segunda-feira, 30 de setembro de 2019

GRANDE ADRIA: O CONTINENTE PERDIDO ESCONDIDO SOB A EUROPA

  Adria, ou Grande Adria, foi um continente que existiu onde hoje é o continente europeu. Pesquisadores na Europa estudaram por uma década rochas em uma vasta região, da Espanha ao Irã, em busca de pistas desse antigo continente. Há vestígios deste continente perdido em mais de 30 países. E aos poucos, eles conseguiram determinar o que aconteceu com ele.
  A massa terrestre já havia sido detectada por ondas sísmicas no passado, mas o estudo de seus vestígios e a reconstrução de sua história é novidade. Os únicos restos visíveis do continente são calcário e outros tipos de rocha em montanhas do continente europeu. Mas a maior parte do continente está "enterrada" no sul da Europa.
Rochas calcárias - Espanha
  Há 240 milhões de anos, a Terra era bem diferente do que conhecemos hoje. Os continentes estavam bem mais juntinhos e existiam até pedaços de terra que não estão mais lá. Esse é o caso da Grande Adria, um continente que desapareceu há 120 milhões de anos. Geólogos reconstruíram a história geológica da Terra e encontraram traços do continente perdido.
  A pesquisa foi publicada no periódico Gondwana Research. De acordo com Douwe van Hinsbergen, pesquisador e geólogo da Universidade de Utrecht, Holanda, as cadeias de montanhas estudadas pelos pesquisadores se originaram de um único continente que foi separado da África há mais de 200 milhões de anos e começou a se mover para o norte. Esse continente era a Gondwana, e reunia as terras que hoje compõem o hemisfério Sul: Antártida, Oceania, África e América do Sul.
Rochas calcárias nos Montes Tauru, na Turquia, são restos visíveis da Grande Adria
  Há 240 milhões de anos, um pedaço de terra do tamanho da Groenlândia se desprendeu da Gondwana e se deslocou para o sul da Europa. Esse deslocamento é resultado da movimentação das placas tectônicas. A Grande Adria fazia parte da placa Africana e foi aos poucos se aproximando do sul da placa Euroasiática, que abriga a maior parte da Europa e Ásia atualmente.
  Há 140 milhões de anos, essa massa terrestre ficou submersa no oceano, onde os sedimentos foram lentamente transformados em rochas. Em seguida, essas rochas iniciaram o processo de colisão com o que hoje entendemos como a Europa. Entre 120 e 100 milhões de anos atrás, as rochas foram se despedaçando e acabaram sendo, literalmente, soterradas pelo continente europeu.
  Apenas uma parte das rochas ficou na superfície da Terra, em uma área que vai de Turim, na Itália, e passa pelo Mar Adriático. Esses vestígios foram suficientes para que os geólogos iniciassem seus estudos sobre a região.
Vídeo sobre a Deriva dos Continentes
  Embora a colisão tenha ocorrido a velocidade de até 3 ou 4 centímetros por ano, essa pressão foi suficiente para destruir a crosta de 100 quilômetros de profundidade e empurrar o restante do continente para grandes profundidades no manto da Terra.
  Os cientistas apontam que partes da Grande Adria estão há cerca de 1,5 mil quilômetros de profundidade.
  Os pesquisadores estudaram a idade das rochas e identificaram a direção dos campos magnéticos contidos neles. Uma das maiores dificuldades no estudo do continente perdido é que as rochas estão muito espalhadas. E somente na última década os cientistas tiveram o software necessário para uma reconstrução geológica tão complexa, segundo Douwe van Hinsbergen.
Representação gráfica criada para o estudo sobre o continente Grande Adria
FONTE: Revista Super Interessante
super.abril.com.br

domingo, 29 de setembro de 2019

ENERGIA NUCLEAR

  Após o lançamento de bombas atômicas, em 1945, sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, que levou à rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), sucedeu-se uma corrida armamentista e hoje diversos países dispõem de bombas atômicas. Entretanto, a energia nuclear também é utilizada para fins pacíficos: na produção de energia elétrica (eletronuclear), na medicina e em muitas outras atividades.
  A energia nuclear ou atômica é a energia produzida nas usinas termonucleares, que utilizam o urânio e outros elementos, como combustível. O princípio de funcionamento de uma usina nuclear é a utilização do calor (termo) para gerar eletricidade. O calor é proveniente da fissão dos átomos de urânio.
Esquema de uma usina nuclear com PWR (reator de água pressurizada)
  O urânio é um recurso mineral não renovável encontrado na natureza, que também é utilizado na produção de material radioativo para uso na medicina. Além do uso para fins pacíficos, o urânio também pode ser utilizado na produção de armamentos, como a bomba atômica.
  Por ser uma fonte de energia altamente concentrada e de elevado rendimento, diversos países utilizam a energia nuclear como opção energética. A usinas nucleares já respondem por 16% da energia elétrica produzida no mundo.
Descrição do ciclo do combustível nuclear, da extração da matéria-prima até o armazenamento do lixo nuclear
  Cinco países consomem mais da metade da produção mundial de eletricidade de fonte nuclear. Mais de 90% das usinas nucleares estão concentradas nos Estados Unidos, na Europa, no Japão e na Rússia. O governo russo inaugurou em abril de 2018, a primeira usina nuclear flutuante do mundo, localizado no Mar Ártico.
  Em alguns países, como Suécia, Finlândia e Bélgica, a energia nuclear já representa mais de 40% do total de eletricidade produzida. A Coreia do Sul, China, Índia, Argentina e México também possuem usinas nucleares.
  No Brasil, há três usinas eletronucleares: Angra I, Angra II e Angra III, localizadas no município de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro.
  O acesso à tecnologia nuclear exige altos investimentos de capital e conhecimento científico. Com receio de que esses conhecimentos tecnológicos levem à construção de bombas atômicas, os países que os possuem não permitem que sejam transferidos para outros.
Imagem aérea da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, em Angra dos Reis - RJ
Vantagens do uso de energia nuclear
  Apesar dos perigos, há vários pontos positivos na geração de energia nuclear. Um dos primeiros pontos a destacar é que a usina não é poluente durante seu funcionamento normal, desde que se cumpra as normas de segurança. Igualmente, não é necessário uma grande área para a construção de uma usina.
  Também o urânio é um material relativamente abundante na natureza, o que garante o abastecimento das usinas por muito tempo. As principais reservas de urânio estão na Índia, Austrália e Cazaquistão.
Usina nuclear na França. Essa fumaça é apenas o vapor de água
Desvantagens do uso da energia nuclear
  Entretanto, os riscos da utilização da energia nuclear são imensos. Além de sua utilização para fins não pacíficos, como a produção de bomba atômica, os resíduos gerados pela produção desta energia representam um perigo para a humanidade. Também existe o risco de acidentes nucleares e o problema do descarte do lixo nuclear (resíduos compostos de elementos radioativos, gerados nos processos de produção de energia). Além disso, a contaminação do meio ambiente provocam danos irreversíveis à saúde, como câncer, leucemia, deformidades genéticas, entre outros.
Fotografia aérea tirada da usina na cidade de Chernobyl, Ucrânia, em 27/04/1986, após a explosão do reator (no centro da imagem)
  É importante destacar ainda que a usina eletronuclear e o chamado lixo atômico representam ameaças muito sérias à população, caso a usina sofra avarias ou o lixo atômico não seja acondicionado corretamente em depósitos especiais. São exemplos de acidentes com a usina eletronuclear de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, e com a central eletronuclear da cidade de Fukushima, no Japão, em 2011, em decorrência de um tsunami; ambos causaram mortes e contaminaram pessoas, cidades, animais e alimentos.
Imagem de 16 de março de 2011 dos quatro prédios dos reatores danificados, na cidade de Fukushima, Japão
  Também o Brasil enfrentou o pior acidente nuclear de sua história, quando o material Césio-137 não foi descartado corretamente. Calcula-se que 1.600 pessoas tenham sido contaminadas e 4 pessoas morreram neste episódio, ocorrido na cidade de Goiânia, capital de Goiás.
  O acidente radiológico de Goiânia, amplamente conhecido como acidente com o Césio -137, foi um grave episódio de contaminação por radioatividade ocorrido no Brasil. A contaminação teve início em 13 de setembro de 1987, quando um aparelho utilizado em radioterapias foi encontrado dentro de uma clínica abandonada, no centro de Goiânia, em Goiás.
  O instrumento foi encontrado por catadores de um ferro-velho do local, que entenderam tratar-se de sucata. Foi desmontado e repassado para terceiros, gerando um rastro de contaminação, o qual afetou seriamente a saúde de centenas de pessoas.
Área que abrigava o ferro-velho da Rua 26-A, em Goiânia, Goiás
REFERÊNCIA: Adas, Melhem
Expedições geográficas / Melhem Adas, Sérgio Adas. - 3. ed. - São Paulo: Moderna, 2018.

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

O MODO DE VIDA TRADICIONAL DOS POVOS NÔMADES NENETS DA RÚSSIA

  Os nenets são um povo de etnia samoieda que vive na Nenétsia, região autônoma do norte da Rússia. Estima-se que 42 mil nenets morem na Rússia.
  Após séculos de perseguição ao seu modo de vida, um povo de pastores do norte da Rússia, passaram a ser reconhecidos pelo governo como um povo autônomo. Isso garante aos nenets direitos exclusivos, como a permissão para percorrer rotas migratórias em território russo, prática milenar desse povo. A migração tem o objetivo de engordar as renas, base de alimentação nenet.
  As moradias dos nenets (chamada de chum), é bastante tradicional, e consiste em peles de renas costuradas e enroladas em postes de madeira organizados em círculo. No meio, há uma lareira usada para aquecer e manter mosquitos afastados.
Idosa nenet com seu neto
  Para muitas tribos como os nenets, contar histórias é uma das principais maneiras pelas quais a tradição e o patrimônio são transmitidos de geração em geração. Cada família nenets tem histórias próprias, que são bastante ricas: tradições no casamento, como é a vida em crescimento, a importância da preservação de sua cultura, a luta entre manter suas raízes tradicionais e prosperar em um mundo modernizado.
Mulheres nenets empacotam seus trenós
  Na tradição nenets, cintos de dentes de urso protegem as pessoas de maus espíritos e perigos. Os cintos nunca são enterrados com o proprietário, mas são passados de geração em geração.
  Certas tradições foram passadas de geração em geração em cada um dos clãs nenets. Essas tradições são muito importantes para cada membro da família e trabalham para mantê-las vivas.
Homem nenet
  Os nenets dependem muito de seus rebanhos de renas, usando-os para alimentação, roupas, ferramentas, transporte e muito mais. Todo nenet tem uma rena sagrada, que não deve ser aproveitada ou abatida até que não seja mais capaz de andar.
Homem Nenet com seu rebanho de renas
  Os pastores nenets se movem sazonalmente com suas renas, viajando por antigas rotas de migração. Durante o inverno, quando as temperaturas podem cair até -50 ºC, a maioria dos nenets pastam suas renas em pastagens de musgo e líquen nas florestas de taiga. Nos meses de verão, quando o sol da meia-noite transforma a noite em dia, eles deixam o lariço e os salgueiros para trás para migrar para o norte.
Aldeia Nenet e solo de permafrost
  A carne de rena é a parte mais importante da dieta dos nenets. É consumido cru, congelado ou fervido, juntamente com o sangue de uma rena recém-abatida, rica em vitaminas. Eles também comem peixes, como salmão-branco e muksun, um peixe branco de cor prateada, e recolhem amoras nas montanhas durante o verão.
Nenets com seus rebanhos de renas
Ameaça à vida dos nenets
  Com o colapso do comunismo, os jovens adultos começaram a deixar suas aldeias para as cidades, uma tendência que continua até hoje. Nos ambientes urbanos, eles acham quase impossível se adaptar à vida longe dos ritmos cíclicos da tundra, e sofrem com altos níveis de alcoolismo, desemprego e problemas de saúde mental.
  Os nenets enfrentaram os desafios de intrusões coloniais, guerra civil, revolução e coletivização forçada. Hoje, o modo de vida deles é novamente seriamente ameaçado. Para sobreviver como povo, os nenets precisam de acesso desobstruído a seus pastos e de um ambiente intocado por resíduos industriais. Para eles, a tundra está em casa e as renas são a própria vida.
Criadores de rena Nenets
  O Ártico está mudando rapidamente. À medida que a temperatura aumenta e o permafrost da tundra derrete, ele libera dióxido de carbono e metano, gases do efeito estufa, na atmosfera. Com o gelo derretendo no início da primavera e não congelando até muito mais tarde no outono, os pastores estão sendo forçados a mudar os padrões de migração seculares, já que as renas têm dificuldade para caminhar sobre uma tundra sem neve. O aumento da temperatura também afeta a vegetação da tundra, a única fonte de alimento para as renas.
Vegetação de tundra
  O derretimento do permafrost fez com que alguns dos lagos de água doce da tundra drenassem, o que levará a um declínio no suprimento de peixes para os nenets. À medida que o gelo marinho derrete, o oceano se abre para o tráfego marítimo. As rotas marítimas do Ártico atuam como potenciais porta de entrada para o comércio entre Ásia, Europa e América do Norte. Hoje, tubulações, torres de perfuração e estradas rodoviárias e ferroviárias estão transformando a tundra.
Linha ferroviária Obskaya-Bovanenkovo - ferrovia mais ao norte do mundo
REFERÊNCIA: Adas, Melhem
Expedições geográficas / Melhem Adas, Sérgio Adas. - 3. ed. - São Paulo: Moderna, 2018.

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