quarta-feira, 23 de novembro de 2011

AS TENSÕES NO MAGREB


  O Magreb é uma extensa região situada no norte da África, banhada pelo oceano Atlântico e pelo mar Mediterrâneo, e que apresenta influência predominantemente islâmica. A partir do século XIX, foi submetido ao processo de partilha da África entre as potências europeias. O Marrocos, a Argélia, a Tunísia e a Mauritânia, ficaram sob o domínio francês. O Saara Ocidental e o norte do Marrocos, sob o domínio da Espanha, e a Líbia, da Itália.
  Ao contrário do que ocorreu na África Subsaariana, onde as fronteiras entre os países foram traçadas de maneira arbitrária, no Magreb, as fronteiras já que já existiam antes do domínio europeu foram mantidas. Apenas as fronteiras ao sul, já no deserto do Saara, foram traçadas pelos próprios franceses, que dominavam também áreas na África Central. Essas fronteiras ao sul são contestadas pelo governo da Líbia, Muammar Khadafi, que presidiu o país desde 1970.
  As independências de alguns desses países ocorreram em situações diferentes: enquanto Marrocos e Tunísia tiveram processos pacíficos em 1956, a Argélia teve um processo de independência extremamente violento, com milhares de mortos, só concluído em 1962.
Conflito nas ruas de Argel, capital da Argélia na luta pela independência em 1960
  A partir das independências, os dois principais países magrebinos tomaram rumos diferentes. O Marrocos manteve-se como monarquia. A Argélia passou por um longo período de guerras civis, entre 1992 e 2002.
  Entre os países do Magreb, é na Argélia que a presença islâmica é mais forte. O contexto político-religioso e as oscilações do preço do petróleo, que geram crises econômicas, têm sido os fatores preponderantes da instabilidade argelina.
Veja agora os principais conflitos dessa região.
ARGÉLIA
  A Guerra da Argélia ocorreu entre 1954 e 1962. Foi um conflito civil pela independência do país, tendo dois principais partidos revolucionários: o FLN (Frente de Libertação Nacional) e o MNA (Movimento Nacional Argelino). Embora ambos quisessem a proclamação de independência da Argélia, havia uma divergência entre os intransigentes da Argélia francesa e os seguidores da política desenvolvida pelo General De Gaulle. Assim, surgiram duas guerras, uma contra o domínio francês e outra entre os dois partidos revolucionários argelinos. Quanto à guerra entre o principal partido, FLN, e a França, colonizadora do país desde 1830, foi marcada pelos ataques em massa, ataques terroristas de ambos os lados, além de torturas por parte do lado francês. Essas políticas da França foram escondidas da população francesa, que era claramente contra as crueldades. Para isso, o governo francês censurou vários jornais e meios de comunicação para esconder a verdade.
Ataques terrorista durante a guerra da independência na Argélia
  Na luta contra as correntes do partido MNA, o FLN venceu e após vários conflitos, a França teve que reconhecer a independência da Argélia em 5 de julho de 1962. Os enfrentamentos entre islâmicos e o governo argelino condicionam o presente e o futuro da Argélia, quatro décadas depois da proclamação da República Democrática.
  A difícil luta pela independência fortaleceu o movimento nacionalista integrado na FLN que se instalou no poder, estabelecendo um regime de partido único. As crises econômicas e políticas que assolaram o país, entretanto, fizeram com que dirigentes religiosos inserissem o radicalismo islâmico na vida argelina.
Radicais islâmicos da Argélia
  Em 30 de dezembro de 1991, os integrantes da Frente Islâmica de Salvação (FIS) ganharam o primeiro turno das eleições. Seu triunfo, porém, foi barrado pelos militares que obrigaram o presidente Chadli Benvedid a suspender o processo eleitoral, declarar o FIS ilegal e decretar estado de exceção. Diante dessa repressão, o Exército Islâmico de Salvação (EIS) constituiu-se como braço armado da FIS, concentrando seus ataques a alvos militares. Além disso, o Grupo Islâmico Armado (GIA) declarou guerra aos estrangeiros que viviam no país.
Chadli Benvedid - ex-presidente argelino
  Após o golpe militar, Benvedid saiu do poder, que foi passado para o herói da independência Mohamed Budiaf, presidente do Alto Comitê de Estado (ACE), criado especialmente para contornar a crise política. Em 29 de julho de 1992, entretanto, Budiaf foi assassinado e o militar Belaid Abdesalam assumiu a presidência declarando guerra total à Frente Islâmica de Salvação. Desde então, o enfrentamento entre os extremistas islâmicos e as forças do governo tem sido constante.
  Em janeiro de 1994, o Alto Comitê encerrou suas atividades. Foi criado, então, o Conselho Nacional de Transição (CNT), que, substituindo a Assembleia Nacional, impôs uma nova lei eleitoral. Em outubro desse mesmo ano foi eleito como presidente Liamin Zerual, que assumiu o cargo conclamando a população a dar um basta nos confrontos político-religiosos no país. Para isso, convocou um referendo para modificar a Constituição de 1976 e excluir os partidos religiosos ou regionais.
Liamin Zerual
  Em 1997, o Exército Islâmico de Salvação decretou uma trégua unilateral. Porém, as matanças por parte dos grupos radicais continuaram. Dois anos depois, o presidente Abdelaziz Bouteflika concedeu a anistia para vários presos políticos. Numa consulta popular, o povo argelino pronunciou-se a favor da paz no país. Porém, após a vitória nas eleições de 2002, em pleno 40º aniversário da independência da Argélia, o terrorismo islâmico voltou a assolar o país, deixando 35 mortos e mais de 80 feridos. Os enfrentamentos entre o governo e os radicais islâmicos têm se mantido sem trégua até os dias atuais.
Argel - capital da Argélia
  Atualmente a situação na Argélia continua a ser crítica, já que os massacres e atentados não cessaram. Apesar disso o poder político diz que a situação se encontra estabilizada, não negando, porém, a ajuda econômica da União Europeia e fazendo os possíveis para manter a cooperação euromediterrânica.
  A população civil na Argélia é quem mais sofre, no entanto, não se consegue apurar qual a sua verdadeira opinião, uma vez que na Argélia a população aterrorizada tenta tomar partido de uns ou de outros, conforme a situação, uma vez que nesta guerra não se pode ser neutro, há que tentar jogar com as facções em conflito de forma a assegurar a sobrevivência. A resistência continua a ser a única forma encontrada pela população para atenuar os ataques terroristas.
O SAARA OCIDENTAL
  A região conhecida como Saara Ocidental foi colonizada pelos espanhóis de 1884 a 1975. Nesse ano, a Espanha desocupou a região, deixando para trás um país sem infraestrutura e com muitas carências, cuja taxa de analfabetismo é de cerca de 90%.
  Com a saída da Espanha, os países vizinhos Marrocos e Mauritânia se aproveitaram da situação e ocuparam o território, com a maior parte dele ficando sob domínio marroquino. Ambos os países utilizaram argumentos históricos para invadirem o território. No entanto, há fortíssimos interesses econômicos, em uma região rica em recursos minerais, entre os quais o fosfato.
Extração de fosfato no Saara Ocidental
  Desde a ocupação marroquina a Argélia tem apoiado o movimento rebelde de libertação do Saara Espanhol - a Frente Polisário - e abriga acampamentos de refugiados saaráuis em seu território.
  Em fevereiro de 1976 foi formalmente proclamada a República Árabe Saarauí Democrática (RASD), que é administrada por um governo no exílio em Tindouf, na Argélia. Em 2001, a África do Sul foi o 60º país a reconhecer o Saara Ocidental como país independente. No entanto, o Marrocos continua ocupando o país.
AS ORIGENS DA FRENTE POLISÁRIO
  A Frente Polisário (Frente pela Libertação da Saguia el Hamra e Rio de Oro), foi inicialmente criada para libertar o Saara Ocidental da ocupação espanhola. Este movimento armado tornou-se independentista e anti-marroquino após os acordos de Madri de 14 de Novembro de 1975 entre a Espanha, Marrocos e Mauritânia. Nessa altura os sarauís não foram chamados para fazer parte das negociações tendo ficado o sentimento de serem simples "objetos" no xadrez político. Com isso, a Argélia aproveitou para tirar partido desse descontentamento para fomentar sua hostilidade contra o Marrocos.
Muro Militar ou Muro da Vergonha, construído pelo Marrocos no Saara Ocidental
  Após vários conflitos armados, a Frente Polisário instala-se na Argélia com vários refugiados. Um cessar-fogo foi conseguido em 1991 entre a Frente Polisário e o Marrocos. Entretanto, entre 1980 e 1987, o Marrocos já tinha erguido um muro de 2720 km, que inclui praticamente todo o território do Saara Ocidental. Ao longo dessa cintura de segurança, encontram-se 160.000 militares marroquinos para defender o território. A Argélia forneceu armamento à Frente Polisário até pelo menos 1991. Atualmente, fornece o seu apoio financeiro e, sobretudo, diplomático.
Mapa do Muro Militar
O CAMPO DE REFUGIADO DE TINDOUF
  A vida nos campos de refugiados de Tindouf é miserável. A ajuda humanitária é sistematicamente desviada do povo sarauí que a devia receber para alimentar uma enorme rede de mercado negro. Recentemente, a ajuda foi reduzida por se ter chegado à conclusão que o número de refugiados era de 90.000 pessoas e não de 165.000 como o fazia crer a Frente Polisário. Esse número inflacionado da população tinha dois objetivos: uma maior ajuda humanitária e um maior número de votantes, em caso de elições com vista à autodeterminação do povo sarauí.
Campo de refugiado de Tindouf
  Sistematicamente ignorado na comunicação social ocidental, existe um movimento unionista sarauí. São eles que controlam as câmaras no Saara Ocidental ocupado pelos marroquinos, tendo igualmente representantes em ambos os órgãos parlamentares de Rabat. Estes preconizam um projeto de autonomia alargada numa união com o Marrocos.
O INTERESSE DA ARGÉLIA NO SAARA OCIDENTAL
  Além da rivalidade secular com o Marrocos, esse território é uma das mais ricas zonas de pesca do mundo. Representa também um acesso à costa Atlântica, o que facilita as suas exportações, nomeadamente de gás natural.
El Aaiún - capital do Saara Ocidental
INTERESSE DOS PAÍSES OCIDENTAIS
  A Espanha apóia a Frente Polisário por razões históricas contra o Marrocos, o rival que lhe fez frente. A França e os Estados Unidos apoiam o Marrocos, para evitar uma desestabilização da região, mantendo, contudo, boas relações com a Argélia. Porém, todos querem preservar a rica e vata zona de pesca do Saara Ocidental, e alimentam os seus apetites nos recursos minerais e no petróleo.
A TUNÍSIA
  Pela primeira vez na história, um líder árabe foi deposto por força de movimentos populares. Isso aconteceu na Tunísia, país muçulmano localizado no norte da África. O presidente Zine Al-Abdine Bem Ali renunciou em janeiro de 2011 após um mês de violentos protestos contra o governo. Ele estava há 23 anos no poder. Essa revolta que derrubou Zine Al-Abdine Ben Ali, foi chamada de Revolução de Jasmim ou Revolução Tunisiana.
Zine Al-Abdine Bem Ali
  Há décadas que governos árabes resistem a reformas democráticas. A Revolução de Jasmim, é uma sucessão de manifestações insurrecionais ocorrida na Tunísia entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011 que levou à saída do presidente da República Zine Al Abdine Bem Ali, que ocupava o cargo desde 1987.
  O novo ativismo no mundo árabe é explicado pela instabilidade econômica e pelo surgimento de uma juventude bem educada e insatisfeita com as restrições à liberdade.
  Na Tunísia, os protestos começaram depois da morte de um desempregado, em 17 de dezembro de 2010. Mohamed Bouazizi, de 26 anos, ateou fogo ao próprio corpo na cidade de Sidi Bouzid. Ele se autoimolou depois que a polícia o impediu de vender frutas e vegetais em uma barraca de rua.
Protestos na Tunísia
  O incidente motivou passeatas na região, uma das mais pobres da Tunísia, contra a inflação e o desemprego. A partir daí, o movimento se espalhou pelo país e passou a reivindicar também mudanças políticas.
  O governo foi pego de surpresa e reagiu com violência. Mais de 120 pessoas morreram em confrontos com a polícia. Na capital Tunis, foi decretado estado de emergência e toque de recolher. Mas, mesmo assim, milhares de manifestantes tomaram as ruas.
  Ben Ali foi o segundo presidente da Tunísia desde que o país se tornou independente da França, em 1956. Ele chegou à presidência por meio de um golpe de Estado. Em 2009, foi reeleito com quase 90% dos votos válidos para um mandato de mais de cinco anos.
  Depois de dissolver o Parlamento e o governo, Bem Ali deixou o país junto com a família, rumo à Arábia Saudita. No seu lugar, assumiu o primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi, um aliado político. Por isso, na prática, o regime foi mantido, e os manifestantes continuaram protestando, exigindo a saída de todos os ministros ligados ao ex-presidente.
Mohammed Ghannouchi
  A Tunísia é o país mais europeu do continente africano, com uma classe média e liberal, alta renda per capita e belas praias mediterrâneas. Mas também possui um dos governos mais corruptos e repressivos de toda a região.
  A história do país é parecida com as demais nações árabes: foi domínio otomano, colônia europeia e, depois, ditadura. A falta de liberdades civis em países como a Tunísia, sempre foi compensada por progresso econômico. Porém, nos últimos anos houve um descontentamento da classe média e pobre por causa do desemprego, corrupção, pobreza e falta de liberdade.
Tunís - capital da Tunísia
  Após a Revolução de Jasmin, houve a Primavera Árabe, onda de levantes populares que começou na Tunísia e se espalhou por vários países do Oriente Médio, e que levou a queda de alguns ditadores, como Hosni Mubarak, no Egito,e Muammar al-Gaddafi, da Líbia. Este último foi morto recentemente pelas tropas rebeldes do país.
Corpo de Muammar Gadafi, após ser morto por tropas rebeldes da Líbia
 FONTE: Geografia, 3° ano: ensino médio / organizadores: Fernando dos Santos Sampaio, Ivone Silveira Sucena - 1. ed. - São Paulo: Edições SM, 2010. - (Coleção ser protagonista)

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