quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

ESTADOS UNIDOS E CUBA DECIDEM RETOMAR RELAÇÕES POLÍTICAS APÓS 53 ANOS

  Os presidentes Barack Obama dos Estados Unidos e Raúl Castro de Cuba anunciaram nesta quarta-feira - 17 de dezembro de 2014 - o restabelecimento das relações entre os dois países, suspenso há 53 anos. Apesar do início das conversações entre ambos, o embargo econômico ao país caribenho continuará. Cuba libertou o prisioneiro americano Alan Gross e, em troca, três agentes de inteligência cubanos que estavam presos nos Estados Unidos voltaram à ilha.
  Foram anunciadas as seguintes medidas por parte dos Estados Unidos:
  • restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países;
  • facilitar viagens de americanos a Cuba;
  • autorização de vendas e exportações de bens e serviços dos Estados Unidos para Cuba;
  • autorização para norte-americanos importarem bens de até US$ 400 de Cuba;
  • início de novos esforços para melhorar o acesso de Cuba a telecomunicações e internet.
Barack Obama e Raúl Castro se cumprimentam durante a cerimônia fúnebre de Nelson Mandela, em dezembro de 2013
  As medidas incluem ações práticas, dentre elas o restabelecimento de uma embaixada americana em Havana e a revisão da designação dada pelos Estados Unidos a Cuba Estado que patrocina o terrorismo. Obama vai lutar para que o Congresso norte-americano aprove o fim do embargo que o país mantém a Cuba, no qual proíbe a maioria das trocas comerciais.
  Os dois países não mantinham relações desde 1962, quando, durante a Guerra Fria, Cuba se aliou à União Soviética e, no dia 14 de outubro deste ano, os Estados Unidos divulgaram fotos, coletadas através de um voo secreto sobre Cuba, que apresentavam instalações preparadas para abrigar mísseis nucleares soviéticos. O então presidente norte-americano John Kennedy logo comunicou sua população do risco existente com a possibilidade de um ataque altamente destrutivo, encarando o fato como um ato de guerra. Do outro lado do Atlântico, o Primeiro-Ministro soviético Nikita Kruschev alegou que a base com os mísseis resultavam apenas de uma ação defensiva e serviriam também para impedir uma nova invasão dos Estados Unidos à Cuba.
Vista aérea mostrando base de lançamento de mísseis em Cuba, em novembro de 1962
  A Crise dos Mísseis, como ficou conhecida esse episódio, soou o alarme no mundo para uma nova guerra durante treze dias, sendo um dos momentos de maior tensão durante a Guerra Fria.
  O presidente Barack Obama afirmou que os Estados Unidos poderão "fazer mais para ajudar o povo cubano" ao negociar com o governo da ilha.
  Em Havana, Raúl Castro confirmou o restabelecimento das relações diplomáticas e disse que quer restabelecer os vínculos entre os dois países, especialmente no que se refere a viagens, correio postal direto e telecomunicações.
  Castro disse ainda que reconhece que há "profundas diferenças" entre os dois países, "fundamentalmente em matéria de soberania nacional, democracia, direitos humanos e política exterior". O presidente cubano disse ainda que a ilha vai libertar e mandar para os Estados Unidos um homem de origem cubana que espionou para os americanos.
Havana - capital de Cuba
  Dentre os esforços para facilitar as negociações históricas entre os Estados Unidos e Cuba está o papel desenvolvido pelo Vaticano, através do Papa Francisco, que foi o principal intermediador das conversações entre os dois países. Após o anúncio, o Papa Francisco parabenizou os dois chefes de Estado e disse que continuará a apoiar o fortalecimento das relações bilaterais entre ambos.
  O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse que a troca de prisioneiros entre Estados Unidos e Cuba foi um gesto "corajoso" do presidente Barack Obama e que tratou-se de uma vitória para a ilha.
Chegada de Alan Gross na instalação militar dos Estados Unidos Joint Base Andrews, em 17 de dezembro de 2014
OS MOTIVOS DO AFASTAMENTO DIPLOMÁTICO ENTRE CUBA E ESTADOS UNIDOS
  Localizada no Mar do Caribe, Cuba é um arquipélago com cerca de 1.600 ilhas, sendo que a Ilha de Cuba é a principal delas. No país predomina o clima tropical e um território formado principalmente por vales férteis e montanhas. É o único país latino-americano que adotou o sistema socialista.
  Durante o Período Colonial, o território que hoje forma Cuba esteve sujeito ao domínio espanhol. Entre 1902 e 1933, o país foi ocupado militarmente, sucessivas vezes, pelos Estados Unidos, que intervinha nos assuntos internos da ilha e controlava a exportação do principal produto cubano: o açúcar.
  Na década de 1950, um movimento contrário ao ditador Fulgêncio Batista, que reivindicava o fim do domínio norte-americano na ilha, mudou os rumos da história de Cuba. O movimento revolucionário foi liderado por Ernesto Che Guevara e Fidel Castro, que tomou o poder em 1959 - durante episódio que ficou conhecido como Revolução Cubana -, contrariando os interesses dos Estados Unidos.
Fidel Castro comemora a Revolução Cubana, em 1959
  O novo governo realizou uma série de mudanças, entre elas a reforma agrária e a nacionalização das empresas, e passou a destinar recursos à educação e à saúde. 
  Com a vitória da revolução, os guerrilheiros que ajudaram Fidel Castro a tomar o poder receberam cargos em seu governo. Che Guevara tornou-se presidente do Banco Central, ministro da Indústria e, mais tarde, percorreu diversos países em missão diplomática. Os opositores e críticos da revolução fugiram para os Estados Unidos ou foram presos.
  O governo de Fidel Castro fez uma reforma agrária em Cuba, transferindo para o Estado as terras dos latifundiários, incluindo as da própria família de Fidel. Os meios de produção, como hotéis, refinarias de petróleo e outras empresas existentes no país, foram estatizados.
  Uma ampla campanha nacional, com o envio de professores para o campo, permitiu o fim do analfabetismo no país. A educação básica tornou-se obrigatória. Foram garantidas vagas nos cursos superiores a todos os interessados. Os serviços de saúde também foram estendidos a toda a população; os médicos passaram a visitar regularmente todas as famílias em suas casas.

Fidel Castro discursa em Havana após a vitória da Revolução Cubana
  Essas transformações puderam ser realizadas em grande parte por causa do apoio recebido da União Soviética.
  Em 1960, Fidel Castro foi a Nova York para explicar a Revolução Cubana na assembleia da ONU. Ele pretendia solicitar o apoio do governo estadunidense, mas não foi recebido por Dwight Eisenhower, então presidente dos Estados Unidos. Entretanto, o governante soviético Nikita Kruschev, também presente à reunião, aceitou conversar com Fidel e convidou-o a visitar a União Soviética.
  A aproximação com o governo soviético e as atitudes nacionalistas de Fidel Castro incomodaram o governo dos Estados Unidos e os donos das empresas e dos bancos que tinham propriedades em Cuba. Mas John Kennedy, o novo presidente dos Estados Unidos se recusou a comprar o açúcar cubano, principal produto de exportação do país. Mas a pressão econômica dos EUA não funcionou, pois os soviéticos se ofereceram para comprar açúcar e fornecer petróleo a Cuba.

Che Guevara e Fidel Castro
  Em abril de 1961, seis aviões dos EUA, pintados com as cores da Força Aérea Cubana, bombardearam aeroportos da ilha. Apenas três aviões foram atingidos em terra, mas sete civis cubanos foram mortos. No enterro dos civis, Fidel Castro declarou que a Revolução Cubana era socialista.
  A repercussão desse acontecimento foi péssima para o governo Kennedy. Em vez de abalar o poder de Fidel Castro, fortaleceu ainda mais o apoio à Revolução Cubana.
  Ainda em abril de 1961, exilados cubanos que viviam nos EUA desembarcaram na baía dos Porcos para tentar derrubar o governo de Fidel Castro. O governo Kennedy não cumpriu a promessa de enviar apoio aéreo, temendo agravar os problemas causados pelo bombardeio anterior. Sem a ajuda prometida, em apenas três dias os exilados cubanos foram vencidos pelas forças leais a Fidel.
Mapa de Cuba
  Apesar de todas as melhorias sociais, os cubanos enfrentam vários problemas. O sistema de transporte é pouco eficiente, faltam produtos básicos e persiste uma enorme burocracia.
  O maior dos problemas cubanos é a situação econômica do país depois da fragmentação da União Soviética. O boicote liderado pelos Estados Unidos aos produtos de Cuba após a Revolução Cubana fez com que o país estabelecesse relações comerciais com um grupo reduzido de países, principalmente os que pertenciam à esfera socialista entre as décadas de 1960 e 1980.
  O apoio soviético ao governo de Fidel Castro favorecia Cuba nas trocas comerciais, permitindo que obtivesse uma série de vantagens. A maior parte da produção de açúcar da ilha era comprada pelos países socialistas. Com o fim da União Soviética, Cuba deixou de contar com o mercado certo para seus produtos e ainda teve de enfrentar a pressão  internacional liderada pelos Estados Unidos. Foram proibidos investimentos  norte-americanos em Cuba, encerrando as relações comerciais entre os dois países. 
Carros antigos circulam pelas ruas de Havana
  Em 2008, após 49 anos como presidente, Fidel Castro, com sérios problemas de saúde, renunciou oficialmente ao cargo, aos 81 anos de idade. Seu irmão, Raúl Castro, assumiu o governo cubano.
  As dificuldades econômicas e as pressões internacionais levaram o governo a fazer uma série de concessões. Atualmente, podemos encontrar em Cuba traços que evidenciam mudanças na economia do país, como a presença de propriedades privadas, o fim da equidade salarial, a permissão para que os cubanos possuam dólares e licenças para trabalho particular.
  Em 2009, o governo norte-americano diminuiu as restrições para cubanos-americanos visitarem o país. Nesse mesmo ano, Cuba foi aceita novamente como membro da Organização dos Estados Americanos (OEA).
  Em 2011, novas leis permitiram aos cidadãos cubanos a compra e a venda de veículos e imóveis pela primeira vez desde a Revolução de 1959. Antes dessa data era proibida a compra e a venda de carros fabricados antes da revolução.
Plantação de tabaco em Pinar del Río
FONTE: Portal de Notícias G1.

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