUCACIONAL
  Embora seja considerada como uma tendência pedagógica, inclui-se, em certo sentido, na Pedagogia Renovada. Desenvolveu-se no Brasil na década de 1950, à sombra do progressivismo, ganhando nos anos 60 autonomia quando constituiu-se especificamente como tendência, inspirada na teoria behaviorista da aprendizagem e na abordagem sistêmica do ensino.
  A Didática instrumental está interessada na racionalização do ensino, no uso de meios e técnicas mais  eficazes. O sistema de instrução se compõe  das seguintes etapas:
a) especificação de objetivos instrucionais operacionalizados;
b) avaliação prévia dos alunos para estabelecer pré-requisitos para alcançar objetivos;
c) ensino ou organização das experiências de aprendizagem;
d) avaliação dos alunos relativo ao que se propôs nos objetivos iniciais.
  O arranjo mais simplificado dessa sequência resultou na fórmula: objetivos, conteúdos, estratégias, avaliação. O professor é um administrador e executor do planejamento, o meio de previsão das ações a serem executadas e dos meios necessários para atingir os objetivos.
PEDAGOGIA LIBERTADORA
  Retomou as propostas de educação popular dos anos 60, refundindo seus princípios e práticas em função das possibilidades do seu emprego na educação formal em escolas públicas, e inicialmente tinha caráter extra-escolar, não-oficial e voltada para o atendimento da clientela adulta. Na Pedagogia Libertadora, o professor se põe diante de uma classe com a tarefa de orientar a aprendizagem dos alunos. A atividade escolar é centrada na discussão de temas sociais e políticos, em um ensino centrado na realidade social, em que o professor se põe diante da classe com a tarefa de orientar a aprendizagem dos alunos, em que professor e alunos analisam problemas e realidade do meio socioeconômico e cultural, da comunidade local, com seus recursos e necessidades, tendo em vista a ação coletiva frente a esses problemas e realidades. O trabalho escolar não se assenta, prioritariamente, nos conteúdos de ensino já sistematizados, mas no processo de participação ativa nas discussões e nas ações práticas sobre questões da realidade social imediata. Nesse processo em que se realiza a discussão, os relatos da experiência vivida, a assembleia, a pesquisa participante, o trabalho em grupo etc., vão surgindo temas geradores que podem vir a ser sistematizados para efeito de consolidação de conhecimentos. É uma didática que busca desenvolver o processo educativo como tarefa que se dá no interior dos grupos sociais e por isso o professor é coordenador ou animador das atividades que se organizam sempre pela ação conjunta dele e dos alunos.
Paulo Freire - principal nome da Pedagogia Libertadora
PEDAGOGIA CRÍTICO-SOCIAL
  Inspirou-se no materialismo histórico dialético, constituindo-se como movimento pedagógico interessado na educação popular, na valorização da escola pública e do trabalho do professor, no ensino de qualidade para o povo e, especificamente, na acentuação da importância do domínio sólido por parte dos professores e alunos, dos conteúdos científicos do ensino como condição para a participação efetiva do povo nas lutas sociais. Para essa tendência pedagógica, o ensino consiste na mediação de objetivos-conteúdos-métodos, que assegure o encontro formativo entre os alunos e as matérias escolares, que é o fator decisivo da aprendizagem.
  A Pedagogia Crítico-Social dos conteúdos atribui grande importância à Didática, cujo objetivo de estudo é o processo de ensino nas suas relações e ligações com a aprendizagem. As ações de ensinar e aprender formam uma unidade, mas cada uma tem a sua especificidade. A Pedagogia Crítico-Social busca uma síntese superadora de traços significativos da Pedagogia Tradicional e da Escola Nova. Postula para o ensino a tarefa de propiciar aos alunos o desenvolvimento de suas capacidades e habilidades intelectuais, mediante a transmissão e assimilação ativa dos conteúdos escolares, articulando, no mesmo processo, a aquisição de noções sistematizadas e as qualidades individuais dos alunos que lhes possibilitam a auto-atividade e a busca independente e criativa das noções.
FONTE: Libâneo, José Carlos. Didática / José Carlos Libâneo. - São Paulo: Cortez, 1994. - (Coleção magistério. 2º grau. Série formação do professor).

terça-feira, 8 de novembro de 2011

AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO

  A ciência geográfica teve seu processo de sistematização lento e tardio na visão de alguns autores, vindo a constituir-se enquanto ciência, mais especificamente no século XIX, porém, desde a antiguidade os estudos geográficos já eram desenvolvidos, principalmente na Grécia Antiga. Grande parte do mundo ocidental conhecido era dominada pelos gregos, em especial o leste do Mediterrâneo. Sempre interessados em descobrir novos territórios de domínio e atuação comercial, era fundamental que conhecessem o ambiente físico e os fenômenos naturais. O céu claro do Mediterrâneo facilitava a vida dos navegantes gregos, sempre atentos às características dos ventos, importantes para sua navegação em termos de velocidade e segurança.
Grécia Antiga- berço dos estudos geográficos
  Sobre tais experiências, os gregos deixaram para as futuras gerações escritos que contavam a sua vivência geográfica. Estudos feitos acerca do rio Nilo, no Egito, detalhavam, entre outras coisas, seu período de cheia anual. No século IV a. C., os gregos observavam o planeta como um todo. Através de estudos filosóficos e observações astronômicas, Aristóteles foi o primeiro a receber crédito ao conceituar a Terra como uma esfera. em sua especulação sobre o formato da Terra. Strabão acabou escrevendo uma obra de 17 volumes, "Geographicae", onde descrevia suas próprias experiências do mundo. Com o colapso do Império Romano, os grandes herdeiros da geografia grega foram os árabes. Muitos trabalhos foram traduzidos do grego para o árabe. Os geógrafos árabes foram grandes viajantes, que continuaram a produzir estudos importantes, ainda que descritivos.
Rio Nilo - contribuiu para os estudos geográficos da Antiguidade
  A Idade Moderna caracterizou-se por ser o período dos grandes descobrimentos, realizados especialmente pelos navegadores portugueses e espanhóis. Nessa época, os estudos da Geografia Regional (mais ligados à Etnografia) e Geografia Geral (voltados para a Astronomia e Cartografia) tornam-se mais intensos, em razão do rápido conhecimento do planeta por parte dos desbravadores europeus, que demandavam mais estudos sobre os lugares descobertos, além de instrumentos de navegação e localização mais precisos.
Torre de Belém - Lisboa (Portugal) - daí partiam as Caravelas das Grandes Navegações
  Porém, é por meio das obras de Alexandre von Humboldt e Carl Ritter que a Geografia teria originado, enquanto ciência. São eles que fornecem os primeiros delineamentos claros do domínio dessa disciplina em sua acepção moderna, que elaboram as primeiras tentativas de lhe definir o objeto, que realizam as primeiras padronizações conceituais.
Alexander von Humboldt - considerado, junto com Carl Ritter, o pai da Geografia
  Veja abaixo as principais correntes do pensamento geográfico.
1. GEOGRAFIA TRADICIONAL
  A Geografia Tradicional, também conhecida como Geografia Clássica, surgiu no século XIX, inicialmente na França e na Alemanha, difundindo-se aos demais países, tendo como precursores Alexandre von humboldt e Carl Ritter. Nesta corrente surgem as primeiras definições do que seria a Geografia e qual seria seu objeto de análise, já que no momento de sua sistematização não havia clareza quanto ao objeto de estudo.
  Friedrich Heinrich Alexander, o barão de Humboldt, nasceu em Berlim no dia 14 de setembro de 1769 e faleceu na sua cidade natal em 6 de maio de 1859. Foi geógrafo, naturalista e explorador. Ele desenvolveu e especializou-se em diversas áreas: foi etnógrafo, antropólogo, físico, geógrafo, geólogo, mineralogista, botânico, vulcanólogo e humanista, tendo lançado as bases de ciências como a Geografia, Geologia, Climatologia e Oceanografia. Apesar de ter pesquisado diversas coisas em seus mínimos detalhes, sempre o fez com uma visão geral e imparcial.
  Com quatorze anos de idade, fixou-se em Berlim para continuar seus estudos e, mais tarde, frequentou as universidades de Frankfurt e Göttingen, onde cursou Filosofia, História e Ciências Naturais.
Universidade de Frankfurt
  Em 1789, com apenas vinte anos de idade, fez sua primeira viagem de caráter científico, passando pelos Países Baixos, Alemanha e Inglaterra, e principalmente ao longo das margens do rio Reno. O resultado de toda essa exploração científica foi uma obra intitulada Observações Sobre os Basaltos do Reno. Sua viagem exploratória pela América Central, América do Sul e pela Ásia tornaram-no mundialmente conhecido ainda antes de sua morte. Sua principal obra é o Kosmos, uma condensação do conhecimento científico de sua época.
Livro que fala da mais importante obra de Humboldt: Kosmos
  Além das ciências naturais, foi também um influente mecenas da Literatura.
 Carl Ritter, nasceu em 7 de agosto de 1779, em Quedlinburg - Prússia, e faleceu em 28 de setembro de 1859, em Berlim. Foi um naturalista de grande importância para o posterior surgimento da Geografia Humana. Foi também o fundador da Sociedade Geográfica de Berlim e o primeiro professor de geografia regular e fixo em uma universidade, sendo que a cátedra de geografia da Universidade de Berlim foi instituída justamente para que ele a ocupasse.
Carl Ritter
  A família de Ritter era relativamente modesta. Ele trabalhou a vida toda como professor e suas viagens se restringiram ao continente europeu. Ele sempre escrevia a respeito dessas viagens, mas, diferentemente de outros naturalistas, preocupava pouco com a descrição das paisagens. Seu grande objetivo era estabelecer as bases de um conhecimento geográfico científico, nos moldes das ciências naturais. É por isso que a maior parte dos trabalhos de Ritter tratava da África e da Ásia, continentes onde ele nunca esteve, mas sobre os quais estudou muito. Ritter destacou bem mais do que Humboldt a importância de demonstrar as influências da natureza sobre a história humana, tendo chegado a propor que o estudo dos elementos naturais é importante para a geografia somente na medida em que serve de base para o estudo do homem. Por esse motivo, é comum a afirmação de que Ritter possuía uma visão antropocêntrica da geografia, já que para ele, todos os estudos deveriam convergir direta ou indiretamente para o entendimento das relações homem/natureza.
África - continente bastante estudado por Ritter
  Os trabalhos de Ritter e Humboldt surgiram no período em que o conhecimento geográfico acumulado sobre o mundo já permitia obter um conhecimento mais fundamentado em viagens, cartografias e estudos mais precisos. Com Ritter e Humboldt a Geografia Moderna surgiu; porém, a construção desta só pôde ocorrer porque praticamente toda a superfície terrestre havia sido conhecida, estudada e mapeada.
2. DETERMINISMO GEOGRÁFICO
 Teoria formulada no século XIX pelo geógrafo alemão Friedrich Ratzel que fala das influências que as condições naturais exerceriam sobre o ser humano, sustentando a tese de que o meio natural determinaria o homem. Nesse sentido, os homens procurariam organizar o espaço para garantir a manutenção da vida.

Friedrich Ratzel
  O maior sinal da perca de uma sociedade seria a perda do território. As afirmações de Ratzel estavam fortemente ligadas ao momento histórico que vivia, durante a unificação da Alemanha. O expansionismo do Império Alemão, arquitetado pelo primeiro-ministro da Prússia Otto von Bismarck (1815-1898), foi legitimado pelas duas principais correntes do pensamento ratzeliano, o determinismo geográfico e o espaço vital (espaço necessário à sobrevivência de uma dada comunidade). A primeira explicaria a superioridade de algumas raças - nesse caso, a alemã -, que naturalmente se desenvolveriam mais do que outras, e a segunda justificaria a conquista de novos territórios para suprir a maior demanda de recursos para seu desenvolvimento, ou seja, o expansionismo.
Expansionismo alemão - uma das formas para justificar a teoria de Ratzel
  Os discípulos do determinismo foram além das proposições ratzeliana, chegando a afirmar que o homem seria um produto do meio. Defendiam que um meio natural mais hostil proporcionaria um maior nível de desenvolvimento ao exigir um alto grau de organização social para suportar todas as contrariedades impostas pelo meio. Um exemplo disso seria o inverno, que justificaria o desenvolvimento das sociedades europeias, que não tiveram grandes dificuldades em subjugar os povos tropicais, mais indolentes e atrasados. Essa ideia justificou o expansionismo neocolonial na África e na Ásia entre o fim do século XIX e o início do século XX. Pensamentos que, mais tarde, foram aproveitadas pelos cientistas e políticos da Alemanha Nazista.
3. POSSIBILISMO GEOGRÁFICO
  Teve origem na França, com Paul Vidal de la Blache. Enquadrado no pensamento político dominante, num momento em que a França tornou-se uma grande soberania, ele realizou estudos regionais procurando provar que a natureza exercia influências sobre o homem, mas que o homem tinha possibilidades de modificar e de melhorar o meio, dando origem ao possibilismo.
Vidal de la Blache - idealizador do Possibilismo Geográfico
A natureza passou a ser considerada fornecedora de possibilidades e o homem o principal agente geográfico.
4. GEOGRAFIA REGIONAL OU MÉTODO REGIONAL
  Representou a reafirmação de que os aspectos próprios da Geografia eram o espaço e os lugares. O método era comparar regiões, segundo critérios de similaridade e diferenciação. Os geógrafos regionais dedicaram-se à coleta de informações descritivas sobre lugares, dividir a Terra em regiões. As bases filosóficas foram desenvolvidas por Vidal de la Blache e Richard Hartshorne. Hartshorne não utilizava o termo região: para ele os espaços eram divididos em classes de área, nas quais os elementos mais homogêneos determinariam cada classe, e assim, as descontinuidades destes trariam as divisões das áreas. Este pensamento geográfico ficou conhecido como método regional.
Richard Hartshorne
5. GEOGRAFIA PRAGMÁTICA (NOVA GEOGRAFIA, GEOGRAFIA TEORÉTICA OU QUANTITATIVA)
  Corrente do pensamento da década de 1950 que surgiu da necessidade de exatidão, através de conceitos mais teóricos e apoiados em uma explicação matemático-estatística.
  As principais correntes dessa corrente são:
  • Todo o conhecimento apoia-se na experiência (empirismo);
  • Deve existir uma linguagem comum entre todas as ciências;
  • Recusa de um dualismo científico entre as ciências naturais e as ciências sociais;
  • Maior rigor na aplicação da metodologia científica;
  • O uso de técnicas estatísticas e matemáticas;
  • A investigação científica e os seus resultados devem ser expressos de uma forma clara, o que exige o uso da linguagem matemática e da lógica.
Pirâmide etária - uma forma de demonstrar a Geografia Pragmática
  Foi usada como forte instrumento de poder estatal, pois manipulava dados através de resultados estatísticos. Predominou na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, principalmente na década de 1960 a meados de 1970. A partir da década de 1960, a Geografia Pragmática começou a sofrer duras críticas. Uma das principais críticas é o fato de não considerar as peculiaridades dos fenômenos, pois o método matemático explica o que acontece em determinados momentos, mas não explica os intervalos entre eles, além de apresentar dados considerando o "todo" de forma homogênea, desconsiderando as particularidades.
6. GEOGRAFIA CRÍTICA OU GEOGRAFIA MARXISTA
  A expressão Geografia Crítica foi criada na obra "A Geografia - isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra", de Yves Lacoste.
Yves Lacoste
  Essa corrente de pensamento geográfico surgiu na França, em 1970, e depois na Alemanha, Brasil, Itália, Espanha, Suíça, México e outros países.
  Ganhou mais força na Alemanha, Espanha, França e Brasil, com um grande movimento de renovação da geografia na década de1980.
  No Brasil, o grande nome da Geografia Crítica foi Milton Santos, que publicou os primeiros trabalhos da nova escola nesse país.
Milton Santos
  A Geografia Crítica estabelece o rompimento da neutralidade no estudo da geografia e propõe engajamento e criticidade junto a toda a conjuntura  social, econômica e política do mundo. Estabelece também uma leitura crítica frente aos problemas e interesses que envolvem as relações de poder e pró-atividade frente as causas sociais, defendendo a diminuição das disparidades socioeconômicas e diferenças regionais. Defendia ainda a mudança do ensino da geografia nas escolas, ao estabelecer uma educação que estimulasse a inteligência e o espírito crítico.
  O pensamento crítico na geografia significou, principalmente, uma aproximação com os movimentos sociais, principalmente na busca da ampliação dos direitos civis e sociais, como o acesso a educação de boa qualidade, a moradia, pelo acesso à terra, o combate à pobreza, entre outras temáticas.
Diminuição das desigualdades sociais - um dos pontos defendidos pela corrente da Geografia Crítica
7. GEOGRAFIA HUMANÍSTICA OU CULTURAL
  Tem como base os trabalhos realizados por Yi-Fu Tuan, Anne Buttimer, Edward Relph e Mercer e Powell.
  A Geografia Humanística ou Cultural procura valorizar a experiência do indivíduo ou do grupo, visando compreender o comportamento e as maneiras de sentir das pessoas em relação aos seus lugares, ou seja, a cultura dos grupos sociais.
  Para cada indivíduo, para cada grupo humano, existe uma visão do mundo, que se expressa através de suas atitudes e valores para com o ambiente. É o contexto pelo qual a pessoa valoriza e organiza o seu espaço e o seu mundo, e nele se relaciona.
A valorização da cultura é o principal foco da Geografia Humanística
  O lugar é aquele em que o indivíduo se encontra ambientado no qual está integrado, tem significância afetiva para uma pessoa ou grupo de pessoas. O espaço envolve um complexo de ideias. A percepção visual, o tato, o movimento e o pensamento se combinam para dar o sentido característico de espaço, possibilitando a capacidade para reconhecer e estruturar a disposição dos objetos.
  A integração espacial faz-se mais pela dimensão afetiva que pela métrica. Estar junto, estar próximo, significa o relacionamento afetivo com outra pessoa ou com outro lugar. Lugares e pessoas fisicamente distantes podem estar afetivamente próximos.
  O estudo do espaço é a análise dos sentimentos e ideias espaciais das pessoas e grupos de pessoas. Valoriza-se o contexto ambiental e os aspectos que redundam no encanto e na magia dos lugares, na sua personalidade e distinção.
O espaço e o lugar ganham importância cada vez maior na corrente da Geografia Humanística
8. GEOGRAFIA AMBIENTAL
  Ramo da geografia que descreve os aspectos espaciais da interação entre o homem e o mundo natural. Requer o entendimento dos aspectos tradicionais da geografia física e humana, assim como os modos que as sociedades conceitualizam o ambiente.
  Emergiu como um ponto de ligação entre a geografia física e humana como resultado do aumento da especialização destes dois campos de estudo. Como a relação do homem com o ambiente tem mudado em consequência da globalização e da mudança tecnológica, uma nova aproximação é necessária para entender esta relação dinâmica e mutável.
A defesa do meio ambiente é o principal tema da Geografia Ambiental
9. POSSIBILISMO GEOGRÁFICO
  O termo possibilismo foi elaborado pelo historiador Lucien Lebvre para diferenciar a geografia francesa dos trabalhos influenciados pelo determinismo ambiental. Assim, o termo passou a designar uma escola de pensamento geográfico que encara o ambiente natural (muitas vezes referido como Natureza) como um mero fornecedor de possibilidades para a modificação humana, não determinando a evolução das sociedades, sendo o homem o principal agente geográfico. Como corolário, o gênero de vida não é uma consequência inevitável das condições ambientais, mas um acervo de técnicas, hábitos e instituições que permitem a um grupo social utilizar os recursos naturais disponíveis. O primeiro a elaborar essa concepção das relações homem-natureza foi Paul Vidal de la Blache, de quem Febvre foi aluno.
Lucien Lebvre
  Mesmo que admita a influência do meio sobre o homem, a escola possibilista afirma que o homem, como ser racional, é um elemento ativo e, portanto, tem condições de modificar o meio natural e adaptá-lo segundo suas necessidades.
FONTE: Centro Científico Conhecer, Goiânia, Enciclopédia Biosfera. N° 7, 2009.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A REVOLUÇÃO VERDE

  A partir da década de 1950, os Estados Unidos e a ONU incentivaram a implantação de mudanças na estrutura fundiária e nas técnicas agrícolas em vários dos então chamados países subdesenvolvidos, muitos dos quais ex-colônias recém-independentes. Em plena Guerra Fria, a intenção dos norte-americanos era evitar o surgimento de focos de insatisfação popular por causa da fome. Eles temiam pela instalação de regimes socialistas em alguns países do então Terceiro Mundo. Além do mais, a indústria química, que se desenvolveu voltada para o setor bélico, apresentava certa  capacidade ociosa nesse período.
Indústria química - um dos fatores que impulsionou a Revolução Verde
  O conjunto de mudanças técnicas na produção agropecuária - proposto aos países pobres para resolver o problema da fome - ficou conhecido por Revolução Verde. Consistia na modernização das práticas agrícolas (utilização de adubos químicos, inseticidas, herbicidas, sementes melhoradas) e na mecanização do preparo do solo - do cultivo e da colheita - visando o aumento da produção de alimentos.
  Com esse objetivo os Estados Unidos ofereceram financiamentos para a importação dos insumos, maquinaria e capacitação de técnicos e professores para as faculdades e cursos técnicos agrícolas. Os governos dos então países subdesenvolvidos passaram a promover pesquisa e divulgação de técnicas de cultivo entre os agricultores, e a fornecer créditos subsidiados.
A implementação de máquinas e equipamentos agrícolas nos países subdesenvolvidos, foi um dos principais destaques da Revolução Verde
  Entretanto, a proposta era a adoção do mesmo padrão de cultivo em todas as regiões onde se implantou a Revolução Verde, desconsiderando a variação das condições naturais, das necessidades e possibilidades dos agricultores. Assim, a médio e longo prazo, essas inovações causaram impactos socioeconômicos e ambientais muito graves. Tal modelo proporcionou aumento de produtividade por área cultivada e crescimento considerável da produção de alimentos, principalmente de cereais e tubérculos. Porém, isso ficou restrito às grandes propriedades que possuíam terras em condições ideais para a modernização e condições climáticas favoráveis, entre outros. Em países que não realizaram reforma agrária e os trabalhadores agrícolas não tinham propriedade familiar, sobretudo na África e no Sudeste Asiático, a mecanização da produção diminuiu a necessidade de mão de obra, contribuindo para o aumento dos índices de pobreza e provocou o êxodo rural.
Apesar de aumentar a produção agrícola a Revolução Verde provocou o aumento da concentração de terras
  O sistema mais utilizado pelos países que seguiram as premissas da Revolução Verde foi a monocultura, o que resultou em sérios impactos ambientais.
OS PROBLEMAS AMBIENTAIS RURAIS
  O cultivo de espécie vegetal única (soja, trigo, algodão, milho, entre outros) em grandes extensões de terras favorece o desenvolvimento de grande quantidade de pequenas espécies animais invasoras, as pragas que se alimentam desses produtos. É o caso da lagarta da soja, do besouro-bicudo do algodão e de bactérias como o ácaro dos mamoeiros, o cancrocítrico dos laranjais e as diversas pragas dos cafezais, dos fungos que atacam o trigo e o milho e das pragas que infestam os canaviais. Já o cultivo de várias espécies, ou seja, a policultura, implica competitividade entre elas e elimina a possibilidade de disseminação de pragas. Nas monoculturas, as pragas proliferam rapidamente, e em dois ou três dias uma plantação de soja ou de algodão pode ser totalmente dizimada. Para evitar isso, utilizam-se cada vez mais inseticidas e fungicidas químicos, que podem ser altamente prejudiciais à saúde do homem.
Lagarta da soja - pode disseminar a plantação em poucos dias
  O cultivo mecanizado é obrigatoriamente acompanhado do uso de fertilizantes químicos, e para o controle das chamadas "ervas daninhas", ou do "mato", que nascem e crescem mais rapidamente que as espécies plantadas, aplicam-se os herbicidas, tão tóxicos quanto os venenos empregados para controlar insetos e fungos.
Herbicidas - usados para matar as ervas daninhas
  A aplicação frequente de quantidades cada vez maiores desses produtos químicos, genericamente chamados de insumos agrícolas, contamina o solo. Além disso, eles são transportados pelas chuvas para riachos e rios, afetando, desse modo, a qualidade das águas que alimentam o gado, abastecem as cidades e abrigam os peixes. O veneno afeta a fauna, e os pássaros e os peixes desaparecem rapidamente das áreas de monocultura, favorecendo a proliferação de pragas, lagartas, mosquitos e insetos em geral. A impregnação do solo com venenos e adubos químicos tende a torná-lo estéril pela eliminação da vida microbiana.
Agrotóxicos - contamina os solos e rios destruindo a cadeia alimentar
  Além dos desequilíbrios ambientais causados pela monocultura, a modernização substituiu as inúmeras variedades vegetais por algumas poucas, levando à chamada erosão genética (extinção das variedades de uma dada espécie). Assim, grandes indústrias iniciaram o processo de controle sobre o comércio e a pesquisa que modificam a semente dos vegetais cultivados e passaram a controlar toda a cadeia de insumos. Entretanto essas sementes modificadas não são férteis, o que obriga os agricultores a comprar novas sementes a cada safra se quiserem obter boa produtividade. Isso se tornou um grande obstáculo para os pequenos agricultores, pois trouxe a necessidade de compra e reposição constante de sementes e fertilizantes que se adaptem melhor a elas, aumentando muito o custo de produção.
FONTE: SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil, volume 3: espaço geográfico e globalização: ensino médio/ Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. - São Paulo: Scipione, 2010.

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