terça-feira, 24 de março de 2015

AGENTES EXTERNOS MODIFICADORES DO RELEVO

  Os agentes externos ou exógenos corresponde ao conjunto dos processos erosivos relacionados à atmosfera e aos diversos tipos climáticos do globo, às características morfológicas e aos tipos de rochas. Esses agentes modificam o relevo. O ser humano, por meio de suas atividades, pode desencadear ou acelerar a erosão.
EROSÃO E INTEMPERISMO
  A erosão é um processo natural que se completa em três etapas: desgaste, transporte e acúmulo de sedimentos. Nesses processos há atuação dos agentes externos, como os ventos, as águas e as geleiras, que transportam os fragmentos de rocha das áreas mais elevadas para as mais baixas. Ela se inicia com o desgaste das rochas  em decorrência do intemperismo. O relevo resultante da sedimentação das rochas no processo de erosão é denominado de colúvio.
  A erosão pode provocar:
  • arrastamento de areia que podem encobrir porções de terrenos férteis e sepultá-los com materiais áridos;
  • morte da fauna e da flora do fundo dos rios e lagos por soterramento;
  • turbidez nas águas, dificultando a ação da luz solar na realização da fotossíntese, importante para a purificação e oxigenação das águas;
  • o transporte de inseticidas e adubos até os corpos d'água, causando desequilíbrio na fauna e flora desses corpos de água;
  • a formação de voçorocas, que consiste na formação de grandes buracos de erosão causados pela água da chuva e intempéries em solos onde a vegetação é escassa e não protege mais o solo. Esse fenômeno destrói as terras cultiváveis;
Voçoroca em Piracicaba - SP
  • formação de ravinas, que é um processo erosivo provocado essencialmente pelo escoamento de água (erosão hídrica), causando grandes depressões no solo e é parecido com a voçoroca. A diferença é que as ravinas lembram grandes valas ou pequenos vales, possuem dezenas de metros de profundidade e largura. A voçoroca é formada pela erosão do rego e, geralmente, atinge o lençol freático.
Ravina, em Mineiros - GO
  O intemperismo, também conhecido como meteorização, é o conjunto de processos que gera a desagregação física e a decomposição química dos minerais das rochas. O intemperismo é de grande importância para a formação dos solos, pois em algumas regiões onde há grandes formações rochosas a fixação de plantas é mais difícil em relações a regiões de solo estruturalmente menos rochosos. Há três tipos de intemperismo: físico, químico e biológico.
Arenitos erodidos em Vila Velha - PR
Intemperismo Físico
  No intemperismo físico, também  chamado de mecânico, ocorre a dilatação e contração das rochas devido à alternância de temperaturas, entre o dia e a noite e no decorrer das estações do ano, e ao congelamento da água nas fissuras das rochas. A alternância de volume dos minerais presentes nas rochas ocorre de forma desigual, tornando a rocha quebradiça. Esse é o principal agente do intemperismo em regiões de clima seco, em que a amplitude térmica é alta. Nesse tipo de intemperismo, as rochas tendem a se fragmentar pelo enfraquecimento de suas estruturas, e os minerais que compõem as rochas têm diferentes coeficientes de dilatação, ampliando a fragmentação das rochas. A cor e a granulometria da rocha influenciam a sua fragmentação, e as rochas mais escuras tendem a aquecer com mais facilidade, e as mais grosseiras tendem a se desintegrar mais facilmente do que as de grãos pequenos.
Rochas que sofrem com o intemperismo físico, no Atacama - Chile
Intemperismo Químico
  O intemperismo químico ocorre em áreas de temperatura e umidade mais constantes, como as regiões tropicais, de clima quente e úmido. Esse tipo de intemperismo se dá pela ação da água. A água da chuva e dos rios se infiltra nas fissuras das rochas e provoca sua dissolução. Isso ocorre por causa da reação entre elementos químicos (oxigênio, hidrogênio e dióxido de carbono).
  A ação da água da chuva, carregada de elementos atmosféricos, como o CO², que ataca os minerais da rocha em sua superfície exposta e em suas fraturas, decompõe-se, dando origem a novos minerais, estáveis às condições da superfície terrestre, e a solutos que migram pelas fraturas da rocha ou nas águas superficiais em direção ao mar, resultando em várias reações químicas: oxidação, hidratação, dissolução, hidrólise e acidólise.
Rocha que sofre com o intemperismo químico, em Mimoso do Sul - ES
Intemperismo Biológico
  O intemperismo biológico ocorre por meio dos seres vivos, onde estes desempenham, de forma direta ou indireta, o desgaste das rochas, e seu papel é bastante importante para a formação do solo. Este tipo de intemperismo produz os solos mais férteis do mundo, sendo muito comum na Rússia e na Ucrânia.
  As raízes das árvores penetram nas fissuras  e alargam ou trituram as paredes rochosas em busca de sais minerais, liberando ácidos húmicos que irão causar o intemperismo químico. Já as bactérias entram nas fissuras e nos poros das rochas, produzindo sulfetos e outros compostos característicos do meio. Os animais roedores e escavadores e outros animais lançam excreções nas rochas, que provocam a sua desintegração.
Rocha que sofre com o intemperismo biológico, na região Amazônica0
TIPOS DE EROSÃO
  A atuação das águas pluviais (das chuvas) e fluviais (dos rios) costuma ser intensa nas regiões de climas temperados e tropicais.
  No caso das águas pluviais, é comum nas áreas com relevo em declive formarem-se as enxurradas que, dependendo da intensidade das chuvas e, principalmente, de sua duração, podem causar deslizamentos de terra em encostas, particularmente naquelas onde a vegetação foi retirada. Esse processo erosivo é comum nos trechos de serras, em diversas regiões do espaço brasileiro, no período das chuvas.
  Nas encostas dos espaços urbanos que são ocupadas por moradias, a erosão pluvial é intensificada, provocando deslizamentos que acarretam a destruição das casas e até a morte de pessoas que viviam nesses locais, muitos deles considerados áreas de risco.
Área erodida pelas chuvas em 2011, em Teresópolis - RJ
  No Brasil, essas áreas, em geral menos valorizadas, são ocupadas sobretudo por pessoas de baixa renda, que não têm como comprar um imóvel em locais melhores e mais seguros. Isso evidencia as fortes desigualdades sociais existentes no país. No entanto, existem também casas de pessoas de renda média ou alta nas encostas dos morros. Ambos os casos evidenciam a ineficácia da atuação do poder público.
  O desmatamento aumenta o escoamento superficial da água das chuvas e, consequentemente, agrava o processo de perda de solo. Os sedimentos vão então parar nos rios, localizados em áreas de menor altitude. Disso resulta o assoreamento dos rios, com o acúmulo dos detritos no leito e a diminuição da capacidade de vazão. Entre as consequências está o aumento significativo da intensidade das cheias nos centros urbanos.
  Por conta da intensidade das chuvas, de ampla impermeabilização dos solos nos espaços urbanos e da ocupação de áreas de inundação, situadas às margens dos rios, as enchentes também são uma constante no Brasil.
  Apesar de existirem leis determinando que parcelas dos terrenos devem permanecer com piso drenante, como gramas e outras plantas, sem cobertura de cimento, concreto, asfalto, lajotas etc., essas leis acabam não sendo cumpridas. Tal fato, associado à ocupação das margens de rios e córregos (planícies de inundação) e ao acúmulo de lixo nas vias públicas, que as chuvas levam para os bueiros e tubulações contribui para o agravamento das enchentes, sobretudo nas grandes cidades.
Cratera aberta pela água das chuvas em 2014, em Mãe Luíza, Natal - RN
Erosão Fluvial
  Erosão fluvial é o desgaste do leito e das margens dos rios pelas suas águas. No processo de erosão fluvial, o leito do rio é ampliado gradativamente e formam-se suas vertentes (encostas ou margens), que delimitam o seu vale. A intensidade de ampliação do leito do rio depende do volume de água que ele apresenta, da forma do relevo e da natureza das rochas por onde ele corre. Essa alteração no relevo não é percebida na escala de tempo da vida humana, e esse processo pode levar a alterações no curso do rio.
  Percorrendo trechos de relevo pouco inclinado, nos quais a intensidade da força das águas não é grande, o material desagregado pelas águas dos rios (aluvião) acumula-se ao longo das margens (curso médio e inferior), principalmente no período das cheias, podendo dar origem às planícies. Esse tipo de planície é chamada de aluvial e é rica em material orgânico, favorecendo o desenvolvimento da agricultura. É o caso da planície Amazônica. O processo de erosão fluvial também modela vales profundos e cânions.
Grand Canyon, Arizona - EUA
Erosão Pluvial
  A erosão pluvial é provocada pela retirada de material da parte do solo pelas águas da chuva. Esta ação é acelerada quando a água encontra o solo desprotegido de vegetação. A primeira ação da chuva se dá através do impacto das gotas d'água sobre o solo. Este é capaz de provocar a desagregação dos torrões agregados do solo, lançando o material mais fino para cima e para longe, fenômeno conhecido como salpicamento. A força do impacto também força o material mais fino para baixo da superfície, provocando a obstrução da porosidade do solo, aumentando o fluxo superficial e a erosão.
  A ação da erosão pluvial aumenta à medida que mais água da chuva se acumula no terreno.
  As principais formas de erosão pluvial são:
  • erosão laminar: ocorre quando a água corre uniformemente pela superfície como um todo, transportando as partículas sem formar canais definidos. Apesar de ser uma forma mais amena de erosão, é responsável por grandes prejuízos na atividade agrícola e por transportar grande quantidade de sedimentos que vão assorear os rios;
  • erosão em sulcos de escorrência: ocorre quando a água se concentra em determinados sulcos do terreno, atingindo grande volume de fluxo e transportando maior quantidade de partículas, formando ravinas na superfície. Estas ravinas podem rapidamente atingir alguns metros de profundidade.
Erosão em sulcos de escorrência, na BR-101, próximo à João Pessoa - PB
Erosão Marinha
  A erosão marinha é um longo processo de atrito da água do mar com as rochas que acabam cedendo, transformando-se em grãos. Esse trabalho constante atua sobre o litoral transformando o relevo em planície e deve-se praticamente à ação de um fator presente na termodinâmica: a convecção dos ventos, responsáveis pelo surgimento das ondas, correntes e marés. Ocorre tanto nas costas rochosas como nas praias arenosas.
  Nas costas rochosas, a ação das águas do mar - abrasão marinha - sobre os costões do relevo litorâneo tende a desgastá-los. Quando esses costões são constituídos de rochas cristalinas, formam-se as falésias. Se forem formados por rochas sedimentares, surgem as barreiras.
Falésia na Praia de Cotovelo, Parnamirim - RN
  Nas praias arenosas a erosão constitui um grave problema para as populações costeiras. Os danos causados podem ir desde a destruição de habitações e infraestruturas até graves problemas ambientais.   As águas do mar realizam também um trabalho de acumulação: as ondas que batem continuamente nas áreas baixas litorâneas depositam nesses lugares areia e outros materiais, como restos de animais marinhos. Esse é um dos processos que resultam na formação das praias.
Dunas de Genipabu, Extremoz - RN
Erosão Glacial
  As geleiras, ao se deslocarem, agindo sobre a crosta terrestre, provocam erosão, denominada erosão glaciária. Os movimentos ou alternâncias de gelo e o derretimento das geleiras são fatores que também contribuem para o desgaste do relevo. Os fragmentos rochosos são arrastados pelas geleiras e se deslocam pelo terreno, dando origem às morainas.
Moraína no monte Ishinca - Peru
  A erosão glacial pode também dar origem aos fiordes. Os fiordes formam-se devido à ação das imensas massas de gelo, chamadas glaciares, que se movimentam rumo ao mar como se fossem grandes rios congelados, e só existem em regiões costeiras montanhosas de clima frio. A sua origem remonta há aproximadamente 12 mil anos, quando o mar ocupou os espaços que os glaciares escavaram na costa atlântica durante a última Era Glaciar.
Fiorde na Noruega
Erosão Eólica
  A erosão eólica ocorre diretamente pela ação dos ventos ou por meio do lançamento de pequenas partículas de rochas contra outras rochas, que pode provocar um lento desgaste por meio do atrito, devido à retirada superficial de fragmentos mais finos. O material desagregado pela ação do vento pode também ser transportado e depositado em outros locais, dando origem às dunas.
  A diminuição da velocidade do vento ou deflação ocorre frequentemente em regiões de campos de dunas com a retirada preferencial de material superficial mais fino, permanecendo, muitas vezes, uma camada de pedregulhos e seixos, adaptando à superfície erodida. Em locais de forte e constante deflação podem se formar zonas rebaixadas, em meio a regiões desérticas, e com as escassas chuvas formam lagos rasos (playa), secos na maior parte do tempo, com lama endurecida ou camadas de sal.
Dunas no Deserto do Saara - Líbia
Erosão provocada pelos seres vivos
  Os seres vivos também são agentes modificadores do relevo, principalmente os seres humanos, que interferem na dinâmica da natureza construindo estradas, túneis, viadutos, pavimentando ruas e avenidas e extraindo riquezas naturais. As formas de relevo são modificadas num processo mais acelerado do que aquele promovido pelos agentes naturais.
Erosão na BR-101, sobre o rio Pitimbu, em Natal - RN
FONTE: Lucci, Elian Alabi. Território e sociedade no mundo globalizado I: ensino médio / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco, Cláudio Mendonça. - 2. ed. - São Paulo: Saraiva, 2013.

Nenhum comentário:

ADSENSE

Pesquisar este blog