terça-feira, 23 de outubro de 2018

O SOCIALISMO

  Nos anos 1960, lia-se com frequência nos jornais e revistas que o mundo estava dividido entre os blocos socialista e capitalista. Havia até mesmo um grande temor de uma nova guerra mundial de dimensões até maiores que as anteriores, por causa dos interesses conflitantes desses blocos.
  Ideologia é um conjunto de ideias ou pensamentos de uma pessoa ou de grupos de indivíduos. A ideologia pode está ligada à ações políticas, econômicas e sociais. O termo ideologia foi usado de forma marcante pelo filósofo Antoine Destutt de Tracy.
  O conceito de ideologia foi muito trabalhado pelo filósofo alemão Karl Marx, que ligava a ideologia aos sistemas teóricos (políticos, morais e sociais) criados pela classe dominante. De acordo com Marx, a ideologia da classe dominante tinha como objetivo manter os mais ricos no controle da sociedade.
Estátua de Robert Owen, em Manchester - Inglaterra
A origem do socialismo
  A origem da teoria socialista está diretamente relacionada ao contexto europeu do século XIX. Já nas primeiras décadas desse século, associações de operários começaram a reivindicar melhores condições de trabalho nas fábricas, que há algumas décadas começaram a surgir na Inglaterra, depois na França e em outros países europeus. Os operários reclamavam das péssimas condições de trabalho, da inexistência de direitos do trabalhador, dos baixíssimos salários e das longas jornadas de trabalho.
  Nesse contexto, começaram a surgir pensadores que faziam críticas ao próprio sistema capitalista e propunham formas alternativas de organização do trabalho e da sociedade. Eles denunciavam a situação de exploração do trabalhador e buscavam modelos que permitissem alcançar maior igualdade social.
A Revolução Industrial contribuiu para novos pensamentos em defesa dos trabalhadores
  Entre esses pensadores, encontra-se o francês Charles Fourier (1772-1837), um forte crítico da sociedade burguesa. Ao usarem o termo "sociedade burguesa", os fundadores do pensamento socialista estavam se referindo aos capitalistas e a todos os princípios que defendiam. Um dos maiores princípios burgueses é a defesa da propriedade privada.
  Fourier acreditava que os seres humanos deveriam viver para alcançar o maior prazer individual possível. Só que estava evidente que a sociedade industrial não proporcionava isso ao impor aos trabalhadores longas e estafantes jornadas de trabalho em troca de salários miseráveis. Fourier defendia que a sociedade deveria se organizar com base em cooperativas, nas quais as tarefas e os benefícios do trabalhador seriam partilhados por todos os cooperados.
  Não haveria a propriedade privada, mas sim a propriedade coletiva. Em uma fábrica, por exemplo, os trabalhadores seriam cooperados e participariam em condição de plena igualdade das tarefas a serem executadas, recebendo igualmente os rendimentos advindos dessa atividade. Não haveria patrões e empregados, nem altos e baixos salários; todos seriam iguais. Para ele, esse seria o caminho para a implementação do socialismo, estágio em que a cooperação estaria disseminada pela sociedade e a felicidade do ser humano se tornaria possível com o fim da exploração dos trabalhadores.
Charles Fourier - pensador francês
  Outro autor que pode ser considerado um dos fundadores do pensamento socialista é o inglês Robert Owen (1771-1858). Ele era proprietário de uma fábrica, mas discordava de que o lucro do proprietário fosse a maior finalidade de uma fábrica. Com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores de sua fábrica, ele reduziu a jornada de trabalho e investiu na formação das crianças, além de contribuir para que os trabalhadores tivessem melhores condições de moradia e saúde.
  Defensor do comunismo, que seria para ele um princípio de organização social no qual prevaleceria o trabalho comunitário, foi para os Estados Unidos e, em 1824, fundou uma colônia comunitária denominada Nova Harmonia, que fracassou em 1829.
Robert Owen - empresário e pensador inglês
  Na primeira metade do século XIX, outros pensadores elaboraram novas teorias socialistas. Entre eles estão os alemães Karl Marx e Friedrich Engels, autores do Manifesto Comunista. Para eles, os socialistas que os antecederam eram "utópicos", pois não conseguiram construir um caminho possível para o socialismo. Marx e Engels autodenominavam-se fundadores do socialismo científico, cujo objetivo era fazer a crítica da sociedade capitalista e viabilizar o socialismo, ao que se seguiria o estágio mais avançado de sociedade: o comunismo.
  Para eles, a História propriamente dita se constituía da história de luta de classes. Existiam aqueles que exerciam o domínio e aqueles que eram explorados, ou seja, de um lado estavam os patrões, os donos da riqueza; e de outro, os trabalhadores, população pobre, que precisava vender sua força de trabalho para obter dinheiro suficiente para seu sustento.
Karl Marx (1818-1883) - pensador alemão
  Segundo essa teoria, na sociedade capitalista havia uma clara distinção entre os detentores da riqueza (os proprietários do capital) e os trabalhadores explorados. Enquanto os primeiros acumulavam cada vez mais riquezas, os segundos mal ganhavam o necessário para a sobrevivência. O capitalismo possui muitas desigualdades sociais, fato que levaria os trabalhadores a se organizar contra os próprios capitalistas, tornando possível uma revolução socialista. Os trabalhadores organizados tomariam o poder dos capitalistas.
  A riqueza gerada pela sociedade capitalista e o desenvolvimento das forças produtivas seriam agora utilizados a favor dos trabalhadores em uma sociedade na qual as diferenças de classe seriam eliminadas.
Friedrich Engels (1820-1895) - pensador alemão
  No socialismo de Marx e Engels, a propriedade privada seria eliminada, e toda riqueza seria redistribuída igualmente a todos pelo Estado. As fábricas, os bancos e as outras empresas pertenceriam ao Estado, que transformaria os lucros em bem-estar para a população. No estágio final (comunismo), até o Estado seria abolido.
  Eles defendiam também a internacionalização da revolução socialista. Não acreditavam na possibilidade de uma sociedade socialista obter sucesso em um único país. Por isso, em 1864, foi criada a Associação Internacional dos Trabalhadores, mais conhecida com I Internacional (que fazia parte de um grupo de movimentos que ficariam conhecidos como Internacional Comunista). Essa organização estipularia objetivos e estratégias revolucionárias para os movimentos operários de várias partes do mundo.
  Marx e Engels faleceram antes que uma revolução socialista conseguisse efetivamente tomar o poder de maneira duradoura. Isso só ocorreu pela primeira vez em 1917, com a Revolução Russa.
Tumba de Karl Marx, no Cemitério de Highgate - Londres
A Revolução Russa
  Nos anos 1900, o movimento operário começou a ganhar força na Rússia, que era um império governado pelo Czar Nicolau II. A partir dos anos 1860, a Rússia passou por um forte processo de industrialização e os trabalhadores se organizaram para reivindicar melhores salários e condições de trabalho.
  Em 1905, centenas de pessoas morreram no chamado Domingo Sangrento, quando o czar ordenou que suas tropas reprimissem uma manifestação pacífica por melhores condições de vida. Com isso, aumentou a pressão popular pelo fim do Império.
  O Domingo Sangrento foi um massacre que aconteceu em 22 de janeiro de 1905 na cidade de São Petersburgo, onde manifestantes marcharam pacificamente até o Palácio de Inverno para apresentar uma petição ao czar, mas foram baleados pela Guarda Imperial. A marcha foi organizada pelo padre George Gapon, que colaborou com Sergei Zubatov da Okhrana, a polícia secreta czarista, para destruir organizações de trabalhadores. Os grupos envolvidos nesse conflito foram a população no geral, os partidos e os movimentos revolucionários, que tiveram também seu início após esse episódio.
O massacre do Domingo Sangrento em São Petersburgo
  Em 1906, o governo czarista transformou a Rússia em uma monarquia constitucional, sendo criado o Parlamento Russo, a Duma. Começaram a surgir também os sovietes, conselhos de autogestão que reuniam representantes de fábricas.
  Com o início da Primeira Guerra Mundial, a Rússia aliou-se à França na luta contra a Alemanha, fato que elevou seus gastos e agravou a já difícil situação econômica do país. Ocorreram muitas greves e protestos e, em 1917, o czar foi deposto.
Soldados e civis se manifestam durante a Revolução Russa de 1917
  Foi instalado um governo provisório sob a liderança de Alexander Kerenski, membro de um dos partidos socialistas mais moderados. Faziam parte desse governo membros de diversos partidos. Entre eles o Partido Operário Social Democrata Russo, dividido entre mencheviques e bolcheviques.
  Os mencheviques acreditavam que era necessário a Rússia passar pelo estágio de desenvolvimento capitalista para depois se transformar em socialista. Em oposição a eles, os bolcheviques defendiam a instalação imediata do socialismo e do fortalecimento dos sovietes. Entre os principais líderes desse grupo estavam Vladimir Ilitch Ulianov (1870-1924), conhecido como Lênin, e Leon Trotsky (1879-1940). Eles eram contrários à formação de uma república parlamentar e defendiam o confisco dos latifúndios e a nacionalização das terras, fábricas e bancos.
Vladimir Ilitch Ulianov (Lênin) - político e teórico político russo
  O Partido Bolchevique foi posto na ilegalidade e Lênin passou a ser perseguido pelo governo provisório. Ao mesmo tempo, os sovietes, diretamente ligados às lideranças operárias, ganhavam cada vez mais força e apoiavam Lênin.
  Assim, em outubro de 1917, foi organizado um comitê revolucionário com o intuito de derrubar o governo provisório. Sob a liderança de Trotsky, foi criado o Exército Vermelho, formado por soldados desertores e operários, que conseguiram dominar as forças militares do governo menchevique e depor Kerenski. Foi criado o Conselho de Comissários do Povo, o novo governo russo que seria presidido por Lênin.
Alexander Kerenski (1881-1970)
  Após a revogação da Assembleia Constituinte, que deveria criar as bases de um governo multipartidário, o governo bolchevique fundou a República Soviética Russa. Entre as primeiras medidas tomadas pelos bolcheviques, estavam a reforma agrária e a estatização das indústrias e dos bancos.
  No entanto, os bolcheviques sofreram a resistência armada dos mencheviques e dos czaristas que pretendiam derrubar o governo socialista. Instaurou-se, assim, uma longa guerra civil que se estendeu até 1921. Somente nesse ano, consolidou-se a vitória dos partidários de Lênin.
Leon Trotsky - intelectual marxista e revolucionário bolchevique
  Em 1921, Lênin instituiu a Nova Política Econômica (NEP), que estimulou a pequena produção privada e o livre-comércio para normalizar o abastecimento e desenvolver a economia. Em uma combinação de planejamento estatal socialista com as práticas capitalistas de mercado. Recorrer a essas práticas capitalistas era uma forma de acelerar a construção de uma economia socialista mais sólida.
  Como defensores da internacionalização da revolução socialista, os bolcheviques criaram, em 1922, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Expandir a revolução ao maior número de países possível, era uma forma de se defender das economias capitalistas e de consolidar o socialismo.
Mapa da União Soviética
  Lênin morreu em 1924, e um grande desafiou rondou seus partidários: encontrar seu substituto. Um dos aspirantes ao cargo era Trotsky, líder da revolução ao lado de Lênin. Além dele, Josef Stalin, secretário-geral do partido, que defendia o "socialismo em um só país", ou seja, o fortalecimento interno do regime antes da internacionalização da revolução socialista.
  Já Trotsky defendia a chamada "revolução permanente". Para ele o sucesso do socialismo dependia da sua capacidade de difundir-se pelo restante do mundo, minando o capitalismo. Stalin foi o escolhido pelo Partido Comunista, apoiado por parte do exército, e governou a União Soviética até 1953, quando morreu.
Josef Stalin (1878-1953)
  Em 1925, o Partido Operário Social-Democrata Russo foi transformado em Partido Comunista da União Soviética (PUCS). Esse era um partido único (não era permitida a existência de outros) e deveria reprimir os inimigos do socialismo.
  Stalin conseguiu fortalecer a socialização da economia russa, ao mesmo tempo que modernizou e incrementou a indústria. Entretanto, governou de maneira ditatorial, perseguindo seus opositores políticos no país.
  Um de seus principais opositores, Trotsky, foi exilado em 1929 e assassinado no México, em 1940. Milhões de pessoas que se opunham às diretrizes de Stalin foram eliminadas ou enviadas para campos de trabalhos forçados na Sibéria.
Campo de trabalho forçado na Sibéria
  Após a morte de Stalin, vários outros governos se sucederam, só ocorrendo um processo efetivo de abertura política nos anos 1980, quando Mikhail Gorbachev assumiu o poder. Gorbachev propôs uma reforma econômica (Perestroika) e uma reforma política (Glasnost). O objetivo era descentralizar o poder e reestruturar a economia.
  Para isso, pôs fim ao regime de partido único, permitindo a criação de novos partidos políticos. Em 1990, Boris Yeltsin, defensor de uma grande abertura política e econômica, foi eleito presidente do Congresso do Povo das Repúblicas Russas e do Soviete Supremo da Rússia.
Mikhail Gorbachev
  Em dezembro de 1991, Yeltsin articulou o fim da União Soviética, sendo fundada a Comunidade dos Estados Independentes (CEI), que reunia a maioria dos antigos países da URSS. A partir de então, ocorreu um rápido processo de transformação econômica, no qual muitas repúblicas soviéticas foram aderindo ao capitalismo de mercado. A propriedade privada voltou a dominar e grandes empresas capitalistas mundiais passaram a realizar negócios nesses países.
Boris Yeltsin (1931-2007)
A Revolução Chinesa
  Em 1949, ocorreu a revolução socialista na China. No entanto, a história desse movimento revolucionário começou a se construir nos anos 1920, quando foi fundado o Partido Comunista.
  Em 1927, o Partido Comunista foi colocado na ilegalidade pelo governo de Chiang Kai-shek, líder do Kuomintang, partido que governava o país com o apoio de empresários capitalistas. Nesse contexto, sob a liderança de Mao Tsé-tung, os comunistas começaram a mobilizar os camponeses contra o governo de Chiang Kai-shek. Em 1928, foi criado o Exército Vermelho, que tomava terras de proprietários para redistribuir aos camponeses. As massas camponesas foram se tornando, aos poucos, a principal força da revolução comunista.
Chiang Kai-shek (1887-1975)
  Em 1934, Chiang Kai-shek começou a perseguir os comunistas que atuavam no campo. Com isso, teve início a Longa Marcha, quando os comunistas se retiraram de suas áreas de atuação e aproximadamente 100 mil soldados vermelhos se dirigiram para o norte do país com o objetivo de ampliar suas forças militares contra o governo nacionalista de Chiang Kai-shek. Após um ano de marcha, o grupo ficou bastante reduzido, pois muitos foram mortos pelo exército nacionalista ou morreram de fome. Apesar dessas dificuldades, o apoio aos comunistas liderados por Mao Tsé-tung continuava crescendo.
Mao Tsé-tung (1893-1976)
  No ano de 1940, o Exército Vermelho continuou a promover a reforma agrária no interior do país e aumentou ainda mais o apoio popular aos comunistas e a Mao Tsé-tung. Em 1949, o Exército Vermelho conseguiu tomar Pequim. Meses depois os comunistas proclamaram a República Popular da China, tendo Mao como presidente.
  O episódio obrigou Chiang Kai-shek a se refugiar na ilha de Formosa (Taiwan), que foi reconhecida como sede do governo chinês por vários países , entre eles os Estados Unidos. Dessa forma, os países que lutavam contra o comunismo  procuraram isolar a China e o governo de Mao Tsé-tung. O país aproximou-se então da União Soviética, mas ocorreram disputas territoriais e discordância política entre eles. Os russos não admitiam que os chineses tivessem o seu próprio arsenal atômico, e os chineses, por sua vez, acusavam os russos de manterem uma atuação imperialista na Ásia e em parte da Europa.
Mao Tsé-tung proclama a República Popular da China, em 1949
  Uma vez no poder, Mao Tsé-tung criou um plano de desenvolvimento econômico e estimulou o desenvolvimento industrial da China, além de combater a fome. Nos anos 1950, foram criadas as comunas populares, unidades coletivas de produção que executavam tanto a produção agrícola como o processo de industrialização de muitos produtos.
  Nos anos 1960, ocorreu na China o que se chama de Revolução Cultural, a qual procurou radicalizar a implementação dos ideais revolucionários e fazer a crítica dos valores burgueses. Estimulou-se a crítica às relações hierárquicas e pregou-se a igualdade social, mas ocorreu também a perseguição de intelectuais e militantes contrários às ideias veiculadas pelo Partido Comunista.
  O movimento opunha-se à burocracia que tomava conta do partido e existiu entre 1966 e 1969, quando, sob o risco de uma guerra civil, Mao Tsé-tung ordenou sua dissolução.

Cartaz sobre a Revolução Cultural Chinesa
  Em 1976, Mao Tsé-tung faleceu e iniciou-se um processo de transformação da economia chinesa com Deng Xiaoping no poder. Começou a ser empreendida a abertura da economia chinesa ao mercado internacional, que, nos anos 1980, denominou-se economia socialista de mercado. Foi permitido que empresas capitalistas estrangeiras instalassem indústrias no país. O Estado interveria para evitar e reduzir as desigualdades sociais, mas a produção da riqueza teria origem na indústria capitalista.
  Nesse período foram criadas as chamadas Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), que permitiram a instalação de grandes indústrias estrangeiras com vantagens fiscais e baixo custo de salários, que seriam compensados pelos benefícios oferecidos pelo Estado, como educação, saúde e preços subsidiados aos trabalhadores. Dessa forma, a China despontou como uma grande força econômica no mercado mundial, exportando produtos para todo o mundo com preços muito competitivos.
  Nos primeiros anos do século XXI, a China vem sustentando um grande índice de desenvolvimento econômico. No entanto, esse crescimento tem provocado riscos ao meio ambiente, com o aumento da poluição das águas e do ar, além do risco de esgotamento dos recursos naturais.
Mapa econômico da China
A Revolução Cubana
  Em 1959, Cuba foi o primeiro país da América a fazer uma revolução socialista.
  Até 1897, o país foi uma colônia espanhola. A independência cubana ocorreu sob a liderança de José Martí e com o apoio dos Estados Unidos, que lutou contra a Espanha.
  No entanto, a liberdade cubana logo se transformou em dependência dos Estados Unidos. Em 1901, o Congresso cubano aprovou a emenda Platt, que permitia a interferência estadunidense na sociedade cubana. Com a emenda, os Estados Unidos puderam instalar uma base militar em Guantánamo, ampliando sua presença militar no continente. A região se transformou em importante centro turístico, onde estavam presentes cassinos e casas de prostituição. Além disso, empresas estadunidenses dominavam o comércio de produtos locais, como o açúcar e o fumo.
Base Naval de Gaunatánamo
  Mesmo com a revogação da emenda Platt em 1933, os Estados Unidos continuaram a exercer grande influência sobre a ilha. Nos anos 1930, um movimento nacionalista lutava contra a interferência estadunidense. Em 1952, Fulgêncio Batista tronou-se presidente de Cuba por meio de um golpe militar apoiado pelos Estados Unidos. Instalou uma ditadura no país e mandou prender os nacionalistas que se opunham ao regime.
Fulgêncio Batista (1901-1973)
  Foi nesse contexto que surgiram lideranças como Fidel Castro e Ernesto Che Guevara, que faziam oposição à ditadura de Fulgêncio Batista. Em 1953, Castro, que era estudante da Universidade de Havana, organizou um ataque ao quartel de La Moncada, em Santiago. Foi a primeira tentativa de abalar as bases do governo de Batista. No entanto, com o fracasso militar do movimento, Fidel Castro acabou preso.
  Em 1955, Fidel Castro foi anistiado e partiu para o México, onde, junto com Ernesto Che Guevara e outros guerrilheiros, começou a organizar um movimento contra o governo cubano. Voltaram para o país em 1956 e, depois de nova tentativa fracassada contra o governo de Batista, refugiaram-se na região de Sierra Maestra, onde obtiveram o apoio de grupos guerrilheiros e de parte da população camponesa.
Fidel Castro na prisão, em julho de 1953, após o assalto ao Quartel de La Moncada
  A partir de 1957, as precárias condições de vida da população cubana resultaram em greves, protestos e crescente apoio ao grupo revolucionário. Em 1958, os partidários de Fidel já dominavam parte da ilha, tendo criado hospitais, fábricas e escolas. No segundo semestre desse ano, os revolucionários marcharam rumo a Santiago e depois em direção a Havana, onde chegaram em janeiro de 1959. Sem ter como resistir às forças rebeldes, Batista deixou Havana sob ameaça dos guerrilheiros. Em fevereiro, Fidel assumiu o poder.
Fidel Castro saúda a multidão após a sua entrada em Havana, em 1959
  Dentre as primeiras medidas do novo governo, destacam-se a redução de preços em vários setores essenciais da economia, o combate à prostituição e o fechamento dos cassinos, além de ser anunciada a reforma agrária.
  A partir de 1961, Cuba começou a caminhar mais decisivamente na direção do socialismo, e empresas estadunidenses sofreram intervenção do governo.
  Ocorreu nesse ano o alinhamento com a União Soviética e foi criado o Partido Único da Revolução Socialista, depois chamado de Partido Comunista Cubano (PCC).
  Com isso, houve o rompimento definitivo das relações políticas e diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba.
  Nesse mesmo ano, aviões estadunidenses bombardearam Santiago e invadiram uma praia na Baía dos Porcos, na porção sul da ilha, mas o exército de Fidel conseguiu conter o avanço das tropas dos Estados Unidos.
Grupo de contra-revolucionários cubanos, membros da Brigada de Assalto 2506, é capturado na Baía dos Porcos, após tentativa fracassada de invasão apoiada pelos Estados Unidos
  No ano seguinte, os Estados Unidos decretaram o bloqueio econômico a Cuba, impondo sanções aos países que mantivessem relações comerciais com a ilha. Assim, Cuba tornou-se dependente do bloco socialista para obter insumos como petróleo, remédios e vários produtos industrializados. O país teve que realizar um grande racionamento para sobreviver ao bloqueio.
  Do ponto de vista social, a revolução obteve sucesso quanto à melhoria das condições de vida da população. O analfabetismo foi erradicado, a população goza de boa infraestrutura de saúde, não faltam escolas e o desemprego é muito baixo quando comparado ao das economias capitalistas.
  No entanto, os adversários políticos do regime cubano no mundo capitalista condenam a presença da censura e a impossibilidade de constituir um pensamento crítico ou divergente em relação ao governo socialista.
Fidel Castro (1926-2016), em Washington (EUA) em abril de 1959
REFERÊNCIA: Campos, Flávio de
Oficina de história: volume 2 / Flávio de Campos, Júlio Pimentel Pinto, Regina Claro. -- 2. ed. -- São Paulo: Leya, 2016.

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